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Fisionomia da cidade: Sorocaba – cotidiano e desenvolvimento urbano – 1890-1943, 2008. Rogério Lopes Pinheiro de Carvalho
200806/04/2024 13:32:26

reforma financeira concebida por Rui Barbosa, na qual, dentre outras medidas, procurousubstituir “o lastro-ouro pelos títulos da dívida federal como lastro de emissões bancárias.”2Essa reforma ficou conhecida como Encilhamento e foi documentada pelos escritorescontemporâneos. Dentre eles, o monarquista Visconde de Taunay, cujo livro se tornou umimportante registro histórico sobre a febre especulativa que tomou conta da capital federalbem como de todo o país. Ele apresenta o Encilhamento comouma espécie de redemoinho fatal, de Maelstrom oceânico, abismoinsondável, vórtice de indômita possança e invencível empuxo a que iamconvergir, em desapoderada carreira, presas, avassaladas, inconscientes norepentino arroubo, as fôrças vivas do Brasil, representadas por economiasquase seculares e de todo o tempo cautelosas, hesitantes, de encontro acujos vidros enquebráveis, convexos, se atiram , nas sombras da noite e nosvaivens da tempestade, grandes e misteriosas aves do oceano, para logocaírem malferidas, moribundas, ou sem vida e fulminadas sobre ásperosrochedos, na base das Tôrres agigantadas.3Machado de Assis também deixou suas impressões sobre esses acontecimentos,descrevendo o suposto eldorado que tinha se transformado o Rio de Janeiro, onde senegociavam diariamente muitos milhares de contos de réis. “Eram estradas de ferro, bancos,fábricas, minas, estaleiros, navegação, edificação, exportação, importação, ensaques, empréstimos,todas as uniões, todas as regiões, tudo o que esses nomes comportam e mais o que esqueceram. (…)Cada ação trazia a vida intensa e liberal, alguma vez imortal, que se multiplicava daquela outra vidacom que a alma acolhe as religiões novas. Nasciam as ações a preço alto, mais numerosas que asantigas crias da escravidão, e com dividendos infinitos.”4Essas narrativas, apesar do forte teor crítico por parte de Taunay, parecem confirmaraquela “comoção elétrica” mencionada por Maneco Januário. E, provavelmente, esse frenesinão era algo percebido apenas na capital, uma vez que Sorocaba também se viu engolfadapelo Encilhamento.Como escreve Aluísio de Almeida, o fenômeno foi registrado em Sorocaba, especialmente através de Pierre Labourdenne, um estrangeiro que chegou à cidade por voltade 1888, e que poderia se encaixar perfeitamente no enredo elaborado por Taunay.Labourdenne, ao longo de 1890, escreve artigos no Diário de Sorocaba defendendo apujança da cidade. Por exemplo, em julho de 1890, publica um texto no jornal de ManecoJanuário criticando aqueles que duvidam do progresso da cidade em função da falta delavoura de café na região.

"Muitos espíritos inconscientes e em tanto retrógrados tem avançado que Sorocaba, devida á falta de lavoura de café, tinha sido pouco aquinhoadapela natureza, e que, definitivamente, era uma pobre e decadente; comoamigos e edmiradores da elegante e faceira princeza do Sul, cumpre-nos darimmediatamente um desmentudo formal a tam errôneas e infundadasasserções."5

Labourdenne, neste mesmo ano, obtém junto à Intendência local diversos privilégioscomo a concessão para a construção de linha de bondes, telefones e até encanamento. Todasessas atividades são noticiadas com grande destaque pela imprensa local:

A Intendência Municipal, em sessão de 14 do corrente, lavrou contrato com o dr. Pierre Labourdenne Saint Julia um contracto para a realização de umdos mais importantes melhoramentos a que poderíamos aspirar – aconstrucção de linhas de bondes dentro do perímetro da cidade pelossubúrbios, e estabelecimento de linhas telephonicas. / Não é necessário tergrande penetração para comprehender á primeira vista o grande incrementoque com isso vae tomar a nossa cidade e o valor que terão os terrenos atéhoje desproveitados e que se prestam pela sua excellente posição ás maiscommodas e hygienicas habitação. [Diário de Sorocaba, 17/10/1890]

Porém, todos esses projetos acabaram não se realizando e a cidade ainda teria que esperar alguns anos por esses melhoramentos. O fiasco teve até um episódio pitoresco protagonizado, é claro, por Labourdenne, quando este para não perder a concessão da construção das linhas de bondes, monta uma verdadeira mise-en-scène, simulando o início das obras e a colocação dos primeiros trilhos para os bondes. Apesar de não ficar claro, certamente tratava-se de um linha de bondes a tração animal. A imprensa local, sem suspeitar de nada, registrava o episódio:

Ante hontem, as 9 horas da manhã, o dr. Pierre Labourdenne de Saint Julian, concessionário das linhas de bondes, neste município, procedeu á inauguração das mesmas começando pelo fim da rua do Hospital [atual Álvaro Soares], em frente á oficina da Sorocabana, o assentamento de trilhos, cujo primeiro cravo, foi batido pelo sr. Tenente João Batista Fontoura, vice presidente em exercício da presidência da Intendência Municipal, colocando-se também nessa ocasião o primeiro poste da linhatelefônica.

Achavam-se presentes muitos cavalheiros e o trabalho foi dirigido pelo hábil engenheiro dr. Ernesto Rodrigues Chaves, Presidente da Cooperativa de Industria e Comercio.

A bitola adaptada para os bondes é de um metro entre trilhos, o que trará, já para a condução de cargas, já para a de passageiros, grandes vantagens e comodidades.

Disse-nos, o sr. Dr. Labourdenne que já estão dadas as providencias para que continuem as obras no maior curto praso.

Finda a cerimônia, o sr, dr. Labourdenne fez servir aos seus convidados um laito e bem servido almoço no conhecido Hotel Brasileiro, manifestando-se então mais uma vez a sincera e franca jovialidade de caracter daquele amável cavalheiro.

Ao champanhe ergueram-se diversos brindes, entre os quais do diretor desta folha ao sr. Labourdenne pelo progresso desta cidade.

(…) Concluindo, felicitamos ao ilustre concessionário, fazendo votos pela prosperidade da empreza, que será também a de Sorocaba.
[Diário de Sorocaba, 12/07/1891. Apud: GASPAR, Antonio Francisco. Sorocaba de ontem: crônicas da cidade. 1954. pp. 225-226.]

Como se pode depreender, Labourdenne engabelou não apenas o redator do Diário como também autoridades gradas da cidade. Não é sem razão que o historiador Aluísio de Almeida arremate todo o ocorrido de maneira irônica: “e houve gente para tomar um regabofe com ele.” [ALMEIDA, Aluísio. História de Sorocaba. Folha Popular, 01/04/1954.]

Interessante notar a defesa que o jornal de Maneco Januário faz em favor de toda essa movimentação de capitais e construção de novas empresas que marcaram o período do Encilhamento. Em julho de 1890, num artigo de fundo intitulado “Emprego de capitais”, um colaborador do jornal pondera a opinião daqueles que criticam a “febre de emprezas” e pedem mais prudência, mas coloca:

Até quando nos está reservada a posição de espectativa que, por demorada, torna-se ridícula? O Brazil já não é um paiz de hontem; depois o conjuncto de acontecimentos dos últimos tempos, e sobre tudo o golpe decisivo mudou os destinos da pátria, mostram claramente que já não vivemos nos tempos em que as responsabilidades contrahidas por partes interessados, não passavam de meras ficções para caçar o compromettimento de uns em proveito de outros.

Sem exagerar no excesso de otimismo, o articulista, salienta que se tratava de uma nova era que se abria a todas as atividades, mas especificamente das indústrias. Assim, “Derivada, pois, de um acontecimento ainda maior, a evolução da industria, do trabalho e da iniciativa, que actualmente se nota, não é mais que a reacção contra a inactividade em que sempre sepultou-se uma nação tam rica de elementos de vida e prosperidade.” [ Diário de Sorocaba, 19/07/1890;]

A historiografia sobre o tema tem, geralmente, seguido o retrato elaborado por Taunay:um momento pautado exclusivamente pela febre especulativa e crédito fácil que não poderiadurar e não durou; tendo a sua débâcle provocado a ruína financeira da nação.10No entanto, algumas pesquisas, sem negar esses aspectos deletérios acarretados peloEncilhamento, procuram destacar também os aspectos efetivamente positivos trazidos pelapolítica financeira de Rui Barbosa. Talvez o primeiro trabalho a apresentar uma perspectivamais nuançada do período foi o de Stanley Stein, sobre o desenvolvimento da indústria têxtilno Brasil. Para esse historiador, apesar dos excessos especulativos, o boom provocado poressa política financeira desencadeou uma situação que não pôde mais ser contida,representando, dessa forma, “uma tentativa de romper com o lento, conservador e rotineiropassado agrícola, simbolizado pelo Império, para dar vazão à “verdadeira energia americana”.A indústria democrática apontava o caminho da modernização e revitalização do país.”11Segundo Stein, os contemporâneos apontaram a década de 1890 como um período degrande expansão da indústria têxtil algodoeira.12 Portanto, esse período não se resumiu apenas [Páginas 37, 38, 39 e 40]

Sorocabano e era formada por políticos e industriais da cidade. Nomes, diga-se de passagem,de alta relevância na cidade, tais como, Arthur Gomes, Manoel José da Fonseca, NogueiraMartins, Ferreira Braga [Braguinha] e José de Barros.31Diante desse contexto, o historiador Arnaldo Pinto Jr. aponta o período entre 1903 e1914 como “uma fase de aceleração das transformações nos meios urbano e social”32, emvirtude da superação das epidemias e das perspectivas de crescimento econômico da cidade.Tem-se, assim, a constituição de um cenário tanto externo como interno favorável para acidade.Portanto, podemos compreender a empolgação trazida pela perspectiva da construçãode uma usina hidroelétrica, uma vez que essa supriria a crescente demanda de força motrizpor parte das indústrias em expansão, além de se constituir numa forma de energia “muitomais barata e segura que o uso direto da água e as dispendiosas máquinas a vapor utilizandocarvão.”33É importante salientar que melhoramentos como força e luz, abastecimento de água ecanalização de esgotos, representavam uma nova concepção do espaço urbano que não seinicia com a República, remontando, mais precisamente, às últimas décadas do Império.Numa perspectiva mais ampla, essas novas idéias podem ser relacionadas àstransformações que passam a ocorrer no país ao longo da segunda metade do século XIX;fatos como o fim do tráfico de escravos, a nova política tarifária, a lei de terras, a expansão dalavoura cafeeira, gerando capitais para o país, bem como a introdução de novas técnicas eserviços como o telégrafo, a navegação a vapor, a ferrovia e as primeiras tentativas maissistemáticas de instalação de manufaturas, representam uma maior inserção do país nos fluxosda modernidade do século XIX, ou seja, da expansão do capitalismo internacional. Esses [Página 49]

se espraia pelo mundo Ocidental e chega ao Brasil, influenciando, por exemplo, as reformasocorridas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Não sendo demais dizer que os futuros prefeitosdessas duas cidades, quando de suas remodelações, respectivamente Pereira Passos e AntônioPrado, presenciaram in loco, as obras realizadas na capital francesa. A partir daí uma questãopertinente que se coloca é pensar “de que maneira as concepções européias de reforma urbanavão ser apropriadas e relidas (...)”36 no contexto do desenvolvimento urbano das cidadesbrasileiras. E daí a pertinência de estudos particulares sobre esse tema para as cidades dointerior, nas diferentes perspectivas que ele comporta. A pesquisa empírica pode mostrar queas generalizações efetuadas para as grandes cidades, por vezes não dá conta do processo detransformações urbanas ocorridas nessas cidades, com todas as suas especificidades.37Inclusive, pode-se apreender um roteiro interessante de influências e apropriações. Porexemplo, quando os jornais sorocabanos comparam a urbanização da cidade com outras doEstado, como Botucatu e Campinas, usando a situação desses municípios como modelos parauma série de “melhoramentos” que poderiam e deveriam ocorrer em Sorocaba.38

Cruzeiro do Sul, 13 de dezembro de 1912 e Diário de Sorocaba, 21 de janeiro de 1914. Ainda sobre essas influências e reapropriações, pode-se mencionar a comparação com Buenos Aires, uma perturbação constante na imaginação das elites republicanas, e por isso mesmo, nos diz muito dos propósitos das reformas que ocorrem no período.

Aqui, nada melhor que dar a palavra para um dos críticos mais ferozes do novo regimeque se instalou em 1889 no país, Lima Barreto, que sempre fez questão de colocar o dedo na ferida: “Aobsessão de Buenos Aires sempre nos perturbou o julgamento das coisas. / A grande cidade do Prata tem ummilhão de habitantes; a capital argentina tem longas ruas retas; a capital argentina não tem pretos; portanto,meus senhores, o Rio de Janeiro, cortado de montanhas, deve ter largas ruas retas; o Rio de Janeiro, num paísde três ou quatro grandes cidades, precisa ter um milhão; o Rio de Janeiro, capital de um país que recebeudurante quase três séculos milhões de pretos, não deve ter pretos.” BARRETO, Lima. Vida urbana,26/01/1915. Crônicas Escolhidas. 1995, pp. 95-97

No caso de Sorocaba, as mais recentes pesquisas têm indicado que esse discursomodernizante é encampado por setores influentes e representativos da cidade. Estes, portanto,começam a encarar o tradicional comércio de muares como um empecilho aos melhoramentosde que a cidade necessita.39 Tal fato não se dá sem tensões uma vez que a maior parte da [Página 51]

econômicos até sócio-políticos e culturais.” [HARDMAN, Foot e LEONARDI, Victor. Op. cit., pp.121-122. Há ainda a especificidade de cidades quenasceram em função do estabelecimento de uma unidade fabril, ou seja, nestes casos, a fábrica antecedeu acidade. É o caso da cidade de Salto, estudado por Anicleide Zequini em seu livro: O quintal da fábrica – aindustrialização pioneira do interior paulista: Salto. Op. cit. Também apresentam um contexto semelhante ascidades de Americana e Votorantim. Esta última surgiu em torno da fábrica Votorantim, instalada em 1890, eda vila operária, tornado-se um distrito de Sorocaba.]

Como já mencionado, o debate sobre a questão urbana não é exclusividade da República. Tal preocupação começa a ganhar uma visibilidade maior desde meados da década de 1870, pelos menos em algumas cidades do Império. É o caso, por exemplo, de Sorocaba, como atesta o texto publicado no jornal local O Americano, em 1872, intitulado Alguns melhoramentos para esta cidade. Dentre eles a edificação do mercado municipal, a construção de um chafariz na praça da Matriz, arborização das praças e uma nova localização para o matadouro municipal. [O Americano, 13/10/1872.]

Nesses tópicos já se faz presente a questão da higiene pública. Contudo, o advento da República, parece significar um aprofundamento do desejo de modernização do país e, conseqüentemente, do espaço urbano. Como indica Foot Hardman, a retórica dominante é pautada pela ânsia do progresso. [Jornal O Americano]

A imprensa continua a reivindicar a necessidade de melhoramentos urbanos e medidasembelezadoras, como, por exemplo, a construção de parques e a arborização dos logradouros.Porém, sob o novo regime, essas questões são tratadas de modo mais intenso. É o caso de umartigo publicado no início de 1893, intitulado “Sorocaba e seu futuro”, escrito pelo engenheiro Joseph Bryan. Nesse texto, o autor não tem nenhuma condescendência com os arcaicos meios de transportes que ainda dominam as ruas da cidade, como os carros de bois, veículo “primitivo e bárbaro”, “que puxado por cinco ou seis juntas de bois, conduzem um pesoinsignificante; gastam um dia para caminhar três léguas, martyrizando os ouvidos e irritando osnervos dos pobres mortaes que habitam ou se encontram nos caminhos e ruas por onde estestrambolhos tem de circular.” Refere-se ainda às tropas de muares como um meio de transporteatrasado e ineficiente, algo já sem sentido diante das comodidades do progresso. Dessa forma,44 HARDMAN, Foot e LEONARDI, Victor. Op. cit., pp.121-122. Há ainda a especificidade de cidades quenasceram em função do estabelecimento de uma unidade fabril, ou seja, nestes casos, a fábrica antecedeu acidade. É o caso da cidade de Salto, estudado por Anicleide Zequini em seu livro: O quintal da fábrica – aindustrialização pioneira do interior paulista: Salto. Op. cit. Também apresentam um contexto semelhante ascidades de Americana e Votorantim. Esta última surgiu em torno da fábrica Votorantim, instalada em 1890, eda vila operária, tornado-se um distrito de Sorocaba.45 O Americano, 13/10/1872.46 HARDMAN, Francisco Foot. Trem Fantasma. Op. cit., p. 91. (Página 54)

Sorocaba deveria se livrar dessas “decrépitas antiguidades” e, para isso, conclama aslideranças locais a investirem seus capitais no transporte ferroviário. Afinal, “Sorocaba develembrar-se de que não é mais a Sorocaba dos tempos passados; deve bem considerar que, só no seuperímetro, agazalha actualmente talvez mais de dez mil almas, e que, além das muitas industrias queprogridem e florescem no seu seio, o sibilar da locomotiva que a visita diariamente, há dezoito annos,lhe grita várias vezes ao dia: Avante!” O jornal O Americano, supracitado, já reivindicavamelhoramentos, mas não ousava questionar o comércio de animais, duas décadas depois essaatividade econômica é desancada de maneira contundente, num indicativo da sua decadência eda transição por qual passava a cidade. É sintomática a comparação entre a locomotiva, omaior ícone do progresso tecnológico do século XIX, e os equipamentos consideradosobsoletos como os carros de bois e o sistema de transporte por muares. Com a expansão dasáreas de cultivo do café rumo ao oeste de São Paulo, ficava cada vez mais patente ainadequação do transporte por mulas. Mesmo que ao longo do século XIX o comércio deanimais e o tropeirismo, juntamente com a economia açucareira, tenham sido responsáveispelo acúmulo de capitais que iriam possibilitar o desenvolvimento da cultura do café e,posteriormente, da industrialização em várias localidades, dentre elas, a cidade de Sorocaba.47A historiadora Silvia Lins, em seu estudo sobre as tropas de muares nos arredorespaulistanos, mostra uma elite tropeira extremamente rica, chegando a se equiparar e mesmosuperar os ricos proprietários agro-exportadores da Província. Assim, os empresários ligadosao mercado das tropas, invariavelmente, passavam “a integrar o circuito da elite dominante.”Pode-se mencionar os exemplos do barão de Antonina, Antonio Queiroz Telles, barão deIguape e Rafael Tobias de Aguiar.48No nosso caso, estamos interessados especificamente na figura de Tobias de Aguiar,47 SAES, Flávio Azevedo Marques de. A grande empresa de serviços na economia cafeeira. 1979, pp. 21 e 56.BONADIO, Geraldo. Op. cit., pp. 76-77.48 LINS, Silvia Queiroz Ferreira Barreto. De tropas, trilhos e tatus: arredores paulistanos do auge das tropasde muares à instalação das estradas de ferro (1855-85). 2003, pp. 26 e 93. [Página 55]

departamentos municipais do Estado.”

[Cruzeiro do Sul, 28 de janeiro de 1913]

O autor do texto passa a descrever as principais fábricas têxteis da cidade e asperspectivas de investimento e conclui com uma imagem de forte teor simbólico: “E assim,sem estardalhaço, o nosso município vive para o futuro, annunciando, pela crescente fumarada dassuas chaminés, a actividade fabril de milhares de braços, que elevam, com o seu curso, o nome deSorocaba, de S. Paulo e do Brasil industrial.” [Cruzeiro do Sul, 28 de janeiro de 1913]

A fumarada das chaminés se constituía, então, como um indicativo da pujança econômica da cidade industrial. Tal imagem seria uma constante nessa construção apologética da Manchester Paulista. Com efeito, um ano depois, em 1914, outro texto fazia menção a recuperação da cidade depois do término da feira de animais, mas que só ocorreu “pelo espírito progressista de seus filhos”. Desse modo,

dahi há pouco tempo o resfolegar dos chaminés de suas grandes fábricas attestava seu progresso e a reivindicação de sua primitiva grandeza (…) Assim como a industria pastorial e o comércio elevaram Sorocaba ao apogeu da grandeza, a industria fabril não lhe foi menos reconhecida, edificando-lhe um trono e dando-lhemajestade: -Sorocaba é hoje, a orgulhosa Manchester Paulista.” [Cruzeiro do Sul, 20 de fevereiro de 1914]

Todas essas imagens são condensadas no Almanach Illustrado de Sorocaba, publicadoem 1914. Aliás, a própria publicação do Almanaque, por si só, se constituía como um signo daprosperidade local. Algo que fica patente no anúncio de seu lançamento pela imprensa:

O explendido annuario que vem de apparecer é o revelador mais seguro da importância e da prosperidade desta terra tão falada, cuja fama não é unicamente nacional; em tempos que já se foram, Sorocaba teve o seu nome popularisado fora das fronteiras do Paiz e essa popularidade ainda existe, si bem que enfraquecida.” [Cruzeiro do Sul, 21 de fevereiro de 1914]

A cidade não era mais tão famosa como nos tempos da feira, mas o esforço dasautoridades locais, capitalistas e também da imprensa era mostrar que a Sorocaba industrial poderia ser tão ou mais famosa e exuberante.

Nesse contexto, o Almanaque de 1914 trazia um momento significativo na construçãode uma urbe industrial e pretensamente moderna, trata-se do texto de Francisco CamargoCésar, um dos mais importantes jornalistas da história da cidade. No artigo intitulado“Sorocaba Industrial”, Camargo César desafia os que duvidam do merecimento do títuloconferido há quase dez anos, o de Manchester Paulista. Assevera o progresso local e aliderança da cidade no setor industrial, fato que poderia ser verificado por qualquer viajanteque por lá chegasse:

E ante todo esse esforço bairrista, ante toda essa rivalidade progressista noseio da industria do nosso Estado, Sorocaba indiscutivelmente cresce com arealidade, occupando o primeiro logar, já não se exceptuando cidadealguma do interior, já attendendo-se á relação entre a própria capital.A prova dessa verdade tem o viajante que, mesmo de passagem, nota a nossaactividade industrial, actividade essa synthetisada magnificamente naevolução continua de densas espirais de fumo, lançadas pelos respiradourosgigantescos dos estabelecimentos fabris.

Continua o jornalista:

(…) Sorocaba progride com a sua industria, de modo a não permittir que selhe tirem as vantagens. Não são essas palavras meras interpretações donosso enthusiasmo; ellas trazem consigo o cunho da verdade, demonstrávelsem preâmbulos em toda a occasião que se queira. Como que desfazendoantecipadamente qualquer formula de excesso, temos a nosso favor oreconhecido retrahimento do sorocabano, que, causando admiração a todospela sua iniciativa, pela sua febre de progresso industrial; que acolhendocom simplicidade os fundadores de uma empresa fortíssima como é a SãoPaulo Eletric Company66, que contemplando satisfeito, mas sem alardes, atransformação radical do Itupararanga, onde o yankee audaz estáinstallando as mais importantes uzinas electricas do Brasil; queacompanhando, emfim, a evolução da moderna industria, com a attençãoconcentrada na linha em que forma, não se utiliza do seu mérito paraprocurar attingir a pináculos phantasticos e continua trabalhandodevotadamente pelo engrandecimento do seu recanto privilegiado,participando com considerável contingência, na formatura das grandesforças que levantam, cada vez mais, o nosso paíz, pela imposição do lemma– pax et labor. [Páginas 61 e 62]

Outro texto publicado no Almanaque, escrito por João de Cunto, continua na mesmatoada:

Sorocaba, sendo hoje uma cidade perfeitamente saneada, com admirávelrede de água e exgottos, optima illuminação electrica, possuindo magníficalinha de telephones e de telegrapho nacional, com linha de automóveis,fasendos-e approximar deste modo aos municípios que lhe são adjacentes,gozando de um clima magnífico, distando apenas três e meia horas daCapital, e muito chegada ao Ipanema, - onde se encontra talvez a mais ricaminha de ferro do mundo, Sorocaba offerece por tudo isso, aos srs.Capitalistas que desejam bem empregar os seus capitais os seus recursosmonetários em novas e desconhecidas industrias, campo vasto deexploração, pela facilidade que há em obter-se força motriz e ainda maisque aqui se encontram operários habilitados para qualquer ramo deindustria.

Como se nota, o tom de propaganda perpassa toda a obra. No caso do último textomencionado, até mesmo propaganda grosseira, pois como veremos nesta pesquisa, em 1914, acidade estava muito longe de estar saneada e a rede de água e esgotos, assim como ailuminação elétrica atendia, e mesmo assim de forma precária, uma parte do núcleo urbano dacidade. Mas, afinal, era para esse restrito segmento da população que o projeto do Almanaquefoi concebido, como também para os capitalistas que quisessem inverter os seus capitais nacidade. Uma cidade progressista, liberal, enfim, um cenário idílico onde todas as contradiçõessociais pareciam escoimadas; dentre elas, já que se fala de uma cidade industrial, acontradição entre capital e trabalho.De qualquer maneira, essa construção de Sorocaba como a Manchester Paulista podeser compreendida como uma expressão da modernidade que se manifestava no espaço urbano,mesmo que num primeiro momento essa questão estivesse restrita a um número relativamentepequeno de habitantes. Se retomarmos um sentido neurológico69 ou mesmo antropológico doconceito de modernidade, implicando, como escreve Renato Ortiz, um modo de ser, umasensibilidade, “uma cultura, uma visão do mundo com suas próprias categorias cognitivas.”70 [Página 63]

argumento de que nesses bairros havia ainda muito lugar para fossas sanitárias. A situação,portanto, era a seguinte:

“O povo paga de água e exgottos a bella somma de…180:000$000 poranno. Água nós temos em doses homeopáticas e exgottos só uma pequenaparte da cidade os tem, e essa pequena parte é a mesma existente naSorocaba de 1900 e feita por conta do Governo do Estado, quando na suapresidência o eminente e patriótico chefe da zona sul de São Paulo, sr. Cel.Fernando Prestes. / Daquella epocha, a esta parte, nem uma manilha a maisde exgottos se collocou na cidade, não tendo, até hoje, ainda, explicado aCâmara, onde foram parar os materiaes de exgottos, depositados numacapella da rua Aurora.”75Os esgotos não chegavam para a região do chamado além ponte, mas a malha urbanatambém estava expandindo-se em direção ao norte da cidade, ultrapassando as linhas da Estrada de Ferro Sorocabana, formando um novo bairro, a vila Sant’ Anna. “A villa Sant’Anna é um novo bairro da cidade e muito populoso. Reclama, desde há muito, da Câmara um pouco dagua, mas como sempre acontece com as cousas necessárias que "devem ser feitas", a água para a villa Sant’ Anna tornou-se já um desses problemas insolúveis. É preciso fazer? Então não se faz, diz aadministração. Diz ou pensa. Olhem o caso dos exgottos de alem-ponte…”76Em 1927, finalmente, a prefeitura abre concorrência para a realização das obras no além ponte, vencida pelos senhores Bernardes & Comp.77 Nesse ínterim, em 1928, finalmente, o grupo liderado por Campos Vergueiro e desalojado do poder, e o Correio de Sorocaba, emnota publicada em abril de 1929, denunciavam o fato da administração anterior ter deixado aobra inconclusa. Algo que o recém-empossado prefeito prometia concluir rapidamente. Alémdisso, João Machado de Araújo, o novo prefeito, editava a Lei nº 227 autorizando a prefeituraa instalar hidrômetros em todos os prédios da cidade78. Como vimos, uma antiga proposta queperpassou as administrações anteriores. Em nota, o Correio, agora situacionista, elogia talmedida: “Bem orientada andou a Municipalidade votando a lei que auctorisa a Prefeitura Municipal75 Correio de Sorocaba, 15/10/1925.76 Correio de Sorocaba, 23/05/1926.77 Cruzeiro do Sul, 05/10/1927.78 Correio de Sorocaba, 27/08/1930 [Página 126]

Capítulo IV: Narrativas do urbano: ritmos, percepções e temporalidades naSorocaba do início do século XX.“Na última quarta feira, 14 de julho, ainda se observoueste facto. Os caipiras que de Queda de Bastilha nadasabem e que ignoram a promulgação de nossa Constituiçãoa 14 de julho de 1891, vieram muito satisfeitos a arranjaros seus negócios na cidade. Mas, coitados! Quandochegaram, estavam fechadas as portas do Mercado.Achamos que deve haver mais condescendencia com estaignorancia dos nossos pequenos lavradores. Que diabo,elles não são obrigados a conhecer os novos feriados daRepública.”[O 15 de Novembro, 17/07/1898]“Há na inquietação dos lugares fechaduras que se trancammal sobre o infinito. Lá onde se persegue a atividade maisequívoca dos seres vivos, o inanimado se reveste às vezes,dum reflexo de clarões, e mais segredos móveis: nossascidades são assim povoadas por esfinges desconhecidasque não detêm o passante sonhador se ele não volta paraelas sua distração meditativa, esfinges que não lhecolocam questões mortais. Mas caso ele saiba adivinhálas, então este sábio que as interroga irá sondar ainda,novamente, seus próprios abismos graças a esses monstrossem rosto.”[Luis Aragon. O Camponês de Paris. 1996, p. 44] [Página 181]

das aventuras do menino Antonico, seu alter ego, que tinha como propósito desmascarar essashistórias. Assim, Gaspar chama de incautas as pessoas que diziam ter se deparado com umavisão, esguia e branca, a vagar pelos ciprestes no interior do Cemitério. Antonico se mostravaabsolutamente cético em relação às supostas assombrações. Para Gaspar, o que havia deconcreto em torno do Cemitério era a presença constante de trovadores enamorados a fazerserenatas para as suas amadas a altas horas da noite. E nada poderia demovê-los dessa prática,nem mesmo o conselho dos moradores sobre o perigo que corriam de serem assombrados porum fantasma horrível que vagava por ali nas horas mortas da madrugada. Antonico tambémcirculava pelo local à procura dos supostos fantasmas. No interior do Campo Santo ouviarumores estranhos e singulares, mas sabia que se tratava de combustões por causa dadecomposição dos ossos, “os quais, contendo fósforo, produzem ao contato do ar, uma luzfraca, visível somente na obscuridade.” Tratava-se, portanto, de fogos fátuos, semprepresentes sobre o chão de cemitérios e regiões pantanosas. O menino na sua ronda ouve umsom de violão e uma cantoria desafinada. Eram dois seresteiros a perturbar o silêncio da noite.Eles cantavam uma modinha: “Perdão, Emília, se roubei-te a vida,/se fui impuro e cruel,ousado!/Perdão Emília, se manchei teus lábios,/Perdão Emília, para um desgraçado!” Antonico játinha decidido pregar uma peça nos cantores e responde do interior do cemitério “com vozrouquenta e pausada”: Estás perdoado! Os dois cantores apavorados descem a Rua doCemitério [atual Hermelino Matarazzo] numa desabalada carreira e quando alcançam asmargens do rio Supiriri notam que um estava apenas com o braço do violão e o outro somentecom o cabo do guarda-chuva.80

Em outra edição do Correiro de Sorocaba, Augusto Moreira Camargo continua aescrever sobre as regiões assombradas da cidade. E faz referência a um local conhecido comoCruz de Ferro. Esse local ficava distante do perímetro urbano, para alcançá-lo era preciso tomar a rua Ipanema e depois a estrada de rodagem. A cruz está situada, até os dias de hoje, nabifurcação entre a estrada que leva até a Fazenda Ipanema e o caminho para a cidade de PortoFeliz. A cruz tinha sido a primeira peça fundida em Ipanema, em 1818. Ao longo do séculoXIX, aquele local ganhou fama por ser um dos pontos preferidos de esconderijo dos escravosfugidos. Segundo a tradição, à noite a área era tomada por seres fantásticos que saíam pelasencruzilhadas dos caminhos. Às sextas feiras à noite, viam-se vultos cobertos em longoslençóis brancos, ajoelhados, fazendo orações diante da cruz. Em função dessa fama, quaseninguém tinha coragem de cruzar aquele lugar nas horas mortas da noite.

Infelizmente o autor não continuou a escrever sobre o tema, apesar da promessa decontinuação. Talvez por isso não tenha chegado a mencionar outros locais célebres daSorocaba antiga, por exemplo, como conta, em suas memórias, Caputti Sobrinho, uma regiãopróxima ao rio Supiriri e a aos pontilhões da Estrada de Ferro Sorocabana, que acabou porligar a cidade à chácara do Barão, onde atualmente está situada a Praça da Bandeira. Com otempo e o contínuo trânsito de carros de bois e tropas, o lugar foi se esburacando e afundando,ficando conhecido por essa razão como Caminho Fundo. Além disso, o local possuía outrapeculiaridade, o de ser considerado um dos pontos mais mal assombrados da cidade. “À noiteapareciam visões horrendas sob as frondosas aroeiras, jabotizeiros, ingazeiros e cambarás, queformavam um verdadeiro túnel, o qual ninguém ousava transitar caída a noite.”82Esses eram alguns espaços de personagens e práticas antigas, remontando a umimaginário que vinha dos tempos da cidade colonial e imperial e que, no período abrangidopor esta pesquisa, começavam a se transformar e abranger outros personagens e realidades.Era o caso do já mencionado Pito Aceso, nas primeiras décadas do século passado, aimprensa retratava aquele local quase sempre de maneira depreciativa, descrevendo-o como [Páginas 200 e 221]

Ao longo das duas décadas seguintes, essa expansão torna-se ainda mais acelerada. Tem-se, assim, o crescimento dos arrabaldes, e para além dessas regiões, nas chamadas zonas rurais. A vila Santana, começa a se estender próxima aos trilhos da Sorocabana e pelos lados do Cemitério Municipal. Havia também o vasto campo da Vila Santana, toda uma gleba de terra que pertencia ao médico e político Álvaro Soares e a sua mulher Rita Mendes Soares. Em 1923, o casal manda construir em homenagem a Santa Rita uma capelinha em suas terras. Em 1939, com o povoamento da região, o bispo José Carlos de Aguirre procedeu à bênção da primeira pedra para a nova Catedral. Como nos informa Francisco Gaspar, na primeira metade da década de 1930, “o bairro de Sant’Ana já se estendia pela vasta colina. Já estava quase todo arruado e surgiam dezenas de bons prédios e casas de negócios de diversos ramos.”

O crescimento do bairro, cuja região ficaria conhecida como Além Linha, por ficar além dos trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana, aumentava proporcionalmente a necessidade de melhoramentos urbanos, como saneamento e transportes. Assim, como no caso da Além Ponte, toda essa região da cidade já quase se constituía como um núcleo urbano à parte. Nesse sentido, em março de 1933, a população de Santana, que reúne sob essa denominação diversas vilas, como Odin, Silveira, S. Adélia, S. Antonio e Bela Vista, endereçava uma representação ao prefeito solicitando uma série de melhoramentos, tais como iluminação das ruas e praças e melhorias no deficiente serviço de águas e esgotos na região.

A nota publicada pela imprensa informava que a população do bairro já chegava acerca de 100 000 habitantes. Certamente um exagero, a despeito do crescimento da região eda cidade como um todo. No ano seguinte, apresentavam-se números mais exatos,informando dados do recenseamento geral que estava sendo realizado pelo Estado de SãoPaulo. Nessa pesquisa, a população urbana alcançava o número de 36 000 habitantes,indicando um aumento de 15 000 pessoas em relação aos números apontados pelo censo de 1922.37

Esse crescimento urbano pode ser expresso, também, pelo incremento no mercadoimobiliário e o aumento do valor predial dos terrenos, como já informava o relatório daprefeitura de 1920. É justamente ao longo da década de 1920 que se verifica a intensificaçãodos reclames anunciando a venda de novos terrenos, em diferentes regiões da cidade:Bairro Oriental,Terrenos.Já estão á venda os magníficos lotes de Barcelona, que medem de 300 a 500metros quadrados. Local alto e saudável. Luz, telephone e boa água, alémde bondes do Votorantim e da cidade, de 20 em 20 minutos.Preços módicos, sem juros.38Vila Olympia.Situada nos prolongamentos das ruas Liberdade e Ypanema. Os terrenosmais bem collocados, logar alto e saudável, de um panorama bellissimo e demaior futuro de Sorocaba. Propriedade completamente livre de demandas,hypothecas ou qualquer outro ônus, respondendo pelas transacções, vendase evicção das escripturas firmas sólidas e de tradições.Brevemente.Grande vendas de lotes de terrenos a prestações sem juros.39Sorocaba ProgrideEstá aberta, em Sorocaba, uma nova e futurosa villa, denominada da Saudee de propriedade do sr, Roberto Vergueiro. Essa propriedade se achaexcelentemente situada na Agua Vermelha e constitue parte da grandechacara Vergueiro. Caprichosamente loteada e servida de bons caminhos, ealém disso proxima da cidade, a villa da Saude será em breve um dosapraziveis recantos de Sorocaba. É ahi que o sr. Vittorio Pegoretti projectainstallar um grande fabrica de cerveja.40Ou ainda a formação da Vila Independência, situada próxima ao Largo daIndependência, a região do Pito Acesso, antigo ponto limite da cidade, margeando a estradado Cerrado, que passava a se chamar rua General Carneiro.41Tal crescimento era notado por alguns articulistas da imprensa:O movimento de venda de terras loteadas para as construcções popularesvem sendo em Sorocaba uma verdadeira febre desde 1924, época em que35 GASPAR, Antônio Francisco. Padre Joaquim Gonçalves Pacheco. [s.d], p. 93.36 Cruzeiro do Sul, 10/03/1933. [Páginas 258 e 259]

colocado, o problema do estrangulamento das vias de comunicação entre as diferentes regiõesda cidade. Tal situação tornava-se ainda mais grave com o crescimento dessas regiões que, nocaso da história urbana de Sorocaba, ganharam os nomes peculiares de Além Ponte e AlémLinha.

A planta produzida pela companhia de telefone [Cia Bragantina] no final de 1926,mostra o crescimento da cidade em relação à planta registrada por volta de 1910.74 A históricacolina central, núcleo urbano original da cidade, ficava então permeada pelo, naquela época,sinuoso rio Sorocaba, além do rio, a região do Além Ponte, localizada na parte oriental e maisao sul da cidade, núcleo que começara a se expandir ainda no século XIX em torno da rua dosMorros [atual Nogueira Padilha]. Em direção ao norte, transpondo as linhas da Estrada deFerro Sorocabana, já se tinha a formação de núcleos urbanos populosos como a Vila Carvalhoe a Vila Santana. Além disso, do outro lado da estrada do Caminho Fundo, futura avenidaGeneral Osório, nascia, como nos referimos anteriormente, o conjunto residencial da VilaBarão.

De qualquer forma, tanto a sofisticada vila Barão como a mais popular, porquehabitada por operários, Vila Santana sofriam com as difíceis vias de comunicação com orestante da cidade, uma vez que ambas se localizavam além dos trilhos da Sorocabana.O problema das vias de comunicação entre as diferentes partes da cidade era umdentre os vários problemas urbanos por qual passava Sorocaba, em função do adensamentourbano. Era o que elencava o periódico Correio de Sorocaba num artigo sintomaticamenteintitulado Angustia Urbana:Uma das grandes falhas que impedem o desenvolvimento desta cidade é oprecário estado das vias de communicação urbanas. Como já tivemosoccasião de notar as nossas ruas e as nossas travessas no centrocommercial já não comportam mais o intenso trafego de automóveis que acidade possue.Este problema de circulação já se nos apresenta com todas as formas74 Cf Mapa em anexo, pp. 329-336 Comparar a planta da cidade realizada em 1910 com a de 1925, elaboradapela Companhia Bragantina. [Página 281]

Sorocabana79. Toda essa região não urbanizada passava a ser considerada um espetáculodesagradável para os olhos, além de nocivo aos princípios da higiene. Por exemplo, o trechodo vale que intermediava o final da rua Francisco Scarpa como a estrada do Caminho Fundo[General Osório], era caracterizado por um espesso matagal, acidentes topográficos e, quandochovia, muita lama. Quem parecia se divertir nesse cenário era a criançada que jogava futebole realizava outras traquinadas na região. O Caminho Fundo ganhou tal denominação emfunção das chuvas torrenciais e do grande trânsito de carros de bois e tropas que por alipassavam, sendo uma via de comunicação, por isso o terreno foi se esburacando e afundando,daí o sentido da denominação.80 Portanto, toda essa região, além de tornar-se um empecilho àcomunicação entre as diferentes partes da cidade, por suas características, evocava umaSorocaba de antanho, não condizente como os “preceitos de adiantamento e progresso.” Eraessa a perspectiva majoritária da imprensa local e também da prefeitura que, no final dadécada de 1930, transforma a região num canteiro de obras.Assim, entre o final da rua Francisco Scarpa, que marcava o início do chamadoCaminho Fundo, a prefeitura procura remodelar o local, traçando o que seria considerado umjardim moderno e bonito, nascia, assim, a Praça da Bandeira.81Em concomitância à confecção da nova Praça, eram tomadas medidas visando àcanalização do rio Supiriri, cujo extravasamento na época de chuvas acarretava prejuízosconsideráveis aos prédios e vias públicas. Além disso, no sentido paralelo ao Supiriri, agoracanalizado, é aberta a avenida Afonso Vergueiro.82 [Página 284]

central, pois uma das poucas passagens razoavelmente seguras eram as porteiras daSorocabana na altura das ruas Hermelino Matarazzo e Comendador Oeterer. Eram apenasessas duas entradas que escoavam a passagem da população das vilas Carvalho e Santana,quase toda elas constituída por operários. Como até as próprias autoridades da época etambém a imprensa reconheciam, essas passagens estavam se tornando cada vez maisperigosas em função do aumento do fluxo de pessoas que necessitavam circular pelo local.Esse perigo fazia parte do cotidiano dos operários que trabalhavam nas fábricas SantoAntônio e Nossa Senhora da Ponte, bem como nas oficinas da Estrada de Ferro Sorocabana.Muitas vezes premidos pela voz de comando dos apitos das fábricas que os chamavam para oseu turno de trabalho, atravessavam de maneira imprudente o leito da ferrovia quando esta seencontrava fechada, indicando o perigo representado pela passagem de um composiçãoferroviária. Algo que tinha sido fatal para uma moça operária que procurou atravessar a linhae foi terrivelmente tolhida pela passagem de um trem84.O que ficava patente, então, era a necessidade de se encontrar maiores opções para atransposição e comunicação entre essas duas regiões da cidade. Um projeto aventado à épocaera a construção de um pontilhão na altura da rua Professor Toledo. O que seria umaalternativa de locomoção para a população do Além Linha, particularmente dos novos bairrosVila Barão e Trujillo. Esse tema foi abraçado com intensidade que assinava os seus textosapenas como J. Assim, J. Procurava enfatizar a relevância do pontilhão ao detalhar o cotidianodos moradores daquela região que precisavam andar grandes trechos para transpor os trilhosda Sorocabana, demandando ao Caminho Fundo ou a rua Hermelino Matarazzo, através daVila Carvalho. No entanto, para evitar esses grandes deslocamentos, acabam encontrando demaneira provisória caminhos mais curtos em meio ao mato. Era o caso de um caminho que sefazia embrenhando-se pela recente Vila Trujillo, alcançando o leito da Sorocabana, justamente [Página 286]
*Fisionomia da cidade: Sorocaba – cotidiano e desenvolvimento urbano – 1890-1943, 2008. Rogério Lopes Pinheiro de Carvalho
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A nossa história, oficial e acadêmica, trabalha com probabilidades, quando se trata de Balthazar Fernandes. Aliás, nem se sabe ao certo a grafia do seu nome, se é Baltasar ou Baltesar, se é Balthazar ou Balthezar, tal é a diversidade das informações contidas nos documentos. Apesar do "fundador" de Sorocaba ter sido um cidadão ilustre, na sua época, nem se sabe quando ele nasceu, nem o dia nem o ano, como também não se sabe quando ele morreu entre 1662 e 1667. Não se sabe, com certeza, quando ele se casou, nem a primeira e nem a segunda vez. Sempre as datas são acompanhadas do clássico "por volta de". Também, não se sabe se a sua primeira filha, única do primeiro casamento, Maria de Torales, era sua filha biológica ou adotiva. E, para finalizar, os historiadores divergem quanto à data da chegada de Balthazar Fernandes a Sorocaba, se em 1646 ou se em 1654. Existem documentos historiando esses dois momentos. Existem documentos historiando, além desses dois momentos, uma fundação em 1670 E tem mais: a tal casa do Balthazar. será que era mesmo?
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