Paisagens reveladas: o Jaó caboclo, quilombola, brasileiro. Sílvia Corrêa Marques
2012. Há 12 anos
Capitulo 3 A Vila de Itapeva da Faxina nos caminhos do Sul: rede de trocas e palco de confrontos3.1 A fundação oficial da Vila
Duas fundações na história do município de Itapeva, interesses divergentes entre os primeiros sesmeiros, disputas entre a Paragem de Faxina com Antonio Furquim Pedroso à frente e a Paragem Itapeva (pedra-chata em tupiguarani), onde vivia o sorocabano Tomé de Almeida Paes, senhor daquelas terras, agraciado pela Coroa pelos bons serviços prestados, criador do agrupamento e acostumado a receber os tropeiros em suas invernadas e potreiros (BARBOSA,1988).
Sua residência estava localizada no topo de uma colina, atual Jardim Belvedere, próximo ao chamado “Pedrão”, no alto do bairro São Benedito, um geoindicador do trajeto das tropas que passavam nos arrabaldes do povoado.
A atual Avenida Coronel Acácio Piedade, foi a antiga Rua das Tropas, passagem de tropeiros que desciam a atual Praça Sinharinha Pimentel, subiam a Rua Santo Antonio Catigeró, contornando a vila até alcançar o Passo da Faxina, com boas aguadas. Muito provável, o Pedrão, tenha sido o local onde Jean Baptiste Debret pintou uma das duas aquarelas de Itapeva da Faxina em 1827.
Uma discussão cuidadosa sobre os primórdios da urbanização de Itapeva pode ser encontrada em Silvio A.C. Araujo (2012).
Dom Luiz Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, governador da capitania de São Paulo, extinta em 1748 e reabilitada por ele em 1765, ordenou a fundação de vilas no trecho percorrido pelas tropas entre Sorocaba e Curitiba, com dois objetivos: criar obstáculos para uma eventual invasão espanhola ao sul e a oeste e expandir a agricultura (BELLOTTO, 1976).
O município localizou-se, em princípio, na Vila Velha, ou bairro das Brotas, à margem esquerda do rio Apiay-Guassú, termo da vila de Sorocaba. Foi designado como fundador o paulista Antonio Furquim Pedroso, em 11 de junho de 1766.
Sob a proteção de Sant´Anna, nasceu o povoado em 20 de setembro daquele ano. Elevada à vila em 20 de setembro de 1769, instalando-se o pelourinho pelo juiz ordinário da vila de Sorocaba, Cláudio de Madureira Calheiros. Recebe o nome de vila de Faxina com limites entre os rios Paranapitanga e Itararé.
A denominação talvez tenha relação com a palavra faxinal, área de campos entremeados com arvoredos, palavra pertencente ao vocabulário de paranaenses, catarinenses e gaúchos e indica sobretudo uma localidade rural com vegetação típica.
Próximo aolocal da fundação há referências ainda superficiais sobre um colégio de jesuítas, nãose sabe, em termos científicos, se em Vila Velha e arredores vivam lavradores, indígenas aculturados e se força de trabalho cativa era apenas africana ou também indígena.
Haja vista que para obter sesmaria, era necessário provar para a Coroa a capacidade de cultivar a terra, portanto, os sesmeiros chegavam com a mão de obraafricana adquirida em outras praças.A região onde nasceu Itapeva, por si só, representa um mosaico degrupos humanos e estratégias diferenciadas de gestão territorial. A pesquisaarqueológica, como se verá adiante, a classifica como área de fronteira cultural entregrupos indígenas que viviam em ambientes diversos como florestas, matas, campose cerrados. Populações nativas que vivenciaram o impacto do contato com ocolonizador na formação e expansão da vila de Itapeva.Sobre Vila Velha, a carência de estudos científicos dá margens aexplicações simplistas e muito do patrimônio arqueológico remanescente se perde acada ano. Nesse sentido, com o estudo precursor do arqueólogo itapevense SilvioAraújo (2006), informações precisas foram evidenciadas e o local passou a ser vistocomo sítio arqueológico Vila Velha. Um primeiro passo foi dado. Próximo ao local,Araújo também analisou o sítio arqueológico da Taipinha com a presença de ruínas,telhas coloniais, valetas, remanescentes de taipa de pilão que foram estudados egeorreferenciados. O bairro do Colégio, próximo ao local, o próprio nome algoinstigador, precisa ser integrado a partir de pesquisas arqueológicas mais pontuais.As duas paragens, segundo Araújo, estavam relacionadas com autilização de ramais do Peabiru, o antigo caminho terrestre indígena, pelos primeirossesmeiros e suas famílias. Do ponto de vista da arqueologia da paisagem, naformação da Vila de Itapeva se repetiu o mesmo fenômeno de apropriação de umcenário pré-colonial feito pelos bandeirantes para viabilizar a caça ao índio. Alémdisso, sua localização também é estratégica, no entroncamento de duas vias: deSorocaba para o sul e para Santo Antonio das Batéias (Apiaí), alcançando o rioRibeira de Iguape, que por via fluvial, chegava-se ao litoral de Iguape e Cananéia. (Páginas 80 e 81)