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Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Volume LXVI
1969. Há 55 anos
O caminho de Luís Pedro de Barros - Jorge Balestrini Filho

Em 1720, com o desmembramento de Minas Gerais, que passou a formar capitania a parte, a sede da de São Paulo, até então em Ouro Prêto, se fixou no planalto piratiningano. Pedro Álvares Cabral foi designado para dirigi-la, em dezembro de 1721, tendo recusado o cargo no dia 5 de setembro do mesmo ano, foi nomeado o capitão general Rodrigo César de Menezes, com ordens de embarcar o mais breve possível.

Uma de suas preocupações iniciais prendeu-se a ausência de caminhos terrestres, por onde pudesse se processar o escoamento de cargas e animais, mòrmente gado, para abastecimento das minas de Cuiabá. E dessa maneira reter in loco os bandeirantes e buscadores de ouro. Raciocinava praticamente: abrir caminho mais rápido, fornecer mantimentos; menos preocupados a respeito, poderão produzir mais e aumentar os lucros.

Expediu um bando com caráter de concorrência. Os interessados diriam das condições para abertura do caminho por terrapara as minas cuiabanas, os "prêmios" e "honras", a que aspiravam especificando "as conveniências que se lhe hão de fazer,respeitando o trabalho, a despeza que hade ter". Lançado a 23 de novembro de 1721, em S. Paulo, e simultâneamente em Santos,Itu e Sorocaba, dava-se prazo aos requerentes até o dia 24 do mêsseguinte. Rezava o bando:

"Rodrigo Cezar de Menezes, etc. - Por ser conveniente ao realserviço de S. Mag.de q´ D.s g.e, e aos moradores desta capitania abrir-se o caminho pelo certão p: as novas minas do Cuyabá, para ficar mais fácil a todos o irem, e virem com cavalos, e cargas com mais comodidade de q´ atê gora experimentão pellos riospor onde se navega assim a resp.tn da dilação como do risco,secos, e correntezas do Rio, e tendo consideração a todas estasrazões pello grande dezejo, q´ tenho de procurar adiantar todasas utilidades dos moradores desta cap."Ia, e q´ ella seja a melhor,e mais abastecida, tenho procurado, q´ alguas pessoas della abrãocaminho em direitura pello certão, de sorte q´ fique a todos maisfacil, a sua condução, e por que nesta capitania ha pessoas abastadasde escravos, e com prestimo, e intelligencia, p." emprederem, e conseguirem o fim desta delligencia logo: Ordeno, e mando quetoda a pessoa que quizer abrir e d." cam.O, pode vir fallarme, ouapresentarme petição em que declare o quer abrir, e as conveniencias que se lhe hão de fazer, respeitando o trabalho, e a despezaque hade ter no dito caminho, por que se hade fazer o ajuste comaquella pessoa, que se entender o fará logo, e pedir os premios, ehonras, que forem iguaes ao serviço que hade fazer, e toda a pessoaque quizer fazer este serviço a S. Mg.de apresentarâ a sua petiçãona Secretr.% deste Governo até 24 do mez que vem, p..? eu tomarsebre este particular o expediente que for mais conveniente ao realserviço e para que chegue a noticia de todos mandey lançar estebando, que se publicará na praça desta cid." e ruas p."" della, edepois de reg." na Secretr: deste Governo se fixarâ no corpo daguarda. Dado nesta cid." de São Paulo aos 23 de N0vr.O de 1721. - O Secretr." do G0vr.O Gervasio Leyte Rebello a fes. - RodrigoCezar de Menezes. - Tambem se mandou lançar na Villa deSantos, Outú, e Sorocava."

Ao fim dêsse prazo se haviam apresentado: o capitão Bartolomeu Paes de Abreu, Manuel Simões de Andrade, Francisco da Cunha Soares e Manuel Godinho de Lara.Rodrigo César convocou uma junta para a escolha, compreendendo os oficiais da Câmara, o ouvidor geral Manuel de Me10Godinho Manso, o desembargador ex-ouvidor-geral RafaeI PiresPardinho, o provedor dos quintos e procurador da coroa capitãoJoão Dias da Silva, mais João de Camargo Pires, João FrancoMoreira, Antônio de Camargo Pires, Manuel Luís Ferraz, JoãoDelgado Camargo, Antônio Pinto Duarte, João de Lara da Cunha,Matias de Oliveira Lôbo, Antônio Paes das Neves e Ckrvásio LeiteRebelo que secretariou (". 0 que ocorreu, sabemos por via apenasdo próprio governador: os oficiais se haviam inclinado pela proposta de Manuel Godinho de Lara "por ser a mais vantajosa".Dois dos sócios dêste vêm citados na provisão de 19-1-1722: osargento mór Manuel Gonçalves de Aguiar e Sebastião Fernandes do Rêgo (4)As condições, com ressalva de que não haveria despesas porparte da fazenda real, seriam a de fazer o caminho em seis mesesem troca das passagens dos rios por seis anos. Mas considerandoque Sebastião Fernandes do Rêgo, posteriormente famoso pelas implicações na morte dos irmãos Leme e na falsificação doscunhos de quintar ouro, integrava a sociedade, talvez vislumbrassem outras perspectivas de lucros, em idênticos moldes quiçáaos pedidos por Bartolomeu Paes de Abreu. Êste sertanista ilustreentra na história das estradas já antes do início da gestão deRodrigo César.

A capitania paulista não sentira ainda o desmembramento da porção de Minas Gerais e servia-lhe de sede dos governadoresou capital - Ouro Prêto. O sertanista Gabriel Antunes Maciel, em abril de 1720, acertou com o Conde de Assumar a aberturado caminho terrestre de S. Paulo para as minas cuiabanas, exigindo em paga a concessão para explorar as passagens dos rios,pelo prazo de cinco anos. Obteve provisão favorável, na qual se"insinuavam" mais favores. Contudo não se concretizou umacordo final e Gabriel Antunes, medindo os percalços que o sertãoimpunha, as canseiras e o capital necessário para a emprêsa,"desistiu do seu intento", e abalou em companhia de parentes e outros bandeirantes para as minas de Mato Grosso. Entre os entendimentos iniciais para abertura do caminho e a desistência, não medeou muito tempo.

Antes mesmo dessa desistência, Bartolomeu Paes de Abreu se interessou pelo negócio e, a frente de outros sócios, representou (em 25 de maio de 1720) ao monarca lusitano, propondo a abertura do caminho que, partindo da povoação mais afastada de São Paulo, então Sorocaba, dentro de um ano atingiria as minas de Cuiabá.

O trabalho seria executado sob sua inteira responsabilidade financeira. Em trocapediu concessão, com exclusividade para êle e seus sócios abastecerem de gado os mineiros e adventícios às minas durante 9 anos, condicionando ainda aos itens seguintes: que, ao começar as obras, fossem vedadas passagens de gado para as minas de Cuiabá, salvo para êle ou a quem transferisse êsse direito; "que nenhuma pessoa poderá passar gados vacuns do Rio Paraguay para dentro e do Rio Botetey e suas cabeceiras athé o Rio Parnehiba,que desagua no Rio Grande"; que o gado que ultrapassasse essas demarcações, bem como "cavalos", escravos e todo o gênero de fazenda que for indo no transporte do dito gado, e se procederá em tudo a sequestro como fisco Real; ametade p." a Coroa, e outra ametade p." ele enteressado Bartholomeu Pais de Abreu"; que, sob pagamento, lhe cedessem 20 índios das aldeias reais; que durante 9 anos lhe fôsse facultado exclusividade de bravio, das vacarias.

A resposta, mesmo tendo em conta a distância entre a colônia e a metrópole, começou a tardar. E como o Conde de Assumar, governava de Ouro Prêto a capitania de S. Paulo, cujo território, além de Minas, compreendia Mato Grosso, Goiás e todo o Sul, Bartolomeu Paes expôs a Câmara o seu plano: através dos morros de Botucatu, sair pelos campos de Vacaria e daí buscar as minas cuiabanas.

A Câmara concordou, não o fazendo, entretanto, o governador Rodrigo César de Menezes que, ao chegar, se abespinhou por não encontrar o sertanista que procurava, apesar dêste lhe ter deixado carta explicativa da ausência (25 de julho de 1721): iria "ver se poderia ser-lhe fácil fazer algum descobrimento para logo que o achar principiar abrir caminho" Sua [Páginas 79, 80, 81 e 82]

Martim Afonso passara e não ficara. Nem ânimo nem ambição que distantes estavam voltados para o Oriente de riqueza fácil e maior fama. Da uma vila no planalto ficou notícia sem confirmação. Todavia, no extremo do Campo, o fronteiro mor João Ramalho, devoto de do apóstolo Santo André, filho de Jonas e irmão de Simão-Pedro, o veronil, pescador de Cafarnaúm, no lado de Genesaré, pregador do Evangelho no sul da Rússia, na península dos Balcã e na Grécia, mártir da cruz aspada e que pagou o tributo da fidelidade ao Rabino, aos 30 de novembro do ano 60. Também, aos 30 de novembro de 1532, João Ramalho inaugurava o oratório humilde, coberto de palma, consagrando Santo André da Borda do Campo. [Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. Volume LXVI, 1969. Página 154]

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