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Revista do Arquivo Municipal, CLXXX. Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade, 1970
197018/04/2024 16:24:05

Revista do Arquivo Municipal, CLXXX
Data: 01/01/1970


Bloem introduziu, pois, no interior de São Paulo, entre os primeiros, senão o primeiro, as carroças, os carros de 4 rodas e carretões para arrastar todos e efetivamente usados na fábrica, e outros carros grande (carroções, depois chamados caminhões) destinados a ir de Ipanema a Santos.

É um motivo de glória para o seu nome. O inventário enumera as madeiras. As ferramentas dos pedreiros: picões, enxadas, martelos, brocas, colheres, prumos, marrões, agulhas de broquear com o seu limpador, picaretas, a canoa, o barco de fundo de prato.O caixote com sementes de alfafa, e aqui deixamos essa nota para a agricultura, uma renovação de métodos antigos. As ferramentas da roça são os ternos de machado, foice e enxada, oito dentes de arado. Isto é bom lembrar. Em 1842!

Curiosidades: fechaduras inglesas de ferro, suecas, de pau, 40 correntes de galés com pegas. Dois modelos de sinos. (De fato, Bloem fundiu sinos para Sorocaba). Duas rodas de fiar, 23 cabos de ferro de engomar. Fechaduras de segredo feitas na fábrica. [Revista do Arquivo Municipal, CLXXX. Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade, 1970. Página 282 do pdf]

Mesmo assim os tumultos prosseguiam. Aparece em 1781 um homem "rebuçado" que, em companhia de escravizados fugidos, praticava desordens. Enquanto isto, no interior os quilombos continuavam dando trabalho. Em 1778 dizia-se que qualquer pessoa podia destruir de assalto um quilombo no termo de Parnaíba, prendendo os ditos aquilombados com um mulato chamado Antônio Pinto. O mulato homiziado no quilombo era "criminoso de delitos graves".

Em 1782 Sorocaba preocupa as autoridades que ordenam a prisão de vários escravizados fugidos daquela vila. Em em 1785 insistem no mesmo assunto. [Revista do Arquivo Municipal, CLXXX. Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade, 1970. Página 374 do pdf]

Daí não ser incomum que duas pessoas, em situações contrastantes, conflitantes, invoquem provérbios perfeitamente adequados à respectiva posição. A mulher que, em tarde de sábado, subindo a um trem da Sorocabana, no bairro das Anhumas, animava o marido a mover-se rápido a fim de ser o primeiro com os queijos no mercado da cidade, terminava por dizer: "Boi lerdo só bebe água suja". [Página 386 do pdf]

Facilitando tal transplantação convergente, naturalmente os mitos nativos aqui encontrados pelo negro e pelo europeu em seus primeiros contatos com a terra: o curupira e o caapora já vistos. Mito que não é estranho ao folclore paulista também. Haja visto as notícias que dele nos deu Cornélio Pires em seu livro Quem Conta um Conto (1920), onde o curupira aparece como um nativo pequeno, com os pés ao contrário, isto é, o calcanhar para a frente. Um morro nas proximidades de Sorocaba, é apontado pelo escritor paulista com nome e lendas que se prendem a este mito, fixado igualmente por Amadeu Amaral (Dialeto Caipira (1920)). [Revista do Arquivo Municipal, CLXXX. Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade, 1970. Página 542 do pdf]

Seiscentista era a casa de Pedro Vaz de Barros, em muros de pedra. Um dos motivos era a defesa contra os nativos. Não se conservaram estas casas. Do mesmo modo não se sabe de casas de taipa de mão ou de pau-a-pique seiscentistas.

Houve-as, principalmente menores, mas até mesmo grandes, em terras menos própria para taipa e junto à abundante madeira da floresta. No inventário de Isabel de Proença, com testamento em novembro de 1654, consta que a casa do fundador de Sorocaba, Balthazar Fernandes, era de pau-a-pique. E muito grande.

Luiz Saya conseguiu estudar doze casas seiscentistas em São Paulo e arredores, juntando-lhes algumas mais recentes, devido aos caracteres arquitetônicos. São ou eram de taipa de pilão. [Revista do Arquivo Municipal, CLXXX. Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade, 1970. Página 50]

Pertence a esta época a casa de taipa do bandeirante Baltazar Fernandes, a qual chegou até nossos dias e foi construída no lugar da primeira. A entrada ficava na parede lateral, que podemos dizer fachada mais comprida. A frente menor era alta, mas mostrava somente janelas. Naturalmente o porão não tinha esse nome. Janelas sem vidro, fechos de trancas de madeira e taramelas. Dois puxados, sendo um a cozinha, o pátio todo fechado por um alto muro: era o pátio interno. [Página 51, 563 do pdf]

Saya lembra von Martius que ainda no começo do século XIX achou, em Taubaté, uma cozinha bem separada no rancho da criadagem. De suas casas de Sorocaba, setecentistas, uma a já citada de Balthazar, construída sobre o alicerce de outra mais antiga, tinha o lanço da cozinha, outra (que ainda está de pé) não o tem.

Nas doze casas de Luiz Saya, só duas tem o lanço separado. Em conclusão: nas casas seiscentistas e até os meados do século XVIII, quando de potentados bandeirantes da caça ao nativo, preferia-se cozinha dentro das quatro águas, mas não se desprezava a solução do lanço separado. E dois lanços, pois o lado fronteiro era a despensa ou depósito. Este, em Sorocaba e, certamente, em Parnaíba e São Paulo, chamava-se armazém, e exigia pé direito mais alto. Já temos ouvido também o nome de sobrado. Podia ser de janelas e mesmo escuro, iluminado lateralmente pelo varandão em telha vã. [Página 52]

Em um inventário de 1805, em Sorocaba, lê-se referência a mais de um casacão. Acho que descia até o meio da perna. O inventariado era um padre. Do casacão só resta a parlenda infantil muito antiga: "Tem razão, tem razão. Tem razão do casacão". [Página 568 do pdf]

No século 16 ainda se encontra a palavra tejupar com o mesmo sentido. Um rancho é um tejupar nativo um pouco melhorado. Anchieta pousou mais de uma vez na Serra do Mar num tejupar. Lembrança moderna dos ranchos dos escravizados nativos é o topônimo paulista Rancharia, na Alta Sorocabana, onde os selvagens chegaram até os primeiros anos deste século.

Principalmente nas aldeias jesuíticas esta rancharia melhorou, com as paredes de pau-a-pique e até as telhas de barro. A cidade de São Roque tem origem seiscentista na rancharia de redor da casa de Pedro Vaz de Barros.

Rancho é ainda hoje qualquer grande galpão coberto de sapé para olaria, para guardar implementos agrícolas, etc. Galpão é puro castelhanismo que só entrou em São Paulo depois da fundação do Rio Grande do Sul e aqui se reserva para designar, nas cidades, as tendas de pequenas indústrias. [Página 572 do pdf]

As fazendas de criar (que ao mesmo tempo cuidam de pequena lavoura para o gasto) admitiram desde o começo subdivisões. O curral a princípio era o pequeno espaço fechado para cuidar do gado num campo reiuno ou de sesmaria. No século 17 o padre Guilherme Pompeu possuía currais em Itu e Sorocaba, mas as terras de pastagens onde largava o gado eram suas. [Página 575]

A geografia da farinha de milho não é somente física, mas humana, pois coincide com a região centro-sul devassada pelos paulistas e onde outrora foi o grande São Paulo. Os primeiros cronistas não a descrevem qual a conhecemos hoje. As primeiras referências conhecidas são de 1766, quando o Governador de São Paulo, Morgado de Mateus, fez comprá-las principalmente em Itú e Sorocaba para alimentação dos povoados do maldito Iguatemi, em sua viagem de meses pelos rios. [Revista do Arquivo Municipal, CLXXX. Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade, 1970. Página 578 de pdf]

O Ataque arrasador

O ano de 1590 seria depois frequentemente lembrado. Era o do assalto à vila. A ata do dia 13 de abril contém o apelo lancinante de socorro a todos os povoados. "Com muita brevidade porquanto o gentio estava já junto nas fronteiras e era certeza vir marchando com grande guerra sobre a vila". O socorro vem de "todas as vilas deste mar e a Itanhaém".

Afonso Sardinha aparece em todas as atas desse tempo. No dia 1 de julho de 1590 lá está: "se ajuntarão em Câmara oficiais dela, a saber: Afonso Sardinha, Sebastião Leme, vereadores e juiz Fernão Dias".

No ata de 7 julho que "vieram contra nós todas as aldeias do sertão", mataram a Luíz Grou com todos os seus companheiros, que seriam cinquenta homens, mataram muitos escravizados e escravizadas nativas, destruíram muitas fazendas tanto de braços como de nativos, queimaram igrejas e quebraram a imagem de Nossa Senhora do Rosário, de Pinheiros.

E vem a queixa amargurada: "Eles eram nossos vizinhas e amigos. Nossos compadres e se comunicavam conosco gozando nossos resgates e amizades, e isto de muitos anos a esta parte e sem lhe fazermos nenhum mal. Eles mataram brancos e se levantaram contra nós. E nos fizeram tanto mal. Se lhe não dessem o castigo que mereciam com presteza poderia resultar muito dano a esta capitania e estava em risco de se despovoar esta vila.

"Gente bárbara e usada na guerra e andaram aos saltos como nos tem ameaçado". E este trecho que revela não serem os bugres tão broncos e estavam sendo agitados por agentes do exterior:

"Nos tem ameaçado dizendo que, em nos acabando irão ao Rio de Janeiro e à mais partes da Capitania, digo, costa dizendo que haviam de dar o capitão e os padres aos ingleses e fazer com eles pazes e trato".

Assinam a ata, pela ordem: Belchior da Costa, Jerônimo Maciel, Sebastião, Afonso Sardinha e Fernão Dias. [Revista do Arquivo Municipal, CLXXX. Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade, 1970. Página 603 do pdf]

A ata seguinte trata da guerra, começando com Afonso Sardinha, sempre presente. Na paz e na guerra. Vai continuar a aparecer. Em 1592 é nomeado capitão da gente de guerra a ser iniciado contra os nativos.

Nas atas de 1593 e 1594, está contida a grande reação. É então organizada a grande expedição que penetra profundamente no vale do Paraíba. Vai trazer guerra punitiva e preventiva. Tem como complemente a penetração profunda de Martim de Sá, que partiu do Rio de Janeiro, sobe por Parati, entra no vale do Paraíba entre Pindamonhangaba e São José dos Campos e encontra-se com a expedição paulista chefiada por João Pereira de Sousa, saída em outubro de 1596 com a missão explícita de ir fazer a guerra do Paraíba.

Os paulistas que acompanhavam João Pereira de Sousa Botafogo somavam mais de uma centena, além do corpo de nativos. Carvalho Franco registra: "Nesse ano Afonso Sardinha fez testamento por estar de caminho para uma guerra no denominado sertão da Parnaíba, diligência em que gastou quatro meses, de outubro de 1592 aos primeiros dias de fevereiro de 1593".

Nas atas da Câmara a sua assinatura apresenta-se inconfundível. Umas vezes como uma espécie de cruz de Lorena. Outras vezes com o seu nome completo e mais a original cruz.

Um criador de riquezas

Foi banqueiro sem cobrar juros. Financiava empreendimentos. Possuía casas de aluguel, em Santos e São Paulo. Em Santos, onde teve por inquilino o padre vigário Jorge Rodrigues, a 12 cruzados por ano. E o padre Simão de Lucena, que Deus tem, também morou nestas casas muito tempo e nunca pagou nada, só deu dez mil réis, declarou em seu testamento de 1592.

Em São Paulo, moradia à rua Direita, então ainda sem denominação. A referência é clara na petição que frei João de Carvalho prior do Convento de Nossa Senhora do Carmo de Santos, vindo a São Paulo, fez ao juiz Manuel Fernandes. E do qual consta: "desse juramento a pessoas antigas e sem suspeitas para declararem o caminho de Piratininga que vinha da vila velha de Santo André".

João Maciel e Pascoal Dias depuseram que o caminho vinha de Santo André pelo curral que foi de Aleixo Jorge, penetrava à ponte do Tabatinguera, seguia direito pela rua onde estava o mosteiro dos Padres da Companhia, passava pelas portas que foram de Afonso Sardinha, Rodrigo Álvares, e Martim Afonso (Tibiriça elucida monsenhor Silveira de Camargo) e ia sair no ribeiro (Tamamduateí) até o rio grande (Tietê).

Em 1585 figurava Sardinha no estado-maior da expedição contra os carijós, juntamente com Antônio de Proença, Sebastião Leme, Manuel Ribeiro, Salvador Pires, Afonso Dias e Jerônimo Leitão.

Depois da vinda de D. Francisco de Sousa, governador geral do Brasil entre 1591 e 1602, a vida recebera novos estímulos. "E o verdadeiro promotor do bandeirismo" - Escreve Taunay. Agora a vida corre em paz. "A vila durante a semana ficava deserta porque os moradores iam trabalhar nas suas fazendas. Os padres seculares viviam nas suas casas e alguns tinham a sua fazendinha.

"Os religiosos nos conventos ocupados em seus misteres e também com fazendas para a cultura de cereais e criação de gado. Era coisa comum esta modalidade de vida e por vêzes necessária à manutenção própria dos agregados".

Monta fornos de fundição. Araçoiaba, depois denominada Ipanema, para os lados de Sorocaba, resulta de sua experiência. Ali seria depois montada a grande metalúrgica do reinado D. João VI. E em Ibirapuera. Ainda existem seus restos em Santo Amaro. [Revista do Arquivo Municipal, CLXXX. Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade, 1970. Páginas 604 e 605 do pdf]
Revista do Arquivo Municipal, CLXXX
Data: 01/01/1970
Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade. Página 51
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Edição comemorativa do 25o. aniversário da morte de Mário de Andrade. Página 54


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