A questão de João Ramalho é uma das mais embaraçadas da História primitiva do Brasil.Ainda ninguém tornou bem claro que nos primeiros tempos São Paulo houve pelos menos dois João Ramalho. Um é o bacharel de Cananéa, deixado em 1502 pela primeira expedição exploradora, pai dos mamelucos, inimigo dos jesuítas. Outro, sogro de Jorge Ferreira, é um cavaleiro português, que veio para o Brasil muito mais tarde, com Martim Afonso ou logo depois. Taques Paes Leme, que no trecho acima citado dá notícia do primeiro e torna assim bem clara a distinção, em outros lugares perde-se de vista. [p. 50]
Si já houvesse suspeita de que a descoberta do Brasilnão fôra casual, poder- se- ia até certo ponto considera- lo como um indicio favoravel ; mas Gonçalves Dias já demonstrou que, pelo contrario, todos ostestemunhos, a começar pelo de D. Manuel, sãoaccordes em declarar o descobrimento como inopinado e fortuito .E não é só isto : Johanes Emenelaus assegurater visto o mappa- mundi ; mas el - rei tanto não ovira, que o mestre lhe diz : « mande vosa alteza traer » .E quem nos assegura que o tivessem visto Pedr´alvares Cabral e seus companheiros ? Entretanto, esta circumstancia é indispensavel para a proposição doSr. Norberto ser admittida.O descobrimento do Brasil explica- se muito maisfacilmente pela viagem de Vasco da Gama, pelas instrucções que redigiu e pelo meio social .Como observa Peschel ( 8 ) , Vasco da Gama, emsua primeira viagem para a India, passara por algum tempo ao longo das costas do Brasil, sem asreconhecer, pois, sahindo do Cabo Verde a 3 deAgosto de 1497 , no dia 22 achava- se a 8oo leguasda costa africana, isto é, a 45° ao Occidente doSul da Africa.Si então não descobriu o Brasil, deve- se talveza circumstancias insignificantes, a menos que não [p. 55]
é natural que o ousado marinheiro mais de umavez lhe falasse no problema que presentira, sem conseguir dar- lhe solução. Talvez este intuito atécerto ponto haja influido sobre as instrucções queformulou.« Estas instrucções, interpetra d´Avezac, si attendermos á direcção conhecida dos ventos aliseos dohemispherio austral, equivalem a uma recommendação expressa de tomar a partir do encontro delles ,a bordada de sudoeste para correr com amuras abombordo, emquanto o vento escasseasse, fazendobom caminho para ganhar a região ulterior, em queo vento permittisse governar direito a léste paradobrar o Cabo » ( 11 ) .Nestas instrucções já está implicito o descobrimento do Brasil e a melhor prova é a frequenciacom que aqui vieram ter os que as seguiram, acomeçar de Cabral em 1500 e de João da Novaem 1501 .Além dos signaes de terra entrevistos por Vascoda Gama em sua primeira viagem, e das instrucçõesque formulou, concorreu efficazmente para o descobrimento do Brasil o estado então vigente dosespiritos: « a intensa curiosidade movida pelos recentes descobrimentos no Novo Mundo e a nobreemulação que taes descobrimentos, feitos em ser viço de uma nação competidora, haviam de excitar no animo de homens que, seguindo outro rumo,tantos louros tinham ganhado na carreira das emprezas maritimas ( 12 ) ».Pesando estes factos, diz Major que podemosfacilmente duvidar si este rumo para sudoeste não foi emprehendido por Cabral na esperança de irdar a alguma terra do novo mundo occidental .22. Outro ponto controvertido é o motivo porque Cabral deu á terra que descobriu o nome deVera Cruz .Segundo Castanheda ( 13 ) . foi por causa da Cruzque ali mandou plantar a i de Maio.Gaspar Corrêa ( 14 ) diz que porque a ella chegaram a 3 de Maio.Ambas estas affirmações não têm, porém, consistencia, porque Cabral pôz o nome á terra, segundo se deduz de Vaz de Caminha, no mesmodia em que pôz o nome de Monte Paschoal — istoé, a 22 de Abril.Caminha nos dá o verdadeiro motivo do nome :... prégou ( frei Henrique) uma solenne e proveitosa prégação da historia do Evangelho e em fimdelle tratou da nossa vinda e do achamento destaterra, conformando-se com o signal da Cruz, sobcuja obediencia viemos.O nome de Vera Cruz imposto por Cabral, comoé sabido, durou muito pouco tempo. Em 1501 , nas [p. 57, 58]
instrucções a João da Nova, é transformado node Ilha da Cruz; na carta escripta por D. Manuel( 15 ) aos reis catholicos a 29 de Julho do mesmoanno tem o nome de Santa Cruz ; no roteiro deGonneville ( 1503-1505 ) já tem o nome de Brasil( 16 ) , que naturalmente lhe foi communicado porDiogo do Couto e Bastião de Moura, portuguezesda equipagem ; em 1511 apparece já este nome emdocumento official. ( 17 ) .23. Outro ponto controvertido é si o actualPorto Seguro é o Porto Seguro de Cabral. Varnhagen diz sim ( 18 ) , e Beaurepaire Rohan diz não ( 19 ) .Esta ultima opinião é a verdadeira : o logar queCabral chamou Porto Seguro em pouco tempo começou a chamar- se Santa Cruz, por causa da que ali foi deixada a 1 de Maio de 1500.Os argumentos de que Varnhagen lança mãoquebram- se todos diante destes dois factos : o primeiro é a tradição attestada por Gandavo, GabrielSoares, Anchieta, Cardim e tantos outros ; o segundoé que o Porto Seguro actual não corresponde ádescripção de Caminha, por mais que se queirafazer de um recife um ilhéo.24. Resta ainda um ponto a examinar : quem [p. 59]
o seu reconcavo, em que prosperavam numerososengenhos e vicejavam por leguas e leguas os canaviaes verdejantes ; com os seus campos, em queo gado pascia ás manadas, aos milheiros.Veria Ilhéos, Santa Cruz , a primeira terra sellada com o cunho portuguez ; Porto Seguro, seminario de ousadas bandeiras ; Espirito Santo a penetrar até as esmeraldas encantadas, verdes comoos sonhos que sorriam aos seus habitantes.Veria o Rio de Janeiro, assentado no meio deum amphytheatro immenso, de que se debruçam asgerações idas, á espera de feitos dignos do scenario ; com as suas ilhas feiticeiras ; com a sua bahiasem par, onde vagam as sombras de Amerigo Vespucci, que legou o nome a um continente que nãodescobriu ; de Gonçalo Coelho, o navegante pertinaz ;de Magalhães, o primeiro que circumnavegou oglobo ; de Nobrega, de Anchieta, de Men de Sá,de Villegaignon, o cavalleiro romanesco e batalhador.Veria S. Vicente, a obra de Martim Affonso ;Santos, obra de Braz Cubas ; Itanhaen, mais tardeephemera cabeça da capitania ; Cananéa, sementede João Ramalho, porta franca para os campos deCuritiba, do Viamão e da Vaccaria.A dez leguas do Oceano, veria a villa de S.Paulo, obra dos jesuitas. Debalde estes a haviam assentado na aba da montanha, como que para conserva- la agrilhoada ao cepo : a população estuava,transbordava, investia e começava a innundar todaAmerica.E nestes povoados dispersos veria mais o des [p. 66]
Em 1562 sabemos que João Ramalho foi por capitão das guerras contra os nativos do Parahyba. Afonso Sardinha é sabido que na última década do século, descobriu as minas de Sorocaba. Jorge Corrêa em 1594 foi para o sul fazer guerra aos Carijós.
Para resumir, os nomes de sertanistas e bandeirantes paulistas que ha memória são em número extraordinário. Só o padre Simão de Vasconcellos, que apenas trata o assunto incidentalmente, nomeia João de Souza Pereira, Francisco Corrêa, Domingos Luiz Grou, Manuel Veloso de Espina, José Adorno, Ascenso Ribeiro, João Gago, Jeronymo da Veiga, etc. [p. 77]
Segundo o Barão de Saint - Blancard, a carga de LaPélérine ascendia a sessenta e dois mil e trezentosducados.Sobre o commercio de escravos não temos informações muito minuciosas. Herrera fala de umacaravella aprisionada em Cadiz com 20 indios , em1514 ( 14 ) . Em 1526, o bacharel de Cananéa contratou com Diogo Garcia a conducção e a vendade 8o escravos. Eis tudo quanto se sabe .0 governo , por sua parte, favoreceu bastanteeste commercio infame, isentando de impostos osescravos introduzidos até certo numero.No commercio dos escravos, sabemos que tiveram grande parte os Portuguezes e Espanhoes :os Francezes parece que não, pelo menos não se póde prova-lo com os documentos actualmente conhecidos .Em troca dos objectos que obtinham dos naturaes, os que então com elles commerciavam offereciam-lhes carapuças, avelorios, espelhos, machadose coisas de pouco valor.Provavelmente os que primeiro mais lucros auferiram foram os degradados, que ficavam longotempo na terra, aprendiam a lingua, podiam fazeros negocios mais pausadamente e descobriam novasmercadorias, cujo valor sabiam mais prezado pelosseus compatriotas.Seria isto o que determinou muitos dos tripolantes que vieram nos primeiros navios a desertarem [p. 80]
tiam todas as abominações e desciam até a anthropophagia ( 16 ) .Havia o homem voluntarioso e indomavel, quese impunha, dominava, tornava- se verdadeiro regulo,como aquelle bacharel de Cananéa, que uma vezvendeu oitocentos escravos a Diogo Garcia ( 17 ) .Havia, emfim, o homem mediocre, que nemdescia ao batoque nem se alçava no poderio, natureza indolente, desannuviada de preoccupações,que conseguia viver bem com o natural da terrae com o europeu ; que influia pouco, que soffriapor seu lado pouca influencia : exemplo Diogo Alvares, tão celebre com o nome de Caramurú ( 18 ) .Nos primeiros tempos, os tres typos coexistiram ,mas quem quer que conheça as leis naturaes prevêdesde logo que o primeiro, uma anormalidade, umverdadeiro monstro, não poderia continuar.O segundo, typo de transição, deveria durarmais tempo, generalizar- se mais. Não podia, entretanto, ir muito adiante, nem foi, apesar dos esforçosque neste sentido empregaram os jesuitas.Era ao terceiro que cabia a sobrevivencia, desdeque os Portuguezes, considerando sua a terra descoberta, declaravam intrusos os seus povoadores. [p. 83]
a historia apenas menciona o nome, e ás vezesnem isto.Os Francezes souberam portar -se para com osnaturaes de modo a captar- lhes a amizade e a firmar uma alliança que atravessou mais de um seculo,sem intermittencia .Ser francez era um como salvo - conducto entrecertas tribus . O allemão Hans Staden mais de umavez escapou á anthropophagia, porque os que o detinham duvidavam que elle fosse portuguez. No fimdo mesmo seculo, em brenhas desconhecidas deMinas Geraes, por onde se internára, o inglez Knivetdeclarando- se francez, não só foi poupado como setornou uma especie de chefe, a quem obedecia umahorda numerosa, que elle guiou em suas migrações .Os dois nomes que os Brasis davam aos Fran cezes são ambos caracteristicos da impressão que estes lhes causaram. Um foi o de Mair, isto é ,creador, transformador, segundo Thevet, pelos ob jectos que traziam , pelos instrumentos que permu tavam, pelos officios e artes que iam ensinando. Ooutro foi Ayurujuba, papagaio amarello, pela effu são, pela congenialidade, e aquelle babil qi sãotão caracteristicos dos filhos da Gallia.Para mostrar a differença que existe entre oproceder de Francezes e Portuguezes , basta comparar dois factos. Gonneville, não podendo mandará sua terra o indio Essomeriq, que daqui levara ,casou- o com uma parenta e deu- lhe seu nome. Jeronymo de Albuquerque, salvo da morte por umamulher que por sua causa tudo abandonára, depois [p. 85]
ram e desenvolveram - se tanto que, antes de transcorrido o seculo, tinhamos o phenomeno consideravel dos Bandeirantes.A primeira entrada de que ha noticia deu- se em 1504, anno em que Vespucci, acompanhado deuns trinta homens, penetrou umas quarenta leguaspelo sertão de Cabo Frio, provavelmente para oslados do rio S. João ou de qualquer dos seusaffluentes.Gonçalo Coelho é bem possivel que no tempoque demorou no Rio de Janeiro houvesse tentadoempresa semelhante ; não está, porém, isto provado.Da pequena colonia que se grupou á roda deJoão Ramalho na capitania de S. Vicente, correcomo certo que partiu uma expedição para o interior ; é até citado Aleixo Garcia como tendo idoao Paraguay e ao Perú. Todavia nada se sabe quanto ao rumo seguido, nem quanto ao anno em quese deu o facto, que em todo caso deve ter sidoanterior a 1530, quiçá anterior a 1526.Em 1531 , Martim Affonso de Sousa mandou doRio de Janeiro quatro homens pela terra dentro,que tornaram passados dois mezes, tendo caminhadocento e quinze leguas, das quaes sessenta e cincopor grandes montanhas e cincoenta por um vastocampo. Estas montanhas são as serras dos Orgãose provavelmente os campos a que chegaram foramos dos Goytacazes.A i de Setembro de 1531 , de Cananéa mandouo mesmo Martim Affonso uma tropa de quarentabesteiros e quarenta espingardeiros, de Pero Lobo, [p. 98]
a descobrir pela terra dentro. Levou-o a dar estepasso Francisco de Chaves, companheiro de João Ramalho, que se obrigou a tornar dentro de dez mezescom quatrocentos escravos carregados de prata eouro. Tudo quanto se sabe do destino ulterior destabandeira é que foi completamente destroçada pelosCarijós. ( 1 )Em 1552 approximadamente, o capitão de Porto Seguro mandou ao sertão doze christãos, acompanhados de indios, aos quaes se incorporou o padreJoão de Aspilcueta. Da narração confusa que estenos deixou apenas se colhe que chegaram ás serranias donde manam os affluentes do lado direito doS. Francisco. Provavelmente é esta uma das entradas de Sebastião Fernandes Tourinho, de que dárelação Gabriel Soares. ( ? )Sebastião Tourinho, partindo de Porto Seguro,metteu- se tanto pela terra dentro, que se achou emdireito do Rio de Janeiro. Dahi retrocedeu e veioter ao Jequitinhonha, que desceu em canoas, chegando ao mar depois de vinte e quatro dias denavegação.Sebastião Tourinho fez outra entrada pelo rioDoce, que subiu até grande distancia, descobrindoentão as esmeraldas. ( 3 )Esta viagem foi anterior ao governo de Luis deBrito e Almeida. [.p 99]
Luis de Brito e Almeida, á vista das informações de Tourinho, mandou ás esmeraldas uma ban deira commandada por Antonio Dias Adorno, quesubiu pelo rio das Caravellas e chegou provavelmente ás proximidades do rio Doce. Dahi dividiuse a tropa, descendo uns pelo Jequitinhonha, outros vindo por terra ao Jequiriçá. ( 4 )Gabriel Soares dá ainda noticia de duas entradas feitas proximamente no mesmo tempo : uma deBastião Alvares, de Porto Seguro, que a mandadode Luis de Brito e Almeida foi explorar o S. Francisco, e trabalhou por descobrir quanto pôde noque gastou quatro annos e um grande pedaço dafazenda de el - rei ; outra de João Coelho de Sousa,que subiu mais de cem leguas além de um sumidouro, que provavelmente é a cachoeira de Paulo Affonso. ( 5 )Das palavras do chronista, parece deduzir- se que,ao contrario de Bastião Alvares que subiu contra acorrente, João Coelho de Sousa desceu a favor della,provavelmente por ter chegado ao rio S. Franciscopelo Paraguaçú ou Gussiape.Gabriel Soares que, segundo parece, era irmãode João Coelho ( 6 ) , tambem passa como um dosgrandes bandeirantes do seculo. [p. 100]
Em uma das copias manuscriptas do seu · Roteiro, elle diz que passou muitos dos dezesete annosque residiu no Brasil a percorrer o interior. Na obrade Simão Estaço da Silveira, ( 1 ) publicada em 1624,diz - se que elle foi ao descobrimento do Maranhãopor terra, chegando ás cabeceiras do S. Franciscoe á serra Verde, perto da governação espanholade Charcas. Pelo livro do Frei Vicente do Salvador, sabemos que em 1591 ou 1592 elle chegouaté as cabeceiras do Paraguaçú onde infelizmentemorreu ( 8)A obra de Frei Vicente do Salvador nos dá relação de uma entrada feita pouco mais ou menosneste tempo por Luis Alvares d´Espinha que, par [p. 101]
Do Espirito Santo ha certeza que Domingos Martins Cão fez uma expedição a procura das esmeraldas por ordem de D. Francisco de Sousa, quando este ainda estava na Bahia, isto é, antes de 1598. Ha ainda notícia de uma expedição feita no mesmo ou no seguinte ano por ordem de D. Francisco de Sousa.
Provavelmente é esta a de Azevedo Coutinho, que, como se sabe, é posterior á de Domingos Martins Cão. Do Rio de Janeiro temos notícias preciosas transmitidas por Knivet de expedições feitas ás cabeceiras do Parahiba e aos sertões de Minas Gerais, entre 1592 e 1600.
De S. Paulo, as bandeiras são numerosas. Diz o epitáfio de Braz Cubas que este descobriu ouro no ano de 1560. Em 1562 sabemos que João Ramalho foi por capitão das guerras contra os Indios do Parahiba. ( 16 ) Affonso Sardinha é sabido que na ultima de cada do seculo, descobriu as minas de Sorocaba. ( 17 ) Jorge Corrêa em 1594 foi para o sul fazer guerra aos Carijós. ( 18 ) [Página 104]
rente, pois os colonizadores não tinham de subi-lo,mas de desce - lo, o que era muito mais facil. Outraera o systema de suas vertentes, que o punha emcontacto com o Parahiba, o Mogyguaçú, o Paranapanema, e, depois de confluir com o Paraná, punha- oainda em contacto com os afluentes do Paraguay.
Os Paulistas começaram a descer o Tietê desde os primeiros tempos, provavelmente antes do meiado do seculo XVI. Uns foram subindo pelos seus afluentes, Juquiry, Jundiahy, Piracicaba, Sorocaba. Outros foram até o Paraná.
Aqui encontraram circunstancias, á primeira vista insignificantes, que exerceram grande influencia sobre a direção das bandeiras e sobre a formação territorial do Brasil. Acima da confluência do Tietê, o Paraná tem um salto que é impossível transpôr: o de Urubupungá ; abaixo elle tem das Sete Quedas, ainda mais difícil de ser passado.
A consequencia foi que as bandeiras tinham, ou detornar, acto de que não eram capazes aquelles homens destemidos, ou de internar- se pelos affluentesdo lado direito e do lado esquerdo do Paraná.Foi o que fizeram .Parece que os affluentes do lado direito do Paraná foram explorados antes dos affluentes do ladoesquerdo, pois sabemos que em 1531 já houveraviagens ao Perú, e só por este modo é que se podem explicar. Sabe- se pelos mappas antigos que dois destes rios foram logo praticados : em primeirologar o Ivinheima com o Mbotetehu que com ellecontraverte ; em segundo logar o Pardo com o Ca [p. 108]
vieram todos os commandantes á capitánea. Aterra podia ser da India, e foi mandado a examina- la Nicolau Coelho, companheiro de Vasco daGama, naturalmente com o judeu Gaspar, que sabiaa lingua arabiga e alguma da costa de Malabar,donde viera. Sahiram-lhe muito rijos ao encontrouns dezoito homens pardos, nús, armados de arcoe flechas. A um signal de Nicolau Coelho, depuzeram as armas. Não poude com elles haver falasnem entendimento, por arrebentar muito o mar.Coelho deu- lhes um barrete vermelho, uma carapuça de linho , que levava na cabeça, e um sombreiro preto. Em troca, um presenteou- o com umsombreiro de pennas compridas de ave, com umacopesinha pequena de pennas vermelhas e pardascomo de papagaio, outro com um ramal de continhas brancas, miudas, como de aljaveira.Ventou á noite. Por conselho dos pilotos a armada levantou ancora e fez vela ás 8 horas da manhã de sexta, 24. Estavam juntos no rio uns ses senta ou setenta homens da terra : é sabido comoentre a gente inculta, onde os generos não circulam , as noticias propagam- se com incrivel rapidez.Viajou - se para o Norte, os navios pequenos maischegados á terra, os maiores seguindo de longo ;tratava- se de achar alguma abrigada e bom pouso,onde podessem tomar agua e lenha. O Capitão- mórordenou navios pequenos amainassemachando pouso seguro. A dez leguas do rio deixado pela manhã encontrou- se um arrecife, com portodentro muito bom e muito seguro. Entraram por [p. 145]
Cruzes [Página 154]Caminha [Página 158 e 159]Esdras [Página 160]Ayres do Casal [Página 164]Bilreiros [p. 247]
Muitos seculos jouve desdenhada ou esquecidaa carta de Caminha, e a este acaso feliz se póde,sem temeridade, attribuir sua conservação.Cerca de 1790 descobriu - a em suas pesquisas oerudito historiador castelhano J. B. Muñoz, affirmaNavarrete. Sem saber disto, alguem ainda desconhecido forneceu uma copia ao real archivo da Marinha do Rio de Janeiro. Della serviu - se Manoel Ayresdo Casal para publica - la integralmente em 1817 ,no primeiro volume da Corographia, sahido dosprelos da impressão desta cidade. Ninguem maisdigno de publica- la do que o verdadeiro creador dageographia nacional.Nove annos depois desta edição princeps, appareceu outra em Lisboa, mais completa, cotejada pelo original, ao que se crê, no quarto volume das Noticias ultramarinas. Por julga - la demasiado accessivel ,ou por outro motivo semelhante, o Instituto Historico excluiu da - Revista Trimensal a carta deCaminha, só por instancia de Varnhagen estampadano tomo 40, parte segunda, quasi 40 annos depoisde sua fundação.Antes e depois desta, houve numerosas reimpressões , arroladas até certa época nos Annaes daBibliotheca Nacional. Dentre ellas cumpre destacarduas feitas em Lisboa para commemorar o cente [p. 289]