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“Profunda tristeza”
6 de junho de 1895



No entanto, houve também recepções diferentes, como uma que foi publicada no jornal O 15 de Novembro, denotando uma profunda tristeza pela notícia. Tratava- se de uma cartinha enviada para uma das articulistas do jornal, escrita em papel velino perfumado, com letrinha miúda e regular:

“Minha Séphora. Escrevo- te esta sob impressão de dolorosa tristeza. Imagina, querida amiga, que li no 15 de Novembro a noticia de que a cidade vai ser iluminada a luz elétrica, durante todas as noutes. E o nosso luar, Séphora, o nosso luar encantador de Sorocaba vai ser desfeiado, vai ficar sem credito, vai morrer para sempre.

Podemos nós ambas, com lágrimas nos olhos, soluçantes, dizer adeus eterno e essas noutes deliciosas, em que a pallida Ophélia dos infinitos constellados, banha de arvores deslumbrantes as ruas e alvoredos, dandolhe um aspecto mágico, risonho, puro, innocente como um véo candido de virgem.

Ah!…quanta tristeza, quanta melancholia indefinível não vai agora em minha alma. Recordas- te? Foi por uma noite branca de luar, poética e magestosa, em que no infinito azul o disco luminoso da lua singrava, singrava e aos meus olhos de quando em vez passavam visões encantadoras, que eu sonhei a primeira vez acordada: sorriu- me ao luar a luz do amor primeiro.

E aquella noite aprazível, esplendida, em que as estrelas sorriam pela altura, ficou me gravada na mente, povoando minha imaginação como um paraíso ideal. Pois bem, minha amiga, nunca mais, nunca mais poderei apreciar em todo o seu esplendor uma noute de luar como aquella em Sorocaba, uma noute do céo baixando sobre a terra em ondas luminosas, diluindo- se em chuva de latuscencias sobre os capados arvoredos.

O luar, o encanto de Sorocaba, está moribundo e o sino da torre, parece- me, já dobra a finados. E é isto que se chama progresso e é isto que se diz em bem, que se cobre de encômios: a morte de um encanto, a profanação sacrílega e brutal das perfeições da natureza!… Bárbaros e cruéis paladinhos da civilização, não vos treme na dextra o punhal com que ides perpetrar um crime tão hediondo? …

Assassinos!… E tu, pobre cidade, nem protestas, nem levantas um grito de dor, nem chamas por socorro, quando pretendem arracar- te as vestes mais seductoras, quando pretendem despojar- te da roupagem ethéria e branca dos luares? … É esta, Séphora, a minha tristeza immensa, porque não só me custa muito perder um bem para sempre, como também isto ainda uma vez me vem revelar que toda a formosura se esvai, se desfeia, com a passagem do tempo minaz, com a vinda fatal do progresso… Adeus. Tua Débora.
“Profunda tristeza”
ID
SENHA


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