Alguns dias depois, levaram- me para uma outra aldeia que eles chamam Arirab, para um rei, de nome Konyan- Bébe, que era o principal rei de todos. Ali haviam se reunido mais alguns em uma grande festa, a modo deles, e queriam me ver, pelo que me mandaram buscar naquelle dia.
Chegando perto das cabanas, ouvi um grande rumor de canto e de trombetas, e deante das cabanas havia umas quinze cabeças espetadas; eram de gente sua inimiga, chamada Markaya, e que tinha sido devorada.
Ouando me levaram para lá, disseram- me que as cabeças eram de seus inimigos ecpie estes se chamam Markayas. Fiquei então com medo epensei: «assim farão commigo também!» Ouando entravamosnas cabanas, um dos meus guardas avançou e gritou com voz forte para que todos o ouvissem «Aqui trago o escravo, o portuguez, » pensando que era cousa muito boa ter o inimigo em seupoder. E fallou muitas outras cousas mais, como e de costume, conduzindo- me ate onde estava o rei assentado, bebendocom os outros e estando já embriagados pela bebida que fazem, chamada Kavawy. Fitaram- me desconfiados e perguntaram: «Vieste como nosso inimigo? Eu disse: Vim, mas não souvosso inimigo. » Deram- me então a beber. Já tinha ouvido fallarmuito do rei Konyan- Bébe, que devia ser um grande homem, um grande tyrano para comer carne humana. Fui direito aum delles que pensava ser elle e lhe fallei tal como me vieram as palavras, na sua lingua e disse: «Es tu Konyan- Bébe, vives tu ainda? » Sim, » disse elle, «eu vivo ainda. » «Então, disse eu, ouvi muito fallar de ti e que es um valente homem. » Comisto, levantou- se e cheio de si começou a passear. Elle tinhauma grande pedra verde atravessada nos lábios como é costume delles) também fazem rosários brancos de uma espécie deconchas, que é seu enfeite. Um destes o rei tinha no pescoço, e tinha mais de 6 braças de cumprido. Por este enfeite vique elle era um dos mais nobres. Tornou a assentar- se e começou a me perguntar o queplanejavam seus inimigos, os Tuppin- Ikins e os portuguezes. E disse mais: porque queria eu atirar sobre elle, em Brickioka? Porque lhe contaram que eu era artilheiro e atirava contraelles. Então respondi que os portuguezes me tinham mandadoe me obrigaram. Disse elle então que eu também era portuguez, porque o francez, que me havia visto e a quem ellechamava «seu filho», lhe dissera que eu não sabia a sua lingua por ser portuguez legitimo. Eu disse então: «Sim, é verdade; estive muito tempo fora daquella terra e tinha esquecidoa lingua. » Elle replicou que já tinha ajudado a capturar e comer cinco portuguezes e que todos tinham mentido. Só merestava então consolar- me e recommendar- me á vontade deDeus, porque comprehendi que devia morrer. Tornou então ame perguntar o que os portuguezes diziam delle e si elles tinham muito medo delle. Eu respondi: «Sim, elles faliam muitode ti e das grandes guerras que tu lhes costumas fazer; masagora fortificam melhor Brickioka. »