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A CARTA DE CAMINHA E O DESCOBRIMENTO PRÉ-CABRALINO E PORTUGUÊS, DO BRASIL, Arthur Virmond de Lacerda
8 de março de 202109/04/2024 14:40:05

BRASIL CONHECIDO NA CARTA DE CAMINHA. 2.

(Autoria de Arthur Virmond de Lacerda Neto, autor da publicação).
IV- Gestos de Nicolau Coelho. Contubérnio com os índios. A “outra vinda”.

Já fundeada toda a frota na atual baía Cabrália, no dia 23 de abril Pedro Álvares Cabral mandou à terra Nicolau Coelho, quando cerca de 18 íncolas observavam-nos da praia, armados de arcos e flechas. No dizer de Caminha, Coelho “[...] lhes fez sinal que depusessem os arcos; e eles os depuseram [...]”: ele gesticulou-lhes; eles compreenderam-lhe a gesticulação e acederam-lhe ao pedido apaziguador.

Gestos quaisquer aprendem-se em seu significado. Nenhuma mímica é dotada de significado inerente e prontamente compreensível por quem não a haja previamente aprendido. Seja a expressão romana de positivo (com o polegar estendido e os demais dedos retraídos), seja o abanar a mão espalmada como saudação ou despedida, seja o aplauso ou qualquer outro gesto, ele somente veicula comunicação se entre quem o pratica e quem o observa coincidir a inteligência de seu sentido.

Os índios compreenderam a mímica de Nicolau Coelho. Ter-lhe-iam adivinhado o significado ou já o conheciam ? Evidentemente conheciam-no: houvera, já, contactos entre portugueses e eles.No dia seguinte (24 de abril) a frota velejou para norte e fundeou no atual Porto Seguro, onde a bordo Afonso Lopes recolheu dois indígenas, que pernoitaram no navio, com à vontade e sem desconfiança próprios de quem já se conhecia: eles “já estavam familiarizados com os europeus, que já os conheciam, que conheciam os seus hábitos e costumes, que deles não tinham receio.” Em 25 de abril, novamente apeou Nicolau Coelho, e Bartolomeu Dias com os dois índios. No areal da praia congregavam-se obra de duas centenas de índios, que se abeiravam dos batéis (navetas ao serviço do transporte das naus para a praia) “e traziam cabaços de água e tomavam alguns barris que nós levávamos, e enchiam-nos de água e traziam-nos aos batéis”. Sem solicitação dos portugueses, espontaneamente os índios forneceram-lhes água doce em cabaços; também tomavam barris, enchiam-nos de água e levavam-nos de volta aos batéis: os índios voluntariamente participaram da aguada, “como se já estivessem habituados a praticar esse serviço, repetindo actos praticados anteriormente; o que demonstra que não era a primeira vez que viam homens brancos e naus.

Cabral não reabasteceu a esquadra no Cabo Verde, ao que lhe seria imperioso proceder, a menos que o fizesse no Brasil: fê-lo neste, com cuja existência contava para a aguada, existência de seu conhecimento antes de lhe dar à costa. Por seu lado, os indígenas conheciam a precisão de água doce da frota, o que só poderia resultar de contactos anteriores entre embarcações e eles.No domingo (26 de abril) os marinheiros em geral apearam para folgar. Um gaiteiro tocou sua gaita e “meteu-se com eles [os índios] a dançar tomando-os pelas mãos, e eles folgavam e riam, a andavam com ele mui bem ao som da gaita.” No dia subseqüente, todos desembarcaram para dessedentarem-se ou fazer aguada; aproximaram-se índios que “[...] misturaram-se conosco; e abraçavam-nos e folgavam [...].” Souberam os adventícios captar a simpatia dos autóctones, mercê da oferta de prendas e da ausência de hostilidade, mas para quem (supostamente) se desconhecia, a receptividade dos índios, o contubérnio entre uns e outros, o folguedo, exprimiriam a índole amistosa dos da terra, mas denunciou também amizade presumivelmente já entabulada entre eles e os portugueses em desembarques precedentes.Em 1º de maio, celebrou-se a segunda missa, ao cabo da qual frei Henrique de Coimbra distribuiu cruzes de estanho que trazia Nicolau Coelho e “que lhe ficaram ainda da outra vinda.” “Ficaram” exprime sobraram.Caminha não redigiu “outra viagem”, “outra navegação”, o que poderia aludir a expedições indeterminadas; empregou o vocábulo “vinda”, particípio passado de “vir”. “Outra” somente pode equivaler a precedente, anterior, antes da atual. “Outra vinda” equivale a “vinda anterior”. Nicolau Coelho distribuiu cruzes que lhe remanesceram de vinda precedente: ele estivera, já, no Brasil, e certamente entrou em contacto com os indígenas. Por isto, agrupados alguns deles, no dia 23, Cabral enviou-o para ir ter com eles, ele acenou-lhes e eles inteligiram-lhe os acenos.V- O regresso da nau de mantimentos.No domingo, 26 de abril, Cabral congregou seus capitães (também Caminha) e “perguntou assim a todos se nos parecia ser bem mandar a nova do achamento desta terra a Vossa Alteza pelo navio dos mantimentos [...] e entre as muitas falas que no caso se fizeram, foi por todos ou a maior parte dito que seria muito bem e nisto concluíram” .Um dos navios servia de despensa; foi despejado para regressar a Lisboa, como estafeta das missivas produzidas pelos capitães, Caminha e mestre João. Por velha, não a quiseram arriscar no mar do cabo da Boa Esperança e, contra o costume de incendiarem as naus abandonadas, Cabral fê-la arrepiar caminho.É inusitado, é estranhíssimo que ao aparelharem a esquadra, nela incluíssem navio velho e incapaz de enfrentar a ida e o regresso da longa viagem; que aos organizadores da expedição minguasse sensatez (ou, quando menos, prudência) na seleção dos navios; que cedo, a menos de um terço do percurso, aquela embarcação já se evidenciasse inapta para manter-se em navegação. Não escasseariam materiais, tempo nem artífices com que se construísse mais uma embarcação em condições de velejar a totalidade prevista da viagem, em lugar de lançarem mão de uma em mau estado.Pondera Metzer Leone, quanto ao recambiamento do navio-despensa:A única explicação plausível para o acontecido é que, à partida de Lisboa, já se soubesse que aquela nau não teria de enfrentar o mar do Cabo — por estar realmente destinada a regressar a Lisboa com a nova oficial do “achamento” de uma determinada terra, que já se sabia existir muito antes do mar do Cabo da Boa Esperança. A nau dos mantimentos serviu, ostensiva e efemeramente, como despensa; sigilosamente destinava-se a tornar a Lisboa, como portadora da correspondência redigida em terra.Se a sua torna-viagem fora planejada em Lisboa, por que Cabral formou conciliábulo com seus capitães para decidirem como proceder ?O regimento que D. Manuel expediu-lhe, como instruções, injungia-lhe: “[...] façais e sigais tudo o que melhor vos parecer, tomando sempre em tudo conselho dos capitães e feitor e de quaisquer outras pessoas que vos pareça que nisso devais meter [...].” Ao instituir o conciliábulo, Cabral acatou o procedimento que deveria seguir recorrentemente, para obter a deliberação que se tomou.Metzer Leone:[...] tudo levava a crer que o resultado da reunião haveria de ser aquele mesmo que já eventualmente estivesse estabelecido entre o Rei e o Capitão-mor — porque nada poderia desaconselhar o regresso da nau dos mantimentos, a qual, até pelas suas condições de navegabilidade, não estava apta a sulcar os mares do Cabo da Boa Esperança — é perfeitamente de aceitar que Cabral tivesse feito reunir os seus Capitães para tomarem em conjunto uma decisão conforme era usual que tais decisões fossem tomadas, já que tudo indicava que o Conselho dos Capitães só poderia sancionar a decisão secreta, tomada em Lisboa anteriormente à partida. O conciliábulo teve segundo tema em pauta: arrebatarem-se ou não dois indígenas que fossem conduzidos a Lisboa juntamente com o epistolário. Sobre isto, Caminha aduz em doze linhas e pormenor as razões invocadas por que se concluiu negativamente, ao passo que dedica apenas cinco ao tema anterior, em que vagamente alude às “muitas falas que no caso se fizeram”, sem minudenciar nenhuma, como se importasse mais decidir levarem-se ou não dois autóctones do que transportar-se ou não a correspondência na embarcação de mantimentos.A segunda decisão, virtualmente polêmica, justificaria mais a reunião dos capitães; a primeira, mais fácil (majoritária ou consensual), justificaria menos o dito conselho, até porque o mau estado da embarcação em causa induzia-lhe. É precisamente seu mau estado, sua inaptidão para prosseguir, com o conseqüente induzimento a seu retorno, que terá sido intencional, para facilitar deliberação neste sentido. Na composição da frota selecionou-se navio ruim, para ser recambiado .
A CARTA DE CAMINHA E O DESCOBRIMENTO PRÉ-CABRALINO E PORTUGUÊS, DO BRASIL, Arthur Virmond de Lacerda


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