Em outubro de 1941, alguns meses antes dos japoneses bombardearem Pearl Harbor, virando a opinião pública americana a favor da ideia de ir à guerra, o então presidente americano Franklin Roosevelt já estava preocupado com a ameaça nazista e ficou ainda mais ao ver um mapa que lhe chegou às mãos.
Ele representava uma América do Sul comandada pela Alemanha e dividida em quatro grandes regiões – Brasilien (unindo Brasil e Bolívia), Argentinien (a soma de Argentina, Uruguai, Paraguai e parte da Bolívia), Neuspanien (Colômbia, Vezeuela e Equador) e Chile (Chile, Peru e parte da Bolívia).
Mas o que mais incomodou Roosevelt foram as notas manuscritas em alemão na borda do mapa. Precisas considerações logísticas sobre o abastecimento de combustível para aviões entre a África e a América do Sul e, o pior, redes aéreas que rumavam para o México – às portas dos Estados Unidos.
“Tenho em meu poder um mapa secreto, feito na Alemanha pelo governo de Hitler – pelos planejadores da Nova Ordem Mundial. Este mapa deixa claro o desígnio nazista, não só contra a América do Sul, mas também contra os Estados Unidos”, disse Roosevelt publicamente em 27 de outubro de 1941.
Só tinha um problema: segundo conta o escritor ganês William Boyd em artigo para o Daily Mail, o mapa era falso e muito bem elaborado pelos serviços secretos britânicos, à época empenhados em outra guerra tão importante como a que travavam contra o nazismo.
Em busca de material para um livro, Boyd diz que teve a sorte de se deparar com um manuscrito de 500 páginas contando em detalhes as operações do British Security Coordination (BSC), criado em 1940 e inspirado nos serviços secretos britânicos. Lá estaria todo o esforço inglês para conquistar corações e mentes e atrair para o palco de guerra o estratégico aliado.
De armas secretas a previsões de astrólogos
Nos primeiros anos da II Guerra Mundial, um dos maiores desafios da Inglaterra foi tentar convencer os EUA a participarem do conflito. Praticamente sozinhos enfrentando a poderosa e bem montada máquina de guerra alemã, os ingleses mal conseguiam se organizar, sendo eles também alvo dos célebres bombardeios da Luftwaffe a Londres e outras cidades britânicas.
Ao assumir o cargo de primeiro-ministro inglês, em maio de 1940, Winston Churchill declarou abertamente que seu objetivo primordial era convencer Roosevelt a somar forças contra Hitler. E, nessa pressão, valia tudo. Inclusive, mentir.
Ainda traumatizada pela participação na I Guerra Mundial, a sociedade americana não queria ouvir falar em um novo conflito do outro lado do mundo e era amplamente contra a ideia. Além disso, a exemplo de muitos países (inclusive a Inglaterra de antes da Guerra), uma parcela considerável de políticos e empresários dos EUA nutria simpatia pelos nazistas.
Assim, o BSC montou um enorme esforço de propaganda anti-nazista do outro lado do Atlântico. O trabalho era coordenado por um milionário canadense, William Stephenson, que se transferiu para Nova York e usava como fachada o escritório central da rádio de ondas curtas WRUL. Faziam de tudo, desde divulgar falsas armas de profundidade para intimidar os temidos submarinos alemães a espalhar previsões e profecias de pretensos astrólogos sobre uma iminente morte de Hitler, e atuavam nas três américas.
Uma operação exemplar
E foi numa dessas operações ao Sul do Equador que nosso mapa surge. A história contada ao FBI e, depois, a Roosevelt dava conta de que o BSC tinha se apoderado de uma pasta com a cópia do mapa, após um funcionário da Embaixada alemã ter sofrido um acidente de carro em Buenos Aires, na Argentina.
O local escolhido não poderia ser melhor – um país neutro, mas com claras simpatias pró-nazistas; a bem elaborada e lógica divisão dos estados nacionais e, cereja do bolo, as anotações marginais sobre abastecimentos de aeronaves citando o México – tudo isso contribuiu para fazer do falso mapa nazista da América do Sul uma das mais impressionantes operações secretas da II Guerra Mundial.
Sua importância prática, porém, é bastante duvidosa. Roosevelt, à época, já estava ciente da necessidade de ir à guerra, mas, mesmo citando publicamente casos como os do mapa em questão, tinha enorme dificuldade de convencer o povo americano. Este só mudaria de opinião 41 dias depois.
Às 7h53min de 7 de dezembro de 1941, os japoneses, temerosos que os EUA revidassem suas investidas no Pacífico, resolveram agir primeiro e bombardearam o porto havaiano de Pearl Harbor, na tentativa de neutralizar a poderosa frota naval americana. O resto é história.