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Jornal Correio Paulistano: “As minas de ouro do Jaraguá”, tema da conferência realizada em 21 de junho de 1929, no Instituto Histórico e Geográfico, pelo coronel Pedro Dias de Campos
22 de junho de 192904/04/2024 03:52:17

Correio Paulistano
Data: 22/06/1929
Página 5

Corria o ano de 1597, cheio de dificuldades financeiras para a península ibérica e de aperturas para a brilhante e fútil côrte de Felippe III, rei de Castella, quando as descobertas de minas de ouro se amiudavam, na Capitania de São Paulo. Só a uma esperança se apegavam os cortezãos e o próprio monarca espanhol, eram as famosas minas de ouro assinaladas no Jaraguá e no Araçoiaba e a lendária mina de prata, que Robério Dias dissera, ao próprio rei, ter descoberto a Bahia.

Nomeado a Dom Francisco de Sousa para o governo do Brasil, incumbira-lhe o monarca de averiguar e descobrir o roteiro da mina de Robério e de impulsionar a exploração do ouro do Jaraguá e do Araçoiaba, prometendo a D. Francisco o marquesado que Robério Dias exigira, para entregar o roteiro.

Não tardou o governador em dar inicio a tarefa que lhe havia sido imposta e que lhe sorria, por estar no seu propósito vindo ao Brasil, providenciar bandos para o descobrimento do ouro.Achando-se D. Francisco de Sousa no Rio de Janeiro, dirigiu-se para o planalto de Piratininga em fins de 1598. Foi a Araçoiaba acompanhado por Antonio Raposo Tavares, onde examinou as minas de pedras, e, em seguida, fundou uma povoação no vale das furnas, a que deu o nome de São Felippe, em homenagem ao monarca que o nomeara. Ali fez levantar pelourinho, simbolizando o predicamento de Villa. Essa povoação foi pouco depois transferida para a margem esquerda do Rio Sorocaba, onde está edificada a cidade desse nome.

Coube ao paulista Clemente Alvares, ativo, audaz e perseverante sertanista descobrir em 16 de dezembro de 1606, nos contrafortes do Jaraguá-Guassú e do Jaraguá-mirim, veios de ouro que acreditavam fossem inesgotáveis, tais as pistas que encontrara.

Requereu ele á Câmara o registro dessas posses, cujas mantas de ouro vira a sudoeste da primeira serra, "que se trilha quando de São Paulo se demanda o interior, passando pela serra do Jaraguá-mirim, no braço do último ribeiro á direita".

Registrou também as minas e betas de Voturuna, alta e bela elevação situada nas proximidades de Parnaíba, a noroeste da cidade. Outras minas constatou ele cuja descrição fez no seu pitoresco linguajar.

"As betas e mantas principais", declarou Clemente Alvares, ficavam no sertão "a caída do nosso mato no campo do caminho de Ibituruna (Voturuna) do nosso rio de Anhemin (Tietê), até o ribeiro grande seis betas de minas, as duas betas arrevesão o caminho do rumo de Norte e Sul as outras duas ficam no próprio rumo de outra banda dos outros morros quando o "omonies" com o rosto para a banda do Norte ficam elas para as costas do omem e as outras duas para a banda do rio Angemin cortando o rumo de sol do nascente para o poente pouco mais ou menos por uma quebrada grande de uma serra as quais no longo uma da outra".

Pouco depois, novas solicitações foram feitas por outros sertanistas, no sentido de serem autorizadas minerações em vários pontos.

Em carta que dirigiram ao donatário, em 6 de janeiro de 1620, afirmavam os mineradores, aos juízes e vereadores, "que havia na serra de Araçoyaba, 25 léguas daqui para o sertão, em terra mais larga e abastada, e perto dali com três léguas está a Cahatyba de onde se tirou o primeiro ouro e desde ali ao Norte haverá 60 léguas das cordilheiras de terra alta, que toda leva ouro principalmente a serra do Jaraguá, Nossa Senhora do Monserrata, a de Voturuna e outras".

O sítio Jaraguá, desde a primeira concessão de sesmaria, feita em 12 de outubro de 1580 a Antonio Preto, passou por sucessivas transmissões. Em 1615, encontrava-se dono do sítio, Manuel Preto, filho do primeiro possuidor, o qual erigiu a igreja Nossa Senha da Espectação do Ó.

Em 1617, eram proprietários de parte dessa gléba, por troca que fizeram de terras com os nativos de Pinheiros, o casal Manuel Pires. Em 5 de junho de 1648, foi o sítio do Jaraguá, com sua casa de dois lances, de taipa de mão, atribuído em partilha, avaliado tudo, pomar e roça, em 55$000, no inventário dos bens deixados pelo paulista Raphael de Oliveira.

Muitos anos decorridos, em 1749, eram os proprietários os alferes Sebastião do Prado Cortez e sua mulher, e em 1770, o seu filho Maximiano Pereira Martins. Nesses últimos anos, tinha lavra de ouro no Itay, dentro da gléba, Antonio Bicudo, que adquirira do coronel Francisco Pinto do Rego, que explorava essas minas ha vários anos.

A partir de 1670 começaram a escassez nas minas do Jaraguá, operários práticos na mineração, pelo êxodo verificado de grande parte do elemento que minerava nesse ponto, para as longínquas paragens onde faiscavam ouro e se garimpavam pedras, em maior escala e com maior abundância.

Os escravizados africanos e descendentes, foram levados pelos respectivos senhores, para as novas minas. Os mamelucos acompanhavam os bandeirantes nas expedições pelo sertão e os paulistas, faziam descobertas valiosas em todos os setores do país.

Os administradores das minas de Jaraguá e imediações, atormentavam-se por verem despovoadas as minas, onde até então era população adventícia, numerosa, ativa e ruidosa.

Para remediar essa diminuição nos trabalhos das minas, lançavam mão de todos os recursos, principalmente dos nativos aldeados, com autorização da Câmara paulistana.

Desse modo conseguiu, em 18 de agosto de 1680, o administrador geral d. Rodrigo Castelbranco, autorização para retirar das diferentes aldeias de Piratininga, vinte selvícolas para acompanhar ás minas do Jaraguá, em serviço de mineração, afim de suprir, em parte, a deficiência de braços. Sem isso, todos os trabalhos ficariam paralisados.

Desde o ano de 1700, vinham os arrecadadores do quinto do ouro e os diretores das casas de fundição, preocupados com as constantes fraudes que as notavam, quando davam entrada os torrões de ouro, afim de serem reduzidos a barras e delas retirados os impostos devidos. Dai o procuraram os meios de remediar o mal, que trazia grandes prejuízos para o fisco. Foi por isso, baixado um aviso ministerial, datado de 13 de março de 1735, dando os modos de serem frustradas as fraudes e os meios práticos de serem elas reconhecidas.

Era assim concebido o aviso: "Os vícios que se tema achado em o ouro em pó, que vem do Brasil, são Simalha de Lotação, e cobre, que dizem lhe botão os negros, esta se conhece tomando alguma porção de ouro suspeito, e se vota em uma xícara ou vasilha vidrada, e nela uma porção de água forte, e se tiver Simalha de metal, logo ferve e faz uma escuma verde, e com esta diligência se desfaz a dúvida.

A outra falsidade conforme a informação é de granalha, que fazem, botando Liga de ouro e deduzi-lo a granitos, as quais ficam como grãos de munição maiores e menores, porém diferentes das faíscas de ouro, por que estas são ásperas, e a granalha é um granito redondo, o que é fácil de conhecer, e examinar, tomando um granito destes, e pegar-lhe com um alicate, (que estes se podem mandar) e tirar o dito grão roçando-o na pedra de toque e logo junto a ele tocar outro granito ou faísca de ouro bom, e logo se reconhece a diferença de um e outro".

A esse tempo as cinco minas do Jaraguá, estavam ainda em plena e intensa atividade. Por toda a parte se abriam canais, mudavam-se os leitos dos córregos, cavavam-se furnas na encosta do morro, furavam-se poços nas planícies e arrancavam-se das entranhas da terra, arrobas de ouro, em todas as formas. nesse penosos trabalhos eram empregados os mestiços, os aborigenes forros e os escravizados de origem africana.

Os escravizados e os selvícolas, postados em turmas de oito e dez, distanciadas umas das outras, trabalhavam desde o romper da aurora até o crepúsculo, tendo por alimento, duas vezes no dia, feijão e angu de fubá. Vestiam um simples calção de algodão, que apenas alcançava o joelho e um "surtum" de baeta ordinária, que tiravam ao começar o trabalho.

E cantava, cada uma das turmas, as dolentes e tristes meiopéas de seus países de origem. Com o canto, cadenciavam o ritmo do trabalho nas canaletas das minas, fazendo coincidir a última sílaba expressada, com o tinir da picareta no terreno pedregoso.

Os capatazes, sanhudos, ferozes, desalmados, empunhando látegos, que consistiam em compridas açoiteras de couro crú trançado, terminando em ponta de seis tentos de quinas vivas, cortantes como navalha, estimulavam os africanos no alto da desagregação do cascalho, fazendo estalar, em voltas rápidas e sibilantes do relho sobre suas emaranhadas carapinhas, as tiras de couro crú dos açoites cruéis.

A esses estalidos irritantes, correspondiam as ásperas e soezes injurias dos feitores. Não raro os estalos se faziam no torno nu e suarento do escravizado quebrantado pelo mormaço e pela fadiga, deixando-o zebrado de riscas cinzentas, de onde brotavam, como doloridas lágrimas, aljofares de rubi.

Até 1800 continuou intenso o trabalho nas minas, que produziam, anualmente, a partir de 1790, uma média de 500 marcos de ouro em barras. Anteriormente, porém, era essa média cinco ou mais vezes elevada.

Segundo mapa apresentado pelo escrivão Felix Cazemiro de Figueiredo, relativo ao ano de 1791, "em que se mestra toda o ouro que foi apresentado nesta Real Casa de Fundição de Saõ Paulo, o quinto que dele se retirou para sua Majestade em cada um dos meses do ano de 1791", as entradas montaram a 591 marcos, cinco onças, 1 oitava e 14 grãos, e o quinto rendeu 100 marcos, 5 onças e 5 oitavas.

Esse ouro foi remetido para o Tesouro Geral do Real Erário de Lisboa, por intermédio da Junta da Real Fazenda da Capital do Rio de Janeiro. Foi todo ele acomodado em quatro borrachas-surrões, sendo entregues à escolta comandada pelo tenente da Legião de Voluntários Renes, Manuel Pacheco Gato, em 18 de abril de 1792.

A fama das fabulosas riquezas minerais, que a cada passo eram assinaladas, ultrapassava, havia séculos, todas as fronteiras da colonia portuguesa, indo ecoar nos mais longínquos países de além mar, despertando a curiosidade dos sábios, a cobiça dos comerciantes e a ganância dos aventureiros.

Levas de homens de todas as castas e condições, aportavam nos desembarcadouros das nossas povoações marítimas, a procura do El-Dorado brasílico. Entre os sábios que visitaram São Paulo, destaca-se pela "arguela" das observações, delicadeza e segurança da exposição, o viajante frandes Engenheiro de Saint Hilaire, que atingiu as nossas piagas em 1819, em viagem de estudos

Demorou-se ele pouco tempo em São Paulo, internando-se depois pelo interior da província. Regressando á pauliceia, após haver percorrido várias cidades e vilas e visitado as suas minas de ouro mais importantes, esteve no Jaraguá, onde se demorou muitos dias, estudando e examinando os resíduos deixados pelos lavradores de ouro.

Assim, vejamos como o grande observador gaulês se expressou sobre as minas do Jaraguá e sobre o que vira durante sua permanência em São Paula e nas lavras do famoso morro.

"É triste ver-se uma região", dizia ele, "que pela fertilidade e beleza de seu clima, merecia ser chamada um paraíso, tão deserta e abandonada pelos insensatos proprietários, devorados, unicamente pela sede do ouro".

Descrevendo o itinerário percorrido, noticia o visitante: "Depois de feitas quatro léguas, chegamos ás minas do Jaraguá, famosas pelos imensos tesouros que elas produziam ha duzentos anos. Era o ouro embarcado para a Europa nos portos de Santos e de São Vicente e esse local era tido como o Peru do Brasil. O aspecto do local é irregular e mesmo montanhoso. A rocha, onde ela está á mostra, parece granito primitivo, aproximando-se dos (...) entremelado do (...), frequentemente de mica.

lendas

É possível que alguns fenômenos impressionantes se tenham produzido corporizando, na imaginação visionária dos mineradores, a crença na manifestação de fatos sobrenaturais, indicativos dos pontos onde a terra haveriam ocultados os seus tesouros. É mesmo possível que a coluna de fogo e fumo entrevistados (? é assim que está escrito) pelos paulistanos em 1869, se tivessem reproduzido, anteriormente, muitas e muitas vezes, dando aquela maravilhosa ilusão de ótica, origem á lenda da "mãe do ouro", que era uma bola de fogo voando no espaço, com formas humanas.

Um nativo já idoso, doméstico e cristão, residente em Cananéa, profetizava que em 1709, de que entre outras maravilhas, havia de aparecer muito ouro no morro do Itapitanguy, enriquecendo todos os habitantes da cidade. Olhando em êxtase para o morro Itapitanguy, cuja tradução é "monte de pedraria", exclamava o nativo: "Oh! Tudo, cabeça de pedra, barriga de ouro, tempo virá, que por teu ouro, destripado serás".

Ainda hoje são esperadas a realização desta e de outras profecias, porque as que o nativo formulara sobre várias coisas, entre as quais a de que junto ao morro, na praia, uma nau seria construída e "nela sinos se tangeriam, missa cantada nela haveria, que muita gente ouviria", verificou-se tempo depois. E de fato, nesse lugar foi construído um estaleiro e nele a nau "Cananéa", que foi lançada ao mar, com repiques de sino e missa cantada. [Página 5]
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, o regimento de 1603 teria surgido em função das várias dúvidas existentes em relação às minas, em especial, depois das notícias da morte do tal mineiro alemão que andava com Francisco de Souza e dos boatos de que se fundia ouro do tamanho da “cabeça de um cavalo”. Esta história do ouro do tamanho de uma cabeça de cavalo aparece em outro documento. No Libro de los sucessos del ano de 1624, alocado na BNE MSS2355) fala- se deste mineiro alemão, só que teria sido assassinado a mando dos jesuítas, que temiam que a notícia da riqueza aumentasse a servidão dos gentios.
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