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Caminhos e descaminhos: a ferrovia e a rodovia no bairro Barcelona em Sorocaba/SP, 2006. Emerson Ribeiro, Orientadora Drª. Glória da Anunciação Alves
2006


4.2- Dos caminhos indígenas para os das tropas de Muares, encontrando aRaposo Tavares.

O intercâmbio cultural e mercantil entre os povos sempre necessitou de umcaminho e de comunicação. Esses caminhos aqui tiveram os bandeirantes e ossertanistas no estado de São Paulo, chamado pelos indígenas de Peabiru, Piabiru ou Piabiyu, que significa “caminho” em guarani (pia, bia, pe ,bia; ybabia: caminhoque leva ou céu), conforme assinala o Pe. Paulo Restivo128 encontra-se tambémno dicionário129 de Topônimo brasileiro de origem tupi como Peabiru sendo “deApé = caminho e abiru = forrado” entre outras fontes pesquisadas. Este caminho Peabiru nas proximidades de São Vicente, no litoral paulista,com o descobrimento do Brasil os portugueses depararam com uma estradaprimitiva, mas bem ordenada rumo ao desconhecido com oito palmos de larguraselva adentro ligando o litoral paulista ao Peru dos Incas. Perguntado quem a fez,os indígenas responderam Pay Sumé.

Quem seria este Pay Sumé? Hans Staden, europeu que viveu em cativeiro junto a silvícolas brasileiros e que descreveu suas aventuras em obra pioneira sobre nossaterra, intitulada Viagem ao Brasil, refere-se a uma misteriosa personagem, de pele branca e que, segundo os nativos, teria ensinado a seus antepassados muitas coisas e realizados vários milagres. O índio brasileiro chamava este ser lendário de Sumé ou Zumé; o nativo paraguaio, Pay Zomé130,

Com o tempo os missionários portugueses associaram ao apóstolo Tomé,para facilitar a conversão dos gentios ao cristianismo ficando evidente a relaçãode força do dominante surgindo à expressão caminho de São Tomé.

Do Atlântico, dois caminhos principais saiam através do Guairá aos afluentes do Iguaçu e do Paraná. O primeiro partia do local que hoje é São Vicente, e rumava para oeste de São Paulo, passando por Sorocaba e rumava para Avaré, a quase 300 Km a noroeste, atingindo o sudoeste, passando por Ourinhos, transpunha o Paranapanema, Cambará e Cornélio Procópio, atravessando o rio Tibagi e atingia Londrina e Apucarana (atualmente Estado do Paraná), continuando e transpondo o Ivaí (Huybay), lugar que hoje se chamaPeabiru, chegando a Iguaçu (Iguazu). [Páginas 104 e 105]

O segundo caminho partia do litoral catarinense, até Iguaçu via noroeste,sendo esta trilhada por Aleixo Garcia. Esses caminhos foram trilhados por nativos, portugueses e espanhóis nasdescobertas de várias minas de prata perto de Assunção o que levou São Vicentena metade do século XVI a ser considerado um dos principais portos brasileiros ea principal via de comunicação entre a América espanhola e a metade meridionalda América do Sul.

A existência desses caminhos é fato, eles existiram, no entanto a grande dificuldade é em estabelecer o seu traçado. Vários pesquisadores mencionam, como o visconde de Taunay, tendo em mãos vários roteiros que pertenceram a Don Luís Antônio de Sousa, conseguiu reconstituir assim:

Saindo de São Paulo, passando por Sorocaba, pela fazenda de Botucatu que foi dos padres da Companhia, dirigindo-se a São Miguel, junto ao Paranapanema, e costeando esse rio pela esquerda, tocando e Encarnación, Santo Xavier e Santo Inácio, onde em canoa descia o Paranapanema e subia o Ivinheima até quase as duas nascenças, aí seguia, por terra, pela Vacaria, até as cabeceiras do Aguaraí ou Correntes onde, tornando-se de novo fluvial, seguia por esse afluente até o Paraguai, pelo qual subia...131

Alfredo Romário Martins, citado por Hernani Donato, assim estabelecia arota do Peabiru:Era São Vicente, Piratininga, São Paulo, Sorocaba, Botucatu,Tibagi, Ivaí, Piqueri, bifurcava-se o caminho, indo um ramalpara o sul, até o Iguaçu, no ponto em que este rio, na suamargem esquerda, recebe o Santo Antonio.132 Batista Pereira, citado por Marcus Cláudio Acquaviva, considerava o Peabiru“ uma picada de 200 léguas que, com duas varas de largura, ia do litoral atéAssunção do Paraguai, passando por São Paulo. Passava na várzea da cidade,bifurcando-se no rumo das futuras Itu e Sorocaba”. [Página 106]

Adolfo Augusto Pinto, por sua vez, assinalou a existência de um imenso sistema viário continental, no qual se inseria o nosso Peabiru:

Figurava como tronco desse primitivo sistema de viação geral uma grande estrada, pondo em ligação as tribos da nação guarani de bacia do Paraguai com a tribo dos Patos do litoral de Santa Catarina, com os carijós de Iguape e Cananéia e com as tribos de Piratininga e do litoral próximo.133

Para Aluísio de Almeida, o Peabiru era um sistema viário, um feixe de comunicações entre São Vicente-Piratininga, Cananéia-Itapetininga, Paranaguá Curitiba, Santa Catarina-Tibagi, eram as descidas do planalto para o mar. Ligando-se a este, dois novos ramais, um começando nos Campos Gerais (Paraná), outro em Itapetininga, para alcançarem o Guaíra e o Paraguai.134

Esses caminhos e trilhas indígenas foram decisivos para a fundação de inúmeros povoados e cidades que mais tarde serviria de pouso para os tropeiros e suas mulas desenvolvendo um tipo de transporte que viria servir o Império para a extração de matérias primas como o ouro transportado das Minas Geraispara a cidade de Parati no Rio de Janeiro como uma das bases econômicas durante o século XVIII.

Como já salientamos acima, os caminhos pelo qual passaram o desenvolvimento do Brasil de colônia para Império até a República, foram sem dúvida feitos pelos indígenas e que posteriormente foram usados pelos desbravadores portugueses, espanhóis, resultando mais tarde nas bandeiras partindo de Piratininga (São Paulo).

Essas inúmeras bandeiras na busca pelo novo e desconhecido (por fontes de riquezas) resultaram nas fundações de povoados e cidades no interior do Brasil em especial no estado de São Paulo. O bandeirante Antonio Raposo Tavares que tinha terras em Acotia (hoje Cotia) que também era dono de Caucaia no rio Sorocaba-Acima, passou por São Roque e depois Sorocaba rumo ao Guairá (atual Paraná), expandindo as terras portuguesas e que mais tarde já no século XX, este bandeirante seria homenageado dando o nome a uma rodovia paulista a Raposo Tavares- SP 270.

De Piratininga partiam as bandeiras chegando a Cotia e em três direções se deslocavam; para a esquerda alcançando a serra de Paranapiacaba que alcançava Una, atual (Ibiúna), dela partia um caminho rumo ao litoral e outro rumo a serra de São Francisco (Itapeva), descendo a serra encontrando (atualmente) Votorantim, continuando pela margem esquerda do rio Sorocaba chamada estrada do Lajeado até o povoado de Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba que é do tempo de Baltazar Fernandes e desse povoado outros caminhos seguiam encontrando o sertão e outras paragens. Outro caminho era o do meio, como relata Aluisio de Almeida.

E o caminho do meio, isto é, por Vargem Grande e São Roque, tem a mesma antiguidade, pois Pedro Vaz Guaçu é do tempo de Baltazar, só que me parece que a principio este caminho ladeava a sesmaria de Pirajibu vindo a sair no Iporanga e daí no primeiro caminho, além do Boa Vista.

Ainda segundo Almeida, os caminhos que ramificavam na serra de São Francisco iam a dois sentidos: um ia para a cidade de São Roque e o outro para Sorocaba. O caminho dos Morros e o da Caputera, como até hoje, encontravam-se numa encruzilhada que levava à Penha a ao Popolo ou São Francisco, e, enfim, o de São Roque procurou Inhaíba, passa três, Caputera, quase como hoje. Estes ramais dos Morros e tronco para São Roque existiam pelo menos aí por 1750, mas teriam começado antes. [Páginas 107 e 108]

Estes caminhos Inhaíba, Passa-três e Caputera estão próximos ao bairro Brigadeiro Tobias no município de Sorocaba, vindo de São Paulo pela rodovia Raposo Tavares sentido Sorocaba. O caminho da direita vindo hoje de pinheiros tomaria o sentido não exato do que é hoje a rodovia Castelo Branco, saindo do planalto para a depressão periférica encontrando Tatuí e a serra de Botucatu, a que lembrarmos que vários caminhos se cruzavam vindo de vários povoados (fundados) levando osbandeirantes à caça de índios e mais tarde o surgimento de um comércio de pequenas trocas nesses lugarejos. [Página 109]

Luis de Almeida menciona desta forma o caminho para Sorocaba:

O caminho de São Paulo à paragem de Sorocaba por onde vieram os Sardinha que o abriram, apenas roçando nos matos, era por Pinheiros, Barueri, Araçariguama, Apotribu, Mato-Dentro, Piragíbu, continuando a Araçoiaba e ao Sarapuí pela Terra vermelha, mas quem se dirigia só às minas ou vinha de Itu atravessava o Sorocaba no Itavuvu e no Corumbá, respectivamente. Ladeando-se o morro por qualquer dos lados atingiam-se o Sarapuí e o Tatuí, logo os campos de Guareí e Botucatu, rumos de bandeirantes do Guairá transformados em caminhos á pata de gado.

Já de Sorocaba partia para Itapetininga, Paranapanema, Curitiba: a estrada principal em conexão com a de Curitiba, ficou sendo por muito tempo a que passava por Mato-Dentro e Araçariguama. De Sorocaba a Curitiba os rumos pelos campos buscavam as fazendas e currais de gados. Não houve uma construção só e continuada. Bastava meia braça de largura destocada e roçada nos matos: viajavam fazendo estradas, procurando divisores de água, cabeceiras, olhando os vales e os montes com uma visão geográfica notável.

Em 1721 o rio Itararé, por decisão do Ouvidor Rafael Pires Pardinho (...) ficou sendo a divisa com o município de Curitiba. As minas de Paranapanema e Apiaí ensejaram um ramal que parou bem para cá da atual cidade do Apiaí, e o pagamento de impostos e de passagem nos rios Paranapanema e Itapetininga, em canoas ou balsas140.

O resgate desses caminhos de São Paulo até Sorocaba que temos mencionado até aqui produz uma rede de comunicação de muitas tribos indígenas que habitavam o lugar, entre elas os guaranis e foram praticamente dizimadas pelos bandeirantes e portugueses na busca de riquezas e terras. Esses caminhos e trilhas abertas pelos indígenas para suprir suas necessidades, denominado pelos indígenas como Peabiru foi um sistema viárioque ligava o litoral em São Vicente ao planalto Paulista a depressão periférica e oplanalto ocidental chegando ao Guairá e ao Paraguai e, que mais tarde essescaminhos serviriam de base para os tropeiros141.

Segundo Galdino sobre a existência dessas trilhas indígenas afirma que:

É certo que existia a trilha dos tupiniquim, assim como a dos Tupinambá e a dos Tamoio. E havia a trilha dos Guaná, a dos Carijó e sobretudo a dos Guarani. Diante de talpanorama, composto por uma intrincada rede de trilhas, o Peabiru teria conquistado maior celebridade pelo fato de ligar o planalto de Piratininga ao Guairá e a Assunção, escalas importantíssimas a caminho do Peru.142

O Peabiru como um sistema viário compunha-se dos seguintes caminhosentre São Paulo e Sorocaba:

1 - partindo de São Vicente no litoral passando por São Paulo rumo a oeste esul, ramificando-se para Barueri, Parnaíba sentido Itu e Sorocaba;

2 - partindo de São Paulo passando por Cotia sentido Ibiúna e de lá para o litoral de Iguape chegando a Cananéia dos índios carijós;

2 - partindo de (Una) Ibiúna em direção a Serra de São Francisco passando por Votorantim, estrada do lajeado e Sorocaba;

3 - Pelo meio, partindo de Cotia, São Roque, Araçariguama descendo pelo Apotribu, Mato-Dentro, Piragíbu chegando a Sorocaba. [Páginas 110 e 111]

Salientamos que os caminhos e trilhas percorriam ainda numa encruzilhadalevando a Penha e aos Morros, Caputera, Brigadeiro Tobias e Inhaíba143 ligandoSorocaba a São Roque e depois Cotia chegando a São Paulo. Continuando pelo Peabiru que mais tarde em vez de passos de índios ebandeirantes, foi marcado pelas marcas de mulas e tropeiros vindo do sul, assim,partindo de Sorocaba rumo a Campo Largo, Itapetininga, Itapeva e Itararéadentrando a Curitiba pelo caminho do Viamão (conhecido também por “caminhodo sul”). Esse caminho foi construído por Cristóvão Pereira de Abreu, português,comerciante no Rio de Janeiro, em marcha pela colônia do Sacramento, militar egeógrafo prático e tropeiro, construiu a estrada que vinha de Viamão no RioGrande do Sul, por Lages em Santa Catarina e Lapa em Curitiba. Esses caminhosestão representados no mapa abaixo. [Página 112]
*Caminhos e descaminhos: a ferrovia e a rodovia no bairro Barcelona em Sorocaba/SP, 2006. Emerson Ribeiro, Orientadora Drª. Glória da Anunciação Alves
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