Com a primeira edição impressa da obra História Geral de las Índias de Francisco Lopes de Gomara em 1552, a aproximação do Eldorado com o Peru foi ainda mais acentuada. O cronista descreveu em detalhes o resplandecer de Cuzco, a grande capital incaica no Peru, modelo andino para toda a América: todos os objetos domésticos e estatuária eram de ouro puro (GOMARA, 1965, p. 209). [GOMARA, 1965, p. 209]
O Peru, sabia-o toda gente, era a terra da prata. Das minas do Potosi, tão largamente faladas, partiam para Castela, a cada nau, carregamentosopulentíssimos do tesouro branco. Pode-se afirmar, sem exagero, ter a Espanha colhido no Peru a riqueza mais espantosa que um país, até então, já tivera a boa dita de colher em minas. Ora, a terra do Brasil era a continuação da terra do Peru.
Formavam ambas um bloco só. "... esta terra e o Perum, Senhor, he toda huma" — mandava dizer ao Rei, numa frase famosa, o velho Tomé de Sousa. Pois sendo esta terra e o Perum toda huma, na expressão viva, e tão chistosa, do governador, como se admitir haver imensidão de prata no Peru e, ao mesmo tempo, não haver prata alguma no Brasil? Seria isso o absurdo dos absurdos! Mas tal não acontecia. Pois, consoante as interessantíssimas idéias do tempo, o oriente era tido como mais rico do que o ocidente. Ora, ficando o Brasil no oriente da América e o Peru no ocidente — "não podia, evidentemente, faltar aqui o que abundava por lá". Assim sendo, e com saborosa lógica, concluía um velho documento, citado por Capistrano: "esta região, por boa razão de philosophia, deve ter mais e melhores minas de prata do que o Perú, por ficar mais oriental que elle e mais disposta à criação dos metaes". Não havia, pois, dúvida: o Brasil não era apenas a terra selvosa do pau-de-tinta; oBrasil, acima de tudo, por boa razão de philosofhia, era a terra bem-fadada da prata! [2]
1° de fonte(s) [20766]
"O Romance do Prata" de Paulo Setúbal (Sabarabuçu, serra Sabarabussú)