| 24 de novembro de 1910, quinta-feira. Há 114 anos |
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| | | Continuam as investigações da polícia sobre o sensacional caso da menor que ocultava os eu sexo com trajes masculinos.
Logo ás primeiras horas da manhã, o dr. Cantinho Filho, primeiro delegado, ouviu no posto policial da rua de São Caetano o sr. J. Barbosa, proprietário da Alfaiataria Barbosa, á rua do Rosário, n. 20, e o sr. Francisco Armando, proprietário da casa "A la Ville de Paris", e que foi gerente da casa "Au Bon Diable", ao tempo que Marius Praire esteve empregado.
Ambos reconheceram pelo retrario, afirmando não terem suspeitado do singular "travesti", si bem que lhes não passassem despercebidos os modos afeminados de Marius, a sua voz acentuada de adolescente e o seu andar amaneirado.
O sr. Baborsa acrescentu ás suas informações que Marius foi por duas vezes seu empregado, vencendo ordenados de 60$000 mensais. Da primeira vez deixou a alfaiataria para matricular-se na Escola de Pomologia.
No dia 12 de agosto ultimo, tendo declarado já não pertencer á Escola, foi readimitido com empregado da casa, da qual foi despedido no dia 13 do corrente.Marius, incumbido na véspera de procurar um colete em casa de uma das costureiras da alfaiataria, deixou de desempenhar-se dessa incumbência, não dando satisfações ao patrão.O sr. Francisco Armando pouco adiantou, referendo ter suspeitado dos ares misteriosos do menor quando trabalhou no "Bon Diable".Muitas vezes vira entrar naquele estabelecmento uma velha "detraqué", conhecida pelo nome de Eudoxia Prado, a qual conversava confidencialmente com Marius, com ele exaltando-se algumas vezes.O que mais verificou a polícia é que a curiosa rapariga a 10 do corrente desaveiu-se na pensão de F. Rodrigues, á rua Florência Abreu, dia 25, dali se retirando.Sem emprego e sem um teto que o abrigasse, Marius Praire esteve na tarde de 14 com uma rapazola da sua idade, a quem ofereceu á venda o seu relógio.Como o menor não quisesse compra-lo Marius pediu-lhe 1$000 por empréstimo, alegando que não tinha dinheiro siquer para o bonde.É provável que o suicídio se tenha dado no dia 15, pouco antes das 7 horas da manhã ou da tarde, pois o relógio deixou de funcionar á essa hora.De tudo que se vai apurando, chega-se á conclusão que Marius Praire não exprimiu a verdade quando escrever na página em branco de um dos seus livros - "Marius Praire da Silva Prado, nascido em Paris a 31 de maio de 1893, filho de José Praire Worms (francês) e Odete da Silva Prado (brasileira).
O que se nos afigura mais provável, e a polícia trata de averiguar, é que Marius seja a menor Maria, filha de Eudoxia Prado, uma infeliz desquilibrada que se presume achar-se no hospício de alienados de Juquery.Segundo pessoas que residiram nas vizinhanças da casa de Eudoxia, esta senhora tinha uma filhinha de nome Maria, que era vista constantemente vestida de homem, mas com uma longa cabeleira caída nas costas.D. Eudoxia a muitas pessoas afirmava que a criança era homem e que, viúva como era, ela lhe seria o único arrimo no futuro.
A polícia trata de descobrir o paradeiro de Eudoxia, afim de obter melhores esclarecimentos sobre o estranho caso. Hoje prosseguirão as pesquisas, devendo ser ouvidas duas raparigas que, sendo namoradas do falso Marius, com ele se correspondiam. | |
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| | | Créditos / Fonte: Correio Paulistano/SP (23/11/1910) p. 4 |
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