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D. Pedro II era republicano?
4 de junho de 189104/04/2024 21:13:54

D. Pedro II e o Conde da Mota Maia
Data: 01/07/1888
Créditos: História com Fotos
O imperador aos 63 anos. Estação de cura de Aix-les-Bains, no Hotel Splendide, França((vr)

Em junho de 1891, já no exilio, o imperador anotou à margem de um livro que estava lendo:

“Desejaria que a civilização do Brasil já admitisse o sistema republicano que, para mim, é o mais perfeito, como podem sê-lo as coisas humanas.

Creiam que eu só desejava contribuir para um estado social em que a república pudesse ser ‘plantada’ por mim e dar sazonados frutos.”

Alessandra B. F. Fraguas (15/11/2017) - A pergunta já abordada por importantes veículos de comunicação no país pode parecer paradoxal, para não dizer estapafúrdia, em um primeiro momento, mas para surpresa de muitos, pode-se dar a ela uma resposta afirmativa.

Aliás, este questionamento pode ser solucionado sob duplo aspecto.

Em sentido estrito, d. Pedro II acreditava, sim, ser a república a mais apurada forma de governo, embora declarasse que o Brasil ainda não estava pronto para ela.

Esta concepção vincula-se ao Iluminismo, especialmente a Montesquieu, para o qual, se a população é voltada para a causa pública – a virtude cívica – a ordem deveria ser a republicana.

Ainda assim, o próprio Montesquieu defendera a monarquia constitucional moderna como a mais adequada dadas as condições históricas do seu tempo.

Esta linha de pensamento não era estranha a d. Pedro II, como podemos exemplificar a partir de um fragmento de seu diário[1], escrito já no exílio, em 5 de janeiro de 1890, portanto, logo após os acontecimentos do 15 de novembro.

Ao comentar a opinião de Carlos Leôncio da Silva Carvalho, que havia sido ministro, ocupando a Pasta dos Negócios do Império no Gabinete Liberal de 1878 a 1880, d. Pedro nos permite entrever o seu posicionamento diante dos fatos que levaram à sua deposição:

[…] Confessa Leôncio de Carvalho que não queria já a república porque o imperador criterioso e verdadeiramente amigo do país aceitava a federação das províncias como disse Saraiva e porque para a república ser o governo do povo pelo povo era preciso primeiro educar e preparar os cidadãos (Minha opinião ficou bem clara quando tratei disso com Saraiva).

O ex-imperador … favorecia com inexcedível generosível [sic] generosidade a educação popular.

Os fatos cuja responsabilidade pertence aos maus amigos e conselheiros da Coroa precipitaram os acontecimentos.

[1] Os diários de d. Pedro II integram o Arquivo da Casa Imperial do Brasil (POB), pertencente ao acervo do Arquivo Histórico do Museu Imperial/Ibram/MinC. Ver BEDIAGA, Begonha (Org.).
Diário do Imperador D. Pedro II: 1840-1891. Petrópolis: Museu Imperial, 1999.

Em 7 de abril de 1890, o ex-imperador completaria: “Abdicara [sic] como meu Pai se não me achasse ainda capaz de trabalhar para a evolução natural da república.”

No ano seguinte, em 4 de junho de 1891, revelou: “(…) não duvidaria aceitar a presidência da república, se tivesse certeza de que não me suspeitariam de atraiçoá-la.

Só aspiro a servir minha pátria com devoção, palavra que melhor exprime o que sinto do que dedicação.”

Deste trecho, destacamos a palavra cujo significado ajudaria a entender por que, em sentido lato, d. Pedro II também era um republicano: devoção.

No nosso entender, a devoção, aqui, reporta-se ao ascetismo laico, quer dizer, ao cumprimento dos deveres independentemente das vontades pessoais.

Devoção, neste sentido, finalmente, remete ao ethos burguês que, entre outros tópicos, pressupõe a separação entre as esferas pública e privada da vida social.

É fundamentalmente nesta perspectiva que d. Pedro II tornou-se de fato um republicano, ou seja, no que tange à sua maneira de lidar com a coisa pública (res=coisa; pública=pertencente à coletividade).

Por exemplo, destacamos a carta escrita pelo imperador ao ministro plenipotenciário do Brasil em Lisboa, Miguel Maria Lisboa, barão de Japurá, solicitando que fossem dispensadas as honras com que pretendiam recebê-lo, por ocasião da sua primeira viagem à Europa, em 1871, cujo excerto copiamos:

Snr. Lisboa,

Minha viagem é em caráter inteiramente particular, e chamo-me como designo-me. (…) Vou para hotel e hei de alugar trem.

(…) Tendo provavelmente de haver quarentena, irei para o lazareto e muito me afligirei se qualquer exceção a meu respeito contrariar o intuito da legislação portuguesa. (…) Seu affeiçoado patrício, D. Pedro d’Alcantara[2]

[2] Trecho de carta escrita por d. Pedro II a Miguel Maria Lisboa, barão de Japurá (1809-1881), enviado extraordinário e ministro plenipotenciário em Lisboa, Portugal. Lisboa, 12/06/1871. Maço 206 – Doc. 9380 – Arquivo da Casa Imperial do Brasil (POB). Museu Imperial/Ibram/MinC

Exemplos como este são muitos na extensa documentação que forma o arquivo pessoal de d. Pedro II.

As escritas de si nos ajudam a refletir sobre o deslocamento do imperador que, paulatinamente, descola-se da imagem aristocrática e cunha, ele mesmo, a representação do cidadão que serve com devoção ao país.

Sobre este aspecto, o estudo da complexa trajetória de d. Pedro II nos permite afirmar que, sobretudo a partir do final da década de 1850, o imperador afasta-se do conservadorismo e dos fundamentos patrimonialistas da sociedade brasileira, e passa a defender claramente não só os ideais liberais como a forma de governar burocrático-racional, em sentido lato, republicana.

Se este desajuste entre o seu modo de pensar, sentir e agir – o seu ethos – e a estrutura social brasileira – patriarcal, agrário-escravista – foi um dos fatores que levaram ao esgotamento do seu governo, é uma questão que precisa ser aprofundada pela historiografia.

No entanto, não há dúvida de que, às vésperas da Proclamação da República, o imperador se aproximava muito mais dos filhos bacharéis do que dos pais senhores de escravos.

Por isso, cabe a nós perguntarmos, inspirados em seu contemporâneo Machado de Assis: seria o menino o pai do homem?[3]

[3]Ver “O menino é o pai do homem”. In: ASSIS, Machado de, (1839-1908). Memórias Póstumas de Brás Cubas.
São Paulo: Abril Cultural, 1978, p. 30-33. A frase original é do poeta inglês William Wordsworth.

Alessandra Bettencourt Figueiredo Fraguas, Associada Titular, Cadeira nº 27 – Patrono José Thomáz da Porciúncula / Tribuna de Petrópolis, 15/11/2017
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