Mapa de 1941 revela antigo percurso do rio. Giuliano Bonamim, giuliano.bonamim@jcruzeiro.com.br
22 de março de 2014, sábado. Há 10 anos
O Arquivo Público do Estado de São Paulo guarda uma raridade: a planta de Sorocaba elaborada em 1941 pelo Instituto Geográfico e Cartográfico (IGC). O documento mostra com detalhes os 11 bairros existentes no município, as ruas, quarteirões, pontos de referência e os contornos tanto do rio Sorocaba quanto dos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana.
O registro cartográfico foi assinado por Casemiro Meyer em 27 de julho de 1941 e elaborado em papel vegetal de 95 por 80 centímetros de tamanho. Segundo o Arquivo Público do Estado de São Paulo, trata-se de um material de importância jurídica e histórica por tratar de questões territoriais e contribuir para o resgate da memória.
A planta revela que, no caminho do rio Sorocaba, a área urbana da cidade tinha início na chamada Vila Santa Rosália. O documento mostra a atual praça Pio XII e a chamada estrada municipal — caminho para São Paulo.
O que chama a atenção no mapa é a sinuosidade do rio Sorocaba com as suas áreas de várzea, bem diferente do atual traçado. As curvas mais acentuadas aparecem nas regiões entre a Vila Pinheiros, Vila Assis e bairro Barcelona.
O rio Sorocaba teve a sua última grande retificação em 1950, na gestão do então prefeito Gualberto Moreira. As curvas mais acentuadas foram eliminadas e o traçado ficou mais reto para facilitar a urbanização na região central da cidade.
Segundo o pesquisador Luciano Bonatti Regalado, que encontrou o registro cartográfico no Arquivo Público do Estado de São Paulo, o ato de retificar o curso provocou mudanças nas características naturais do rio. "Ele era mais sinuoso, com áreas de várzea, que serviam para extravasar a água em dias de grandes chuvas. O reflexo disso, hoje em dia, são as enchentes", comenta.
Regalado cita a região do Jardim Abaeté, onde atualmente está instalado o Parque das Águas. "Ali é uma área de várzea, local onde a água avançava de forma natural. Hoje ela está ocupada e urbanizada."
De acordo com Welber Smith, professor do programa de mestrado em processos tecnológicos e ambientais da Universidade de Sorocaba (Uniso), o rio sofreu três grandes retificações em sua história. A primeira ocorreu em 1891 para a construção de uma ponte para a estrada de ferro, ao lado da já utilizada para rodagem. Foi necessário aterrar parte do traçado, o que impediria que o rio se espraiasse para o lado direito e inundaria o esquerdo. As informações contam no livro Os peixes do rio Sorocaba, de Welber Smith.
Na opinião do professor, a retificação no rio Sorocaba ocasionou prejuízos no ponto de vista ambiental. "Pois passou a aguentar um volume menor de água e perdeu toda a estrutura de fauna e flora. Colhemos esse fruto hoje", relata.
Smith ressalta ainda que, na região do Itavuvu, o rio ainda possui as suas características naturais. "Lá existem algumas áreas de várzea e o rio e sinuoso", conta.
Para tentar retomar as características naturais do rio, a Secretaria do Meio Ambiente (Sema) de Sorocaba tem adotado algumas medidas. Uma delas é não mexer no talude, a inclinação natural do terreno ao lado do curso da água. "Temos deixado a vegetação natural crescer para que os bichos, que vivem ao redor do rio, não sofram mais interferências", diz.