Chegou a Buenos Aires com toda a sua colônia que tinha em Santa Catarina
1537. Há 487 anos
O que o jesuíta Charlevoix, narrou em sua “História do Paraguay”, Liv, I, ano 1530 até 35,foi transcrito por Frei Gaspar em suas “Memórias”, mas foi tomado como invenção oulenda. Faltou a Frei Gaspar um estudo mais profundo e detalhado do personagem principaldessa parte importante da história de São Vicente – o Bacharel Mestre Cosme Fernandes –o que deixa bastante claro que Frei Gaspar desconhecia a história de São Vicente anteriorà Vila de Martim Afonso, pois não teria recusado os relatos sobre a guerra de Iguape.Vejamos o que conta o padre Charlevoix, na sua obra anteriormente citada:“Sendo arruinada a Torre de Caboto pelos índios timbués, Ruy Mosquera lhe havia feitoalgumas reparações, mas desesperado de se não poder ali conservar contra os índios,tomou partido de se embarcar com sua tropa em uma pequena embarcação que aliconservava, e desceu o rio até o mar, e seguiu a costa do norte; e descobrindo pela latitudede 32 graus (aqui houve engano do autor ou do tipógrafo quanto à latitude) um portocômodo, entrou, e nele fundou uma pequena Fortaleza e achou os naturais do país bemdispostos a fazerem aliança com ele e semeou logo um terreno que lhe pareceu fértil.Poucos dias depois, um cavalheiro português chamado Duarte Peres, que havia degredadonaquela vizinhança, se lhe veio unir com a sua família”.“Duarte Peres não esteve muito tempo em sossego, porque recebeu uma ordem o CapitãoGeral do Brasil em que mandava voltar a seu degredo, e dizer a Rui Mosquera, se queriaficar onde estava, devia prestar juramento de fidelidade a El Rei de Portugal, a quempertencia todo aquele país. Peres obedeceu, mas Mosquera respondeu, de boca, que adivisão da América não estava ainda regulada entre o rei de Portugal e Espanha, e que,enquanto isso, estava resolvido a se conservar no posto que ocupava. Faltavam-lhe armas emunições, mas um navio francês, tendo vindo a ancorar nesta mediação de tempo na ilhade Cananéia defronte do seu forte, pode aproveitar a ocasião para se meter em estado dedefesa, se fosse atacado. Embarca com todos os espanhóis e duzentos índios em doisbatéis, chega de noite ao navio francês, que rendeu e, desarmando a equipagem, a conduzà sua Fortaleza”.Pouco depois foi advertido de que um corpo considerável de portugueses vinha por mar aatacá-lo. Dispôs de uma bateria de quatro peças de artilharia, que havia tirado da suapresa, fez novos entrincheiramentos no seu Forte e meteu uma parte da sua gente ememboscada em um bosque que cobria o lado do mar. Os portugueses eram oitenta,seguidos por um exército de índios, e iam tão confiados no bom sucesso, como iria umgrande juiz a prender um bando de ladrões. Esta confiança aumentou, vendo que se lhesnão disputava o desembarque. Passaram o bosque sem obstáculos, mas apenasdescobriram o Forte, se acharam expostos aos tiros de sua artilharia carregados pelaretaguarda pelos da emboscada, que os haviam deixado passar. O medo se apoderou dosíndios e se comunicou aos portugueses. Todos se dispersaram e à reserva dos que haviamfugido, todos os que escaparam do canhão, foram passados à espada. Mosquera, nãosatisfeito com essa vitória, embarcou com uma parte dos seus valentes, e um grandenúmero de índios, nas embarcações em que tinham vindo os portugueses e navegou a fazerum desembarque no Porto de São Vicente. Ele saqueou a Vila e os Armazéns d’El-Reicom tanta facilidade, que os portugueses, descontentes do Governador, se uniram a ele.Compreendeu o dito Mosquera, muito bem, que os seus bons sucessos, longe de firmaremo seu estabelecimento, não serviriam mais, que o de virem atacar forças a que ele nãopudesse resistir, pelo que transportou a sua pequena colônia para a Ilha de Santa Catarina,onde imaginava que não o viriam inquietar, mas não esteve ali muito tempo, porque em1537 chegou a Buenos Aires com toda a sua colônia que tinha em Santa Catarina e muitasfamílias de índios que se lhe haviam unido.Este relato de Charlevoix, do qual apresentamos a transcrição, nos parece verídico (salvopequenas alterações e confusões observadas).
1° de fonte(s) [22667]
“Memórias Para a História da Capitania de São Vicente”, Frei Gasp...