“O du lieber Augustin”: música alemã da Fábrica de Ipanema, em Jundiaí
25 de outubro de 1825, terça-feira. Há 199 anos
Em Jundiaí, já não há mais correio propriamente dito. Alguns particulares combinaram entre si mandar, cada 8 dias, uma pessoa à cidade de São Paulo e outra a São Carlos e Itu. Como, entretanto, a comunicação com São Paulo é intensa e necessária, quase todos os dias eles mandam um próprio ou um expresso a essa cidade.
No domingo passado, um rico proprietário me convidou para ir um dia à sua casa no campo. Como hoje eu não tinha nenhum compromisso urgente, cavalguei com o Sr. Hasse até lá. Minha intenção também era conseguir, se possível, o crânio de uma lontra brasileira que, no sábado passado, foi vista num poço perto da fazenda.
O proprietário recebeu-me com extrema cortesia. Além dos indefectíveis pratos de feijão, toucinho e canjica, ofereceram-nos também arroz e leitão. As moças da casa (filhas do Sr. Major), que eu já havia conhecido no sábado,na casa da cidade, só apareceram depois da refeição, cantando numa sala ao lado.
Comentei com o meu anfitrião que a melodia era alemã e que eu estava estranhando a timidez que as senhoritas demonstravam agora. Ele me respondeu que elas até apareceriam se eu as desculpasse por estarem en négligé. A expressão que o meu anfitrião usou era nova para mim: "Elas estão com as pernas no chão."
Depois de eu garantir que seria indulgente, as moças apareceram bem vestidas, descalças, com um grande chalé de algodão, que às vezes elas jogavam para trás. Nesse momento, era possível entrever que elas vestiam calça, camisa e chalé de chita. Elas demonstraram que já participam de reuniões sociais e que sabem ser alegres sem perder a compostura.
Entre outras músicas, cantaram "O du lieber Augustin": as primeiras estrofes, com um alemão claro, mas as seguintes, de forma quase incompreensível. Disseram que essa canção provinha de suecos de uma fábrica de ferro em Ipanema: eles sempre a cantavam em festas, depois da refeição.
O filho do dono da casa, um menino de 14 anos, tinha sido mordido, há 20 dias, por um cão raivoso, mas, felizmente, os dentes só haviam atingido a perna da calça e a bota, sem penetrar a pele; foi, portanto, bastante superficial. Ele parecia bem saudável e despreocupado.
Dizem que, de vez em quando, aparecem cães raivosos aqui, independentemente da estação do ano. Na época da chamada Canícula, que para nós, europeus, corresponde aos dias mais quentes, aqui são os dias mais frios. Mas, no Brasil, a hidrofobia aparece em qualquer estação do ano - são literalmente os "dias de cão" brasileiros.
O Major José Manoel Tavares da Cunha, que tem duas casas na vila e uma na fazenda a meia hora daqui, colocou sua casa da cidade à nossa disposição, mesmo não tendo recebido qualquer recomendação a nosso respeito.