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Caminho do Paraguay

SOBRINHOS
ano:1553
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1° - 29/08/1553 - Manoel da Nóbrega realizou a primeira missa num local próximo da aldeia de Inhapambuçu, chefiada por Tibiriçá fazendo cerca de 50 catecúmenos "entregues à doutrinação do irmão Antonio Rodrigues"
4 fontes


 • 1° fonte (1575)
1° registro
“Historia de la fundación del Colegio del Rio de Enero”, Quirino Caxa (1538-1599)

Quanto à localização da Aldeia de Maniçoba, nenhum outro texto histórico se avantaja ao da Historia de la fundación del Colegio del Rio de Enero, atribuível ao Padre Quirício Caxa, que a teria redigido pelo ano de 1575. "Neste tempo - traduzimos aqui o texto espanhol - foi o Padre Manuel da Nóbrega com outros vários da Companhia a Maniçoba, trinta e cinco léguas pelo deserto adentro, junto a um rio donde embarcam para os Carijós. Ali deixou uma casa feita, com alguns da Companhia, onde rediriam um ano, fazendo muito fruto entre os nativos, e dai se tornaram a São Vicente.



 • 2° fonte (1940)
1° registro
Maniçoba, porta do Paraguai, Luís Castanho de Almeida (1904-1981). Jornal Correio Paulistano, 08.09.1940

O Padre Manuel da Nóbrega chegou à capitania de São Vicente em 1553, quando já havia três anos Leonardo Nunes, o famoso Abaré-bebé, padre-voador, exercitava o seu fecundo ministério. Pernambuco ao norte e São Vicente ao sul formavam no Brasil os dois primeiros núcleos de povoamento, com a Baía no centro, capital, religiosa e política.

Sem a intenção de fundar no sul do Continente um império temporal, com os tupis na orla do Atlântico e os guaranis no sertão do Paraguai, os Jesuítas compreenderam bem cedo o basto campo de almas a salvar para Jesus Cristo, o qual se lhes abria em frente como um leque, povoado por inúmeras tribos, seara promissora para o celeiro espiritual da igreja.

Essa região imensa, com um solo feracíssimo e clima feliz, seria a sede futura das maiores aglomerações humanas na América do Sul - Rio, São Paulo, Buenos Aires, quem sabe mesmo se em tempos não longínquos o refugio da civilização cristão.

Não era mister que os primeiros missionários lançassem tão longe na história as suas considerações; mas o certo é que, temperamentos de apóstolos generosos, queriam as suas redes a arrebentar de peixes, e davam a cada alma, a uma só por ele redimida das trevas do paganismo, o preço real e infinito: o sangue de Cristo.

Nóbrega sonhou com a jornada e a fundação do Paraguai. Foi, com Leonardo Nunes, o bandeirante das almas, o que ouviu a voz dos rios a correr para os sertões infinitos do (incompressível): "vem, vem comigo para dentro do continente em busca de recônditos tesouros!" Quanta semelhança entre o bandeirante e o jesuíta no chamamento para o sertão! Um e outro, embora livres, têm a obediência instintiva, incoercível, ao chamado geográfico para o interior. Um é o fundador da pátria terrena, outro, ergue sobre esta a Cidade de Deus.

Noutros países das Américas e do Oriente houve descobridores, povoadores, conquistadores, Bandeirantes, não. Houve também missionários, apóstolos, jesuítas, São Francisco Xavier, mesmo. Jesuítas, bandeirante, Nóbrega e Anchieta, não. O próprio sistema das reduções jesuíticas em terras de Castela seria, depois, algo bem diversos dos aldeamentos brasileiros.

Eis que, na verdade, Portugal e Espanha são dois povos irmãos, mas não se confundem; o império colonial português é irmão do espanhol, e as vezes antagônico, enquanto se não fixam os limites, mas nunca senão artificialmente confundido com ele.

Esta verdade, ao lado que se refere à península Ibérica, a gente portuguesa bem cuidou de publicá-la aos quatro ventos nas comemorações das dois centenários, a que se associou a nossa gente representada pelo que a defende melhor: as as almas e as letras.

Ora, o padre Nóbrega possuía assas elementos para inteirar-se da existência de povos imensos e bons no centro sul-americano. Espanhóis e portugueses bem sabiam que do Atlântico se chegaria ao Pacífico e vice-versa. O rio da Prata foi assim chamado, porque suas nascentes deveriam remontar ao império dos Incas.

Obedecem a um instinto ou serão instrumentos da Providência esses degredados portugueses e aventureiros castelhanos que fazem a pé o trajeto de São Vicente ao Paraguai? Demais, esses tupis do Atlântico que se comunicam com os guaranis do interior, e os habitantes das matas que, ao espiarem do alto da Paranapiacaba o mar, o verde mar bravio de nossa terra, não emudeciam mas se faziam entender, tudo isso podia deixar indiferente a outrem que não a Nóbrega.

Eis porque, antes de 25 de janeiro de 1554 e depois de 30 de agosto de 1553, Manuel da Nóbrega, após o novo ajuntamento de nativos de Piratininga deixando aí dois irmãos para catequese até a chegada - digamos oficial - de Anchieta, partiu com o irmão Antonio Rodrigues, quatro meninos e alguns nativos para a aldeia de Maniçoba, onde os precedera o irmão Pero Correia.

Maniçoba, "junto de um rio donde embarcam para os carijós". A expressão "carijós" designação os nativos que habitavam o sertão imediato a Piratininga e anterior ao Paraguai, tendo por limites, mais ou menos, no litoral de Cananéia até Laguna, onde começavam os Patos, e no interior as bacias do Tietê e Paranapanema até o Uruguai, porém com os guaranis à margem esquerda do segundo destes rios, no Guaíra.

Os autores são concordes em colocar Maniçoba, que Simão de Vasconcelos (1597-1671) chamada Japiassú, nas cercanias da atual cidade de Itú. Servem-se para isso, de várias fontes, até mesmo do relato de um viajante da poca, Ulrico Schmidel (1510-1579), e da cartografia antiga, porém, a base da argumentação ficam sendo as cartas jesuíticas, que determinavam para Maniçoba 35 léguas e até 50 contando de São Vicente, sertão adentro, e porto de embarque.

Ora, para ir ao interior, o primeiro rio que se podia utilizar adiante de Piratininga era o Tietê, abaixo do Salto de Itú.

"A fama deste grão zelo de Nóbrega, diz Simão de Vasconcelos, muito conhecido pelos sertões do Paraguai (nos quais era chamado Barcaelué, que vale o mesmo que homem santo) se abalaram grandes levas de Carijós em busca dele, para serem doutrinadores na aldeia já dita, que ficava mais perto; pois não foram tão ditosos que tivessem efeitos os desejos que o padre tivera de ir às suas terras, donde fora chamado por eles tantas vezes".

"Os nativos Tupis - continua Serafim Leite - que tinham com eles contas antigas a ajustar, ou porque fossem prevenidos pelos Portugueses para cortar o passo a tais adventícios, saíram-lhes ao caminho, e destroçaram-nos, sem lhes valerem os Padres. Outros nativos vieram depois, com três espanhóis, que foram igualmente mortos, exceto um destes, que pode fugir e acolher-se á proteção dos Jesuítas".

Ainda em julho de 1554 estacam em Maniçoba "dois padres e irmãos e irmão Gregório Serrão com escola de gramática". Este irmão Gregório andava doente e não era fácil arranjar-lhe a galinha para o caldo. Com a mudança, que logo se seguiu, dos padres e catecúmenos para São Paulo do Campo, sarou o doente e Maniçoba perdeu até o nome.

O nome aparece ainda que desfigurado, no mapa atribuído a Rui Diaz de Gusman, autor da célebre "Argentina", e o qual, segundo Paul Groussac, é de 1606 a 1608. Lá está, à margem esquerda do Anhembi o "puerto de Mandiçoba", pode ver-se essa velha carta sul-americana no volume IX dos "Anales de lla Biblioteca" de Buenos Aires (1914). Foi em 1894 encontrada por Zeballos no Arquivo de las Índias em Sevilha, quando estudava a questão das Missões, completada a sua publicação em 1903, por Felix Outes, quanto à região do Atlântico.

São estas as informações que nos envia Sergio Buarque de Holanda, na identificação de Maniçoba, é importantíssima na confirmação dos pontos de vista de outros historiadores paulistas desde Gentil de Moura e Teodoro Sampaio até Afonso de Taunay e Serafim Leite.

Gostamos, porém, de sua hipótese, que fez descer um pouco mais a aldeia, entre as atuais cidades de Itú e Porto Feliz. Vê-se, por aí, ainda, uma vez a persistência da tradição nativa nos costumes dos bandeirantes, os primeiros dos quais eram meio guaranis de sangue e de língua. Pois o porto de Araritaguabam, donde partiram as monções e que o pincel de Almeida Junior celebrizou, dista máximo cinco léguas do "puerto de Maniçoba", "Por onde se vai aos Carijós".

Que raízes profundas na terra e no homem americano tema nossa História! Morador de Sorocaba, o autor destas linhas vê todos os dias o rio do mesmo nome a correr para o oeste, como ao cair da tarde pode sonhar com as regiões imensas de campos e matas que se estendem além do Ipanema, rumo do Guairá antigo. Nascido à margem de um afluente do Paranapanema, contemplando ao norte a serra de Botucatu e palmilhando em crença aquele mesmo caminho selvagem, pre-colonial, o chamado "peabiru" que ligava o Guairá a São Paulo, passando por Sorocaba, e o que é mais,

trazendo no sangue o atavismo de tataravó uruguaia e mestiça, julga o autor deste artigo, se não de todo compreender, ao menos sentir estas coisas tão belas no fundo de sua alma, o tanto para ousar transmitir ao papel essas queridas impressões. Se pecado for, é pecado de muito amor". [Maniçoba, porta do Paraguai, Luís Castanho de Almeida (1904-1981). Jornal Correio Paulistano, 08.09.1940]



 • 3° fonte (2006)
1° registro
REVISTA DO ARQUIVO MUNICIPAL

Em fins de agosto de 1553, Nóbrega visitou a recém-criada aldeia em que se concentravam os índios em processo de conversão, separados dos demais (LEITE, v.1, p. 522-523). A seu pedido, Tibiriçá e seus comandados ergueram uma pequena e modesta choupana, onde em janeiro seguinte vieram morar alguns dos jesuítas (LEITE, v.2, p. 110-111 e nota n.36).

A escolha de um sítio apropriado no campo para a localização do núcleo de catequese – “em muito boom sitio posto, o milhor da terra”, diria o Padre Manuel da Nóbrega em carta de 1556 (LEITE, v.2, p. 84) – teve de levar vários fatores em consideração. Entre eles dois muito importantes: a topografia e a hidrografia.

O assentamento em acrópole, muitos metros acima do nível dos cursos d’água que banhavam o sopé da colina sobre a qual se ergueria o aldeamento jesuítico (chamada Inhapuambuçu – monte que se vê de longe, segundo alguns), permitia aos moradores gozar não apenas de uma pureza de ares característica dos lugares altos, como também de algumas vantagens do ponto de vista defensivo, tais como, um vasto descortinamento dos arredores e uma ampla proteção proporcionada pelas íngremes escarpas voltadas para o Rio Tamanduateí e para o Ribeirão Anhangabaú (PETRONE, 1995, p. 137-140).

Os historiadores alegam ainda razões de subsistência para justificar a escolha do sítio da nova aldeia. Não devemos nos esquecer que, com a chegada dos europeus transferidos de Santo André, em 1560, os campos planaltinos se mostrariam muito favoráveis à criação de animais domésticos, sobretudo de gado vacum, nas pastagens alagadiças situadas a nordeste, próximas das margens do Tietê e do Tamanduateí (Guaré), e que a pesca foi também uma atividade econômica de grande relevância para a nascente povoação. O próprio Padre Manuel de Nóbrega fazia questão de ressaltar, em carta de 1556, que a aldeia de Piratininga estava provida “de toda abastança que na terra pode aver” (LEITE, v.2, p. 284).

O que não se via até há pouco suficientemente ressaltado, contudo, como um dos fatores determinantes da escolha do local onde depois se fixaria a nova casa jesuítica – com a grande exceção de Pasquale Petrone (PETRONE, p.140-141) talvez –, era a preexistência nas imediações de um intrincado sistema de trilhas indígenas que cortavam em todos os sentidos a lombada interfluvial. Essas veredas poriam os irmãos da Companhia em comunicação direta com o litoral vicentino, com as aldeias planaltinas dos índios aliados e com o distante Paraguai, cujo fascínio durante muito tempo manteve bem aceso o fervor catequético dos inacinos, sobretudo do Padre Manuel da Nóbrega.

Cumpre, porém, chamar a atenção para um ponto controvertido acerca do modo como se deu a escolha do sítio onde foi erguida a casa jesuítica no planalto piratiningano. Indícios nos levam a pensar que, contrariamente à história oficial divulgada pelos jesuítas, foram os próprios índios desejosos de serem convertidos pelos padres da Companhia que se teriam reunido, sozinhos, numa aldeia, sem contar para a escolha de sua localização com a presença ou, quem sabe, sequer com a orientação de Nóbrega e seus companheiros (AMARAL, 1971,v.1, p. 128-129). [Páginas 12 e 13]

De tudo isso se conclui facilmente, portanto, que o Ribeiro Piratininga jamais poderia ser o Rio Tamanduateí (antes de tudo por uma questão de volume; um é rio, o outro ribeiro). Junto do Ribeiro Piratininga estava situada a aldeia de mesmo nome, onde primitivamente habitava Tibiriçá, enquanto perto do segundo curso d’água, de volume maior, no alto de uma colina, se assentaram no princípio do segundo semestre de 1553 os índios que desejavam ser convertidos pelos padres de Jesus (numa aldeia a que os jesuítas atribuíram logo depois o mesmo nome de Piratininga). [Página 19]



 • 4° fonte (2008)
1° registro
“Os Tupi de Piratininga: Acolhida, resistência e colaboração”. Benedito Antônio Genofre Prezia, PUC-SP

Maniçoba - Apesar desta proposta inicial de catequese itinerante, houve tentativa de uma missão sedentária, que ocorreu, talvez devido à distância, em Maniçoba, aldeia tupi que ficava no caminho para o Paraguai. Como já foi assinalado atrás, o objetivo de Nóbrega era atingir a terra dos Carijó; e por isso, sua primeira experiência missionária no planalto foi junto a esta aldeia, chamada também de Japiúba, que ficava provavelmente à beira do ramal do Peabiru, que ligava Piratininga ao Paranapanema.

Foi para lá que Nóbrega se dirigiu, ao passar por Piratininga, em agosto de 1553, quando deixou as bases para a fundação da Casa de São Paulo. Esta aldeia ficava a 50 léguas (330 km) de Piratininga no dizer de Pero Correia. Um jesuíta anônimo, certamente Quiricio Caxa, afirmava que ela estava “junto de um rio donde se embarca para os Carijós [Guarani]”721. Como demonstrei em minha pesquisa anterior, este rio deveria ser o Paranapanema e não o Tietê, como desejaram os defensores da tese de que esta aldeia estaria onde hoje se encontra a cidade de Itu.



01/01/1575 - 26892 - “Historia de la fundación del Colegio del Rio de Enero”, Quirino Caxa (1538-1599)
08/09/1940 - 24312 - Maniçoba, porta do Paraguai, Luís Castanho de Almeida (1904-1981). Jornal Correio Paulistano, 08.09.1940
01/01/2006 - 29350 - REVISTA DO ARQUIVO MUNICIPAL
01/01/2008 - 24428 - “Os Tupi de Piratininga: Acolhida, resistência e colaboração”. Benedito Antônio Genofre Prezia, PUC-SP