Chuva de Sangue. Jornal “Folha do Povo”, do Maranhão
25 de agosto de 1925, terça-feira. Há 99 anos
No Rio Grande do Sul, após o preparo das rubras nuvens, caiu, sobre uma das suas grandes cidades, forte carga de sangue. Destacam as notícias que um telegrafista apanhou a suposta água purpurina num copo onde ela se coagulou, provando aos incrédulos que se tratava, realmente de sangue.
No Brasil e no governo do sr. Bernardes a atmosfera, sobre o solo pátrio, se carregou tanto de sangue que um fenômeno nunca visto se realizou-a chuva de sangue. Que quererà o Céu significar com esse fenômeno extraordinário, desconhecido? Que prenuncio será esse que nos abala tanto o pensamento? Chuva de sangue! Donde esse sangue evaporou para que se condensasse nos ares, e voltasse á Terra?
O Sangue, composto de glóbulos e plasma, tema sua cor vermelha ou preta, conforme seja arterial ou venoso, devido aos glóbulos coloridos, ás hematias que, fora da corrente sanguínea, se transformam, e a cor passando por diversos matizes, cada vez mais claros, acaba desaparecendo. Quer isto dizer que perdem o vermelho rotulante tão vivo e belo e característico.
Como explicar, então que normalmente, isso acontecendo possa se ter dado a evaporação do plasma e globulos vermelhos conservando estes a sua cor primitiva e mais o sangue a propriedade de se coagular?
Os atuais conhecimentos científicos quedam diante desse fenômeno espantoso. Mas, afirma pessoas muitas, uma população, a veracidade do fato. Choveu sangue, no Brasil!
E, derramou-se, do espaço um líquido rubro e coagulante, semelhante ao sangue, que ensopou parte do território gaúcho, dese fértil solo dos pampas onde as forças da legalidade esquartajaram e decapitaram, diversos irmãos, na mais sangrenta e feroz luta fratricida que a história registra.
Está assinalando mais esse fenômeno como mas um brado de indignação e revolta no governo do homem que, por uma dessas atrocidades de sorte, galgou as rédeas do governo, de um povo ordeiro e bom, para fazer desencadear, como uma alma satânica, catapultas de ódios e perversidade.
É a época do sangue. É a época do crime. É a época da delação. É a época da morte. E Deus, horrorizado de tanta maldade, faz voltar, ao solo donde partiu, esse sangue macularia as celestes paisagens onde o vermelho escaldante do sangue seria uma mancha hedionda na alvura imaculada das regiões divinas.
Ao mesmo tempo parece que Deus recorda aos da Terra o horror dos crimes perpetrados, nessa impressão tenebrosa que, ha causado, ao paíz inteiro, o sangue vindo em chuva, como um meio que aviva a brutalidade de tantas vidas ceifadas por causa de um déspota que levou a Pátria ao despenhadeiro da ruína.
Neste sangue tão rutilante e forte estão simbolizadas preciosas vidas que se consumiram. Os filhos que morreram, as mães que choram. Os maridos trucidados, as esposas inconsolável. Os pais fuzilados, as filhas órfãs. Apontam os céus, com o sangue, a selvageria desumana, nessa carnagem de irmãos que, de consciência obliterada, praticam as mais degradantes cenas bárbaras.
Mandam os céus o sangue para a reflexão. Que vejam os brasileiros na retentiva de triste passado próximo, como tanto sangue foi derramado sem motivo senão sustentar no poder um desvairado que teceu a trama terrível do ódio na família brasileira gerando vindictas que desviam o povo da senda do progresso para decepar a serpente venenosa acoitada na estrada da porvir.
Que vejam os brasileiros a magnifica lição da chuva de sangue pelo verdadeiro prisma que deve ser encarado, como o mal produzido pelas suas próprias mãos. Porque tanto sangue derramado e erguido logo aos céus, com tanta rapidez para que, numa hipótese plausível, não tivesse tempo de se transformar a hemoglobina?
Porque foram mortos tantos irmãos, tantos fatores valiosos para o progresso da Nação? Estava em perigo a Pátria? Estavam em perigo as instituições? Não. A causa de toda essa sangueira foi manter num posto um homem contra, a opinião nacional. Por causa de um homem só vida de centenares! Por causa do capricho de um prepotente se infiel cita um povo, uma família! Seja, entretanto, a chuva de sangue embora terrível, o prenuncio celeste de uma época de reabilitação.