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“O bandeirismo paulista e o recuo do meridiano”, Alfredo Ellis Júnior (1896-1974)
193414/04/2024 05:54:47

O bandeirismo paulista e o recuo do meridiano
Data: 01/01/1924
Créditos: Alfredo Ellis Junior
Página 150

Prefácio - Não tem este trabalho a pretensão de ser uma história do bandeirismo (expedições ao sertão), e nem mesmo a da conquista territorial, que sobrepujou o meridiano de Tordesilhas.

Ao norte s nossas fronteiras,que, pelas clausulas tordesilhanas, deveriam passar a leste do curso do Tocantins, foram recuadas até aos sopés andinos, pelos sertanistas Domingos Rodrigues, Pedroso de Alvarenga, Sebastião Pedroso de Barros, Bartholomeu Bueno o Anhanguera, e outros, que entraram por Goyaz; e pelos descobridores do ouro matro-grossense, que iniciaram a povoação das bacias do alto Paraguay e do alto Madeira. Paulistas eram os seguidores dos Paschoal Moreira Cabral, Fernão Dias Falcão, Miguel Sutil, irmãos Paes de Barros, Antonio Pires de Campos e tantos outros, que no século XVIII, arrancaram á "cellula mater" paulistana a seiva, a energia e a vida para as espalhar pelos socavões auríferos, que desvendaram no longínquo horizonte cuyabano.

O Amazonas não foi conquistado, propriamente, por paulistas, se bem que, já em 1648 a 1652, tivesse o grande Raposo Tavares, com sua gente audaz percorrido as suas águas, na sua fantástica correria busca do ouro, através da América.

Como dissemos, os cursos do grande rio e de seus numerosíssimos afluentes não foram por Castella aproveitados, para a penetração de suas vastíssimas colonias, ficando a bacia amazônica ao abandono. Por isso não foi difícil aos missionários religiosos, portugueses, no século XVIII, aí penetrar, fundando núcleos, que foram marcos possessórios, que valeram perante o tratado de 1750,que mais ou menos contornou o Brasil de hoje. [Página 9]

Sem falar da guerra levada por João Ramalho, aos sertões do Parahyba, em 1562, desde 1574, atendendo ao apelo do governador Salema, iniciara São Paulo a sua ofensiva, enviando uma pequena expedição de auxílio ao primeiro ato da destruição da nação tamoya, empreendida pela gente do Rio de Janeiro.

Muito espaçados eram, porém, os assomos da gente piratiningana na luta agressiva ao selvagem, pelo menos não era eles vultuosos, a ponto de deixarem sulco na História, pois só onze anos mais tarde se assinala outra expedição ao sertão, que foi chefiada por Jerônimo Leitão, capitão-mór da Capitania de São Vicente, em 1585,da qual fizeram parte Diogo de Onhatte, escrivão da Câmara de São Paulo, Diogo Teixeira de Carvalho, Affonso Sardinha, Antonio de Proença, o moço fidalgo da Câmara do Infante Dom Luiz, Sebastião Leme, Manuel Ribeiro, Paulo Rodrigues, Manuel Fernandes Ramos, Domingos Dias, o velho, padre Sebastião de Paiva, Salvador Pires, o moço, e Affonso Dias. ("Archivo Municipal de São Paulo", "Livro do Tombo").

Cinco anos mais tarde o capitão Sebastião Marinho, á frente de uma pequena expedição, atingiu as nascentes do Tocantins, em Goyaz, descobrindo, segundo consta, metais preciosos. Foi esta expedição registrada, em um mapa castelhano da segunda metade do século XVIII, mapa este constante da brilhantíssima coletânea, organizada pelo erudito mestre Dr. Taunay, diretor do Museu Paulista.

Em 1594, o substituto de Jerônimo Leitão, como Capitão Mór da Capitania de São Vicente, Jorge Correa dirige, contra os carijós irrequietos e tupinaens, ao sul de São Paulo, uma expedição não só registrada por Pedro Taques, como constante da provisão de cavaleiro fidalgo, outorgada por Dom Francisco de Sousa, a Sebastião de Freitas, que dela fez parte, logo depois da sua chegada, da Bahia. ("Registro da Câmara Municipal", vol. I.o, 104).

Amiudando-se as expedições dos paulistas, que intensificavam a sua ofensiva, encontramos logo ao ano seguinte de 1595 o capitão Manuel Soeiro (?) capitaneando outra leva de expedicionários contra os carijós, ainda nela tomando parte Sebastião de Freitas, o antigo soldado de Gabriel Soares, que em 1596, de novo se achou em São Paulo. ("Registro", loc. cit.). Foi nesse ano de 1596, que saiu de São Paulo a mais importante das expedições, até então registradas. Parece-nos ter ela tomado rumo, norte do vale do rio Parahyba, indo capitaneada, pelo Capitão Mór João Pereira de Sousa Botafogo, a fazer "guerra da Parnahyba", conforme rezam os documentos. Saiu ela de São Paulo no mês de outubro de 1596, na mesma ocasião em que do Rio partia a gente de Martim de Sá, que ia contra os Tamoyos, orientada conforme o roteiro, que Knivet nos legou. Por este itinerário de Knivet, a arrancada de Martim de Sá deveria ter arribado em Paraty, subido a serra do Mar, atravessado os campos de Cunha, e em seguida transposto os rios Parahybuna e Parahyba, justamente na ocasião em que julgamos estar trilhando estas regiões a expedição de Botafogo, que por São Miguel deveria ter chegado ao vale do Parahyba. [Páginas 11, 12 e 13]

Importante fatos deveriam ter ocorrido durante a "guerra da Parnahyba", pois, em julho de 1597, o chefe da expedição Botafogo foi preso, sendo obrigado a passar o comando a Francisco Pereira, que trouxe a expedição a São Paulo, onde chegou nos últimos meses do ano, tendo-se demorado no sertão pelo espaço de ano e meio. Ignoramos os motivos da prisão de Botafogo, mas o certo é que foi ela relaxada, em São Paulo, por dom Francisco de Sousa, que, por uma provisão, lhe enalteceu os méritos, galardoando-lhe, com a nomeação de capitão-mór, ouvidor da capitania, cargo esse que vinha sendo exercido por Jorge Côrrea, que nessa ocasião foi apeado das funções. Tudo leva a crêr ter havido uma desinteligência entre Botafogo e Côrrea, da qual nasceu a prisão daquele e as medidas mencionadas de dom Francisco. ("Registros", vo. I.o, 74).

Não foram, porém, estes os únicos sucessos, desenrolados no decorrer da expedição. Logo ao iniciar ela a volta de São Paulo, desgarrou-se importante grupo de sua composição, sob o comando do capitão Domingos Rodrigues (Pensamos se tratar de Domingos Rodrigues Velho, filho de Garcia Rodrigues e Isabel Velho, o único deste nome em São Paulo na época e com idade para chefiar empreendimentos dessa natureza, (Silva Leme "Genealogia Paulista", vo. 7o., 396). [Página 15]

É possível que este desgarramento se tenha dado, nas proximidades do Rio Sapucahy, tendo Domingos orientado a sua gente pela bacia do São Francisco, para dai penetrar no território goyano, ano norte, onde a encontramos apresando nativos "guayanazes", em pleno sertão de "Parahupava", que somente vinte anos mais tarde seria trilhado, pela expedição de Antonio Pedroso de Alvarenga.

É o que nos ensinam os documentos constantes do inventário de Martim Rodrigues Tenório de Aguiar (Silva Leme o chama de Martim Fernandes), onde se vê o auto de avaliação de uma escravizada:

"... negra por nome Guayá, digo da nação Guoayá, que diz ser escravizada da expedição de Domingos Rodrigues de Parahupava..." (Inventários e testamentos, vol. II, 6).

Ora, o território goyano do Tocantins e de seu afluente Araguaya era precisamente o "habitat" da nação, "guayá", da qual tirou o nome o Estado da nossa Confederação; além de que Pedro Taques, na "Nobiliarchia", ao falar de Antonio Pedroso de Alvarenga e sua expedição de 1616, afirma ser nessa circunscrição territorial o sertão de "Parahupava", habitado por nativos de tribo dos "guayazes". [Página 16]

É pois certa a vista da autoridade do nosso linhagista, e sobre tudo, por força do documento supra citado, ter Domingos Rodrigues perlustrado os sertões goyanos, no últimos alentos do século XVI.

Longos anos permaneceu internada no sertão a expedição de Domingos Rodrigues, pois tendo partido de São Paulo como parte integrante da expedição de João Pereira de Sousa Botafogo, como dissemos acima, em outubro de 1596, somente chegou a São Paulo em 23 de dezembro de 1600, isto é, mais de quatro anos depois. É o que nos demonstra o inventário de Francisco da Gama, um dos expedicionários, que faleceu em fevereiro de 1600, ainda no sertão, onde o capitão Domingos Rodrigues procedeu ao arrolamento dos bens, que o falecido trazia consigo ("Inventários e testamentos", v. I.o., 339). Só foi iniciado judicialmente em São Paulo esse inventário a 23 de dezembro do mesmo 1600, pela volta da expedição. ("Inventários e testamentos", I.o., 335).

O mesmo inventário, procedido em São Paulo, tendo a si acostada uma sentença do juiz, Sebastião de Freitas, faz certo ter o agrupamento de Domingos Rodrigues feito parte da expedição de Botafogo onde diz:

"... porquanto havia perto de quatro anos que era ido á guerra da Parnahyba e não havia novas dele...", 22 de julho de 1600;

E um documento de dívida do próprio Francisco da Gama: [Páginas 16 e 17]

Enquanto Domingos Rodrigues campeava, no Parahupava, os escravizados da nação guayá, Afonso Sardinha, o moço, em 1593, saída de São Paulo é frente de corpo de armas e mais de "cem nativos espiões e levavam intento de ir á guerra e saltos e correr a terra com intensão de irem tirar ouro e outros metais". ("Ata da Câmara da Vila de São Paulo", vol. II, 47).

Foi sem dúvida esta a expedição que Sardinha, o moço, capitaneou, contra os nativos "pés largos", trazendo ao povoado grande porção de nativos apresados, desta tribo como se vê do testamento constante dos "Inventários e testamentos", vol. 1o., 270. São os "pés largos", até hoje, um mistério na nossa etnografia histórica, nada se sabendo, ao certo, sobre o seu "habitat". Talvez, fossem os mesmos que os "biobébas"! [Página 19]

Quanto ao roteiro seguido pela expedição, engaram-se profundamente o dr. Derby e os que produziram a opinião deste notável sábio, afirmando que Nicolau Barreto, com sua expedição, rumou o norte, penetrou nas gerais e atravessando o rio das Velhas, pelo vale, do São Francisco, chegou ao Paracatú, nas proximidades do território goyano, pelo extremo, segundo o saudoso historiador americano, atingido pela leva em questão.

Tivesse sido esta a região percorrida, pela expedição, não se justificaria ser ela a detentora, até aquela data do "record" de penetração do nosso hinterland conforme faz certo a estafadíssima carta de 13 de janeiro de 1606; Marinho e Domingos Rodrigues foram muito além. Documentos existem, porém, que prova, ex abundantia, ter Barreto tomado rumo sudoeste e nunca trilhado as regiões, que a miragem do nome de Paracatú levou o dr. Derby a se desviar do bom caminho, no pesquisa histórica.

Preliminarmente, o "habitat" dos nativos tememinós, apresados, em número de 3000, pelos expedicionários desta razzia, nunca foi o terreno mineiro, nem tampouco o goyano, antes, pelo contrário ficava ele ao sul da capitania de São Vicente e, para atingir os sertões dessa nação gentílica, era necessário passar pela cercanias de Vila Rica, no Guayrá. Quem isto nos assegura é um documento municipal, que o dr Derby não viu, documento este constante das Actas, v. 11., 184, segundo o qual:

"... informado que mel, preto troichera tememinós que vinhão de sua terra em busca dos brancos os quais vinhão de pazes y ele mel. preto vindo de Villa Rica os encontrara no caminho e os troichera a sua casa... "

Ora, a única Villa Rica então existente era no Guayrá, território hoje paranaense, o que vem provar que os tememinós, que foram guerreados por Barreto e seus seguidores, tinham as suas moradas muito distante das Gerais.

Além deste preciosíssimo documento, existe um outro também municipal, publicado em "Actas", vol. II,130, mais eloquente ainda em elucidar a verdadeira região, caminhada pela expedição sob exame. Este documento confirma o supra citado completando-o. Trata-se de uma carta escrita ao Governador Geral Diogo Botelho, pelos oficiais da Câmara Paulistana, sobre a terça parte dos nativos apresados pela expedição de Nicolau Barreto, que segundo corria, seria tomada para o governo.

Tem essa carta a data de 18 de julho de 1603,

"... a cometer entada tam perigosa e de tão pouco proveito que para se aviarem qualquer pobre fez mais gasto do que se espera trazer de proveito e ainda já tão rota a fama e esta provisão posto que nos a não temos vto. que areseamos se mãde ao sertão recado do conteúdo na provisão e eles sabendo corre mto. risco vir nhu de la se não vense caminho do piquiri que é província do rio da Prata de que resultaria muito mal a esta capitania...".

Prova este documento, que Nicolau Barreto estava para atravessar, na volta a São Paulo, um chamado caminho do Pequiry, que é certamente o afluente do rio Paraná, situado na então província do Rio da Prata, que por força de Tordesilhas, abrangia o Guayrá, hoje Estado do Paraná. Queremos crer que o chamado caminho do Pequiry seja o passo do rio Paraná, na foz do rio Pequiry, onde justamente o grande caudal se estreita sobremaneira, para se precipitar do alto da serra de Maracajú, nas Sete Quedas. Por ai, talvez, Barreto tenha passado para o Paraguay penetrando, assim, no vice reinado do Perú, que então abrangia, também, a enorme área boliviana, em cordilheira andina. [Páginas 23, 24 e 25]

Em 1604, apontou finalmente em São Paulo, na segunda metade do ano, a valente tropa de Nicolau Barreto. Foi tão grande o esforço feito com esta expedição que os paulistas, como que extenuados, repousaram durante o resto de 1604, todo o ano de 1605, para somente em agosto de 1606 se assinalarem de novo com a sua atividade nas expedições. Pelo menos silenciam os documentos e calam-se os cronistas a respeito de qualquer empreendimento durante esse período de tempo.

É que, Nicolau Barreto havia feito, com a quase totalidade da população máscula de São Paulo do Campo, uma gigantesca caminhada, cujo ponto mais longinquo andou, por certo, a centenas de léguas da pequena vila recém fundada.

A vida administrativa de São Paulo ficou, durante os dois longos anos em que a expedição esteve no sertão, quase completamente paralisada, a tal ponto que, em 1604, se resumiu ela a apenas três vereadores do mês de janeiro. [Página 31]

Em agosto de 1606, temos notícias de que Diogo de Quadros (membro da família dos Quadros, não mencionado por Silva Leme. "Genealogia Paulista", v. IV) se aprestava para ir ao sertão com a expedição, e, apesar de todos os protestos, platônicos e fingidos, seja dito de passagem, dos Oficiais da Câmara Paulistana, em Dezembro do mesmo ano estava: "fazendo guerra aos gentios contra a ordem e regim, de sua majestade ...". ("Actas", vol. II, 161 e 169).

Diogo de Quadros foi aos carijós, como se vê, em "Registro", v. VII, 151. em princípios de 1607, voltava do Guayrá o capitão Manuel Preto, trazendo do caminho de Villa Rica nativos apresados para a sua fazenda de N. S. da Expectação (hoje N. S. do Ó). ("Actas", v. II< 184), e em fevereiro desse mesmo ano aviava-se em São Paulo muita gente, "que ia ao sertão carijó ao resgate e tendas de ferreiro".

No mes de março, sempre do ano de 1607, a atividade irrequieta dos paulistas se acentuava com o mameluco Belchior Dias Carneiro ("Inventários e testamentos", vol. II, 114, testamento de Belchior), que arregimentando cerca de:

"quarenta ou cinquenta homens brancos com os quais foram muita parte dos nativos desta vila e gastaram la dois anos, e não são chegados ainda e os que chegaram trouxeram muito gentio... e aqui estava um mandado do capitão Gaspar Conqueiro que logo se apresentou em que manda fosse toda a gente da jornada trazida conforme a provisão de sua majestade por Belchior Carneiro do sertão..." ("Actas", v. II, 235). [Página 32]

O falecimento de Belchior se deu em junho de 1608, tendo assumido o comando da expedição, Antonio Raposo, o velho, que em fins de dezembro de 1608 deu entrada em São Paulo com parte de sua gente, sendo que o restante da bandeira, como se vê do texto supra citado, permaneceu no sertão até 15 de fevereiro de 1609, data em que aportou ao povoado. [O Bandeirismo Paulista e o recuo do meridiano, 1924. Alfredo Ellis Junior. Página 34]

Após este arranco, no mês de agosto de 1608, Martim Rodrigues Tenório de Aguiar, registrado por Silva Leme, como Martim Fernandes ("Genealogia Paulistana", tit. Tenorios), iniciou, pelo Anhemby abaixo, uma expedição, para a qual tinha aviado várias dezenas de expedicionários, dentre os quais: [Página 36]

Em seguida ás bandeiras de Martim Rodrigues e de Belchior Dias Carneiro, durante todo o ano de 1609, não conseguimos encontrar referência alguma a qualquer expedição ao sertão. No ano seguinte, porém, de 1610, em outubro, encontramos Clemente Alvares e Cristovam de Aguiar, e muito provavelmente Braz Gonçalves (o mesmo que acompanhou a bandeira aniquilada de Martim Rodrigues aos "bilreiros"), a ponto de penetrar no sertão dos "carijós", pelo porto de Pirapitinguy (Tietê), conforme se vê de um protesto, aparentemente enérgico, dos oficiais da Câmara Paulistana.

É inútil dizer que os paulistas pouco se incomodavam com estes protestos e ameaças, feitos unicamente pro-forma, e transgredidos pelos seus próprios autores, segundo pudemos observar nos documentos municipais. Antes do ano de 1611, em data exatamente não conseguimos precisar, João Pereira (?), realizou uma expedição contra os nativos "biobébas", (pés chatos), cujo "habitat" constitui um mistério para os nossos etnografos.

É de supor, porém, fossem eles os mesmos que os "Pés largos"; nem assim, porém, se adianta saber algo da região por eles ocupada.

Foi nesse ano de 1611, que teve lugar a expedição chefiada por Pero Vaz de Barros, no Guayrá, sob as instigações de d. Luiz de Sousa. Muitos eminentes historiadores, que se tem ocupado das expedições paulistas, ao se referirem a esta, atribuem erradamente a Fernão Paes de Barros, filho, dos mais moços do supra citado comandante, pois, Fernão Paes de Barros, nasceu em 1623, conforme se vê do inventário de sua mãe Luzia Leme. ("Inventários e testamentos", vol. XV, 409). (Basílio de Magalhães e Gentil de Assis Moura. "Revista do Instituto Histórico Brasileiro", tomo especial, vol. II).

O sábio mestre Afonso Taunay a ela se refere magnificamente, ao comentar, pelo "Correio Paulistano", a documentação espanhola, sobre as expedições paulistas. Infelizmente não conseguimos na documentação arquivada paulista, nada sobre esta memorável expedição.

Foi nessa mesma ocasição pouco antes antes, Diogo Fernandes chefiou uma expedição contra os "Pés largos", trazendo muitos apresados a São Paulo. Sebastião Preto, um dos mais esforçados sertanistas do "clan" dos Pretos, em São Paulo, dos mais formidáveis no devassamento dos sertões, no ano de 1612, estava também internado no Guayrá, segundo menciona o insigne Basílio de Magalhães, e proficientemente estuda o dr. Taunay, sempre no "Correio Paulistano". [O Bandeirismo Paulista e o recuo do meridiano, 1924. Alfredo Ellis Junior. Páginas 39 e 40]

Muito sabida é, já, a famosa expedição de 1628, comandada por Manuel Preto e Antonio Raposo Tavares, que destruiu Guayrá, encorporando-a ao nosso território.

Já tem sido ela tratada por muitos, ilustres e dedicados historiadores desde Toledo Piza, Rio Branco, Assis de Moura e Basílio de Magalhães. Ultimamente, dela se tem ocupado, através da documentação espanhola, o profundo sabedor dr. Afonso Taunay, que tem trazido a publico interessantes resultados de suas brilhantes pesquisas. Conseguiu o dr. Taunay, aumentar o número de expedicionários, conhecidos em cerca de uma vintena, além de desvendar grande série de fatos, desenrolados durante a campanha, o que constitui brilhantíssimo serviço á causa da nossa história.

Conhecida assim, como está, a grande expedição de 1628, deixaremos de repetir o que já está ao alcance de todos, nas muitas publicações que se tem feito a respeito, para só ocuparmo-nos do que ainda está envolto em mistério e procurar trazer um pouco da luz da nossa documentação arquival publicada, afim de ver si conseguimos tirar dai algum conhecimento novo, que resulte em proveito da verdade histórica.

A documentação paulista, porém, pouco adianta, infelizmente, para o esclarecimento desta belíssima página do nosso passado e, por outro lado, vem resolver o que já estava assentado, como certo, trazendo confusão, na qual, dificilmente, se poderá ver claro.

Vejamos, porém, com método. Na documentação inserta nos "Inventários e testamentos", é de onde vamos tirar os poucos esclarecimentos que, diretamente, dizem respeito a esta expedição, no que concerne á sua composição.

Nessa publicação documental, encontramos referências a uma expedição internada no sertão ode Ibiguira, cabeceira do rio Ribeira, a qual, pela extraordinária coincidência de datas e de região, estamos plenamente convencidos, tratar-se de um destacamento do grande expedição, por qualquer motivo um pouco atrasado do grosso da expedição, que então se precipitava pelo Tabagy abaixo.

Queremos nos referir á expedição de Matheus Grou. De fato, a grande expedição saiu de São Paulo a 18 de outubro de 1628, devendo ela atravessar a extensa zona que separa São Paulo do Rio Assunguy, sertão Ibiaguira), passagem forçada, para a penetração na região das reduções do alto TIbagy.

De São Paulo, as nascentes do Assuguy medem, em linha reta, cerca de 400 quilômetros, o que quer dizer, que a expedição teve a vencer pelo menos 600 quilômetros, através de obstáculos naturais de todo o gênero, devendo levar para chegar ao seu alvo pelo menos três meses, de onde se conclui que, em janeiro de 1629, devia a expedição estar trilhando as proximidades de Ibiaguira, ou num raio de 50 quilômetros, justamente, onde o falecimento de Luiz Eanes, nessa ocasião, denúncia a presença da expedição de Matheus (inicio do inventário de Luiz Eanes, 10 de janeiro de 1629).

Há ainda a coincidência extrema de que expedicionários, como Antonio Grou, figuram simultaneamente na lista dos companheiros de Manuel Preto, da "Relacion de los agrabios", e na expedição de Matheus Grou. Existe outro argumento ainda mais notável e interessante. É que Balthazar Gonçalves Malio, fazendo parte da expedição de Matheus Grou, sendo assinalado diversas vezes no inventário sertanejo de Luiz Eanes, saiu de São Paulo com a expedição de Manuel Preto, a 18 de outubro de 1628, conforme prova o testamento de sua mulher Jeronima Fernandes, feito em 5 de janeiro de 1630, onde diz:

"... e porque o dito meu marido de presente está ao sertão na companhia de Manuel Preto..."

Sendo que Balthazar só aparece no inventário em setembro de 1631. Não ha, pois, que duvidar terem havido estreitas ligações de organização entre as duas expedições mencionadas; e a ser assim como se evidencia, a lista dos integrantes, conhecidos de Guayrá, pode ser aumentada de vinte e três nomes identificados: [Páginas 55, 56 e 57]

Vejamos, agora, o outro lado da questão, em que a documentação paulista vem trazer confusão para o estudo da expedição destruidora de Guayrá, bem como do que está estabelecido como certo a respeito. Apesar de muito estudada, esta expedição de Guayrá, de 1628, apresenta-se ainda muitíssimo obscura. Não se sabe, por exemplo, qual tenha sido o seu itinerário exato, na sua marcha destruidora. Nem se sabe, tão pouco, como se deu esta destruição e conquista.

Teria a expedição, saído de São Paulo em outubro de 1628 e permanecido em campanha, no sertão, até depois de 1630, quando morreu flechado o seu chefe supremo Manuel Preto, como afirmava o padre Mazeta, para poder em 1631 completar a conquista com a destruição de Vila Rica, reduções do Ivahy, Pequiry e Ciudad Real?

É um ponto profundamente obscuro, que, diante do que existe a respeito na documentação do arquivo municipal de São Paulo, nos dá a impressão nítida de que a destruição e conquista de Guayrá, não foi obra de uma só expedição.

De fato, si tivesse sido, não poderiam ter, participado da segunda fase da campanha, isto é, da tomada de Villa Rica, reduções do Ivahy, do Pequiry e Ciudad Real, que transcorreu ao ano de 1631, muitos paulistas constantes da lista da "Relacion de los agrabios", os quais, segundo as atas de vereações do ano de 1630, não arredaram pé ininterruptamente de São Paulo, tais como: [Páginas 58 e 59]

Apesar disso, porém, os paulistas se continham de avançar sobre tão magnifica presa, não os molestando até o ano de 1635. É o que nos assegura o texto documental, inserto em:

"... e serem nossos amigos e de nossos antepassados havia mais de cem anos...". Em 1635, porém, esgotado o imenso manancial de nativos a apresar do Guayrá, começaram os paulistas a aumentar o raio de suas incursões, atirando-se a horizontes mais vastos, que tinham ante os olhos, nas províncias jesuíticas restantes de além Tordesilhas.

"Tape" era justamente a província que ficava ao sul do Guayrá, tendo como divisa natural entre as duas o rio Iguassú.

Nesse ano de 1635, muito sérias eram as condições do Brasil luso-espanhol, com a guerra holandesa no nordeste, que, atravessando mais um período agudo, refletia, temerosamente, na colonia e principalmente, em São Vicente, pelas constantes ameaças dos flamengos em desembarcar gente armada de seus navios, que cruzavam constantemente ao largo da costa paulista. [Páginas 69 e 70]

Era necessário, pois, que se tornasse a proceder na capitania a uma nova mobilização bélica de todos os seus recursos, em homens, armas e munições, para enfrentar os holandeses, que se aproximavam.

Dai, pois, os numerosíssimos "quarteis" e "bandos", expedidos pelo capitão-mór, durante todo o ano de 1635 e mesmo principio de 1636. Á mobilização, executada, com a maior rapidez possível, sucedeu-se a concentração de forças que foram partindo para Santos, á medida que se preparavam, onde se postaram sob o comando em chefe do capitão-mór já mencionado. Assim é que, durante o mês de maio de 1635, partiu de São Paulo, pelo caminho do mar, toda a tropa de nativos das aldeias que rodeavam a vila de São Paulo, comandados pelos capitães dom Francisco de Rendon e João Raposo Bocarro.

Assim é que, em começo de 1635, tendo-se aprestado em São Paulo poderosa leva de expedicionários, requereu o seu cabo, ao Capitão Mór Pedro da Motta Leite, autorização para ir ao sertão dos "Patos", onde dominavam os jesuítas das reduções de "Tapes", e não sabemos porque, com tal frouxidão de houve o Capitão-Mór, apesar dos perigos, que corria a Capitania, permitiu a partida da tropa pelas suas barbas. Talvez, um oculto interesse, como facilmente se depreende a insinuação dos edis paulistas, nos oficios supra mencionados, tivesse levado o Capitão-Mór a assim proceder.

Teriam já, nessa longínqua época a "advocacia administrativa" e a "negociata", implantado o seu terrível domínio nas nossas plagas? É, pelo menos, o que se vê do seguinte texto da vereação de 12 de maio de 1635:

"... informados que o capitão mór, Pero da Mota Leite, POR SEUS PARTICULARES INTERESSES dava licensa para irem aos Patos e estas pessoas não levavão mais que pólvora e chumbo e correntes sendo contra e lei de sua majestade, estando em auto de guerra indo mais de DUZENTOS HOMENS AOS DITOS PATOS sem os ditos nativos de sua parte darem ocasião para serem molestados e serem nossos amigos e de nossos antepassados havia mais de cem anos...". [Páginas 71 e 72]

Depois de aviada a tropa, partiu ela de São Paulo, nas proximidades do dia 17 de março de 1635, pois, que, nessa ocasião, o expedicionário Fernão de Camargo, o Tigre, um dos chefes da expedição, desaparece, bruscamente, das vereações sendo eleito outro em seu lugar:

(...) Saindo a expedição de São Paulo, tomou o caminho do mar, em direção ao porto de São Vicente ou de Santos, ou talvez mesmo de Itanhaém, onde teria embarcado, nas embarcações que ai se achavam aprestadas á suas espera, como se demonstra, com o documento seguinte: [Página 73]

Ficando, exuberantemente, provado ter esta expedição de 1635 tomado o caminho marítimo, para o sertão rio-grandense, onde eram os Patos, passemos a acompanha-la no seu roteiro.

Vinte dias, mais ou menos, deveriam os barcos ter levado, na rota de Santos ao Rio Grande do Sul, pois que eram meio de transporte infinitamente mais rápidos do que as longas caminhadas, pelos sertões agrestes, da via terrestre.

Deveria a expedição, em questão, ter desembarcado, ou na Laguna, em Santa Catarina, justamente onde passava o meridiano de Tordesilhas, e que dessa época, em diante, foi muito frequentada pelos expedicionários paulistas, como faz certo o inventário do paulista Custódio Gomes, 1638, ou na Lagoa dos Patos, no próprio Rio Grande do Sul, lugar muito em uso, também, por expedições marítimas, paulistas, como as que são referidas, em uma carta de Felipe IV, dirigida de Madrid, ao vice-rei do Perú, marques de Mancera, em 16 de setembro de 1639, na qual dizia que os vizinhos e moradores de São Paulo, haviam realizado, desde 1614, várias [Página 74]

Também em 1641, duas aclamações se ouviam estrepitosas, em São Paulo, quais a de Amador Bueno, e a de D. João IV, reunindo avultadíssimo número de paulistas em povoado.

Com isto, facilmente se compreende quanto modestas proporções, deveria ter a expedição paulista que, no mês de março de 1641, descia pela margem direita do rio Uruguay. Chegando ela, próximo ao riacho, chamado M´Bororé, foi subitamente surpreendida pela artilharia dos jesuítas, nestas condições travando o combate, que, durou encarniçado três dias, terminando com a retirada dos paulistas e vitória dos nativos das reduções. Tão pequeno efeito teve, porém, esse insucesso dos paulistas, que os jesuítas, aterrorizados ainda, pela audácia "mameluca", não tiveram coragem de reatravessar o Uruguay e se estabelecer de novo em terras do Rio Grande do Sul, senão, no fim do seiscentismo, quando, em uma estreita faixa ao noroeste do território do Estado gaúcho, implantaram os célebres "Sete Povos" estando, então, os paulistas ocupados com as descobertas auríferas, com que desprezavam já as razzias de apresamento de nativos.

Qual teria sido a expedição paulista estacada no combate de M´Bororé? A documentação jesuítica e a espanhola, até agora conhecidas, em nada adiantaram, para o descobrimento do mistério, que enevoa esta parte histórica do nosso passado. A documentação arquival paulista, por outro lado, silencia por completo a respeito deste capítulo bélico, o mesmo se dando em relação ás crônicas dos mais antigos estudiosos do passado paulista. Vejamos entretanto, quais os empreendimentos sertanejos, de São Paulo, na ocasião em que se feria M´Bororé.

Uma expedição no sertão, assinalada pelo falecimento de Luiz Dias, e uma outra, também internada nas selvas, e denunciada pelo inventário ai procedido por morte do sertanista Sebastião Gonçalves. Era esta última expedição chefiada pelo capitão Jerônimo Pedroso de Barros e se achava, na ocasião do inventário supra mencionado, internada em um sertão do rio Grande, dos "Ganayazes".

Que rio Grande teria sido este? Seria, porventura, o rio Paraná? Ou o rio Uruguay? - Ou ainda, a Lagoa dos Patos, também assim chamada pelos paulistas? Que sertão de nativos "Ganayazes" seria o mencionado no inventário?

Poderia ser uma má gravação de "guayanazes", que eram localizados nas proximidades do rio Paraná, no antigo Guayrá, mas é também muito possível que fosse uma corruptela do "gonanazes", cujo "habitat" era a região marginal do alto Uruguay, os mesmos que Theodoro Sampaio chama de "guanís".

A ser verdadeira esta hipótese, ou de ser a região ribeirinha da Lagoa dos Patos, o sertão do rio Grande, do documento citado, é bem possível ter sido a expedição de Jeronimo Pedroso de Barros a que se bateu em M´Bororé, dada a extraordinária coincidência de datas, bem como o não termos notícias de outra qualquer empreitada paulista no sertão, absorvida como estava a atividade dos moradores de Piratininga, na época em que teve lugar a expedição de Jeronimo e o combate de M´Bororé fato este que, como já assinalamos acima, torna difícil conceber-se a existência de outra expedição, no momento, a qual seja a vencida de M´Bororé.

Esta possibilidade que fazer notar, porém, só poderá ser estabelecida se outros elementos a vierem confirmar, depois de terem sido submetidos a análise esmerada os documentos referentes a M´Bororé, de origem castelhana, o que, infelizmente, ainda está por acontecer, não obstante a grande atividade do insigne mestre dr. Taunay, em procurar faze-lo. As dificuldades tem, porém, vencido todos os esforços, neste sentido, permanecendo os documentos, em cândida virgindade, nos arquivos de Sevilha.

Graças, ainda, ao inventário, mencionado, de Sebastião Gonçalves, feito no sertão, são conhecidos os seguintes nomes de integrantes que, com Jeronimo Pedroso, foram ao exercicio do bandeirismo:

Capitão Jeronimo Pedroso de Barros (cabo da tropa) e seu irmão Capitão Antonio Pedroso de Barros, Capitão Antonio da Cunha Gago (o gambeta)

(...) Esta expedição, no sertão, em setembro de 1641, só deveria ter chegado ao povoado paulistano, em agosto do ano seguinte, data em que, judicialmente, foi iniciado o inventário de Sebastião Gonçalves. [Páginas 109, 110, 111 e 112]

Primeiro socorro paulista para a restauração do nordeste brasileiro (1639)

É muito sabido que d. Francisco de Mascarenhas, conde da Torre, almirante da poderosíssima esquadra de trinta e três grandes navios, encarregada da restauração do Brasil, nordeste, ocupado pelo batavo de Nassáu, tendo perdido, na travessia oceânica, muita gente da sua infantaria e tendo conhecido, ao chegar a Bahia, a fama dos sertanistas paulistas, como homens de grande audácia e valor, além da grande prática no devassamento dos sertões, e que, na capitania de São Vicente e São Paulo se podiam levantar cerca de 300 soldados aguerridos e experimentados, a três de fevereiro de 1639 enviou a Salvador Corrêa de Sá uma provisão ordenando o levantamento de soldados, nessa capitania de São Vicente e São Paulo, podendo o dito Salvador Corrêa de Sá, acabada a guerra, premiar aos voluntários desse alistamento, com cargos e serventias vitálicias da capitania, onde eram moradores.

Com esta ordem Salvador, por sua vez, encarregou a d. Francisco Rendon de Quebedo, que procedesse ao alistamento e levasse a expedição ao Rio de Janeiro, para dai ser a gente embarcada para a Bahia, onde o conde da Torre, pachorrentamente, a aguardava, no bojo de seus desgraçados galeões.

Tendo recebido de Salvador Correa de Sá, a ordem, para o levantamento, com a data de 18 de março de 1639, d. Francisco de Quevedo pos-se em campo, conseguindo alistar na capitania vicentina, vinte e dois infantes e cinquenta e quatro nativos, insignificantes cifras, para o enorme espaço de tempo levado no serviço de recrutamento. [Páginas 113 e 114]

No volume VII, Suplemento do "Registro Geral", página 251, vem impresso esse auto de aclamação, com a respectiva certidão, com a data de três de abril, provando que o fato, em absoluto, não teve lugar em maio, nem em outra data qualquer. Assim dizem os documentos:

"... o vereador mais velho Paulo do Amaral arvorou o dito pendão por três vezes dizendo em cada uma Real Real Real por El Rei dom João IV de Portugal respondendo a cada uma destas vezes todos os circunstantes com mil vivas e júbilos em o dito altar que estava preparado em o qual assistia o reverendo padre vigário revestido com o sobre peliz e estola em um livro dos Santos Evangelhos ou missal jurou nele o dito capitão mór João Luiz Mafra de conhecer e manter por estes reinos de Portugal o senhor dom João o IV rei de Portugal prometendo-lhe a menagem desta capitania e que a não entregaria senão a sua real majestade ou a seu certo recado e acabado tornou o dito vereador a tremular o dito pendão três vezes dizendo Real Real por El Rei dom João IV de Portugal a quem seguiam os vivas e júbilos dos mais circunstantes e saindo da dita procissão a casa do conselho donde havia de ficar o dito pendão por remate de tudo antes de se recolher o dito vereador fez as ditas cerimônias arvorando três vezes o dito pendão ao que seguiu a acostumada e aprazível voz de todos com mil vivas e júbilos por aqui se deu fim a esta tão festejada como alegre cerimônia de que mandaram fazer este auto de juramento e obediência e eterna na vassalagem e sujeição ao dito senhor rei dom João IV de Portugal em que assinara e eu Manoel Coelho escrevi. João Luiz Mafra, Antonio Raposo Tavares, Francisco Pinheiro Raposo, João Fernandes de Saavedra, Paulo do Amaral, João Martins de Heredia, ... Miguel Garcia Carrasco ..., frei João da Graça, dom abade de São Bento frei Manuel de Santa Maria ... Custódio, frei Francisco dos Santos guardião ambos de São, Fernão Dias Paes, Antonio Pompeu de Almeida, Francisco Rodrigues da Guerra, O licenciado Francisco de Chaves, o vigário Manuel Nunes, Francisco Velho de Moraes, João Ferreira Coutinho, Lourenço Castanho Taques, Victor Antonio e Castro Novo, padre Manuel Madureira Bernardo de Quadros, dom Francisco de Lemos, Manuel Lourenço de Andrade, Luiz Rodrigues Cavalheiro, Balthazar de Godoy, Claudio Furquim, Manuel Mourato Coelho, Domingos da Rocha, frei Vicente de Brito, frei Antonio de Santo Estevam, frei Domingos da Luz, frei Domingos da Encarnação, Antonio Pedroso de Alvarenga, Antonio Ribeiro de Moraes, Ascenso Ribeiro, João Raposo Bocarro, Francisco da Fonseca Prado Falcão, Gregório Fernandes, Francisco Martins. [Páginas 121, 122 e 123]

Veio, pois, como se vê, a descoberta destes dois documentos de publicação oficial desfazer uma dúvida e um erro que se acentuavam na nossa história: pois a já mencionada obra de Ermelino de Leão, recentissimamente saída a lume, muito convictamente afirma: não haver documentos que provem as aclamações tido lugar nos primórdios de abril. É que o escritor paranaense não teve a necessária argucia de proceder á devassa da documentação impressa, deixando de compulsar os volumes do "Registro Municipal".

A causa, porém, desse erro que ameaçava se enraizar nas páginas história, está no pouco cuidado dos que a tem estudado se limitando a copiar o já impresso, abstendo-se das pesquisas originais, pois que chegam muitos historiadores a ignorar o nome do próprio governador da capitania nesse ano de 1641!!! Parece incrível que se tenha afirmado ter sido o capitão-mór nessa época um tal de Luiz Leme (talvez atribuindo a Luiz Dias Paes Leme, o sertanista, já nosso conhecido), quando é certo não figurar nos documentos esse nome como exercendo o mencionado cargo da governança! Ermelino de Leão, corrigindo esta asserção, diz que o capitão mór na ocasião foi Francisco Pinheiro Raposo e, naturalmente, o mesmo signatário do auto de aclamação de dom João IV, como vimos acima.

A emenda nos parece tão errada quanto o soneto, pois o capitão mór era João Luiz Mafra, como se vê dos documentos impressos, estando de acordo com a verdade do saudosíssimo João Mendes, que isso afirmava.

Reintegrada, pois, a verdade histórica e banida qualquer dúvida existente sobre a verdadeira data das aclamações, com elementos irrefutáveis, como os que estampamos acima, estão elas definitivamente perpetuadas na nossa história, marcando os episódios, que tanto enobreceram o caráter paulista. [Páginas 125 e 126]

XXX - O BANDEIRISMO EM DECLÍNIO

Quando o nascer de século dos setecentos presenviava as múltiplas descobertas auríferas, por entre as fragas das serranias centro-minerais, coroando os esforços tenazes da gente paulista, lavrou o cruento destino o decreto irremovível do declínio do bandeirismo. [Página 245]

E, então, foi Ararytaguaba a dolorosa sangria, dilatadamente aberta nas veias paulistas, de onde jorrara, para as bandas de além, o sangue aos borbotões das forças sertanistas, despovoando o berço piratiningano, para povoar os extensos territórios goyano e cuyabano, com a imensa aluvião de exploradores do ouro. [Página 246]

Eis os últimos degraus que descemos, no ingrato setecentismo, onde nos demoramos, por longissimas décadas, até que a cruzada nobilitante do trabalho inicia a sem dúvida pela gente campineira sorocabana, ituana e paulistana em que germinaria finalmente, a semente hereditária do bandeirismo, veio a nos trazer a segunda e definitiva fase da grandeza da nossa pátria paulista que tem como pedestal o maior monumento agrícola, jamais existido na superfície do planeta (...) [Página 249 de 262]
*“O bandeirismo paulista e o recuo do meridiano”, Alfredo Ellis Júnior (1896-1974)

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