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Especial: O Caminho Velho. manoaexpedicoes.blogspot.com
5 de março de 2022, sábado. Há 2 anos
ESPECIAL: O CAMINHO VELHOO projeto Caminhos Antigos tem o propósito de resgatar a história das antigas vias de comunicação utilizadas pelos povos pré-colombianos e povos colonizadores. Estes caminhos, espalhados por todo o Brasil e América Latina, são testemunha da riqueza histórica e arqueológica deixada pelos nossos antepassados e constituem verdadeira riqueza do patrimônio cultural, dada a sua importância, comprovada por muitos pesquisadores que nos últimos anos tem dedicado grande parte do seu trabalho ao estudo dos caminhos históricos.

As rotas litorâneas e os caminhos da Serra do Mar tem sido constantemente exploradas pela equipe de Pesquisa do Instituto Manoa, o trabalho abrange várias etapas incluindo pesquisa bibliográfica, saídas de campo e captação de imagens além de publicações.

Tem sido chamado de "Caminho Velho" a antiga via que ligava o litoral norte de Santa Catarina a São José dos Pinhais e Curitiba. Desta antiga estrada, existe uma parte bem preservada que hoje é conhecida como o Caminho do Monte Crista, mas que ao longo dos séculos recebeu diversas denominações sendo as mais conhecidas " Caminho dos Jesuítas", Estrada de Três Barras" e "Caminho dos Ambrósios".

Em alguns trechos na subida da Serra do Mar e também nos campos encontram-se vestígios preservados do antigo calçamento que revestia parte do Caminho.O renomado pesquisar joinvilense Olavo Raul Quandt que escreveu " Peabiru: O Caminho Velho" especulou que a via tem sido utilizada desde os tempos pré-colombianos, servindo ao tempo da conquista como via de acesso ao interior do continente:

" O antiquíssimo caminho entre o litoral catarinense e o interior do continente, tantas vezes percorrido por castellanos estabelecidos na província del Rio de la Plata, começa junto á Ria de Três Barras, no município de Garuva, em Santa Catarina.

O Caminho Velho na Cartografia Antiga

Litoral norte de Santa Catarina no mapa de Peter Martyr de 1534. America by Martyr.

No século XVII encontramos referência à Baía da Babitonga e Rio São francisco em alguns mapas. O Major Manoel Joaquim d´Almeida Coelho em "Memória Histórica da Província de Santa Catarina" faz referência a antiguidade do caminho:

"De S. Francisco para Curitiba - do sítio chamado - Três Barras, segundo um documento que temos presente. (inédito e m.s.) foi aberta esta comunicação pelos anos 1600. Achava-se quase intransitável quando a Assembléia Legislativa da Província pela sua Lei nº 146 de 1840 a mandou reparar."

Langren, Arnoldus Florentius (1600 - 1644)"Os veleiros entravam pela "Ria de São Francisco", nome que mais tarde por engano, passou a ser grafado por alguns como "Rio de São Francisco". Trata-se do canal de acesso pelo lado norte da Baía da Babitonga. Em seguidanavegavam pela mesma baía até as imediações do Monte Gibraltar e entravam pelo canal das Três Barras" ( Quandt 2003)

Carte du Paraguay, du Chili, du Detroit de Magellan &c. L´Isle, Guillaume de. 1721

Também tem sido chamado esta via de "Caminho dos Jesuítas". O escritor Ciro Ehlke mencionou em "A Conquista do Planalto Catarinense" que a expressão " foi erroneamente adotada por agricultores colonizadores alemães para denominar a trilha, pois não existem provas concretas que indiquem que os padres missionários teriam utilizado o caminho. Certamente há de se rever este conceito, realizando um estudo mais aprofundado, pois vários mapas mostram a ligação deste caminho com o território das missões. De acordo com as fontes históricas, o caminho velho tinha início junto a Barra do Rio Três Barras, no Canal do Palmital, onde estão localizadas as ruínas da Capela Jesuítica de Santo Inácio e do antigo cemitério. Neste ponto ficava o porto da "Missa", de onde deixavam as embarcações e seguiam a pé pelo caminho terrestre. 1700-1730 Paraquariae provinciae Soc. Iesu cum adjacentibus novissima descriptioSeutter, Matthäus" A Baía da Babitonga era o melhor porto para as naus e caravelasque vinham da Espanha e traziam gente que tinha optado pelo caminho terrestre para chegar ao Paraguai ou aos aldeamentos das missões jesuíticas da região dos Rio Uruguai e Paraná" ( Quandt 2003)1728-Ober-Paraguarien nebst denen Ländern Baures, Tschikiten, Schareyes, Payaguas, Toromonas, Moschos, Ytonamas, etc., samt einem Theil dern Königreichen Tschili und Peru etc. etcTambém o Caminho Velho foi denominado de "Estrada das Três Barras" onde existem obras de engenharia antiga, como a famosa "escadaria" de pedra do Monte Crista, e os "pontilhões" de pedra e escoadores de água verificados na subida da Serra. Nos campos também existem alguns trechos preservados de calçamento de pedra de granito. As obras de pavimentação foram feitas na metade do século XIX conforme descrevem as correspondências enviadas ao presidente da província citadas por Alcides Goularti Filho em seu excelente trabalho " A ESTRADA TRÊS BARRAS E A INTEGRAÇÃO DO LITORAL NORTE CATARINENSE COM O PLANALTO DE CURITIBA"Typus Geographicus, CHILI PARAGUAY FRETI MAGELLANICI &cDelisle, Guillaume1733Sobre as obras no trecho mais íngreme escreve Goulart filho (2008):"Barreto fez reparos até a distância de 4.255 braças (9,3 km), tendo como ponto de partida a Fazenda Três Barras. Na subida até o Crista, foi abandonado o íngreme e velho caminho traçado pelas expedições no século XVIII, e Barreto determinou que fosse aberto um novo trajeto em zigue-zague, que foi calçado numa extensão de 68 braças (149,6 metros) com duas braças de largura (4,4 metros). Também foram colocados 30 esgotos transversais de pedra com calçada na parte superior. O trecho restante da subida, 26 braças (57,2 metros) era feito de pedras grandes que permitiam a passagem de apenas um animal (CORRESPONDÊNCIA, 17 de agosto de 1846). ainda sobre a Estrada de Três Barras escreve o professor Olavo:"Trata-se de outro caminho, que parte de um braço do rio Palmital, o rio do Saco, e segue até a atual cidade de Tijucas do Sul. Essa estrada, mais antiga, tinha dois nomes, de acordo com a referência: Caminho dos Ambrósios, (Tijucas do Sul era o Campo dos Ambrósios) ou Estrada Três Barras, para quem vinha do Planalto. É ela quem sobe para o Monte Crista e de lá segue para Tijucas do Sul".1736 Moll, Herman, d. 1732Map of Chili, Patagonia, La Plata, part of Brasil"Em 1799, foi instalado o posto de fiscalização e de cobrança de impostos pela passagem das congonhas(erva-mate) no distrito de Gibraltar, que fazia parte da freguesia de São Francisco do Sul" . ( Quandt 2003)Paraguay, Rio de la Plata, &c.-1747 Bowen, Emanuea Estrada Três Barras] tem tornado intransitável, com tão horrorosos despenhadeiros, que por ela não descem bestas carregadas, os tropeiros conduzem as costas os volumes deixando os animais no alto da serra. O espaço que haveria a compor estima alguns em três quartos de léguas (PINHEIRO, 1839, p. 429).Anville, Jean Baptiste Bourguignon d, 1697-1782 (1748)

O pesquisador Henry Henkels em " O Caminho do Rio Três Barras" faz referência a um documento de 1729 da Câmara de São Francisco do Sul:

"... o Capitão Cândido Joaquim de Sant´ana, morador da fazenda Três Barras, ofereceo para dispor, ordenar e administrar o caminho que se deve abrir do Porto de Cima para Coritiba, de modo voluntário e sem estipendio". (Henkels 2001)

1787-Brésil et pays des Amazones, avec le gouvernement de Buenos-AiresBonne, RigobertEm meados do século XIX o caminho teria recebido melhorias e reparos por ordem da coroa portuguesa para garantir o trânsito entre o litoral e o planalto. " O Caminho dos Ambrósios"como ficou conhecido, teve seu período de maior trânsito durante o ciclo do tropeirismo que perdurou na região até meados do século XX. , no alto da Serra, ainda existem vestígios dos antigos ranchos de pedra utilizados pelas tropas.

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