Jânio Quadros é 7º brasileiro a ser capa da Revista Time Magazine
30 de junho de 1961, sexta-feira. Há 63 anos
Sobre o Governo Jânio Quadros
O governo de Jânio Quadros durou seis meses e é considerado pelos historiadores como um governo confuso, que tomou decisões erradas e que contribuiu para lançar o país em um grande crise política.
A pouca preocupação de Jânio com questões políticas e partidárias fez ainda com que ele entrasse em choque com o próprio partido que o havia lançado como candidato (UDN).
Nas questões relacionadas à economia, o grande foco de Jânio Quadros era o combate à inflação. Para isso, iniciou um plano econômico de austeridade que previa redução de gastos e impôs algumas medidas bastante impopulares.
Primeiro, o governo desvalorizou a moeda nacional em relação ao dólar em 100% e, em seguida, retirou subsídios ao petróleo e ao trigo. O resultado disso foi uma disparada dos valores de produtos importados, combustíveis, passagens de ônibus e pão.
As medidas foram bem recebidas pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Clube de Haia (credores europeus e americanos), mas o custo político disso para Jânio foi tão alto que fez com que ele tentasse uma alteração na sua política econômica, por meio de um projeto mais desenvolvimentista, aplicado a partir de julho.
As medidas impopulares do governo de Jânio Quadros não ficaram somente nisso. Segundo as historiadoras Lilia Schwarcz e Heloísa Starling, o presidente:
[…] - vetou corridas de cavalo nos dias úteis e rinhas de galo todos os dias;
- proibiu o uso de lança-perfume nos bailes de Carnaval e de biquíni nas praias;
- regulamentou o comprimento dos maiôs nos desfiles televisionados dos concursos de misses.
E, para arrematar, instalou dois jumentos nordestinos pastando a grama verde do imenso jardim do Palácio da Alvorada|2|.
Politicamente, o governo de Jânio também foi desastroso. O presidente iniciou uma devassa moralizadora nos cargos administrativos e denunciou abertamente políticos do PSD e PTB.
Além disso, não fazia questão nenhuma de manter a cordialidade com o partido que o apoiava – a UDN. Isso levou Jânio a se isolar politicamente, passando a governar sem o apoio parlamentar, fato que inviabilizava a governabilidade presidencial.
O golpe final sobre o governo de Jânio foi a imposição da política externa independente. Jânio Quadros começou a defender uma espécie de “terceira via” para as relações exteriores do Brasil, ou seja, começou a redefinir as relações diplomáticas com os Estados Unidos e a retomar os contatos com a União Soviética, suspensos desde 1947.
Uma demonstração clara dessa política externa independente foi a condecoração que o presidente deu a Ernesto Che Guevara, um dos grandes nomes da Revolução Cubana.
Essa política acontecia no contexto de um dos momentos mais tensos da Guerra Fria e, naturalmente, enfureceu políticos conservadores do Brasil, como Carlos Lacerda.
Renúncia de Jânio
Em agosto de 1961, a crise do governo de Jânio era aguda. Carlos Lacerda, o homem que o havia apoiado nas eleições, agora o atacava abertamente. Além disso, Jânio não tinha o apoio do Congresso. Em decorrência dessas situações, tomou uma atitude drástica: apresentou sua renúncia no dia 25 de agosto de 1961.
Jânio nunca explicou o que o motivou a renunciar, mas há um consenso entre os historiadores de que foi uma tentativa de autogolpe. Observando retrospectivamente, podemos perceber que foi um erro de cálculo:
Jânio esperava que sua renúncia não fosse aceita e que um clamor popular surgisse exigindo seu retorno à presidência com amplos poderes políticos, isso é, sem a presença do Congresso para incomodá-lo.
Com a renúncia de Jânio, uma grave crise política iniciou-se. A cúpula militar afirmou que não aceitaria a posse de João Goulart, vice-presidente e sucessor, de acordo com a Constituição de 1946.
Isso deu início à campanha da legalidade, no qual, grupos mais ligados à esquerda defendiam a posse de João Goulart. Esse impasse foi solucionado com a posse de Jango, em setembro de 1961, sob um regime de parlamentarismo.
|1| Eleição presidencial de 1960. Para acessar, clique aqui.
|2| SCHWARCZ, Lilia Moritz e STARLING, Heloísa Murgel. Brasil: Uma Biografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 432.