Ofício do governador e capitão general da capitania de São Paulo, Antônio José da Franca e Horta, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, visconde de Anadia, João Rodrigues de Sá e Melo Souto Maior, sobre a sua jornada as vilas de Parnaíba, Itu, Sorocaba, Porto Feliz para avaliar as duas propostas de abertura de uma estrada ligando a cidade de São Paulo à vila de Itu; fomentar a criação de novas Irmandades da Misericórdia e Hospitais nas vilas de Itu e Sorocaba e solicita o hábito de Cristo ao capitão-mor Vicente da Costa Faques Gois e Aranha, ao sargento-mor da vila de Itu, Joaquim Duarte do Rego e ao capitão-mor da vila de Sorocaba, Francisco José de Sousa. - 30/10/1804 de ( registros)
Ofício do governador e capitão general da capitania de São Paulo, Antônio José da Franca e Horta, ao secretário de estado da Marinha e Ultramar, visconde de Anadia, João Rodrigues de Sá e Melo Souto Maior, sobre a sua jornada as vilas de Parnaíba, Itu, Sorocaba, Porto Feliz para avaliar as duas propostas de abertura de uma estrada ligando a cidade de São Paulo à vila de Itu; fomentar a criação de novas Irmandades da Misericórdia e Hospitais nas vilas de Itu e Sorocaba e solicita o hábito de Cristo ao capitão-mor Vicente da Costa Faques Gois e Aranha, ao sargento-mor da vila de Itu, Joaquim Duarte do Rego e ao capitão-mor da vila de Sorocaba, Francisco José de Sousa.
30 de outubro de 1804, terça-feira. Há 220 anos
OFÍCIO do [governador e capitão general da capitania de São Paulo] Antônio José da Franca e Horta, ao [secretário de estado da Marinha e Ultramar], visconde de Anadia [João Rodrigues de Sá e Melo Souto Maior] sobre a sua jornada as vilas de Parnaíba, Itu, Sorocaba, Porto Feliz para avaliar as duas propostas de abertura de uma estrada ligando a cidade de São Paulo à vila de Itu; fomentar a criação de novas Irmandades da Misericórdia e Hospitais nas vilas de Itu e Sorocaba e solicita o hábito de Cristo ao capitão-mor Vicente da Costa Faques Gois e Aranha, ao sargento-mor da vila de Itu, Joaquim Duarte do Rego e ao capitão-mor da vila de Sorocaba, Francisco José de Sousa. [1]
Viagem do Capitão General Franca e Horta a Sorocaba, Ytú e Porto -Feliz, em 1804 Illm0 e Exmo Snr.: Acabo de chegar de uma jornada que fiz ás villas de Parnahyba, Ytú, Sorocaba, e Porto Feliz, afim de as visitar e conhecer se aquelles vassallos de Sua Alteza Real viviam satisfeitos ou opprimidos com o com mando dos seus respectivos chefes, qual fosse o merecimento e conducta das pessoas em auctoridades publicas e, finalmente, para providenciar sobre os mesmos logares tudo aqui lio do que e Estado e bem publico pudessem tirar algumas vantagens.
A factura de um novo caminho da villla de Ytú para esta cidade, caminho ha muitos anos projetado, mas sobre o qual eram tantas as opiniões como as cabeças, foi um dos objetos que me levaram a fazer esta jornada. Ha daqui a vila de Ytú 18 léguas de caminho a que chamarei velho e se me propunha com instancia a abertura de um novo que encurtava mais de quatro. A distancia de S. Paulo á Ytú pela estrada de rodagem era de 18 léguas; se a nova estrada encurtou 4 léguas é porque a antiga tinha 22.— (N. da R.)
Todas os informes a que mandei proceder me vinham cheio de contradicçoes e duvidas e a circumstancia de ser elle o canal por onde passa qnasi toda a riqueza dos effeitos da Capitania obrigou a tratar este objecto com a seriedade que pedia, sustando na decisão até que occularmente o pudesse examinar.
Achei com e Afeito ser o caminho novo muito superior ao antigo, assim pela qualidade do seu terreno como por encurtar as ditas quatro léguas, que se me dizia, e com este desengano se está já trabalhando nelle a custa de varias pessoas interessadas na sua factura o que é de um benefício geral para o publico e com especialidade para os eonductores de assucar, por atalharem quasi um dia de jornada.
Com tudo o motivo mais forte foi a criação de duas novas irmandades de Misericórdia, uma na villa de Ytú, e outra na de Sorocaba, ambas villas notáveis pela sua população, agricultura e commercio, e portanto da maior ponderação tão útil estabelecimento. O zelo com que as pessoas principaes daquelles districtos me estão vendo promover a desta Capitania lhes serviu — 94 — de estimulo para imitação e daqui se vê bem quanto è efficaz o exemplo paia tudo (1). Na vil la de Ytú se lançou pedra para a fundação de dois hospitaes, um destinado aos lázaros e outro para todo o maÍ9 gé- nero de moléstias, funcçào que se executou com o maior con- curso e applauso do povo, trabalbando-se após disto com tanto fervor que nos poucos dias que alli estive de demora deixei quasi cheios os alicerces dos hospitaes e capellas. O dos Lázaros foi feito quasi que a custa de um clérigo que alli ha de boa vida (2), o qual voluntariamente se me offe- receu para uma tào pia obra ; o outro é fundado em um edifí- cio immediato a uma egreja que obtive para a Misericórdia e Hospital pelo consentimento que deu o capitào-mór da mesma villa, administrador que era da referida capella (3).
Com igual alegria popular se lançou também a pedra para o hospital da villa de Sorocaba e tenho todo o fundamento de esperar que estas fundações prosigam sem intervallo e sirvam muito brevemente de asylo aos desgraçados pelo zelo e capacidade das pessoas a quem as deixei encarregadas. São ellas, na na villa de Ytú, o capitão-mór Vicente Taques e o sargento-mór Joaquim Duarte do Rego, homens que pelas suas boas qualidades devo fazer chegarem ao conhecimenio de V. E\ Ambos elles são grandes servidores do Estado ; ambos forcejaram quanto delles cabia para que avultasse o donativo voluntário pedido por Sua Alteza; ambos se distinguiram muito no estabelecimento que acabo de referir e ambos, de mãos dadas no exercicio do seu cominando, conservam em tão perfeito socego aquella villa, que affirmo a V. Ex.a ser a que menos cuidado me dá.
É em Sorocaba o capitào-mór Francisco José de Souza, homem de estimáveis qualidade*, igualmente benemérito e zeloso do real serviço, o qual além da despesa que tem feito não só offertou uma attendivel quantia a edificação daquelle hospital, mas tem promovido o haver esmola e deixar taes que posso contar haver já com que elle se complete.
O desejo de fazer conhecer, quanto estes estabelecimentos são do agrado de Sua Alteza Real e de mostrar ao mesmo tem- po o muito que me interesso por aquelles homens que servem com zelo e honra os postos em que se acham conservados, me 1) A ninguém maia do que ao auetor deste offleio se pódeapplicar o provérbio «louvor em bocca própria é
, porque o sen exemplo nao aproveitava por sor um tyrano e mau administrador. 2) Padre António Pacheco da Silva, sacerdote dos mais illastres do tempo. 3) Trata-so de Vicente da Costa Taques Góes e Arnnha, capitão mór de Ytá de 1779 a 1 82/"., bom poeta o latinista, de uma das mais illastres famílias da capitania. (N. da R.) — 95 — obriga a supplicar a V. Ex** haja de implorar ao mesmo Se- nhor a graça do habito de Christo para estes três vassallos, que tanto se distinguem pelas 6uas qualidades estabelecimentos e serviços, desejando de mais a mais que, annuindo Sua Alteza a esta supplica, se especificassem na confirmação da graça os motivos que originaram, isto é, tanto pelo zelo e honra com que se portam nos deveres dos seus postos como pela parte que tiveram no instituição de ura tão útil e pio estabelecimento. Faço a V. Ex.* esta rogativa olhando para o bem que dahi pode resultar a este Estado. Vejo occupados muitos destes pos- tos, que são de consequência nesta America, por homens indignos e sem nenhum merecimento. O premio dos bons fará entrarem em si os mais e todos acabarão de conhecer que no meu tempo só o obrar bem os pode fazer attendidos. Deste modo conseguirão delles não só a probidade precisa no desempenho dos seus deveres, mas que de boamente concorram e me ajudem e em todas aquellas disposições que exigem o augmento e o bem geral da Capitania. Finalmente, Exm.° Senhor, visto tratar aqui de homens beneméritos e bons pervidores do Estado, devo de justiça lem- brar também a V. Exm." Manoel Lopes da Resurreiçào, capi- tão-mór da villa de S. Sebastião, que é um vassallo raro no serviço de Sua Alteza, porque todo elle, o seu socego, os seus interesses e até a própria vida despresa para cumprir exacta- mente com as suas obrigações, e como é um homem de 80 an- nos parece justo ver em seus dias recompensados seus longos serviços, premiando-os o mesmo Senhor com o habito de uma das suas ordens, o qne não sendo de dispesa para o Estado c muito conveniente para animar os homens a emprehenderem acções, de honra o magnificência por que se distigam. — Deus guarde a V. Ex.* S. Paulo, 30 de Outubro de 1804.— lllm-° e Exm.° Sr. Visconde de Anadia. — António José da Franca e Horta . [2]