Wildcard SSL Certificates

1816
1817
1818
1819
.
1820
1821
1822
1823
1824

RegistrosPessoas




19
Viagem de Bonifácio
1820



habitantes e tietê[pagina 14]

Não descreverei as fábricas do Ipanema porque o fiz em uma memória que apresentei á junta do novo governo de São Paulo em 1821, e que as torna muito conhecidas. A 28 de abril partimos de São Paulo, por caminho diferente daquele porque, fomos. Mandámos adiantes os criados, pela banda da frequezia de São Roque, onde devíamos pernoitar, e tomámos para a capella de Nossa Senhora da Aparição, em cujas vizinhanças se nos disse que se achou um pedaço de pedra que, fundida por um ourives, deu seis onças de prata. Antes de chegarmos, e passado um riacho, na superfície que o segue, encontramos um pequeno veio superficial que com a batêa deu bastante esmeril, porém, nada de ouro.

A vizinhança do riacho vimos frequentes veios de quartzo, alguns consideráveis. A capela da Aparecição é edificada sobre um dos veios que tem quase braça e meia de grossura e cujos fragmentos pisados e examinados não deram indício algum de metal, e ainda menos de pyrites de ferro, ou de mineral de prata. Desenganados dos nossos exames, descemos por uma estrada que tem pouco mais ou menos légua e meia e conduz perto do ribeiro de Nhanahiva, onde encontramos a boa estrada que conduz para São Roque e continúa através da frequezia de Cotia, até São Paulo. Página 235)

Nas planícies que cercão o ribeiro pesquizamos diversas vezes, e tivemos indicios do ouro: e ajustamos que se preparasse tudo, para novos ensaios, que projetavamos na volta de Monserrate, que é preciso não confundir com o monte Monserrate na Ilha de São Vicente. [1]Daquelle sitio nos dirigimos para a Villa de Parnahyba, e seguindo algumas veredas escarpadas, onde não descobrimos mostras d’ouro, que merecessem mais exame, chegamos a um outeiro, que se pega a outro chamado Vacanga, em que acha¬ mos mineraes de ferro vermelho Werner) muito compactos e pesadosO outeiro que se segue é inteiramente composto de camadas, ou brancos de schisto argiloso primitivo, que passa ao schisto micaceo. Sobre o schisto argiloso se estende uma formação de grés. Depois de descer a encosta para a banda do rio Tietê, se começa a ver uma espeeie de pissarra vermelha, e nas quebradas visinhas, resto de antigas minas d r ouro. A constante 155 Vista geral da pedreira calcarea da Comp. Ind. e de E. de Ferro Perús- Pirapóra Gruta — na pedreira calcarea da Agua Fria ( Propr. da Comp. Ind. e de E. de Ferro Perús- Pirapóra) tradição diz, que foram trabalhadas pelos habitantes de Par- nahyba. Passamos o rio por uma boa ponte de madeira, e fomos dormir á Viila. A 12 partimos na direcção do nordeste com a tenção de •examinar a famosa collina de Ventucararú e seus redores. Passamos a ponte do Tietê e subindo os primeiros outeiros achamos cascalho vermelho em um ribeirão, que desagua no Tietê. Não nos deu nenhum signal d’ouro. Continuando a subir e descer as collinas, chegamos a outro ribeiro, que também nos não deu ouro. Este ribeiro, o antecedente, e os outros, formavam a cor¬ rente do Jaguary, que desagua no Juquery perto da fazenda do Bispo de S. Paulo. O Jaguary, se nos referirmos ás noticias que se nos deram, e aos trabalhos feitos em vários pontos de seu curso, antes de sua juncção com o Juquiry, é todo aurifero. Do mesmo modo o é o Juquery, e ambos merecem ser melhor pesquisados. Alem de que o Juquery pode- se fazer navegavel em todo elle, tanto antes, como depois de sua juncção com o rio Mirim, que desemboca no Tietê. Proseguindo o nosso caminho, chegamos ao quarto barranco, ou ribeiro, cujo leito e duas margens já foram pesquizadas e deram muito bom ouro. A chuva embaraçou, que pesquizassemos outros ribeiros, que atravessamos e desembocam no Jaguary. O nosso conductor nos certificou, que havendo pesquizado seu irmão um delles, achara não só ouro, mas igualmente um metal branco em grãos como chumbo de munição, que suppoz ser prata, e que eu julgo ser algum desses novos metaes, que acompanham a platina; o que é tanto mais para suppor como creio, por que ha platina não só no districto de Minas Geraes, como também na Província de São Paulo, de que possuo muito boas amostras. Cumpre- me notar, que a maior parte do esmeril dos cascalhes e pissarras auríferas de todos os lugares, que desde São Paulo observamos, em vários veios quartzosos, principalmente nos de cor cinzenta, que cortam o grés e a pissarra superior, e íi- nalmente nos bancos de schisto argiloso e micaceo, que formam a ossada de differentes montanhas da Serra do Japy, sempre achamos um metal branco em diminutas partículas, mui dif- ficil de separar do esmeril aurifero pela batea, attenta a sua igual gravidade especifica. Ensaiando aquellas partículas com acido nitrico, não se dissolveram. Será o Jridimn puro, ou o osmiuro de iridium, que parece ordinariamente acompanhar o esmeril aurífero, e que observei também nas minas de ouro de lavagem da Adiça. Tinha notado aquelle metal no esmeril aurífero daquella mina, que descrevi, e fiz lavrar na costa opposta a Lisboa, do outro lado do Tejo, como se pode ver nas Memórias da Academia Real das Sciencias de Lisboa. Todos os terrenos á roda de Parnahyba formam uma con¬ tinuação de elevações e de collinas mais ou menos altas e cônicas, separadas por pequenas quebradas e valles. No meio daquelles valles e outeiros, ao longo dos ribeiros, e onde as mattas são mais bastas, está a Villa de Parnahyba^ situada sobre a margem esquerda do Tietê. É pequena, mas habitada por um povo «bom e virtuoso», que monta a 2. 300 almas. Recolhe 600 contos de réis de mineraes. Quanto a agricultura reduz- se á mandioca, milho, feijão, canna, de que fazem assucar, aguardente, e rapadura. Ha vinte annos que a população não augmenta, pela con¬ tinua emigração de seus habitantes, que vão povoar as novas villas de São Carlos Q, Piracicaba e outras do sertão. A Villa de Parnahyba, situada quasi no centro de um vasto districto aurífero, entre as minas do Jaraguá, Japy, Penunduba, Monserrate, Aberta, Boturuna, Piedade, Pirapora e outras, é muito própria para se formar um centro metallurgico e estabe¬ lecer uma Administração Geral. Afóra o ouro, podiam- se extrahir abundantes mineraes de ferro hematitico, vermelho e branco, excellente ferro magnético da rica mina de Pirapóra, e é provável, que entre os seus con¬ tornos, se achem alguns que encerrem metaes uteis. Depois de termos assistido aos Officios da Semana Santa, safámos da Villa para visitar os lugares de Pirapora e Bo- turuíiíi Partimos para Pirapóra sabbado de Alleluia, e experimen¬ tamos com a batea todos os ribeirões adjacentes, dos quaes só deram signaes de ouro, o Itahimirim e outros que não tem nome, mas que pode ser conhecido, por uma matta de jacarandás situada na vertente da collina do Boturuna. Chegados á capella do Bom Jesus, tomamos a encontrar o Tietê, onde pesquizamos, e não ha vestígio d’ouro, talvez por causa da enchente do no, que não permitte tirar areia do leito. Antes de chegar á Igreja encontramos muitos pedaços de excellente mineral de ferro, cor de sangue dé boi e ver¬ melho, que pousa sobre bancos de grés, tanto de grão fino como giosso com o qual talvez alterna. Dalli fomos examinar um cume todo formado de mineral de ferro magnético, expesso e pesado, que está as vezes coberto de ocre de ferro verme¬ lho, com as cavidades cheias de manganez negra e escamosa iParece que a natureza apresenta á vista dois mineraes de ferro, para convidar a estabelecer fundições, para o que dá to¬ dos os preciosos materiaes; porque alli se acham para a cons- trucçao de fornos, excedentes schisto argilosos e horublendicos que alternam sobre si, e optimos grés, de que se compõe to¬ dos os cumes e vertentes dos montes circumvisinhos Também tem pará fundette ou castilha, boa pedra calcarea grossa, cinzenta, que alterna com o schisto argiloso. Esta for¬ mação calcarea, si ella não é primitiva, é pelo menos de muito antiga transição. Para combustível ha suflicientes lenhas, por onde passamos e outras que avistamos em ambos os lados do Tieté. Aquellas fundições, que quanto antes deviam estabelecer teriam a vantagem de não distarem de São Paulo, senão sete léguas por terra, ao mesmo tempo que as de São João do Ipanema, perto de Sorocaba, distam mais de desenove Outra vantagem que podia ter a nova fabrica seria a de embarcar ferro e transportal- o pelo rio Tieté até perto de São Paulo ogo que desfizesse um pequeno salto, chamado de Itapeba! defronte de Parnahyba, ou fizessem pequeno canal de rodeio de uma de suas margens. Do Tieté se pode entrar no Tamanduatahy, que conduz ate bao Paulo, ou tomar o rio dos Pinheiros, chamado rio grande, de que falíamos e subil- o, e ir desembocar não lon»e o pico da montanha, passar dalli só por terra para o Cubatão B? asn rCar n0V ° Santos e de P ois P ara toda a Costa do Depois de pesquizar os mineraes de ferro e as rochas da- quelle sitio de Itapora, fomos ver as antigas minas de Boturuna mas so achamos algumas aberturas, e antigos entulhos, que experimentados com a batea, não deram indícios de ouro. 1 Não me espantei, aquellas minas segundo a tradição, não eram de lavagem, mas de simples beta. \ oltamos de Boturuna para a Viíla, e a meio quarto de legua, antes de chegar, examinamos um banco de pedra cal¬ carea, que é da mesma formação que a de Pirapóra, e que esta nas terras do vigário de Parnahyba José Gonçalves, de que faz cal, em pequeno forno mal construído. Os habitantes ser¬ vem- se pouco delia para as suas casas, visto que quasi todas são de taipa como quasi todas as da Cidade e de outras po- voações da Província. Deixamos de todo Parnahyba a 3 de abril ás dez horas da manhã, e, seguindo a estrada de Pirapóra, quasi a tres quar¬ tos de legua, tomamos á direita para ir ver o sitio chamado Porto Geral, onde passamos em canoa o Tietê. O rio, aqui, alarga- se muito. As margens pouco altas, são desprovidas de expessas mattas, o que as torna muito agradaveis. É para las¬ timar, que não haja uma ponte, para commodidade dos habi¬ tantes e bestas, que vem de Itu e seu redores. Desde que se passou o Tietê, entrando na estrada veem- se á esquerda as antigas minas de desmonte, e de cascalho, o qual na parte em que não mexeu, tem a grossura de quasi tres braças. O cascalho ensaiado com a batea, deu boa pinta d’ouro. Seria tanto mais facil aproveitar aquella formação, por não ser quasi necessário desmonte, que o cascalho é grande, pode ser trabalhado a secco sem agua por cima. O cascalho parece estender- se para ambos os lados, e ao longo do Tietê. Ha fragmentos de argilla saponacea, misturada com alguma areia. Proseguimos o caminho, a menos de um quarto de legua, atravessamos tres pequenos ribeiros, que nascem em uma pe¬ quena serra á esquerda. A areia de um delles experimentada com a batea, mostrou algum ouro. No lugar chamado Cachoeira fomos ver onde o rio Penunduba desemboca no Tietê. Mais adiante toma o nome de Jerubahuba. Nasce na montanha de Coru- yanda. Reune- se a outro ribeiro, que vem do lugar chamado Sitio Velho. Rodeamol- o na direcção de Penunduba, onde antes de chegar, achamos um veio, que segue a estrada de ítú, e cujos cascalhos deu inicios d’ouro. Passamos a noite na fazenda de Penunduba. Na madrugada do dia 4 de Abril ensaiamos com a batea alguns lugares das margens do Penunduba, que deram boas amostras d’ouro. Dali fomos ao salto, que o vigário de Parnahyba tentou quebrar, e que não acabou, deixando intacta quasi uma braça, A rocha do salto é de gneiss que já passa ao granito. Por causa de sua estratificação e dos repetidos veios que tem, seria facilmente aberto e nivelado inteiramente, se tivesse trabalhado com a cunha e martello dos mineiros, e nas partes mais so¬ lidas com a broca. Teria valido mais que o vigário tivesse cavado um leito lateral por onde encaminhasse o ribeiro, fi¬ cando em secco o salto, facilitar- se- ia muito o trabalho. Quatro mineiros hábeis seriam sufficientes para em poucos dias des¬ viar o ribeiro. No dia 6 fomos ver um grande corte, pelo qual se quiz encaminhar o Tietê, evitando assim uma grande volta que elle taz, para pôr em secco o seu leito, e explorar aquelle lugar que e muito aurífero. A idea era boa, e bem concebida, porem loi pessimamente executada. Aquella abertura separa um cume do monte que rodeia o Tietê dos outros montes que formam a serra, mas erradamente principiaram por onde devia acabar isto e pela parte posterior, talvez porque era mais facil o trabalho porem depois foi- se estreitando cada vez mais a pas¬ sagem, de forma que entrando na rocha viva de uma camada de gneiss gramtoso, que tem setenta e cinco braças de largura, so se deu á base do canal sete e meio palmos, e onze na superfície, como se o grande Tietê pudesse entrar pelo fundo de um funil, e depois abrir seu leito atravez da rocha dura e compacta. Notamos um grande erro naquelle trabalho; a linha de di¬ recção fmal, faz um angulo quasi recto com o curso do Tietê. Nao me parece comtudo difficil de emendar, e acabar a obra começada, empregando mineiros hábeis. As grandes ga¬ lerias deste genero, em Saxonia e Hungria, são todas abertas em lochas de igual dureza, e que demais são subterrâneas». Nada mais me resta por dizer, senão que este ultimo corte poupou mais de duzentos contos aos trabalhos que já estão promptos, e dos quaes esperamos agora o ouro, o da força electnca, e o proprio metal de nossos maiores do Rasgão.
Viagem de Bonifácio
Viagem mineralógica na Província de S. Paulo
Data: 01/01/1820
Créditos: José Bonifácio de Andrada e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada
Página 17
Viagem mineralógica na Província de S. Paulo
Data: 01/01/1820
Créditos: José Bonifácio de Andrada e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada
Página 18
Viagem mineralógica na Província de S. Paulo
Data: 01/01/1820
Créditos: José Bonifácio de Andrada e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada
Página 19
Viagem mineralógica na Província de S. Paulo
Data: 01/01/1820
Créditos: José Bonifácio de Andrada e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada
Página 20
Viagem mineralógica na Província de S. Paulo
Data: 01/01/1820
Créditos: José Bonifácio de Andrada e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada
Página 24
Arquivos do Museu Nacional do Rio de Janeiro
Data: 01/01/1923
Créditos: José Bonifácio de Andrada e Silva e Martim Francisco Ribeiro de Andrada
Página 235
ID
SENHA


Procurar
  Cidades    Pessoas    Temas


Brasilbook.com.br
Desde 27/08/2017
28375 registros (15,54% da meta)
2243 personagens
1070 temas
640 cidades

Agradecemos as duvidas, criticas e sugestoes
Contato: (15) 99706.2000 Sorocaba/SP