Manoel de Faria Doria, sendo a primeira pedra triangular do alicerse da Igreja Matriz assentada
9 de março de 1839
09/04/2024 19:45:15
Entretanto, a controvérsia se faz presente, em documento da Câmara da então Vila de São José do Paraitinga, datado de 1866, documento que tratava da descrição da Vila, em que tem-se a seguinte colocação:
[A Villa] Fica situada em um habertão que fica aquem da serra do Una quatro legoas sobre a chapada de um monte, está toda circundada de montes todos proprios para agricultura, sendo seu fundador o patriota paulista Vigario de São Sebastião finado Manoel de Faria Doria, sendo a primeira pedra triangular do alicerse da Igreja Matriz assentada em 9 de Março de 1839.” [...] (SÃO PAULO, 1866).
É relevante que em dado tempo, e por dado grupo de pessoas que representavam a comunidade, o próprio Padre Dória tenha sido considerado como fundador de Salesópolis. Longe de ser uma discussão que se encerra aqui, múltiplos discursos colocados em disputa não deixa de trazer à reflexão possíveis questões de apagamento da história.
Menciona-se isso pois, de fato, nenhum dos autores citados, sendo eles Miranda Júnior (1973), Silva (1989) e Wuo (1992) citaram o Padre Dória em nenhum momento, fato no mínimo estranho, considerado que um século antes a própria Câmara da Vila o indicava como fundador de Salesópolis.
Outra menção importante a partir do documento é quanto ao ponto de vista geográfico de quem o redigiu, pois em termos de localização, ao mencionar o ponto em que fica situado a Vila, faz-se referência à distância a partir da Serra do Una, que se supõe ser a Serra do Mar na região do Rio Una, o que corrobora a perspectiva de maiores relações da então Vila de São José do Paraitinga com a Serra do Mar e Litoral Norte.
Não se faz qualquer referência ligada a Mogi das Cruzes, que poderia ser uma tendência considerando que foi de Mogi das Cruzes, que a dita Vila emancipou-se na década anterior, ou mesmo alguma referência à capital da Província.
Manoel de Faria Doria, sendo a primeira pedra triangular do alicerse da Igreja Matriz assentada
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.