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Frei Agostinho de Jesus e as tradições da imaginária colonial brasileiras, séculos XVI-XVII. Rafael Schunk
201303/04/2024 20:58:26

Frei Agostinho de Jesus: Um artista beneditino na fronteira entre dois mundos - A américa portuguesa e espanhola
Data: 01/01/2013
Créditos: Rafael Schunk
Página 4

da Piedade preservada no entorno da Bahia de Todos os Santos. Algumas de suas criações foram transportadas por longas distâncias eentronizadas nos altares dos mosteiros de São Paulo e Santana de Parnaíba-SP.Os ensinamentos deste mestre beneditino irão influenciar numerosos artífices,tornando-se fundamentais para a grande revolução estética idealizada na antigaCapitania de São Vicente em meados do século XVII e que iremos averiguar nodecorrer dos capítulos. Os dados biográficos remanescentes do grande ceramista são poucos. Foio vigésimo terceiro padre da Abadia de Salvador. Faleceu em 02 de abril de 1661,sendo sepultado na antiga sacristia, hoje ocupada pela Sala Capitular do Mosteirode São Bento de Salvador. Dom Clemente descobriu quatro referências eassinaturas do artista no Livro Velho do Tombo na abadia da Bahia: O nome de Frei Agostinho da Piedade aparece sob forma de assinatura no Livro Velho do Tombo do mosteiro da Bahia, nos dias 17 de maio de 1620, 16 de dezembro de 1634 e dias 9 e 17 de abril de 1636. As crônicas são mudas quanto ao seu talento de escultor, mas êle assinou três estátuas. As pacientes pesquisas feitas por Dom Clemente nos catálogos do mosteiro desde 1575, data da chegada dos beneditinos à Bahia, não tendo encontrado nenhum outro monge com êste nome, permitiram-lhe concluir pela identidade entre o signatário das três esculturas e o capelão de Nossa Senhora da Graça, morto em 1661 – tanto mais que o misticismo dêsse Padre um pouco inocente não deixa de corresponder ao espírito dessas obras. (BAZIN, 1971, p. 33). As estátuas assinadas pelo monge-artista citadas por Dom Clemente eGermain Bazin são as seguintes: Nossa Senhora do Montsserrate no Museu do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia [hoje no MAS – UFBA], ao qual ela foi doada pelo Dr. Pimenta da Cunha que a encontrou na Paraíba do Norte. Traz nas costas a seguinte inscrição: “Frei Agostinho da Piedade religiozo sacerdote de Sam Bento fez esta Imagem de Nossa Sra. por mandato do muy Devoto Diogo de Samdoval e fella por sua devoção 1636”. A identidade de Diogo de Samdoval não pôde ser estabelecida por Dom Clemente. Santa Ana ensinando a Virgem, 77 centímetros de altura, no mosteiro de São Bento, de São Salvador (proveniente da igreja dos Aflitos). Assinada nas costas Frei Agostinho, com a data de 1646. Menino Jesus sentado sôbre um coração nas chamas, 40 centímetros de altura, São Bento de Olinda. Ornado nas costas e na base com diversas inscrições: “Ego dormio et cor meum vigilat; Parce mihi Domine Frey Agostinho Religioso de S. Bêto.” E no reverso, mais uma vez, a assinatura Frei Agostinho com a palavra Amor. Uma inscrição pouco legível, na base, o reverso, começa com a palavra Roma. (BAZIN, 1971, p. 33). Dom Clemente pensa que a palavra Roma possa constituir as primeiras letras do nome de um doador; na realidade é o [Página 120]

No centro do continente, a situação era diferente: as missões temporais acompanhavam os povos errantes por vários meses; iam de uma comarca a outra, distribuindo sacramentos ou seguindo governadores nas chamadas entradas. Poressa época, os espanhóis não realizavam aldeamentos com nativos nômades. Nacidade de Assunção, os jesuítas Saloni e Manuel Ortega introduzem uma novidade na região, mas que era comum no Brasil: chefiando missões mata adentro,apenas acompanhados por índios, causaram espanto e admiração dos locais, quepassaram a pedir a vinda de mais religiosos (idem, p.171).A origem das reduções missioneiras provém da atuação do governador paraguaio Hernán Arias de Saavedra (conhecido popularmente como Hernandárias),solicitando em 1603, ao Conselho das Índias e ao rei da Espanha, o envio de jesuítas para a região. Reunindo os prelados, pretendia expandir a evangelizaçãonativa e promulgar leis que proibissem sua escravidão.A primeira sede provincial dos inacianos no Paraguai foi instalada em Assunção e seu primeiro designado foi padre Diego de Torres Bollo, no ano de1604. Chegou ao rio da Prata em 1607, com treze jesuítas e a determinação de sedeslocarem ao Paraná, Guairá e região dos Guaicurus. Foi a esse religioso que ojovem Antonio Ruiz de Montoya, conhecido posteriormente como o Apóstolodos Guaranis, manifestou o desejo de atuar no processo missionário entre osíndios.

Antônio Ruiz de Montoya (1585-1652) nasceu em 13 de junho de 1585 em La Ciudad de LosReyes (Lima), Peru, proveniente de família burguesa. Em 1612, o jovem missionário parte paraa região do Prata, participando da implantação de numerosas reduções. Em 1620, foi nomeadoauxiliar do superior das missões no Guairá e, em 1637, é eleito superior de todas as missões, cargo desempenhado por longos anos. A ele devemos as instalações de numerosos povoados, posteriormente desaparecidos nas selvas do Paraná:

São Francisco Xavier (Tayatí, provavelmente entre as atuais cidades de Santa Cecília do Pavão, Irerê e Londrina, 1622), Nossa Senhora da Encarnação (Nautingui, no posto conhecido como Itapuá, imediações da atual cidade de Telêmaco Borba, 1625), São José (Tucuti, possivelmente próximo a Bela Vista do Paraíso e Sertanópolis, 1625), São Miguel (Ibiangui, perto do município de Laranjeiras, a noroeste de Castro, 1627), São Paulo (Iñieay, em local não identificado, 1627), Santo Antônio (Biticoy, provável região de Ivaiporã, Grandes Rios e Manoel Ribas, 1627), São Pedro e Nossa Senhora da Conceição (Gualacos, 1627-1628), Sete Arcanjos (às margens do rio Ivaí e afluentes, 1627), São Tomé e redução de Jesus Maria (provavelmente próximos dos portos de Planaltina e São Carlos do Ivaí, às margens do rio Ivaí, 1628).

Seu nome está ligado à história da Argentina e do Paraguai; considerado herói na sua ordem, é tido como santo pelo povo. No Peru, uma das principais universidades do país chama-se Universidad Padre Antonio Ruiz de Montoya, constandohomenagens também em instituições no Paraguai e na Argentina. Gozava de tal prestígio entreos guaranis que, após sua morte, um grupo foi buscar seus restos mortais em Lima, sepultando--o na redução de Nossa Senhora de Loreto, Argentina. Montoya deixou registrados em livrosos primórdios da colonização na província do Guairá, parte do atual norte e noroeste do Paraná,preservando em nossa memória elementos historiográficos e linguísticos do povo guarani. Sua obra mais relevante é: Conquista espiritual feita pelos religiosos da Companhia de Jesus nas províncias do Paraguai, Paraná, Uruguai e Tape, publicada na Espanha em 1639, de caráter etnográfico. Constitui, na atualidade, uma das principais fontes de conhecimento sobre a missiologiajesuítica, o bandeirismo e a Antropologia Indigenista a respeito das reduções no Paraguai,Paraná, Mato Grosso, Argentina, Rio Grande do Sul e Uruguai. É uma obra lítero-historiográfica rara, quase inacessível aos leitores atuais. A primeira publicação de 1639 ocorreu em Madrie uma reedição em Bilbao, Espanha (1892). Nesse livro encontramos detalhes daqueles tempos:a diversidade de animais e a floresta da América do Sul, beleza e eloquência da língua guarani,aspectos gramaticais, lexicográficos e catequéticos. Além desse livro, Montoya publicou maistrês obras: Tesoro de la lengua guarani (1639), Arte y bocabulario de la lengua guarani (1640) eCatecismo de la lengua guarani (1640), além de artigos inéditos impressos postumamente, comoo Sílex del Divino Amor (1991). Esse religioso teve o cuidado de registrar para a posteridade acultura guairenha. Cita, por exemplo, os costumes dos caciques, pendentes a uma tendênciaaristocrática, pois não se casavam com mulheres vulgares e apenas elegiam esposas dentro dasprincipais famílias. Frequentemente eram dominados pelos pajés e praticavam a antropofagia.Quanto à religião, segundo Montoya, os guaranis não detinham ídolos (Bogoni, 2008, p.38-9). [Página 174]

Em 1561, Mem de Sá, terceiro governador-geral do Brasil decide realizaruma expedição exploratória pelo Vale do Anhembi (rio dos inhambus ou perdizes),mais tarde conhecido como Tietê, com o intuito de procurar ouro e pedraspreciosas. Deste grupo participou Manuel Fernandes Ramos que, em determinadotrecho da viagem, explora as matas e corredeiras de uma região conhecida pelosíndios com o nome de Parnaíba.

Em 1580, o então vereador da Câmara de SãoPaulo, Manuel Fernandes Ramos recebe uma sesmaria nesta área, famosadevido um grande acidente geográfico no Rio Tietê chamado de Cachoeira doInferno, construindo uma capela em louvor a Santo Antônio e iniciando ospreparativos para instalação de uma fazenda. O português Manuel Fernandes Ramos era natural da região de Moura,Portugal e casado com Suzana Dias, filha de Lopo Dias, um pioneiro que emigroucom a frota de Martim Afonso de Souza e que por sua vez amasiou-se com umadas filhas de Tibiriçá. João Ramalho também foi casado com outra filha doCacique Tibiriçá e, por conseguinte, Suzana Dias era, por afinidade, sobrinha deRamalho e neta de Tibiriçá, linhagem respeitada no meio social do planalto.

Parnaíba do tupi-guarani Pan-n-eií-bo significa “o grande rio ruim, difícil de navegar, lugar de muitas ilhas”, em alusão as lajes de pedra formadas abaixo das quedas do Tietê, hoje ocupadas pela Usina Edgard de Souza (Light), a primeira hidrelétrica construída na América Latina (1901). [Frei Agostinho de Jesus: Um artista beneditino na fronteira entre dois mundos - A américa portuguesa e espanhola, 2013. Rafael Schunk. Página 183]

Provavelmente em 1578 nasce André Fernandes o filho primogênito de Manuel Fernandes e Suzana Dias. Ainda em 1588, apesar da saúde frágil, Manuel Fernandes Ramos continuava exercendo atividades como vereador na Câmara de São Paulo, falecendo em 1589. Após sua morte, as terras de Parnaíba são transferidas por herança ao primogênito André Fernandes, que por ser menor de idade, passam a ser administradas sob tutela da matriarca Suzana Dias.

Nesta época, Belchior Dias Carneiro (um provável meio-irmão de Suzana Dias) recebe outra sesmaria em Parnaíba, passando a residir juntamente com Suzana e André Fernandes na região. Conforme as leis portuguesas e Ordenações Filipinas, se André nasceu provavelmente em 1578, em 1603 ocorre sua maioridade, pois, todo indivíduo tornava-se maior de idade aos 25 anos ou no momento de seu casamento, recebendo os usos e frutos da herança de seu pai Manuel Fernandes Ramos.49 André Fernandes casa-se com Dona Antônia de Oliveira em data imprecisa, vinculando-se as famílias de Jerônimo Leitão e dos Mendes, todas de cristãos-novos. Ângela, uma das irmãs de André Fernandes também se vincula a este clã:

Como nos assinala José Gonçalves Salvador, no seu Os Cristãos- novos, povoamento e conquista do solo brasileiro (Pioneira, SP, 1976, p. 135 e 136), “[...] bastaria a família Fernandes para comprovar a enorme infiltração da seiva hebraica no corpo étnico desta capitania”. (SALVADOR, In: VELTMAN, 1981, p. 05). Embora não declarada pelo padre Paulo Florêncio da Silveira Camargo, emsua História de Santana de Parnaíba (1971), a origem moura e judaica50 dacidade foi evidente nas uniões matrimoniais entre portugueses, índios e cristãosnovos transparecendo na arquitetura bandeirista. Entre uma e outra fachada, osmuxarabis (treliçados mouros) e bandeiras vazadas em meia lua árabe indicavamas preferências secretas de antigos moradores. [Frei Agostinho de Jesus: Um artista beneditino na fronteira entre dois mundos - A américa portuguesa e espanhola, 2013. Rafael Schunk. Páginas 183 e 184]

Anchieta, que tornou-se um dos seus confessores. A fé cristã em Parnaíba faria dessa vila um centro religioso de intensa atividade artística e cultural. Suzana Dias depôs a favor das virtudes de Anchieta em um processo de 1621-1622. Breve, seu testemunho foi preciso: conheceu muito bem o padre Anchieta e o teve por diretor espiritual, abrindo-lhe toda a consciência. Conhecia-o desde antes do sacerdócio e narra o seguinte – que deve referir-se ao ano de 1560, quando novamente se encontram em Piratininga os padres Luiz de Grã e Manuel da Nóbrega:

"Sendo eu menina de poucos anos e indo à Igreja desta Vila de São Paulo, ouvi muitas vezes aos Padres Luiz de Grã e Manuel da Nóbrega, outrora provinciais, que o Irmão José era santo e, contando alguns sonhos do irmão, afirmavam que eram revelações e que ele os dissimulava, dizendo que eram sonhos. […] sendo eu de 12 anos (1564) e estando enferma, desejei morrer consagrando a Deus minha virgindade, mas o Padre José sem que a ninguém eu o dissesse me falou nesse assunto que só podia saber através de uma revelação. Não fiz o voto."

Suzana Dias teve dezessete filhos do primeiro casamento e enteados do segundo marido (esse, por sua vez, se mudou com seusdescendentes para a casa da mulher, como faziam tradicionalmenteos mamelucos e tupis), alguns deles se tornaram fundadores de cidades Brasil afora. Seu prestígio é uma exceção ao estado de subserviência ao qual as mulheres estavam submetidas no panoramacolonial, demonstrando como foram originais as maneiras com queos paulistas se relacionaram. Afinal, com idas e vindas dos homenspelo sertão, eram as matriarcas paulistas que cuidavam dos filhos,administrando conflitos, propriedades, questões cotidianas e atédefendendo o território.Segundo o olhar de diversos historiadores, as perspectivas econômicas de Parnaíba receberam um caráter político a partir da ação deum aventureiro: Fernão Vieira Tavares. Emigrado para São Paulo em1620, trazia uma carta do marquês de Cascais, Pero Lopes de Sousa,nomeando-o capitão-mor de São Vicente. Além do título, por muitosconsiderado de origem duvidosa, Tavares tinha dinheiro suficiente para arrastar, por longos anos, disputas judiciais e políticas ao redor das atribuições inerentes ao cargo confiado. Como representante do herdeiro da devoluta Capitania de Santo Amaro (1534), vizinha dos [Frei Agostinho de Jesus: Um artista beneditino na fronteira entre dois mundos - A américa portuguesa e espanhola, 2013. Rafael Schunk. Página 36]

O inesperado deslocamento de grandes levas populacionais da região missioneira para Parnaíba e Piratininga, antes locais ermos e de fama ruim transformam o panorama social e cultural neste importante entroncamento do Brasil antigo. O êxodo da região missioneira do Guairá provocará a migração de numerosos artífices guaranis para o Planalto Paulista e serão responsáveis pela produção das primeiras talhas retabulares de São Paulo no século XVII:

[...] a combinação da recessão econômica com a divisão política provocada pelas reduções transformara a vila num ponto de convergência onde consolidavam-se as fraturas da antigamente vasta economia do outro lado. Ela absorvia encomenderos e guaranis, enquanto os primeiros gramas de prata peruana começam a surgir nos inventários paulistas. (CALDEIRA, 2006, p.414).

Essa prata trazia uma marca de origem curiosa, a palavra “tamboladeira”. Vocábulo inexistente nas línguas portuguesa e tupi, designava um objeto de prata – mas não se sabia qual até que se encontrou sua origem: “A palavra tamboladeira vem da Espanha.

Isto explica a razão pela qual as peças só são encontradas no planalto piratiningano – é que este local foi escolhido pela colônia espanhola para se estabelecer, no século XVII, quando de sua vinda para o Brasil. São os Bueno, os Ortiz, os Camargo, os Toledos, os Camachos, os Aguirres, os Laras, os Ordonhes. Trouxeram seus usos costumes e tradições. A palavra, que aparece nos inventários, consta de dicionários espanhóis:

‘Tembladera: especie de vaso ancho de oro, plata o vidrio de figura redonda com asas a los lados y um pequeño asiento. Los ha de muchos tamaños y se les da este nombre marginal por hacerse regularmente de una hoja delgada que parece una tembla’”. Na nova era que se desvela, gramática e prática expandiram-se em campos radicalmente opostos. Desta dissociação nasceu o sertão. (BRANCANTE, 1999, p. 87 e CALDEIRA, 2006, p. 414 e 415).

A prata transferida da América espanhola para Santana de Parnaíba surgirá sob forma de resplendores de imagens, lampadários, tocheiros ou objetos cotidianos. O acúmulo deste metal será uma rentável maneira de proteger fortunas paulistas no século XVII. Os mais ricos bandeirantes serão os responsáveis pelo financiamento de igrejas cristãs, mosteiros beneditinos, custeando altares e obras de arte nesta região. Este processo irá proporcionar o surgimento de uma imaginária sacra com características brasileiras, fruto da integração de povos.

A grande sesmaria que outrora formava Parnaíba abrangia terras nosatuais municípios de Araçariguama, Itu, São Roque e Sorocaba. Pertenciam àSuzana Dias e foram desmembrados aos seus filhos, descendentes e agregados. Nas miscigenadas terras parnaibanas, além dos sertanistas ligados aoapresamento e escravidão indígena, podemos ressaltar outros tipos debandeirantes, voltados à busca de ouro e conquista de territórios nas minas deCuiabá e Goiás. Tratam-se dos Bueno da Silva, alcunhados de Anhanguera:Bartolomeu pai, filho e neto.54 [Frei Agostinho de Jesus: Um artista beneditino na fronteira entre dois mundos - A américa portuguesa e espanhola, 2013. Rafael Schunk. Páginas 193 e 194]

e agregados. Um dos seus maiores desejos era que seu corpo fosse enterrado na“ermida da gloriosa Santana”, da qual seu filho André Fernandes foi patronobenfeitor. A grande matrona paulista, em testamento realizado no ano de 1628,dividia seus bens com filhos, enteados, netos, escravos forros incorporados à família e com confrarias de irmandades religiosas do seu povoado, manifestandouma preocupação em distribuir os pertences com afeto e a maior equidade possível (Camargo, 1971, p.39-40): “a residência de Suzana Dias era uma casa àmargem do rio Tietê. Ficava em frente à antiga Santa Casa, propriedade posterior da família Aquilino de Morais. A tradição fantasiara que seus filhos lheofereceram riquíssimo sofá engastado de ouro, prata e pedras preciosíssimas,para repousar sobre os frutos das canseiras de seus descendentes ilustres os bandeirantes parnaibanos notáveis e respeitados. Lá residiu Suzana” (idem, p.32).

Suzana Dias faleceu em 2 de setembro de 1634. O vigário de Parnaíba, padre Joan de Ocampo y Medina, sacramentou o corpo da matriarca, acompanhou o enterro, cantou lições e celebrou missas em espanhol, pois ainda não dominava o português. Em 30 de julho de 1635, três herdeiros – capitão André Fernandes, Baltasar Fernandes e Domingos Fernandes – fizeram composição amigável, assinando perante o juiz ordinário João Missel Gigante. O escrivão era Manuel de Alvarenga e testemunhou João de Godói. O prior do Mosteiro de Nossa Senhora do Montesserrate da Vila de São Paulo, frei Álvaro de Caravajal, recebeu dez missas de Baltasar Fernandes pela alma da sua mãe em 21 de fevereiro de 1635.

Ambíguos, os bandeirantes foram personagens de uma época: transitavamentre questões religiosas, profanas, espirituais, materiais, militares, territoriais.A péssima fama dos paulistas passou a ser uma regra generalizada, sem exceção,muito decorrente da forte propaganda jesuíta contrária. Mamelucos enquadradosna posteridade como bárbaros selvagens, hereges ou saqueadores, suprimindo outros valores. De fato, muitos sertanistas foram traficantes de escravos, mas tambémexistiram outros tantos dedicados à mineração, desbravamento de territórios,colonização, expansão das fronteiras, inclusive liderando milícias que expulsaraminvasores estrangeiros do Brasil. Qualificá-los como piores do que seriam defato, atribuindo-lhes a culpa de todas as mazelas da sociedade colonial, foi umamaneira conveniente por parte de alguns segmentos portugueses, espanhóis ejesuítas para desviar a atenção de várias situações escusas correntes em suasterras, como a aculturação e a exploração indígena nas reduções, o tráfico daprata e seu beneficiamento nas missões, além da completa falta de assistência àsvilas constituídas nas selvas paraguaias. Todos os atores coloniais foram contraditórios, resultantes do meio agressivo em que floresceram.Além dos sertanistas ligados ao apresamento e escravidão de indígenas, podemos ressaltar outros tipos de bandeirantes originários de Parnaíba voltados à [Página 203]

Enquanto os inacianos são hostilizados por parte da sociedade bandeirista,outras instituições serão bem acolhidas em São Paulo no século XVII, tornando-seuma centúria de expansão das ordens beneditina e franciscana.

Segundo as crônicas, frei Mauro Teixeira foi o primeiro monge beneditinoque chegou aos campos de Piratininga, em 1598, proveniente da Bahia. Recebeu duas sesmarias para a construção de um recolhimento, marcando a fundação doMosteiro de São Bento em São Paulo, antiga Igreja de Nossa Senhora do Montesserrate, atual Basílica de Nossa Senhora da Assunção: “o local concedido a S. Bento era o mais ilustre da villa, depois do Collegio, o lugar onde se assentara a taba do velho Tibyriçá, o glorioso índio que realisara a approximação euroamericana e permittira o surto da civilisação no planalto, salvando S. Paulo da aggressão tamoya de 1562” (Taunay, 1927, p.24).

Em 1600, as terras de Tibiriçá foram doadas em caráter perpétuo aos beneditinos, iniciando as obras do claustro e ampliação da primitiva capela. O fundador, frei Mauro Teixeira, habitou esse local por alguns anos, levando uma vidasolitária e eremítica. Ausentando-se da vila por volta de 1610, deixa como procurador e protetor da igreja nada menos que o temível bandeirante Manuel Preto,um dos sertanistas de maior prestígio, dono de uma grande fazenda, núcleo inicial do tradicional bairro da Freguesia do Ó.52 Ficou encarregado de cuidar daermida de São Bento e demais bens do mosteiro até que novos religiosos viessem: [Página 246]

Um dos episódios mais pitorescos da história brasileira, no dizer de Affonsode Taunay, envolveu a intermediação dos monges beneditinos de São Paulo nodesfecho do caso da Aclamação de Amador Bueno da Ribeira, em 1641.Esse movimento pode ser entendido como uma reação de um grupo de espanhóis fixados em Piratininga diante da restauração de Portugal após sessentaanos de submissão à Espanha (1580-1640).

As notícias da ascensão de d. João IV ao trono português chegaram aoscampos de Piratininga entre a segunda quinzena de março e 3 de abril de 1641,provocando grande repercussão, principalmente na colônia espanhola estabelecida na vila. A partir desse evento, buscaram articular um plano para tentarmanter a situação de subordinados à Coroa espanhola durante o período da Unificação Ibérica, como tão bem nos narrou o ilustre cronista frei Gaspar da Madrede Deus: “[…] tinham por certo que a capitania de São Vicente e quase todo osertão brasílico antes de muitos anos tornariam a unir-se às Índias da Espanha oupela força das armas, ou pela indústria, se os paulistas caíssem em desacordo dese desmembrarem de Portugal, erigindo um governo separado, qualquer que elefosse, suposta a comunicação que havia por diversos rios entre as vilas de serraacima e as províncias da Prata e Paraguai” (Madre de Deus apud Souza, 2004,p.50).

Diante dos fatos, os moradores da vila aclamam Amador Bueno “rei dospaulistas”, por se tratar de um membro da elite e ter ocupado altos cargos, títulosque o qualificavam como nobre. Além disso, era filho de Bartolomeu Bueno daRibeira, sevilhano que em 1571 emigrara para São Paulo, e de Maria Pires, filha de um dos mais respeitáveis povoadores paulistanos, Salvador Pires, posição que o tornaria naturalmente descendente de família espanhola e vassalo de Castela:

segundo consta, os planos espanhóis repercutiram em muitos dos moradores davila de São Paulo, que, persuadidos, passaram a reverenciar Amador Buenocomo rei. Atônito diante dessa situação, ele tentou convencê-los da insensatez.Seus esforços, todavia, foram em vão, como demonstram as seguintes considerações: “Vendo-se nessa consternação, o fiel de sua casa furtivamente […], caminhou apressado para o Mosteiro de São Bento, onde intentava refugiar-se”. Aintervenção dos beneditinos nesse fato curioso da história colonial de São Paulofoi assim narrada por Frei Gaspar da Madre de Deus: “Desceu à portaria domabade acompanhado da sua comunidade e com atenções entreteve a multidão,enquanto Amador Bueno de Ribeira mandou chamar com pressa os eclesiásticos mais respeitáveis. […] Vieram logo uns e outros, e todos unidos ao ditoBueno fizeram compreender aos circunstantes que o reino pertencia à sereníssima casa de Bragança”. (Souza, 2004, p.50-1)

Graças às doações generosas do bandeirante Fernão Dias Paes Leme, conhecido como “governador das esmeraldas”, foi possível viabilizar a construção deum novo Mosteiro de São Bento em São Paulo, finalizado em 1650. Em contrapartida, os padres ofertaram a capela-mor para sua família e descendentes seremsepultados. Tão à risca cumpriram essa cláusula que, após a morte de FernãoDias no sertão do rio das Velhas em 1681, seu filho primogênito, Garcia Rodrigues Paes, tratou de embalsamar o corpo e trazê-lo do lugar chamado Sumidouro, onde se encontrava, e sepultá-lo no jazigo que os beneditinos designaramna capela-mor do mosteiro. Ao seu lado repousa sua esposa Maria Garcia Betim,falecida em 1691. Os restos mortais dos benfeitores da abadia foram transladados para a nova basílica em 1922.Segundo os historiadores, a construção da nova igreja financiada por FernãoDias recebeu entalhadores vindos do reino.As imagens do novo templo, edificado em 1650, ficaram sob responsabilidade de frei Agostinho de Jesus: São Bento e Santa Escolástica, feitas em barroressequido. Figuram entre as maiores obras criadas por esse monge carioca eainda podem ser admiradas no altar principal da atual basílica. Os patronos daordem foram entronizados no retábulo-mor ao lado da antiga padroeira, a Senhora do Montesserrate, obra de frei Agostinho da Piedade.Para os altares laterais da epístola e evangelho, Agostinho de Jesus modelourespectivamente as imagens de São Bernardo e Santo Amaro em 1650, época emque o artista se desloca de Santana de Parnaíba para São Paulo. Em 1652, modelaa padroeira da cidade de Santos, Nossa Senhora do Montesserrate. Um de seusúltimos conjuntos de obras paulistas foi destinado à capela da Fazenda Parateíem Mogi das Cruzes, terras adquiridas pelos monges em 1638.Por contrato, o patrono Fernão Dias Paes Leme, além de financiar a construção do novo mosteiro, se comprometeu a doar anualmente aos religiosos oitomil réis para conservação da capela-mor, o seu futuro jazigo. Essa quantia deveria sair de um sítio localizado em Tijucuçu, região que constitui parte do atualmunicípio de São Caetano do Sul, comprado pelo dito bandeirante em um leilão e doado à comunidade beneditina em 1671: “conhecendo, porém, que eram onerosas e inseguras essas anuidades, pois poderiam faltar por sua morte, comprouem praça, para patrimônio e renda certa da casa, um sítio no Tijucuçu, anexo àsterras que por aquelas bandas já possuíam os beneditinos, e que tudo junto constituiria a fazenda de São Caetano” (Holanda apud Souza, 2004, p.53).

Por aproximadamente dois séculos e meio, de 1631 a 1877, uma parcela doatual município de São Caetano polarizou a maior parte das atividades desenvolvidas pelos monges paulistanos. Essa grande fazenda ficou conhecida durante adominação portuguesa no Brasil como Tijucuçu e localizava-se entre o córregodo Moinho ou da Ressaca (São Caetano do Sul) e o ribeirão do Moinho Velho emSão Paulo. Conforme a tradição, o nome deriva do tupi e significa grande lamaçal, barreiro, grande atoleiro ou charco, em referência às várzeas barrentas ealagadas formadas após as chuvas nos vales dos rios Tamanduateí e Meninos.Os empreendimentos comandados pelos beneditinos nessa fazenda dedicavam-se à utilização da argila como matéria-prima empregada na construçãocivil. Essa região é de suma importância para o resgate da imaginária de nossoprimeiro grande mestre, frei Agostinho de Jesus, pois o barro extraído do Tiju [Páginas 249, 250 e 251]

Este movimento pode ser entendido como uma reação de um grupo de espanhóisfixados em Piratininga diante da restauração de Portugal após sessenta anos desubmissão à Espanha (1580-1640): A notícia da ascensão de Dom João IV ao trono lusitano chegou à vila de São Paulo provavelmente, de acordo com os relatos de alguns historiadores, entre a segunda quinzena de março e 3 de abril de 1641. Provocou ela grande repercussão, sobretudo entre os espanhóis que se encontravam estabelecidos na dita vila. A partir de então, trataram de articular um plano que pudesse recolocá-los na situação de subordinação em que se achavam em relação à Coroa espanhola, durante a vigência da União Ibérica. Dessa forma, como bem relatou o ilustre cronista frei Gaspar da Madre de Deus: [...] tinham por certo que a capitania de São Vicente e quase todo o sertão brasílico antes de muitos anos tornariam a unir-se às Índias da Espanha ou pela força das armas, ou pela indústria, se os paulistas caíssem em desacordo de se desmembrarem de Portugal, erigindo um governo separado, qualquer que ele fosse, suposta a comunicação que havia por diversos rios entre as vilas de serra acima e as províncias da Prata e Paraguai. (SOUZA, 2004, p. 50). Diante dos fatos, os moradores da vila aclamam Amador Bueno “rei dospaulistas”, por se tratar de um membro da elite e ter ocupado altos cargos, títulosque o qualificavam como nobre. Além disso, era filho de Bartholomeu Bueno daRibeira, sevilhano que em 1571 emigrara para São Paulo e de Maria Pires, filhade um dos mais respeitáveis povoadores paulistanos, Salvador Pires, posição queo tornaria naturalmente descendente de família espanhola e vassalo de Castela: Segundo consta, os planos espanhóis repercutiram em muitos dos moradores da vila de São Paulo, que, persuadidos, passaram a reverenciar Amador Bueno como rei. Atônito diante dessa situação, ele tentou convencê-los da insensatez. Seus esforços, todavia, foram em vão, como demonstram as seguintes considerações: “Vendo-se nessa consternação, o fiel vassalo saiu de sua casa furtivamente [...], caminhou apressado para o Mosteiro de São Bento, onde intentava refugiar-se”. A intervenção dos beneditinos nesse fato curioso da história colonial de São Paulo foi assim narrada por frei Gaspar da Madre de Deus: Desceu à portaria dom abade acompanhado da sua comunidade e com atenções entreteve a multidão, enquanto Amador Bueno de Ribeira mandou chamar com pressa os eclesiásticos mais respeitáveis. [...] Vieram logo uns e outros, e todos unidos ao dito Bueno fizeram compreender aos circunstantes que o reino pertencia à sereníssima casa de Bragança. (MADRE DE DEUS e SOUZA, 2004, p. 50 e 51).

Graças às doações generosas do bandeirante Fernão Dias Paes Leme, conhecido como “governador das esmeraldas”, foi possível viabilizar a construção de um novo Mosteiro de São Bento em São Paulo finalizado em 1650. Em contrapartida, os padres ofertam a capela-mor para sua família e descendentes serem sepultados. Sérgio Buarque de Holanda nos lembra deste acordo ao afirmar:

[...] tão à risca foi cumprida a cláusula que, morrendo Fernão Dias Paes no sertão do rio das Velhas [1681], [...] cuidou logo o filho primogênito, Garcia Rodrigues Paes, de fazer embalsamar seu corpo e [...] trazê-lo do lugar do sumidouro, onde se encontrava, para vir sepultá-lo no jazido que lhe foi designado na capela-mor de São Bento. [Ao seu lado repousa sua esposa Maria Garcia Betim, falecida em 1691. Os restos mortais dos benfeitores da abadia foram transladados para a nova basílica em 1922]. (SOUZA, 2004, p. 54 e 55).

Segundo os historiadores, a construção da nova igreja financiada porFernão Dias recebeu entalhadores vindos do reino.

As imagens do novo templo edificado em 1650 ficaram sobresponsabilidade de Frei Agostinho de Jesus: São Bento e Santa Escolástica,feitas em barro ressequido. Figuram entre as maiores obras criadas por estemonge carioca e ainda podem ser admiradas no altar principal da atual basílica.Os patronos da ordem foram entronizados no retábulo-mor ao lado da antigapadroeira, a Senhora do Montesserrate, obra de Frei Agostinho da Piedade.

Para os altares laterais da epístola e evangelho, Agostinho de Jesusmodelou respectivamente as imagens de São Bernardo e Santo Amaro em 1650,época em que o artista se desloca de Santana de Parnaíba para São Paulo. Em1652 modela a padroeira da Cidade de Santos, Nossa Senhora do Montesserrate.Um de seus últimos conjuntos de obras paulistas foi destinado à capela daFazenda Parateí em Mogi das Cruzes, terras adquiridas pelos monges em 1638. Por contrato, o patrono Fernão Dias Paes Leme além de financiar aconstrução do novo mosteiro se comprometeu em doar anualmente aos religiososoito mil réis para conservação da capela-mor, o seu futuro jazigo. Essa quantiadeveria sair de um sítio localizado em Tijucuçu, região que constitui parte atual domunicípio de São Caetano do Sul, comprado pelo dito bandeirante em um leilão edoado a comunidade beneditina em 1671:

Conhecendo, porém, que eram onerosas e inseguras essas anuidades, pois poderiam faltar por sua morte, comprou em praça, para patrimônio e renda certa da casa, um sítio no Tijucuçu, anexo às terras que por aquelas bandas já possuíam os beneditinos, e que tudo junto constituiria a fazenda de São Caetano. (HOLANDA In: SOUZA, 2004, p. 53). Por aproximadamente dois séculos e meio, de 1631 a 1877, uma parcelado atual município de São Caetano polarizou a maior parte das atividadesdesenvolvidas pelos monges paulistanos: As terras nas quais os monges formaram a fazenda em questão localizavam-se entre o córrego do Moinho, ou córrego Ressaca (São Caetano do Sul), e o ribeirão do Moinho Velho, em São Paulo. Tais terras ficaram conhecidas, durante boa parte da dominação portuguesa no Brasil, como Tijucuçu. Segundo consta, esta palavra de origem tupi significa grande lamaçal, barreiro grande, charco, atoleiro, “por causa das várzeas barrentas e alagadiças que havia nos vales dos atuais rios Tamanduateí e Meninos”. Em épocas de chuva, esses rios transbordavam, deixando alagadas as terras próximas às suas margens. (MARTINS In: SOUZA, 2004, p. 56). [Páginas 244, 245 e 246]

Em 1643, instalou-se em Santana de Parnaíba o mosteiro beneditino de Nossa Senhora do Desterro. Este mosteiro possuía uma fazenda, chamada Santa Quitéria, [terras outrora pertencentes à Santana de Parnaíba hoje situadas no vizinho município de São Roque-SP], onde funcionava uma olaria; dessa olaria, além de telhas, tijolos, vasos, moringas e toda sorte de utensílios cerâmicos, saiu também uma série de imagens de barro e terracota que integram o conjunto da primeira escola brasileira de escultura religiosa que se pode documentar com precisão. (SALA e ELEUTÉRIO 2007, p. 18). Não havia abade neste nôvo convento beneditino. Chamava-se presidente ao superior. A casa, presidência, em vez de abadia. Possuía, contudo patrimônio: Fazenda Santa Quitéria, outras terras, casa em São Paulo e escravos para o serviço comum. (CAMARGO, 1971, p. 110). (Página 267) [0]

É incerto o momento que o monge-artista tenha se fixado no Mosteiro de Parnaíba, mas como aludimos anteriormente, as primeiras imagens paulistas datadas pelo autor remontam 1641, indícios que apontam sua presença no planalto desde aqueles tempos. De modo que, antes de colaborar com seus dotes artísticos na abadia paulistana, morou por muitos anos em Santana de Parnaíba, provavelmente antes de 1643, data da inauguração do recolhimento (realizando seu conjunto imaginário) até 1650 quando finaliza as esculturas retabulares da Matriz de Parnaíba; depois é convidado a esculpir imagens em São Paulo, Santos, Mogi das Cruzes e Guararema. [Página 266]

as esculturas em madeira do Pilar, São Gonçalo e um pequeno Menino Jesus empé.73 O retábulo ao lado da epístola era dedicado a Nossa Senhora da Conceição,imagem confeccionada por Frei Agostinho de Jesus. Além desta peçaencontrávamos um vulto de Santo André e uma escultura de Santo Amaro,importante modelagem de Frei Agostinho da Piedade.74 Frei Agostinho de Jesus esculpiu numerosas obras de diferentes temas emedidas para as dependências do convento, distribuídas em nichos e alcovas.Destacamos: Santa Luzia, Nossa Senhora da Conceição Menina e peçasdestinadas a presépios que hoje enriquecem várias coleções paulistanas.75 Nopassado, os moradores visitavam o Mosteiro de Parnaíba e beijavam os pés deum Menino Jesus nas noites de natal.76 A estadia do monge-artista em Santana de Parnaíba por aproximadamenteoito anos (1643-1650) permitiu o desenvolvimento de seus talentos artísticos emtoda plenitude e não faltaram aprendizes, curiosos e viajantes que passaramnesta região transportando conhecimentos até os confins do país, uma vez queeste território estava no entroncamento das rotas para Goiás, Paraná e MatoGrosso. Em resultado dessa atuação, surgem centros produtores de imagináriaem barro-cozido nas vilas de Itu, Sorocaba e Porto Feliz a partir da segundametade do século XVII.

Em contrapartida ao patrocínio de obras no mosteiro parnaibano, Frei Agostinho de Jesus vai retribuir generosamente ofertando imagens para uma nova igreja erguida pelos bandeirantes, a Matriz de Santana de Parnaíba, reconstruída em 1646 e finalizada por volta de 1650. Este espaço religioso tornou-se uma extensão do monastério e foi ornado com numerosas terracotas marianas, santos e ícones votivos: Santo Antônio do Suru (uma das obras mais realistas criadas pelo escultor), Nossa Senhora da Purificação (obra-prima do artista), Nossa Senhora dos Prazeres e um São Francisco de Paula. Além destes célebres trabalhos, a matriz parnaibana ostentava outros tesouros culturais, como o fragmento de Nossa Senhora com o Menino, N. Sra. da Piedade e as imagens de Nossa Senhora do Rosário, “a grande e a pequena”, algumas delas utilizadas em procissões. Um de seus últimos trabalhos nesta localidade é o grupo de Santana Mestra, orago de devoção particular do fundador da vila, André Fernandes; peças finalizadas por volta de 1650.77

Deste período em diante, Agostinho de Jesus se deslocaria para outrasparagens, mas as experiências vivenciadas na Parnaíba irão possibilitar novosdesafios artísticos em São Paulo, Santo Amaro, São Caetano, São Bernardo,Santos, Mogi das Cruzes, Duque de Caxias e Rio de Janeiro, destino final de sualonga peregrinação no país, encerrada em 1661. Segundo Monsenhor Florêncio Camargo, os monges beneditinos, Fr.Jerônimo do Rosário e Fr. Baltazar do Rosário, residiam na vila de Parnaíba em1653;78 período posterior à passagem de Frei Agostinho de Jesus. Estepesquisador localizou alguns religiosos que habitaram este mosteiro: Encontrei alguns nomes de monges que residiram neste convento: Fr. Jerônimo do Rosário e Fr. Baltasar do Rosário, 1653; Fr. Tomé Batista, presidente, e Fr. Anselmo da Anunciação, pregador, 1660; Fr. Bernardo de Santa Maria, presidente, 1671; Fr. Matias de S. Bento, 1682; Fr. Antônio de São Bento, 1687; Fr. Antônio de Nazarath, 1687; Fr. José de Jesus, prior, 1700. Em 1825 era o Fr. Felisberto de Nossa Senhora, o presidente e o único religioso que havia muitos anos, residia sozinho no convento. Servia depois, até 1880 ou 1881, de habitação do pároco [da igreja matriz]. Em 1887 ameaçava desabar e hoje só resta notícia do convento. (CAMARGO, 1971, p. 355). [Páginas 270 e 271]

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