Anteriormente a Holanda, Francisco Borges de Barros (1918), no seu trabalhoPenetração em terras Baianas, relata uma série de entradas a partir da capitania como a deFrancisco Bruzza de Espinosa subindo o rio Buranhém (1553), Sebastião Fernandes Tourinho(1572 – 1573), Antônio Dias Adorno (1574) e Diogo Martins Cão, que tinha por alcunha OMatante Negro (1576)176. Diferentemente de Holanda, Borges de Barros não considera aquestão dos apresamentos e ainda atribui heroísmo aos feitos dos bandeirantes. Concordandocom Holanda, certamente, os dois motivos moveram as entradas como bem intitulou o capítuloda sua obra que trata do assunto: “peças e pedras”. [1]Antônio Dias Adorno, no seu catre de maleitoso, vai desenrolando ao senhordo Jequiriçá maravilhas e grandezas. João Coelho de Sousa, com a ambiçãoacendida, ouve-o durante dias e dias. E cada dia mais deslumbrado...A terçã, contudo, aquela ruim terçã que o aventureiro trouxera da suajornada, continua a raivar-lhe sem tréguas no corpo gasto. Assedia-o, agora, comassanhada virulência. Certa noite, batendo furiosamente o queixo, o mateiro clamaaos gritos por João Coelho. E quando o hospedeiro, acudindo precipite, corre aoquarto de Adorno, eis que dá com o doente já cadáver no catre3.Mas que importava aquela morte para o fragueiro senhor do Jequiriçá? Queimportavam as febres? E os bichos do mato? E os bugres? Nada! João Coelho deSousa tem agora no peito, bem assente, esta ousada idéia: atufar-se por essessilvedos adentro em busca da serra da prata.— Cuidado, senhor João Coelho de Sousa, cuidado! O sertão do Brasil étraiçoeiro. Todos os que, até hoje, tentaram desvendar as riquezas que o matoesconde, morreram... Não escapou um só!Foram baldadas as palavras. A serra da prata, aquela aguilhoadora serra,alva e resplandecente, com os seus cimos de prata, com as suas entranhas deprata, com as suas areias de prata, bailava fuzilando diante dos sonhos gananciososdo senhor-dengenho. Nada o demoveu.E João Coelho de Sousa aprestou-se para avisionária jornada.Aprestou-se e partiu.Principia ali, com a arrancada de João Coelho de Sousa, a página inicial doromance da prata. Daquele romance grosseiro, é verdade, mas como o dasesmeraldas, pedra fundamental, fator básico, para essa obra gigantesca,verdadeiramente ciclópica, que foi o desbravamento inicial da terra bruta. Avultanessa obra, como pioneiro, a nebulosa figura, tão distante e esfumada, do hirsutosenhor do Jequiriçá. Sim, aquele asselvajado rico-homem, ao arrojar-se com a suahoste por aqueles bravios matagais impenetrados, vai abrir, arrastado pela miragemda serra branca, um dos primeiros rasgões que o machado do homem já golpearana selvatiqueza amedrontadora do sertão. Logo a seguir, arrastados pela mesmamiragem, olhos cravados na mesma prata, outros homens, mais outros, duranteduzentos anos, enredar-se-ão na mesma aventura em que se enredou o senhor doJequiriçá. Precipitar-se-ão por essas mesmas picadas que, uns após outros, osrompedores-de-mato irão lanhando, como grandes cicatrizes vermelhas, no corpoarisco e púbere daquela jovem terra que despontava.E aquela jovem terra, aqueladesmarcada, misteriosa, rudíssima terra, quase um continente inteiro, onde cresciamNota: as citações deste livro, que vierem apenas entre aspas, sem citação de autor, foram tiradas ou de BarbosaLeal (carta ao visconde de Sabugosa) ou de Gandavo, ou de Gabriel Soares, ou de Frei Vicente, ou de PedroTaques,3 Vide nota A in fine.www.nead.unama.br7árvores estranhas que produziam vidro, onde se entocavam horríficos bichosdesconformes, onde havia serpentes que engoliam veados, onde viviam grandesíndios roxos de pés para trás, aquela terra, assim aterradora e sombria, será dentroem pouco — milagre de uma pobre lenda! — rompida de lado a lado, desvirginada,dilacerada, rasgada em todos os seus meandros, atrevidissimamente, por essesbandos de homens selvagens. E esses homens selvagens, vestidos de couro, dearcabuz ao ombro e faca à cinta, ao arrancarem a terra virginal da sua edênicabruteza, é que vão ser — mal o sabiam eles! — os verdadeiros descobridores dopaís novo, os grandes e autênticos fundadores do Brasil de hoje.Três anos a fio, três anos duramente vividos, o senhor do Jequiriçámergulhou fundo naquele trevoso pego entrançado de matarias. Três anos, com aserra branca acenando-lhe diante dos olhos, a correr altos, a transpor barrocais, afurar cerradões, a vadear rios encachoeirados... Após tão comprido jornadeio, JoãoCoelho de Sousa tornou de novo ao seu engenho. Mas não tornou desiludido. Ah,não! João Coelho tornou radiosamente esperançado. Dizem todos que trazia elemuitas amostras de prata. Mas, ao tornar...— Cuidado, senhor João Coelho de Sousa, cuidado! Todos os que, até hoje,tentaram desvendar as riquezas que o mato esconde, morreram. Não escapou umsó...... ao tornar, antes mesmo de alcançar as terras do Jequiriçá, João Coelho,num dos pousos do caminho, adoeceu subitamente de doença grave. Adoeceu nopouso e morreu no pouso — eis tudo o que diz a crônica.Com tal desfecho, assim inesperado, a conquista da prata teve ali o seuprimeiro fracasso.Antes de morrer, porém, do seu mísero rancho improvisado no mato,mandou João Coelho às pressas um mensageiro de confiança ao irmão, GabrielSoares. O mensageiro levava certamente as amostras da prata. Levava certamenteo roteiro da jornada. E, com as amostras e com o roteiro, um pedido instante aoirmão para que não deixasse perecer os seus trabalhos: que se fosse imediatamenteà Europa, e, na Europa, suplicasse ao Rei auxílios necessários para ultimar odescobrimento da prata."... as riquezas que viu — mandava dizer com firmeza — asriquezas que viu eram por si só capazes de restaurar os thesouros da coroa e fazêla a mais rica do mundo" [2]
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