Georg Heinrich von Langsdorff passa pela Ilha de São Sebastião
5 de setembro de 1825
04/04/2024 22:37:42
No dia 5, de manha, passamos pela ilha de São Sebastião, numadistância, a Oeste, de 6 a 8 léguas. O navio balançava muito por causada maré cheia. Algumas procelárias (Procellaria Capensis) nos acompanhavam. Logo em seguida, entre 8h e 9h, avistamos uma pequena ilhadesabitada (das Alquebraças), uma rocha escarpada que se eleva no oceano. Calculamos, então, que, com os mesmos ventos constantes, poderíamos entrar, à tarde, no porto de Santos, 12 léguas à frente.Nesse ínterim, todavia, o vento parou, e, como a noite escura já seaproximava, já não podíamos distinguir as montanhas da entrada doporto. O digno e corajoso capitão do navio, Dios Coquitos[?], aindapensou em tentar entrar no porto apesar da escuridão, mas foi impedido de fazê-lo devido à total calmaria.
Georg Heinrich von Langsdorff passa pela Ilha de São Sebastião
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.
“
Duas vezes a morte hei sofrido. Pois morre o pai com o filho morto. Para tamanha dor, não há conforto. Diliu-se em prantos o coração partido. Para que ninguém ouça o meu gemido, encerro-me na sombra do meu horto. Entregue ao pranto ao sofrer absurdo. Querendo ver se vejo o bem perdido! Brota a saudade onde a esperança finda. Sinto na alma ecoar dores de sinos! Só a resignação me resta ainda.