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Tentativa de suicídio corta luz de 22 cidades
10 de abril de 200106/04/2024 03:48:32

No final da tarde de domingo, o pedreiro Carlos Alberto Vieira, 39, desempregado há quatro anos, brigou com a namorada na casa dela e saiu caminhando a esmo pelo bairro Além Ponte, em Sorocaba, a 90 km de São Paulo.

Tinha perdido não só um antigo amor, mas também o lugar onde morava sem pagar. Desesperado, resolveu se matar. Escalou uma torre de retransmissão da Empresa Bandeirante de Energia. Foi salvo por algumas garotas de programa que o viram lá em cima e avisaram os bombeiros.

Às 20h11, mais de 1 milhão de pessoas em 22 cidades do interior de São Paulo ficaram sem energia elétrica. É que, para resgatar o pedreiro desempregado, a concessionária foi obrigada a desligar todo o sistema.

Às 20h56, Vieira estava salvo e a luz voltou. Mas seu drama estava apenas começando. Levado primeiro ao Pronto Socorro do Hospital Regional de Sorocaba para receber curativos no braço direito machucado, acabou preso em flagrante e passou a noite numa delegacia. De lá, foi transferido pela manhã para o Centro de Detenção Provisória.

Ontem à tarde, até o diretor do presídio, Márcio Coutinho, 32, há 11 anos funcionário do sistema penitenciário, ficou chocado com a cena quando o preso entrou na sua sala.

Era um homem negro muito magro, curvado, que tremia e chorava sem parar. Não conseguia nem falar.

Coutinho ficou sem saber o que fazer. "Nunca tive um preso por 265", explicou, referindo-se ao artigo do Código Penal que prevê pena de um a cinco anos de prisão para quem cometer "atentado contra a segurança de serviço de utilidade pública".

Nos registros da polícia consta que Vieira só estudou até o 1º grau, não tem antecedentes e nunca esteve internado para tratamento de moléstias mentais. E que, ao final do interrogatório, disse "estar arrependido".

Aos poucos, vai contando sua história. Tem um filho, não conheceu o pai, dois irmãos moram com a mãe em Sorocaba. Sem emprego fixo há quatro anos, fazia trabalhos eventuais para um empreiteiro que lhe pagava R$ 1,10 por hora de trabalho, quando havia trabalho.

Coutinho, que assumiu o cargo de diretor do centro há apenas duas semanas e cuida de outros 600 presos, parece constrangido com a cena. "Esse homem está na cadeia por mero automatismo legal e eu fico parecendo o vilão."

Inconformado, telefona para uma amiga que é procuradora do Estado. "Pois é, mandaram esse preso para cá. É um absurdo ficar com ele aqui." A procuradora promete ajudá-lo. "Vou ver se consigo tirar esse homem daqui até amanhã", diz Coutinho.

Enquanto não encontra uma solução legal, o diretor procura preservar o preso. Quer saber se já se alimentou, se está sendo bem tratado pelos colegas de cela.

"Os outros presos estão me ajudando, doutor. Mas não consigo comer nada. Eu não sei o que me deu. Deu na cabeça de eu me matar", balbucia com dificuldade.

Como a família não tem telefone, os parentes ainda não sabem o que aconteceu com o pedreiro.

Antes de voltar para a sua cela, faz um apelo ao diretor. "O senhor não pode me ajudar a arrumar alguma coisa? Eu também faço limpeza de jardim, serviço de ajudante, sou trabalhador."

Fim de tarde, as luzes começam a ser acesas no presídio.

RICARDO KOTSCHOENVIADO ESPECIAL A SOROCABA
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