Tinham navegado por rios 8 dias em uma canoas de casca; são estas inteiriças, da grossura de um bom dedo polegar, mas tem um mal que em se alagando não dão mais mostras de si, o que não tem as de pau, que por mais que se alaguem, ou virem nunca se vão ao fundo. Chegaram os navegantes a uma cachoeira, ou salto que o rio faz, e os padres iam rezando as horas da Conceição de Nossa Senhora, quando se vão todos ao fundo com a canoa, em altura de 4 ou 5 braças de água; mas todos saíram a nado, só o bom Padre José de Anchieta não apareceu: não sofreu o coração ao nativo deixar ali o Padre sem saber o que era feito dele. Mergulha e anda-o buscando por um bom espaço de tempo, e não o ahando volta a cima a tomar folego e descaçar um pouco; deita-se outra vez de mergulho, e quer Deus que o acha assentado no fundo; pega dele pela roupa e o Padre deixa-se vir sem aferrar do nativo, e desta maneira vem a cima, são e salvo. Com suma alegria e consolação dos presentes: esteve debaixo d´água por meia hora, não desacordado, antes muito e seu juízo, lembrando-se de três coisas, como ele depois disse: de jesus, da Virgem Mãe de Deus, e de não beber água, como certo não bebeu. [Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. Vol. XIX, 1897. Dr. José Alexandre de Teixeira Mello. Páginas 6 e 7]