Hans Staden: partida para guerra ao lado de Konyan-Bebe
agosto de 1554. Há 470 anos
Ouando iniciamos a partida, para a guerra, era no anno[554, cerca de xim de Agosto. Neste mez (como já foi referido" aqui) uma espécie de peixe, que se chama em portuguedovnges (tainha), em hespanhol liesses, e na lingua dos selvagens bratti (parati) sahem do mar para as águas doces, paradesovar. Os selvagens chamam á isso Zutpirakaen (piracema).Neste tempo costumam ambos ir a guerra, tanto seus inimigoscomo elles próprios, para apanhar peixes e comerem na viagem. Na ida, vão muito de vagar; mas na volta, com a maiorpressa que podem.Eu esperava sempre que os amigos dos portuguezes também estivessem em viagem, porque estes estavam tambémpromptos para invadirem a terra dos outros, como antes me tinham dito os portuguezes, no navio.Durante a viagem perguntaram-me sempre o que eu pensava, si haviam de aprisionar alguém. Para os não zangar,disse que sim; também disse que os inimigos nos haviam deencontrar. Uma noite, quando estávamos num logar da praiaque também se chama Uwattibi, apanhámos muitos dos peixesbratti, que são do tamanho de um lúcio; ventava muito denoite. Conversavam muito commigo e queriam saber de muitacousa. Disse eu então que este vento passa sobre muitos mortos.Havia mais uma porção de selvagens, também no mar. que tinham entrado num rio chamado Paraibe. «Sim, disseram, estesatacaram os inimigos em terra e muitos delles morreram (como mais tarde soube que tinha acontecido).»Ouando chegámos a um dia de viagem de distancia dologar onde queriam executar o seu plano, arrancharam-se namatta, numa ilha que os portuguezes chamam S. Sebastião,mas que os selvagens chamam Meyenbipe.-»Chegando a noite, o chefe Konyan Bebe, sendo chamado,passou pelo acampamento para a matta, fallou e disse quetinham chegado agora perto da terra dos inimigos que todosse lembrassem do sonho que tivessem durante a noite, e queprocurassem ter sonhos felizes. Acabada esta falia, começaram a dançar em honra de seus Ídolos até alta noite e foram depois dormir. Quando o meu senhor se deitou, disse-meque eu procurasse ter um bom sonho. Eu respondi (pie nãome importava com sonhos, (pie são sempre falsos. «Então, disse -87 -elle, roga assim mesmo a teu Dous, para que aprisionemosinimigos.».Ao raiar do dia reuniram-se os chefes ao redor de umapanella cheia de peixe frito, que comeram, contando os sonhosque mais lhes agradaram. Alguns dansaran em homenagemaos seus idolos e quizeram neste mesmo dia ir a terra dos seusinimigos, num logar chamado Boywassukange (Boisucanga),alli queriam esperar até que anoitecesse. CAPITULO XXXIXCOMO ELLES TINHAM UM PRISIONEIRO QUE SEMPRE Ml CALUMNIAVAE CHIE TERIA (.OSTADO DE QUE ELLES ME TIVESSEM MORTOI. COMO o MESMO FOI MORTO E DEVORADO NA MINHAPRESENÇA. CAPUT XI..Havia entre elles um prisioneiro da raça que se chama — 8o -Cariós e que são inimigos dos selvagens, que são amigos dosportuguezes. O mesmo tinha pertencido aos portuguezes, dequem tinha fugido. Aos que vêm, assim a elles, elles nao matam sinão quando comettem algum crime especial conservamn-os como sua propriedade e os obrigam a servir-lhes.Este Cariós esteve três annos entre estes Tuppin Inba econtou que me tinha visto entre os portuguezes e que eu tinha atirado por vezes sobre os Tuppin Inba, quando vinhamem guerra. .Havia alguns annos que os portuguezes tinham morto atiro um dos reis; este rei, disse o Cario, tinha eu atirado. Eos instigava sempre, para que me matassem, porque eu era oinimigo verdadeiro; elle o tinha visto. Mas elle mentia em tudo isso porque já tinha estado três annos entre elles e haviasó um anno que eu tinha chegado a S. Vincente, de onde elletinha fugido, e orei a Deus para que me guardasse contra estas mentiras. Aconteceu então, no anno 1554 ™Í11S o u menos>no sexto mez depois que estava prisioneiro, que o Canos ficasse doente e o senhor delle me pediu que eu o auxihasepara que ficasse bom e pudesse caçar para termos o que comer porque eu bem sabia que quando elle trouxesse algumacousa também dava para mim. Mas como me parecia que ellenão podia mais sarar, queria elle (o senhor) dal-o a um amigo para que o matasse e ganbase mais um nome.Assim estava elle doente, já havia uns nove ou dez dias.Elles tem uns dentes que são de um animal que chamam Backe (pacca) amollam estes dentes, e onde o sangue estanca, ali.cortam elle com o dente sobre a pelle, o sangue corre e este é tanto como quando aqui se corta a cabeça de alguém.Tomei então um destes dentes e queria abrir-lhe uma veiamediana. Mas não podia cortar com elle porque o dente estava muito cego. Estavam todos em roda de mim. Como eu meretirei por ver que nada valia, perguntaram-me si elle ficavabom outra vez? Eu lhes disse que nada tinha conseguido e queo sangue não corria, como podiam ter visto. «Sim, replicaram,elle quer morrer, vamos matal-o, antes que elle morra.» Eu dis-— 8i —se: «não, não o laçam; talvez possa sarar ainda.» Mas não valeude nada; levaran-n-o para frente da cabana do rei Vratinga edous o seguraram porque elle estava tão doente que não percebia o que faziam com elle. Chegou então aquelle a quem tinhasido dado para matal-o e lhe deu um golpe táo grande sobrea cabeça que os miollos saltaram. Deixaram-n-o assim deanteda cabana e iam comel-o. Eu disse então que não fizessemisso, porque elle era um homem doente e que elles podiamtambém ficar doentes. Ficaram sem saber o cpie fazer. Sahiuentão um delles da cabana onde eu morava, chamou as mulheres para que fizessem um logo ao pé do morto e lhe cor-— 82 —tou a cabeça, porque tinha um só olho e parecia tão feio dadoença que teve, que elle deitou fora a cabeça e esfollou ocorpo sobre o fogo. Depois o esquartejou e dividiu com os outros como é de seu costume e o devoraram, excepto a cabeçae os intestinos, que lhes repugnavam, porque elle tinha estadodoente.Fui de unia para outra cabana. Em uma assaram os pes,em outra, as mãos; e na terceira, pedaços do corpo. Disse-lhesentão como o Cariós que elles estavam assando e queriam devorar me tinha sempre calumniado e dito que eu tinha mortoalguns de seus amigos, quando estive entre os portuguezes.Isso era mentira, porque elle nunca me tinha visto. Sabeisque elle esteve entre vós alguns annos e nunca esteve doente;agora, porém, quando elle mentiu a meu respeito, meu Deusficou zangado, o fez ficar doente e metteu na vossa cabeçaque o matasseis e o devorasseis. Assim meu Deus Iara comtodos os maus que me têm feito mal, ou fazem. Ficaram commedo destas palavras e isso agradeço a Deus todo poderoso,que em tudo se mostrou tão forte e misericordioso paracommigo.Peço, por isso, ao leitor que preste attenção ao meu escripto, não que tome este trabalho mesmo por ter vontade deescrever novidades; mas unicamente para mostrar o beneficiode Deus.Approximou-se o tempo da guerra que durante 3 mezeselles tinham preparado. Esperava sempre que, quando sahissem, elles me deixasem em casa com as mulheres, porquequeria ver si emquanto estivessem ausentes podia fugir.CAPITULO XLCOMO UM NAVIO PRANCEZ CHECOU PARA NEGOCIAR COM os SELVAGENSALOOOÃO E PÁU PRASIL, PARA O QUAL MAVIO EU QUERIAIR, MAS DEUS NÃO PERMITTIU. CAPUT XLI.Cerca de oito dias antes da partida para a guerra, umnavio francez tinha chegado a oito milhas dalli, a um porto - 8 3 -que os portuguezes chamam: Rio de Jenero e na lingua dosselvagens Iteronne (Nitheroy). Alli costumam os francezes carregar páu prasil. Chegaram também a aldeia onde eu estavacom o seu bote e trocaram com os selvagens pimenta, macacos e papagaios. Um dos que estavam no bote saltou em terra.Elle sabia a lingua dos selvagens e se chamava Jacob. Ellenegociou com elles e eu pedi que me levasse a bordo. Masmeu senhor disse que não, porque não queria me deixar irassim, queria mercadorias por mim. Pedi-lhes então que ellesmesmos me levassem a bordo, meus amigos lhes dariam entãomercadorias bastantes. Replicaram que estes não eram meusverdadeiros amigos.«Porque estes que tinham vindo com o bote não te deramuma camisa, apezar de tu andares nú? Elles não fazem casode ti (como era verdade).» Mas eu disse: «Si eu chegasse aogrande navio, elles me vestiriam.» Disseram-me então que onavio não sahiria tão cedo, primeiro tinham de ir a guerra, equando voltassem haviam de me levar ao navio. O bote queria então voltar, porque tinha estado ausente do navio umanoite. Quando então vi que o bote se ia embora outra vez,pensei: «O Deus bondoso, si o navio sahir agora e não rielevar comsigo, tenho de perecer entre esta gente, porque nãosão de confiança.» Com este pensamento, sahi da cabana e me dirigi para a água; quando viram [isso, correram atrás demim. Eu corri na frente e elles queriam-me agarrar. Ao primeiro que se chegou a mim bati até me largar e toda aaldeia estava atrás de mim; assim mesmo escapei delles e nadei para o bote. Quando então queria entrar no bote, os francezes não me deixaram e disseram que si elles me levassemcontra a vontade dos selvagens, elles se levantariam tambémcontra elles e se tornariam seus inimigos. Voltei então triste,nadando para aterra, e pensei: «vejo que é a vontade de Deusque quer que eu continue ainda na desgraça. Mas si eu não - 8 5 -tivesse procurado escapar, teria pensado depois que era aminha culpa.»Ouando eu então voltei a terra, ficaram alegres e disseram: «não, elle volta.» Fiquei então zangado e disse: «pensaveisque eu queria fugir? Eu fui ao bote e disse aos meus patrícios que elles se preparassem para quando vos voltardes daguerra me levarem para lá, que então teria muitas mercadorias para vos dar. «Isto os agradou e ficaram outra vez contentes.CAPITULO XLICOMO os SELVAGENS FORAM PARA A GUERRA E ME LEVARAM, E OQUE ACONTECEU NESTA VIAGEM. CAPUT XLII.Quatro dias depois reuniram-se algumas canoas que queriam ir para a guerra, na aldeia onde eu estava. Chegou Iao chefe Konyan Bebe, com os seus. Disse-me então o meusenhor (pie me queria levar. Pedi que elle me deixasse emcasa. E elle talvez o tivesse feito, mas Konyan Bebe disseque me levassem. Eu não deixei transparecer que ia contrariado, para (pie elles pensassem que eu ia de bom grado eque eu não queria fugir cpiando chegassem a terra do inimigoe tivessem menos cautella commigo. Era também minha intenção, si me tivessem deixado em casa, fugir para o naviofrancez.Mas levaram-me e tinham uma força de xxxxm canoas ecada canoa tripolada com mais ou menos xxm e alguns dellestinham tirado bons augurios da guerra, consultando os seusÍdolos, em sonhos e outras superstições, como é seu costume,de modo (pie estavam bem dispostos. Sua intenção era dirigirem-se á visinhança de Brickioka, onde me capturaram, e seesconderem nas mattas dos arredores e aprisionar todos quelhes cahissem nas mãos.Ouando iniciamos a partida, para a guerra, era no anno[554, cerca de xim de Agosto. Neste mez (como já foi referido" aqui) uma espécie de peixe, que se chama em portuguez - 86 —dovnges (tainha), em hespanhol liesses, e na lingua dos selvagens bratti (parati) sahem do mar para as águas doces, paradesovar. Os selvagens chamam á isso Zutpirakaen (piracema).Neste tempo costumam ambos ir a guerra, tanto seus inimigoscomo elles próprios, para apanhar peixes e comerem na viagem. Na ida, vão muito de vagar; mas na volta, com a maiorpressa que podem.Eu esperava sempre que os amigos dos portuguezes também estivessem em viagem, porque estes estavam tambémpromptos para invadirem a terra dos outros, como antes me tinham dito os portuguezes, no navio.Durante a viagem perguntaram-me sempre o que eu pensava, si haviam de aprisionar alguém. Para os não zangar,disse que sim; também disse que os inimigos nos haviam deencontrar. Uma noite, quando estávamos num logar da praiaque também se chama Uwattibi, apanhámos muitos dos peixesbratti, que são do tamanho de um lúcio; ventava muito denoite. Conversavam muito commigo e queriam saber de muitacousa. Disse eu então que este vento passa sobre muitos mortos.Havia mais uma porção de selvagens, também no mar. que tinham entrado num rio chamado Paraibe. «Sim, disseram, estesatacaram os inimigos em terra e muitos delles morreram (como mais tarde soube que tinha acontecido).»Ouando chegámos a um dia de viagem de distancia dologar onde queriam executar o seu plano, arrancharam-se namatta, numa ilha que os portuguezes chamam S. Sebastião,mas que os selvagens chamam Meyenbipe.-»Chegando a noite, o chefe Konyan Bebe, sendo chamado,passou pelo acampamento para a matta, fallou e disse quetinham chegado agora perto da terra dos inimigos que todosse lembrassem do sonho que tivessem durante a noite, e queprocurassem ter sonhos felizes. Acabada esta falia, começaram a dançar em honra de seus Ídolos até alta noite e foram depois dormir. Quando o meu senhor se deitou, disse-meque eu procurasse ter um bom sonho. Eu respondi (pie nãome importava com sonhos, (pie são sempre falsos. «Então, disse -87 -elle, roga assim mesmo a teu Dous, para que aprisionemosinimigos.».Ao raiar do dia reuniram-se os chefes ao redor de umapanella cheia de peixe frito, que comeram, contando os sonhosque mais lhes agradaram. Alguns dansaran em homenagemaos seus idolos e quizeram neste mesmo dia ir a terra dos seusinimigos, num logar chamado Boywassukange (Boisucanga),alli queriam esperar até que anoitecesse. Quando sahimos do logar onde tínhamos pernoitado, chamado Meyenbipe, perguntaram-me outra vez o (pie eu pensava. Disse então ao acaso «pie em Boywassukange havíamos - 88 —de encontrar os inimigos, e que tivessem coragem. E era minha intenção fugir delles no mesmo logar Boywassukange,quando chegássemos, porque de lá até o logar onde me tinhamcapturado havia somente 6 léguas.Ouando continuámos perto da terra, vimos por detrás deuma ilha umas canoas que se dirigiram a nós. Gritaram então-«Alli vém os nossos inimigos, os Tuppin Ikins.» Assim mesmoqueriam esconder-se com as canoas por de trás de um rochedo, para que os outros passassem sem os ver. Com tudo, viram-nos e fugiram para a sua terra. Nós remámos com toda a força atrás delles, certamente durante quatro horas e entãoos alcançamos. Eram cinco canoas cheias, todas de Bnckioka.Eu os conheci a todos. Havia seis mammelucos em uma dascinco canoas e dous eram irmãos; um chamava-se Diego dePraga, o outro Domingos de Praga. Estes se defenderam valentemente, um, com um tubo (sarabatana), e o outro com umarco. Resistiram em sua canoa durante duas horas a trinta ialgumas canoas nossas. Quando tinham acabado as suas flechas,os Tuppin Inba os atacaram e os capturaram e alguns foramlogo mortos e atirados. Os dous irmãos não ficaram feridos,mas dous dos seis mammelucos ficaram muito feridos e também alguns dos Tuppin Ikin, entre os quaes havia umamulher.CAPITULO XLI1CoMO [TRATARAM o s PRESOS NA VOLTA. CAPUT XLIH.Era no mar, a duas boas léguas distante da terra, ondeforam capturados, e voltaram o mais de pressa possível aterra para pernoitar outra vez no mesmo logar, onde j a estiveramos. Ouando chegámos a Meyen bibe era de tarde e osol estava entrando. Levaram então os prisioneiros, cadaum para sua cabana; mas a muitos feridos desembarcaram elogo mataram, cortaram-n-os em pedaços e assaram a carneEntre os que assaram de noite havia dous mammelucos queeram christãos. Um era portuguez, filho de um capitão e sechamava George Ferrero, e a sua mãe era selvagem. O ou-9 8 -tro chamava-se Hieronymus; este era prisioneiro de um selvagem que morava na cabana onde eu estava e cujo nome eraParwaa. Elle assou Hieronymus de noite, a mais ou menosum passo distante de onde eu estava deitado. O mesmo Hieronymus (Deus lhe falle na alma) era parente consanguineo deDiego Praga.Nesta mesma noite, quando elles se tinham acampado, fuientrar na cabana na qual conservavam os dois irmãos, parafallar com elles, porque tinham sido meus bons amigos em Brickioka, onde fui preso. Então perguntaram-me se deviam serdevorados; eu respondi que isso deviam deixar á vontade doPae Celeste e de seu amado filho Jesus Christo, o crucificado — 99 —por nossos pecados, em cujo nome éramos baptizados até anossa morte. «No mesmo, disse eu, tenham fé, pois Elle me temconservado tanto tempo entre os selvagens e o que Deus todo poderoso fizer comnosco, com isso devemos nos conformar.»Perguntaram-me ainda os dois irmãos como ia seu primoHieronymus; eu lhes disse que elle fora assado ao fogo e queeu tinha visto já comerem um pedaço de filho de Ferrero. Choraram então; eu os consolei e disse que de certo sabiam queeu estava Ia havia cerca de 8 mezes e que Deus tinha meconservado. «Isso fará elle comvosco também, confiem
,disse eu. Eu sinto isso mais do que vós, porque sou de uniaterra extranha e não estou acostumado aos horrores desta gente; mas vos nascestes aqui e aqui fostes
. «Sim, responderam, eu tinha o coração endurecido por causa da minhaprópria desgraça e por isso os não lastimava mais.»Estando assim a fallar com elles, chamaram-me os selvagens para minha cabana e me perguntaram que conversa cumprida tinha eu tido com elles.Senti muito ter de os deixar e lhes disse que se entregassem a vontade de Deus, e que podiam via- (pie misériashavia neste valle de lagrimas. Responderam-me que nunca tinham experimentado isso tão bem como agora e que se sentiam mais alegres por eu estar com elles. Sabi então da suacabana e atravessei todo o acampamento, vendo os prisioneiros. Andei assim sósinho e ninguém me guardava, de modoque desta vez podia bem ter fugido, porque estávamos numailha, Meyenbipe chamada, cerca de 10 léguas de caminhode Brickioka; mas deixei de o fazer por causa dos christãospresos, dos quaes ainda havia quatro vivos. Assim pensavaeu: «si eu fugir, fican zangados e os matam logo; talvezDeus nos preserve a todos.» E assentei de ficar com elles paraconsolal-os, como realmente fiz. E os selvagens estavam muitocontentes commigo porque eu antes tinha dito, por acaso,que os inimigos viriam ao nosso encontro. Como eu tinha adivinhado isso, disseram (pie eu era melhor propheta que omaraka delles IOOCAPITULO XLIIICOMO DANSAVAM COM OS SEUS [1]
Góis partiu de Lisboa, desembarcando no Brasil em 1538, fundou a Vila da Rainha (atualmente em São Francisco de Itabapoana) no ano seguinte e desde o início sofreu diversas dificuldades incluindo problemas com a Capitania vizinha de Espírito Santo onde expedições foram enviadas ao seu território para a captura de indígenas, o que gerou reações negativas dos nativos.Em seu território começou uma plantação de cana-de-açúcar que trouxera da Capitania de São Vicente, Pero voltou a Portugal para buscar ferramentas para a construção de engenhos porém ao voltar encontrou a Capitania abandonada devido a conflitos com tribos indígenas hostis como os Goitacases e os Puris.[1]Seu irmão, Luís de Góis que morou alguns anos na capitania vizinha de São Vicente, foi o primeiro a levar tabaco à Europa.No ano de 1554 durante a Guerra de Iguape liderou uma força portuguesa contra o Entrincheiramento de Iguape estabelecido pelos espanhóis de Ruy Garcia de Moschera, suas forças foram derrotadas e ele foi ferido gravemente, vítima de um tiro de arcabuz, a derrota levou ao ataque e saque da cidade de São Vicente. [2]