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Mais uma da série “não me contaram na escola”: Cartas são traduzidas do tupi pela 1ª vez na história
19 de agosto de 164504/04/2024 15:09:45

Carta em tupi de Felipe Camarão a Pedro Poti
Data: 19/08/1645
Créditos: Arquivo pessoal/Eduardo Navarro
Traduzida pelo professor da USP, Eduardo Navarro(.241.

Professor da USP Eduardo Navarro traduziu seis cartas trocadas entre potiguares que estavam em lados opostos na guerra travada entre portugueses e holandeses pelo domínio do Nordeste.

O professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, da Universidade de São Paulo (USP) Eduardo Navarro concluiu, pela primeira vez, a tradução de seis cartas em tupi trocadas entre indígenas no século 17 durante a invasão holandesa no Nordeste. É o primeiro documento da história escrito em tupi por e para indígenas traduzido para o português.

A tradução de Navarro deve ser publicada em breve pelo Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, de Belém, no Pará.

As cartas revelam diálogos de homens que lutavam entre si durante uma guerra religiosa travada entre portugueses e holandeses, conhecida como Insurreição Pernambucana. De um lado, os indígenas protestantes, apoiadores dos holandeses que invadiram o nordeste brasileiro; do outro, indígenas que defendiam o governo português.

“Por que faço guerra com gente de nosso sangue, se vocês são os verdadeiros habitantes desta terra? Será que falta compaixão para com nossa gente?”, pergunta o líder indígena Felipe Camarão ao cacique Pedro Poti, em um dos textos.

Esta é a primeira vez que pesquisadores conseguem traduzir essas correspondências, que são estudadas desde o século 19.

Quase todos os documentos do período colonial foram escritos pelos "vencedores", no caso os colonizadores do Brasil, e, esses são os únicos textos conhecidos em tupi trocados pelos "vencidos", os indígenas, nesta época.

“É a primeira vez que essa história é contada pela pena dos índios, e está ali o lado dos vencidos”, afirma Navarro, autor da pesquisa. O idioma tupi era só falado, e, os jesuítas criaram a representação escrita. Por isso, não são comuns os documentos escritos redigidos pelos próprios indígenas.

Segundo o professor Eduardo Navarro, a tradução dessas seis cartas só foi possível com a ajuda de um dicionário de tupi, também de sua autoria, publicado em 2013.

“Essas cartas foram entregues na mão de Teodoro Sampaio, que foi um historiador e um engenheiro, o primeiro que se debruçou sobre esses textos. E ele confessou, em um artigo, que ele não conseguiu traduzir as cartas, que seguiram sendo um mistério para ele. Depois, o Aryon Rodrigues, linguista indígena da Unicamp muito conhecido, tentou também. Ele foi até a Holanda buscar essas cartas para traduzi-las, mas também não conseguiu”, explica Navarro.

Contexto histórico

As correspondências recém-traduzidas, escritas no ano de 1645, envolvem alguns dos principais combatentes da Insurreição Pernambucana, como Felipe Camarão, chefe nativo dos índios potiguares e alinhado aos interesses de Portugal.

Durante a guerra, ele organizou diversas ações de guerrilha que se revelaram essenciais para conter o avanço dos holandeses no Nordeste brasileiro, segundo historiadores.

Nas cartas reveladas, Camarão pede a seus parentes Pedro Poti e Antônio Paraupaba, indígenas protestantes, que abandonassem os holandeses.

Ele diz ainda que, embora os holandeses tenham dado títulos aos indígenas que se juntaram a eles, essas honrarias não eram consideradas válidas pelos portugueses.

“Não pensem que se poupa a vida dos potiguaras, da gente nossa, por esses terem sido feitos chefes. Não pensem que os holandeses livram vocês de nós. Somente a vida deles é poupada”, diz Felipe Camarão, em carta escrita para o líder indígena Pedro Poti.

O pesquisador Eduardo Navarro explica que os holandeses tinham a política de fazer alianças com os índios por meio da concessão de liberdade e de cargos e títulos.

“Mas tais títulos, como o de capitão, por exemplo, não eram reconhecidos pelos portugueses nem conferiam garantia de que suas vidas seriam poupadas em caso de captura, como se fazia com os oficiais holandeses, que não eram mortos, mas viravam prisioneiros”, explica Navarro.

Em 1649, Poti foi capturado pelos portugueses e viveu uma série de torturas na prisão. Ele morreu alguns anos depois de sua prisão, a bordo de um navio no qual era conduzido para ser julgado em Portugal.

Respostas às cartas

As respostas de Pedro Poti às cartas de Felipe Camarão não foram preservadas. Mas, por meio de um resumo feito por um pastor holandês, os historiadores verificaram que Poti discordou dos argumentos de Camarão.

Segundo o resumo, Poti teria respondido que não havia motivos para continuar apoiando os portugueses, que escravizaram e praticaram violência contra os indígenas da região.

Outro indígena que recebeu cartas de Camarão no mesmo ano de 1645 foi Antônio Paraupaba, que lutava ao lado dos holandeses. Em 1625, ele foi, com outros índios potiguaras, para os Países Baixos, onde aprendeu o idioma. De volta ao Brasil, passou a atuar como intérprete entre os holandeses e os indígenas e, entre 1645 e 1649, assumiu o cargo de Capitão e Regedor do Rio Grande do Norte.

Na carta escrita para Paraupaba, Camarão diz que é seu "verdadeiro pai" e que por isso não quer sua morte.

"Envio-lhe estas minhas palavras, estando como seu verdadeiro pai, na verdade. Será que isto é contra a sua vontade? Por quê? Estando eu como seu verdadeiro pai, não quero sua morte sem sentido, como se você fosse aquele animal que não conhece a Deus", diz Camarão, na carta.

As correspondências revelam ainda os nomes de outros combatentes indígenas e detalhes sobre algumas batalhas, além de lamentos sobre a perda de tradições dos potiguares.

Em uma das cartas escritas por Camarão para Poti, o líder dos combatentes portugueses critica a dominação dos holandeses na Caatinga e atribui a eles o desaparecimentos de alguns de seus ritos.

"Nossas antigas terras, nossos velhos ritos, nossos parentes paraibanos, os de Cupaguaó, os de Uruburema, os de Jareroí, os de Guiratiamim, todos os antigos filhos dos habitantes da Caatinga, tudo e todos estão sob as leis dos insensatos holandeses, assim como seu corpo e sua alma também estão", afirma Camarão.
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Francisco de Saavedra
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Em 2 de agosto de 1939 Apesar de não ter trabalhado no projeto atômico, de acordo com Linus Pauling, Einstein mais tarde teria se arrependido de ter assinado a carta.
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