“Diccionario geographico, historico e descriptivo do Imperio do Brazil”, J.C.R. Milliet de Saint-Adolphe
1845. Há 179 anos
O Dicionário foi originalmente publicado em 1845, pelo militar francês Milliet de Saint-Adolphe. Uma das primeiras obras a ultrapassar o recorte provincial e oferecer uma descrição geral e circunstanciada de todo o Império brasileiro, fornece um panorama do estágio de desenvolvimento de cada província, cidade, vila e aldeia do país. No âmbito da geografia, traz o nome e a descrição dos rios, lagoas, serras e montes. [Milliet de Saint Adolphe]
E a primeira referência concreta sobre Apiaí, foi traçada pelo sociólogo ehistoriador francês, Saint Adolphe, que entre fins do século XVIII e inícios dacentúria seguinte residiu por vinte e seis anos consecutivos no Brasil, percorrendodiversas paragens de suas províncias, coligindo a origem e a história de cada umade suas cidades, vilas e aldeias. Sua informação é curta porém proveitosa: “APIAHY - Villa pobre e pouco povoada da província de São Paulo, naquarta comarca, e sobre a estrada de Curitiba, aos 24 graus e 22 minutos de latitude.No ano de 1600, alguns indivíduos assentaram vivenda nas nascentes do Iguapé, nasmargens do rio Apiahy, para extrair ouro em minas que foram mais ou menos rendosasno decurso dum século; porém, à proporção que o ouro ia diminuindo, diminuía tambéma povoação deste lugar; assim foi em vão que se deu o título de paróquia à igrejadedicada a Santo Antonio de Lisboa, com o fim de ali se reter os habitantes;continuaram as emigrações mesmo em 1770, quando esta população foi elevada àcategoria de Villa pelo governador D. Luiz Antonio de Souza Botelho” [Santo Antonio da Minas de Apiahy (09/1993) Rubens Calazans Luz p.24]
Apiahi - Vila pobre e pouco povoada da província de São Paulo, na quarta comarca, e sobre a estrada de Curitiba, aos 24 graus e 22 minutos de latitude. No ano de 1600, alguns indivíduos assentaram vivenda entre os nascentes do Iguape, nas margens do rio rio Apiahi, para extrair ouro em mais que foram mais ou menos rendosas no decurso d´um século; porém, á proporção que o ouro ia diminuindo, diminuía também a povoação deste lugar: assim que foi em vão que se deu o título de paróquia á igreja dedicada a Santo Antonio de Lisboa, com o fim de ali reter os habitantes; continuaram as emigrações mesmo em 1770, quando esta povoação foi elevada á categoria de vila pelo governador D. Luiz Antonio de Souza Botelho.
Achando-se então ouro em certa montanha que ainda não tinha sido explorada, um raio de esperança animou os habitantes de Apiahi, mas esgotada esta mina, volverão ao antigo estado de miséria. O distrito d´esta vila é um deserto montanhoso, e pitoresco entre a cordilheira que acompanha o mar, e o rio Paranapanema. Avalia-se a população a 1800 habitantes derramados em 2 ou 3 léguas quadradas de terra; o restante do distrito é habitado por nativos bracos, chamados Bugres. Alguns habitantes criam gado vacum que levam a vender ás cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro; outros não cultivam senão víveres de que hão mister, e canas de açúcar de que fazem aguardente.
Ribeiro Apiahi - Na província de São Paulo; nasce das cordilheiras fronteiras ao mar, junto ao nascente do rio Iguape, mas corre em sentido oposto, rega a vila a quem dá o nome, e no cabo de muitas voltas vai se lançar no rio Paranapanema pela margem esquerda. [Páginas 61 e 62]
Araçoiaba - Grande serra da província de São Paulo, no distrito de "Soracaba". (V. Guaraçoiava). A palavra nativa Araçoiaba significa cobre-sol, e os naturais do país deram este nome á serra, por isso que esconde em sombra grande extensão de terra, especialmente quando o sol entra no signo do cancro, que é o inverno da América meridional. [Página 68]
Avanhandava-Açú - Trigésima-sexta cachoeira que se encontra descendo pelo rio Teité. Transportam-se por terras e fazendas e embarcações obra de 370 braças. Este salto ou queda tem a altura de 6 braças pelo menos, e acha-se meia légua abaixo da cachoeira Avanhadava-Mirim, e 2 léguas acima da Escaramuça. [Páginas 91 e 92]
Baurú - Vigésima quarta cachoeira do rio Tietê. Podem subir por ela e descer as embarcações sem serem aliviadas. Acha-se esta cachoeira entre a de Itapuiá e a de Baruriú-Mirim, distância de meia légua umas das outras. [Página 134]
Biraçoyava - Serra da província de São Paulo. (V. Araçoyava, Guaraçoyava e Quiraçoyava). [Página 144]
Caheté, ou Villanova-da-Rainha - Antiga vila da província de Minas Gerais, 3 léguas a sueste de Sabará, e 18 ao nordeste de Mariana, em 19 graus e 54 minutos de latitude. Seu nome primitivo é derivado das palavras nativas caá, que significa montanha, e eté, mata espessa. Debe esta vila a sua origem ao paulista Leonardo Nardez, que em 1701 descobriu abundantes minas de ouro nas matas de Caheté. Diversos aventureiros se estabeleceram numa planície onde o ouro se achava á flor da terra, e ali formaram uma povoação que se aumentou rapidamente.
Cahetés - Nome genérico do idioma nativo que significa mata espessa, e que foi aplicado a diferentes tribos de nativos que viviam nas embrenhadas para se subaltrairem á guerra cruel que lhes faziam outras tribos. [Páginas 193 e 194]
Caijurú - Povoação no distrito da vila de Caheté, na provincia de Minas Gerais, com uma igreja da invocação de N. S. da Conceição, filial da freguesia de Santa Bárbara. [Página 195]
Cajurú - Freguesia da província de São Paulo, no distrito da vila de Franca. Um decreto da assembléia geral, de 13 de outubro de 1831, instituiu nesta freguesia uma escola de primeiras letras, e outro de 16 de agosto do ano seguinte elevou á categoria de paróquia a sua igreja com a invocação de São Bento. [Página 198]
Cananéa - Pequena vila marítima da província de São Paulo, agradavelmente situada no extremo d´uma ilha da bahia Tarapandé, vulgarmente chamada Cananéa. Em 1554, o jesuíta Pedro Correa, discípulo do Padre Anchieta, batizou neste sítio um "sem número" de nativos Tupis, e fez-lhes fazer paz com os Carijós, já aliados dos Portugueses. Quinze anos depois, os naturais de São Vicente descobriram minas de ouro nos montes da cordilheira que fica paralela ao mar, que foram lavradas muito tempo com sucesso. Ignora-se quem fosse o fundador d´esta vila, que teve príncipio em 1587. Sua igreja foi dedicada a São João Batista, e gozou largo tempo das prerrogativas de matriz. No século seguinte, o conde da Ilha do Príncipe quis apoderar-se d´uma parte das concessões disputadas pelos herdeiros de Martim Afonso e de Pedro Lopes de Souza, e com efeito o conseguiu em 1653, apossando-se das vilas de Cananéa e de Paranaguá, antes por força que por ordens régias; porém o marques de Cascaes, a quem estas vilas pertenciam, lh´as tirou três anos depois, e as guardou em seu poder até o ano de 1709, em que elas tiveram a mesma destinação que as capitanias de São Vicente e de Itanhaén, que foram compradas para se fazer a capitania ou província de São Paulo. [Páginas 225 e 226]
Cana-Verde. Nova e pequena vila da província de Minas Gerais, a 3 léguas da vila de Tamanduaí. Sua igreja dedicada ao Bom Jesus, foi largo tempo filial da freguesia de São Bento d´esta vila. Porém por um decreto da assembléia geral de 14 de julho de 1832, passou a igreja a sêl-o da povoação do Amparo, ereada paróquia pelo mesmo decreto, até que a assembléia legistaltiva provincial conferiu a esta povoação no ano de 1839 o título de vila. Encerra o distrito de Cana Verde obra de 3000 habitantes entre agricultores e criadores de gado. [Página 228]
Cangueira - Primeira cachoeira que se encontra no rio Tietê quando se desce da vila de Porto Feliz, e meia légua antes de chegar á cachoeira Jumirim. A corrente é rápida, e demanda muita atenção da parte dos que governam as embarcações que descem por este rio. [Página 229]
Carijós - Nação nativa assás numerosa que dominava nas costas da província de São Paulo, ao sul da bahia de Cananéa, até as vizinhanças da lagoa dos Patos. Eram estes nativos afáveis, porém suspeitosos e pusilânimes. Em 1585, os naturais de São Vicente penetraram neste país em procura de minas, e porque quisessem obrigar os nativos a ajudarem-nos em suas explorações, ou por outro qualquer motivo, foram quase todos mortos. Os habitantes da capitania de São Vicente, indignados com este acontecimento, pediram licença á câmara da vila de São Paulo para fazer guerra aos ditos nativos, que foram a final subjulgados e reduzidos á escravidão; porém algumas das tribos mais valerosas se recolheram no interior das matas. No século seguinte um sem-número de paulistas se derramaram pela parte do sul e do oeste do país, e os Carijós que viviam nas matas se retiraram para o sertão; porém encontraram nas margens do rio Guacúhi uma cabilda d´eles que não tiveram mais que o tempo necessário para fugirem com suas armas e alguns objetos que estimavam, deixando nas aldeias as mulheres decrepitas, que entendiam não tinham forças para executarem os trabalhos a que os portugueses sujeitavam aos que d´entre eles caiam em suas mãos, e d´ai veio o nome de Rio das Velhas dado a este Rio. Esta nação está hoje extinta ou confundida com outras tribos reduzidas igualmente a mui poucas famílias. [Página 245]
Caúcaia - Antiga aldeia nativa na província de Ceará. (v. Soure, vila) [Página 257]
Cayacanga - Grande cachoeira do rio Curitiba, 5 léguas depois este rio atravessa a estrada que vai da vila das Lages á de Sorocaba. Retidas as águas por enormes penedos, salvam por cima deles despenhando-se noutros, e correm depois com extrema impetuosidade. Interrompe esta cachoeira a navegação deste rio que é um dos afluentes do Paraná. [Página 261]Cubatão - Dão este nome os nativos de São Paulo á parte da cordilheira dos Órgãos que se estende ao longo do mar, desde a vila de São Sebastião até o sul da província de Santa Catarina. Muitos ramos da mesma serra tomam, segundo os diferentes rumos que seguem, diferentes nomes. Abras feitas pelas torrentes servem de caminho para se passar d´uma província noutra.
Cubatão - Dão este nome os naturais de São Paulo á parte da cordilheira dos Órgãos que se estende ao longo do mar, desde a vila de São Sebastião até o sul da província de Santa Catarina. Muitos ramos da mesma serra tomam, segundo os diferentes rumos que seguem, diferentes nomes. Abras feitas pelas torrentes servem de caminho para se passar de uma província noutra.
No decurso do século XVIII. os jesuítas, com o pretexto de que eram sem cessar atacados pelos nativos e mestiços da vila de São Vicente, fizeram abrir uma estrada calçada nesta cordilheira quase direita, e com tão somente aquelas voltas que o declívio da montanha requeria. Mem de Sá, então governador general do Brasil, ficou tão encantado de ver este trabalho executado com tanta perfeição, que ainda hoje dizem que se deixara subjugar pelos padres, a cujas instâncias conferiu a este estabelecimento o título de vila, com o nome de São Paulo de Piratininga, e suprimiu a vila de Santo André, fundada por João Ramalho. Dá-se frequentemente o nome de Cubatão não somente á serra onde esta estrada se acha praticada, mas também ao ribeiro que d´ela desce ao porto de Santa Cruz, d´onde se transportavam para a vila de Santos os gêneros e produtos do país com a enchente da maré. Atualmente vai-se da cidade de Santos á terra firme por uma estrada. [Páginas 308 e 309]
Cunhambeba [Página 316]
Dourada ou Encantada - Lagoa situada nas matas virgens da cordilheiras dos Aimorés. Na estação das chuvas as suas águas engrossam o Piauhi, afluente do Jequitinhonha. Dá-se por certo que é a lagoa Vupabuçú que Sebastião Fernandes Tourinho descobriu em 1573. (v. Vupabuçú, lagoa). [Página 339]
Escaramuça - Trigésima sétima cachoeira do rio Tieté, na província de São Paulo. Fica 2 léguas abaixo do salto Avanhadava-Açú, e 3 acima da cachoeira Utupanêma. Passa-se com as embarcações carregas, mas com custo por causa do grande número de voltas que faz ali o rio entre os arrecifes. [Página 346]
Geribatiba - Povoação de pouca importância da província do Rio de Janeiro, no distrito da cidade de Campos, assentada á boda do canal Furado, ao noroeste do Olho d´Água, no termo da freguesia de Capivari. [Página 385]
Guaianazes - Nação de nativos assaz numerosos que eram mais pacíficos que os Tamoyos, e dominavam na província de São Paulo, antes da fundação da capitania de São Vicente. Na chegada de Martim Afonso obedecia esta nação a dois chefes por nome Tebiréça e Cahi-Obi; o primeiro dos quais havia dado uma de suas filhas a João Ramalho que dizem naufragaria naquelas costas. [Página 415]
Guaraçoyava - Serra da província de São Paulo, originalmente apelidada indiscriminadamente Araçoyava, Biraçoyava e Quiraçoyava. Tem esta serra 3 léguas de comprimento com proporcionada largura, é regada pelo rio Ipanema, e jaz a 3 léguas da vila de Sorocaba, a cujo distrito pertence. Em 1590, Afonso Sardinha, natural da capitania de São Vicente, estando ocupado em extrair ferro de algumas minas que ali se achavam, deparou com uma de prata.
Tomou-a imediatamente o governo por sua conta, e desemparou-a depois, sem tirar d´ela o menor proveito. É rica esta serra em minas de ferro, e tem tamanha altura que a sombra d´ela se estende sobre grande parte das terras adjacentes, e subsidie muito tempo depois do nascer do sol. [Página 425]
Guaranis [425 e 426]
Itacolomi - Cume o mais elevado da cordilheira da Mantiqueira, na província de Minas Gerais, que é um ramo da serra d´Ouro Preto. Acha-se 799 braças acima do nível do mar, e por conseguinte tem menos altura que o cume do Sorate no Perú, na cordilheira dos Andes, que se avalia em 12,700 braças. Deriva-se o nome de Itacolumi de duas palavras nativas: itá, pedra, e corumi, mancebo, de que por corrupção se fez Columi.
Itacolumi - Montanha da província de Minas Gerais, perto da cidade de Mariana. Há uma estrada nesta montanha que é muito menos alta que a do mesmo nome na serra d´Ouro Preto que é muito menos alta que a do mesmo nome na serra d´Ouro Preto. [Páginas 480 e 481]
Itanhaen - Quarta cachoeira que se encontra no rio Tieté ao descer, a qual jaz meia légua abaixo da de Araranhanduba e outrotanto acima da de Tiririca. Sobe-se e desce-se sem custo. [Página 492]
Jacobina - Vila considerável da província da Bahia, e cabeça da comarca de seu nome. Deve o principio aos exploradores paulistas, que descobriram as minas que encerravam as suas terras e d´elas extraíram ouro no tempo em que os holandeses se iram apossando das vilas marítimas do Brasil. Estabeleceu-se naquele ponto uma fundição d´ouro para a arrecadação do quinto e os habitantes quase no mesmo tempo edificaram uma igreja a Santo Antonio, que serviu longo tempo de paróquia, dado que não obtivesse legalmente este título senão no decurso ao ano de 1677, que foi como tal instalada por procuração do primeiro arcebispo do Brasil que então residia na Bahia. [Páginas 511 e 512]
Jaguarí - Monte da província de São Paulo, entre os rios Una e Itanhaen. Seu cume é coberto de vastos arvores no melhor estado de vegetação que dar-se pode, e que parecem tanto mais soberbos quanto a sua base é nua, descalvada, tisnada com o volver dos anos, e sem cessar batida das ondas; o que oferece aos olhos dos navegantes um painel digno de retratar-se.
Jaguarí - Ribeiro aurífero da província de São Paulo, que correndo para o ocidente, se vai lançar no rio Parahiba, perto da vila de São José. [Página 518]
Ora, onde seria essa povoação de Nossa Senhora del Popolo de que não pudemos achar notícia, povoação do distrito de Sorocaba e que desapareceu, dando origem á cidade de Tatuhy?
Cada vez mais intrigados, por informações tão vagas e sedentos de descobrir a origem mais remota do nosso berço natal, continuamos as nossas pesquisas e fomos deparar, no dicionário Geográfico de J. C. R. Milliet de Saint Adolphe, com o seguinte:
TATUHÚ - Freguesia da província de São Paulo, no distrito da cidade de Sorocaba. Um sítio agreste, chamado Tatuhú, achava-se ermo de gente e de casas, no principio do século em que estamos. Tendo-se fundado a fábrica de ferro de São João do Hipanema, alguns indivíduos se determinaram a ir residir para aquele sítio, resolutos a se entregar á agricultura. Passados sete anos, uma ordem régia proibiu toda a espécie de agriculturação nas terras dadas á fabrica de ferro, e pelo mesmo teor todo o gênero de negócio e de cortes de madeiras por serem destinadas exclusivamente para alimentar as fornalhas da dita fábrica. Todos aqueles que não eram empregados nela foram obrigados a deixar aquele sítio e a maior parte deles se agregaram aos primeiros povoadores de Tatuhú. Informado o bispo de tal disposição régia, assentou que deveria despojar do título de paróquia a igreja de um estabelecimento particular e transferi-lo a uma capela que o povo havia erigido á sua custa, no sítio e povoação de Tatuhú; em consequência dessa determinação, foi a sobredita Igreja condecorada em 1818 com o título de paróquia, com o nome de São João do Bemfica!!