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“Sorocaba e o Mosteiro de São Bento. Uma visão diacrônica”, 09.09.2009. Ruth Aparecida Bittar Cenci, Mestre e Doutora em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
9 de setembro de 200904/04/2024 18:18:51

Balthazar Fernandes, filho do povoador Manuel Fernades Ramos e Susana Dias, também povoador como seu pai e seu irmão André Fernandes, foi casado com Izabel de Proença e entre suas grandes riquezas possuía doze sesmarias de uma légua cada uma, nos municípios de Sorocaba, Itu e Parnayba, que naquele tempo pertenciam somente à Parnayba.Em 1654 nas paragens do hoje município de Sorocaba, foi fundada uma Vila de nome Itavovú, que mais tarde passou à Vila de Nossa Senhora da Ponte, a pedido de Balthazar Fernandes.Para tanto, peticionou, na qualidade de povoador, em nome dos demais moradores – cerca de 30 (trinta) casais -, a S. Magestade representada pelo Administrador Geral da Repartição do Sul – Salvador Correa de Sá Ibenavid , que lhe permitiu levantar Pelourinho meia légua distante daquele levantado pelo antigo Governador – Dom Francisco -, em síto mais acomodado, dentro do mesmo limite, mudando desta forma a Villa para suas terras, atual cidade de Sorocaba. O pedido foi acolhido por Salvador Correa de Sá Ibenavid em 03 de março de 1661, ocasião em que o Administrador Geral nomeou provisoriamente até que se desse eleição, nos termos dos Foraes, para juízes: o próprio Capitão Balthazar Fernandes e Paschoal Leite Pais; para Vereadores: André de Zuniga e Claudio Furquim; para Prourador: Domingos Garcia e para Escrivão da Câmara: Francisco Sanches.

No mesmo ano de 1661, aos 21 de abril o Capitão Balthazar Fernandes doou a Igreja de Nossa Senhora da Ponte, hoje Mosteiro de São Bento, aos frades beneditinos existentes na Vila de Parnaiba.

Até os dias de hoje pairam dúvidas sobre o momento histórico em que foram doadas as terras de Sorocaba para os monges beneditinos. Tal confusão, em parte, se dá em razão de afirmações díspares entre historiadores que sobre isso escreveram.

No entanto, a escritura de doação cuja cópia autenticada nos foi confiada por Dom José Carlos Gatti, monge beneditino responsável não só pelo Mosteiro de São Bento de Sorocaba, mas também por seu restauro, deixa claro que a doação se deu em 1661.

Mas não é só, além desse documento que afirma que o ano de 1661 é a data correta para a fundação do Mosteiro de Sorocaba, de igual importância e fé publica, é a Pública Forma[1] do 4º Tabelião de Notas da cidade de São Paulo, que também coloca o ano de 1661 como data de fundação da casa de São Bento em Sorocaba.

Traz a referida Pública Forma os seguintes dados:

– foi lavrada pelo 4º Tabelião de Notas da cidade de São Paulo, cuja firma exarada é do Oficial Maior Eulalio Firmo da Silva em 29 de outubro de 1938, a pedido de Dom José Wolfgang, monge beneditino do Mosteiro de São Bento de São Paulo, quem apresentou os documentos das terras do Mosteiro de São Bento de Sorocaba ao tabelião;

– a Pública Forma reproduz um Instrumento Cível de 1828 no qual se contém todos os documentos das terras do Mosteiro de Sorocaba, bem como todos os termos e Autos Judiciais feitos para a demarcação dessas terras no ano de 1774. Isso, extraído de outro Instrumento cível, também em Pública Forma, dos autos de demarcação das terras do Mosteiro a requerimento do seu Presidente Frei Antonio de Sancta Maria Landim, arquivado pelo Tabelião Luis Pedroso d’ Almeida, no juízo da Vara de Sorocaba;

– mais um documento foi transcrito na Pública Forma de 1938, trata do processo judicial em que consta petição do Capitão Manuel Fernandes de Abreu, então morador da Villa de Sorocaba, requerendo ao juiz fosse realizado o traslado da escritura de doação que seu pai fez aos religiosos, a qual se encontrava em poder do Tabelião da Villa de Parnayba, o que foi determinado pelo juiz em 09 de abril de 1781;

– realizou-se, então, a pedido do juiz da Villa de Sorocaba, pelo tabelião Braz da Rocha do Canso, da Villa de Parnayba a transcrição da escritura de doação contida no livro de notas que em poder dele ficava, de tudo dando fé pública. O conteúdo da escritura de doação transcrita deixa claro que a doação se deu em 21 de abril de 1661.

Importante ter em mente que os traslados requeridos ao juiz da Comarca eram os meios pelos quais os proprietários das terras obtinham cópia do documento referente à sua propriedade, anotado nos Livros de Notas da época.

Também constam da Pública Forma de 1938, outros documentos referentes à demarcação das terras do Mosteiro, além da transcrição da sentença de demarcação das terras exarada pelo juiz Tenente Antonio Garcia Fontoura, aos 16 de setembro de 1774.

Os episódios transcritos na Pública Forma de 1938 se deram a partir da pendenga que se criou em razão da posse das terras doadas ao Mosteiro, por conta do filho de Balthazar Fernandes – Capitão Manuel Fernandes de Abreu – ter retomado ditas terras, contando com a ajuda da Câmara. Para tanto alegou que os frades beneditinos não haviam cumprido com as obrigações que constavam da escritura de doação das terras.

Essas obrigações diziam respeito à construção de um dormitório com quatro celas, despensa, cozinha e refeitório; a obrigação de estarem presentes na Igreja, e nela dizerem doze missas a cada ano, uma a cada mês e uma missa a mais no dia da Festividade de Nossa Senhora da Ponte, do dia da doação para todo o sempre; e por fim, que os bens móveis, os de raiz, as doze vacas, o touro, o Moinho e a Vinha pertenceriam sempre a casa e dela não poderiam tirar, ou alhear coisa alguma.

Das obrigações impostas, percebe-se pelos relatos históricos que os monges realmente tomaram posse das terras apenas em 1667, portanto, seis anos mais tarde. Quanto às construções, realizaram-nas parceladamente vez que não tinham recursos para tanto, já as outras obrigações, não se encontra relato algum, mas sabe-se que lá realizavam atividade missionária, catequizando os índios e pregando a palavra da salvação, além das aulas de latim e cantochão a todos os filhos dos moradores que quisessem estudar uma e outra coisa.

Ainda, celebravam missas, sacramentos e solenizavam as festividades. Também, a primeira escola de Sorocaba foi instalada no Mosteiro em 1667. Nela se ensinava canto, latim e português. Em 1816 os religiosos criaram um curso de filosofia e teologia para seminaristas e leigos que só parou de funcionar quando o governo proibiu a admissão de novos religiosos à ordem monástica – Lei Imperial de 1855 -.

Os historiadores relatam que por conta dessa querela da Câmara com os frades, por volta do ano de 1695 o Visitador ordenou aos religiosos que lá estavam que realizassem inventários dos bens do Mosteiro e retornassem para São Paulo, a notícia se espalhou, o que gerou por parte da Câmara, ameaças aos monges, inclusive de morte, caso saíssem, pois se encontravam pressionados pela população que queriam muito bem aos frades. Os monges saíram por pequeno espaço de tempo e retornaram.Por outro lado, é de se considerar as dificuldades de permanência dos frades no Brasil, especialmente lembrando que a legislação da época de D. Pedro II – 1855 – se opunha às Ordens Religiosas, pois os mosterios se esvaziaram por ocasião da lei da proibição dos noviciados. Em 1889, a Congregação Beneditina Brasileira estava se extinguindo quando em 15 de novembro foi proclamada a República e decretada a separação entre a Igreja e o Estado, deu-se, então, a salvação para a Ordem no Brasil.O Mosteiro de Sorocaba que era autônomo restou sem comunidade, com a decadência dos Mosteiros da antiga Congregação Beneditina Brasileira, no final do século XIX, por causa da perseguição feita pela política do segundo Império.Em 1903, Sorocaba perde sua independência com a centralização no Mosteiro de São Paulo, da mesma forma que os Mosteiros de Santos e Jundiaí. A independência do Mosteiro de Sorocaba durou de 1667 até 1903, se tornando após esse período Priorado dependente da Abadia de São Paulo.Dom Abade Miguel Kruse iniciou a restauração do Mosteiro de São Paulo em julho de 1900, ocasião em que se preocupou em salvar o Mosteiro e o patrimônio de Sorocaba, já que o antigo Mosteiro de Santana do Parnaíba tinha sido extinto e não restava senão poucas ruínas.Foi também Dom Abade Miguel Kruse quem teve a idéia de trazer as beneditinas missionárias de Tutzing para Sorocaba e no início as instalou no velho Mosteiro em ruínas, sendo que em 1905 fundaram o Tradicional colégio da cidade, o Santa Escolástica.Mais tarde Dom Kruse conseguiu que a escola teológica da Congregação Beneditina do Brasil viesse a funcionar em Sorocaba e foi ele quem convidou os jesuitas portugueses, expulsos de Portugal, para vir ao Brasil e foram acolhidos como professores em Sorocaba.

Em 1910, a Santa Sé enviou muitos monges alemães para Sorocaba, fazendo na cidade um noviciado para todos os Mosteiros do Brasil, inclusive o Mosteiro de São Bento de São Paulo que manteve seu noviciado em Sorocaba até 1929.

Depois da restauração do Mosteiro, a grande personalidade que deu vida ao Mosteiro de Sorocaba foi Dom Tadeu Strünck que ordenado sacerdote em 1929, foi logo em seguida enviado a Sorocaba onde viveu até a sua morte em 1975.

D. Tadeu se interessou em recuperar a autonomia do Mosteiro de Sorocaba em relação à Abadia de São Paulo, embora não tenha conseguido esse intento, dedicou toda a sua vida para fazer do Mosteiro de Sorocaba uma presença beneditina viva e atuante na cidade de Sorocaba.

Logo após a morte de Dom Tadeu foi enviado a Sorocaba Dom Policarpo Amstaldem, seguido por Dom Isidoro Oliveira Preto em 1984, que encontrou o Mosteiro e a comunidade de leigos que o frequentava, de forma bastante precária.

Dom Isidoro buscou incessantemente uma conveniente restauração do Mosteiro, seja em termos de comunidade ou de vida pastoral, durante cinco anos sucessivos, período em que aqui ficou.

Retornou ao Mosteiro de São Paulo em 1989 quando foi eleito Abade do Mosteiro de São Paulo, mas mesmo com as dificuldades encontradas pela assunção das novas responsabilidades, nunca deixou de estar presente no Mosteiro de Sorocaba enfrentando inúmeros desafios, mas pouco conseguindo para reavivar a comunidade.

Desde o ano de 2000 o Mosteiro de Sorocaba está sob a orientação e guarda de Dom José Carlos Camorim Gatti que tem trabalhado incessantemente pela comunidade e restauração do prédio do Mosteiro.Embora não exista uma comunidade beneditina residindo no Mosteiro de Sorocaba, este sempre recebe a assistência de um monge da comunidade paulistana. Os monges de São Paulo revezam entre si tal encargo, sem deixá-lo um só dia desabitado, orientando e auxiliando as atividades dos leigos, que prestam assistência às famílias carentes e formam diversos grupos de espiritualidade.Do escorço histórico, o certo é que, a assistência religiosa dos monges beneditinos aos sorocabanos tem sido mantida sem interrupção, até os tempos atuais, marcando de forma indelével a fé e a religiosidade do povo sorocabano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASALAMEIDA Aluísio de. Memória Histórica Sobre Sorocaba (ii). Separata do nº 61 da Revista histórica. São Paulo: Instituto Histórico, Geográfico e Genealógico de Sorocaba. 1965.Almanach Illustrado de Sorocaba, 1914: repositorio historico, literario e recreativo, com illustrações / organisado por Braulio Werneck. Ed. Fac-similar: Taquarituba, SP: Juracy Tenor, 2006, 270p. : il.Cezar, Adilson. Notícias históricas dos princípios desta cidade de Sorocaba em 1661, coligadas e anotadas por Manoel Joaquim D’Oliveira. Revista de Estudos Universitários nº 2 (7): 5-72, 1981.Del Negro, Paulo Sergio Barbaro. Dissertação – Universidade Estadual de Campinas –. O Mosteiro de São Bento de Sorocaba e a Arquitetura Benditina do Litoral Brasileiro e do Planalto Paulista nos Séculos XVII, XVIII, XIX – 2000.Documentos fornecidos por Dom José Carlos Gatti da Biblioteca Municipal do Porto.E. Taunay, Affonso de. A História Antiga da Abbadia de São Paulo. São Paulo: Typografhia Ideal, 1927.Folheto informativo das comemorações da Prefeitura Municipal de Sorocaba por sua Secretaria de Educação e Saúde, Serviço de Difusão Cultural, data estimada 1980.Wikipédia Enciclopédia Livre. Disponível em: pt.wikipedia.org/wiki/Bento_de_Núrsia – 39k. Acesso em: 16 maio 2009.WOODS JR. Thomas E. Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental. Tradução de Élcio Carillo, revisão de Emérico da Gama. São Paulo: Quadrante, 2008. [1] Pública-forma, nos dizeres do Dicionário Aurélio Eletrônico, é a cópia integral, exata e certificada, de um documento, feita por tabelião, e que pode substituir esse documento na maioria dos casos.
“Sorocaba e o Mosteiro de São Bento. Uma visão diacrônica”, 09.09.2009. Ruth Aparecida Bittar Cenci, Mestre e Doutora em Direito das Relações Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo


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