' Conquista e Resistência dos Payayá no Sertão das Jacobinas: Tapuias, Tupi, colonos e missionários(1651-1706). Solon Natalício Araújo dos Santos - 01/01/2011 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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Conquista e Resistência dos Payayá no Sertão das Jacobinas: Tapuias, Tupi, colonos e missionários(1651-1706). Solon Natalício Araújo dos Santos
2011. Há 13 anos
bastava a eloquência dos mamelucos “que lhes representava a fartura do peixe, emariscos do mar, de que lá carecião, a liberdade de que havião de gosar, a qual nãoterião se os troxessem por guerra”116.Com o uso dessas promessas enganosas e a oferta de "algumas dadivas deroupas, e ferramentas, que davão aos principaes, e resgates, que lhes davão pelos quetinhão presos em cordas", os mamelucos desciam aldeias inteiras e ao chegarem aolitoral,“apartavão os filhos dos paes, os irmãos dos irmãos, e a molher do marido, levandohuns o capitão Mameluco, outros os soldados, outros os armadores, outros os queimpetrarão a licença, outros que lha concedeo, e todos se servião delles em suasfazendas, e alguns os vendião, e quem os comprava, pela primeira culpa, ou fugida, quefazião, os ferrava na face, dizendo que lhe custarão seu dinheiro, e erão seuscaptivos;...”117Consta que Luiz de Brito e Almeida foi o primeiro governador a fazerexpedições aos sertões, entradas cujos objetivos eram descobrir minas, combater ecapturar índios, obter mais espaço para explorar as terras com lavoura e criação de gado,expulsar contrabandistas franceses que frequentavam as paragens do rio Real e Vasabarris, onde negociavam o pau-brasil com indígenas locais118.Entre 1574 e 1575, sob as ordens do governador Luiz de Brito, houve outraexpedição em busca de metais, pedras preciosas e “negros da terra”, liderada porAntonio Dias Adorno, composta de 150 portugueses e 400 “soldados”, ou seja, índiosguerreiros, acompanhada pelo padre João Pereira e o Irmão Jorge Velho, queentrou pelorio de Contas na Capitania de Ilhéus e seguiu o seu curso, alcançando a região hojeconhecida como Chapada Diamantina, onde se pensava existir uma fabulosa “Serra dasEsmeraldas”. Desta expedição participou o mameluco Domingos Fernandes Nobre, dealcunha Tomacaúna, o mesmo que se envolveu anos mais tarde com a “Santidade deJaguaripe”119.Nesta entrada ao sertão, embora tenha achado esmeraldas e outras pedraspreciosas, Antonio Dias Adorno tinhacomo principal interesse o descimento de [Página 48]

utilizadas como pastagens naturais, sem cercas de madeira, pedra ou macambira nemoutros limites de propriedade185.Já o outro exemplo de forma alternativa de apossamento da terra eram asmalhadas, áreas de uso coletivo que serviam como local de reunião do gado parapernoite, “ferra” ou “junta” (recolhimento do gado para formar as boiadas que seriamcomercializadas). As malhadas, embora pudessem estar localizadas nas terras de algumfazendeiro, poderiam ser usadas por todos, sem permissão ou cobrança de direitos.Assim, segundo Francisco Carlos Teixeira da Silva, aos poucos os sertões foramse convertendo em um imenso pasto, onde a população conseguiu em largos trechosimpor um regime de uso comunal das terras que era bem distinto do regime de posse euso da terra apoiado pela política de concessão de sesmarias e arrendamento, que sebaseava na apropriação individual e privada da terra186.Nas palavras de Eurico Alves Boaventura, “foi o boi que provocou a descobertado sertão, assinalando os pontos cardeais [das Capitanias] com rastro do seu passovagaroso e constante”187. Segundo o historiador Capistrano de Abreu, a criação do gadovacum se desenvolveu inicialmente nas cercanias da cidade do Salvador, mas com aconquista de Sergipe, aquela se estendeu à margem direita do rio São Francisco, cujocurso foi acompanhado pelo gado. Com o afastamento do litoral, um dos caminhos dacriação de gado “passava por Pombal no Itapicuru, Jeremoabo no Vasabarris, atingindoo São Francisco acima da região encachoeirada” (provavelmente o município de PauloAfonso) e a região dos “Bons Pastos” (região do Alto Itapicuru no sul do Maranhão atéo atual Tocantins), onde se encontrava com as boiadas de Pernambuco e as vindas doPiauí e Maranhão. Outro caminho trilhado com a expansão do gado era o da passagemdas Jacobinas para Juazeiro188.A criação de gado consistiu em um fator preponderante da penetraçãocolonizadora do sertão. Segundo Antonil, “há currais no território da Bahia e dePernambuco, de duzentas, trezentas, quatrocentas, quinhentas, oitocentas e milcabeças”. Mais que isso, havia “fazendas a quem pertencem tantos currais que chegam ater seis mil, oito mil, dez mil, quinze mil e mais de vinte mil cabeças de gado, donde setiram cada ano muitas boiadas”. No entanto, deve-se observar que tais dados variavam [Página 67]

Antonio Pereira, “em 1658 e 59 conseguiam cinquenta léguas de novas sesmarias. E oscariris (provavelmente Payayá), rechaçados do morro do Chapéu para a margem direitado grande rio, cediam o lugar aos conquistadores”194.Segundo o padre jesuíta Antonil em Cultura e Opulência do Brasil, “do sertãode dentro as boiadas vão quase todas para a Bahia, por lhes ficar melhor caminho pelasJacobinas, por onde passam e descansam”195. A abundância de água em rios e fontes, afertilidade das planícies e a vegetação rala faziam do Sertão das Jacobinas um lugarpropício para a expansão da pecuária e a instalação de fazendas, posto que oestabelecimento dos currais dependia da disponibilidade de pastos e outros recursosnaturais196.Conforme o jesuíta Antonil,e porque as fazendas e os currais do gado se situam aonde há largueza de campo, eágua sempre manante de rios ou lagoas, por isso os currais da parte da Bahia estãopostos na borda do rio de São Francisco, na do rio das Velhas, na do rio das Rãs, na dorio Verde, na do rio Paramirim, na do rio Jacuipe, na do rio Ipojuca, na do rioInhambupe, na do rio Itapicuru, na do rio Real, na do rio Vasabarris, na do rio Sergipe ede outros rios, em os quais, por informação tomada de vários, que correram este sertão,estão atualmente mais de quinhentos currais, e, só na borda aquém do rio de SãoFrancisco, cento e seis197.O trabalho nas fazendas de gado do sertão, na formação da chamada civilizaçãoda pecuária era realizado por mão-de-obra livre, mas também por braço escravo deorigem africana e indígena escravizada ou administrada 198. Adquirida a terra para umafazenda, o trabalho inicial era o de acostumar o gado ao novo pasto. Como dirigentedesse estabelecimento, ao vaqueiro cabia amansar e ferrar os bezerros, curar asbicheiras, queimar os campos, extinguir os predadores, conhecer as malhadas escolhidaspelo gado para ruminar e abrir cacimbas e bebedouros199. Este trabalho baseava-se emum sistema de paga que, depois de quatro ou cinco anos de serviço, remunerava ovaqueiro com um quarto das crias de gado. Segundo os clássicos Capistrano de Abreu e [Página 69]

O capitão-mor Estevão Ribeiro Baião Parente e o sargento-mor Brás Rodrigues de Arzão com suas tropas viajaram por mar em duas embarcações que haviam sido enviadas a Santos para transportá-los. Como viajaram em embarcações diferentes e devido a algumas dificuldades, em 20 de junho de 1671, chegaram à Bahia apenas Brás Rodrigues de Arzão e sua gente.

Diante da pouca esperança que havia de o Capitão-mor Estevão R. B. Parente poder chegar a este porto a respeito do muito que havia tardado [e por ter perdido o pouco tempo] que havia para fazer a entrada da Conquista dos Bárbaros a que são sempre necessárias as aguas de que o Sertão carece em muitas partes”, [o visconde de Barbacena resolveu] “nomear por Capitão-mor da dita conquista ao dito Sargento-maior Braz Rodrigues de Arzão531.

Em 20 de julho de 1671, visando aumentar as tropas para a expedição, foram emitidas ordens de recrutamento para as Aldeias da Itapororocas, que estão nas terras de João Peixoto Viegas de que são principaes [os capitães Motto, Heterê, Cayacaya e Puveyo], todos Payayases, dos quaes uns assistem naquellas fazendas”, devendo contribuir com “quarenta Soldados ao menos, bem armados de frecharia.” Também “as Aldeias da administração do Capitãomor Gaspar Roiz, [deveriam contribuir] com trinta homens e seu principal DuarteLopes, também armados de frecharia, [sob ameaças de em caso de deserção serem, juntamente com suas mulheres e filhos, perseguidos e escravizados pelos paulistas como traidores]532.

Foi visto no primeiro capítulo os custos que o mestre de campo Antonio Guedes de Brito teve que arcar para manter as “relações de compadre” com um grupo Payayá sob sua administração, reduzindo-os em suas terras a partir do “resgate” (presente) de 500 cabeças de gado que foram mortas e comidas pelos índios.

João Peixoto Viegas, também destacando as vantagens de ser aliado dos Payayá, afirmava que ele havia descido um grupo (em 1666) para as suas terras e fazendas de Itapororocas e Jacuipe, formando uma fronteira em defesa dessas propriedades e da freguesia de Cachoeira que eram atacadas constantemente pelo “gentio bravo que descia [*Conquista e Resistência dos Payayá no Sertão das Jacobinas: Tapuias, Tupi, colonos e missionários (1651-1706), 2011. Solon Natalício Araújo dos Santos. Página 171]

Até mesmo o mestre de campo Antônio Guedes de Brito desceu, à sua custa, de suasfazendas de gado no Sertão das Jacobinas, gente branca e uma companhia de 70 “índiosmansos”545.

Por carta patente de 28 de maio de 1672, o Visconde de Barbacena nomeou oajudante Manuel de Hinojosa capitão dos Payayá e “tapuias”, pois os “Principaes dosPayayazes da Administração do Capitão-Mor Gaspar Rodrigues Adorno, que ora vão áconquista do Gentio Barbaro, com o Governador Estevão Ribeiro Bayão Parente”, orepresentaram e pediram que lhes dessem “um cabo que particularmente os governasse,e procurasse tudo que conviesse a sua conservação”. Hinojosa já havia servido àCoroaem Pernambuco e Angola como soldado, alferes, e ajudante da Conquista.Provavelmente a preferência dos Payayá e outros “tapuias” por Manuel de Hinojosacomo capitão em detrimento de Gaspar Dias Adorno, talvez decorresse do fato daqueletambém ser índio, embora tivesse vindo da Capitania de São Vicente, ou de terem secansado dos abusos e desmandos dos Adornos546.

Pesquisando as causas e motivos das divergências entre os índios “mansos”(com os seus respectivos administradores), o visconde de Barbacena mandou-lhes farda,ferramentas e outras coisas para satisfazê-los. Esta política adotada pelo governadorgeral é atestada pela portaria que determinava ao Provedor-mor distribuir entre os índiosPayayá, sob o intermédio do Capitão-mor Thomé Dias Lassos, as seguintes coisas:tres fardos de panno de linho e tres peças mais que fazem vinte e tres peças mais comduzentas e sessenta e seis varas, a estopa dos fardos 518 mochilas de panno de linho,616 facas flamengas em dois saccos, cincoenta foices de roçar, cincoenta enxadas, 200machados, 100 facões, 495 pentes em seu sacco , 4000 anzoes 2.000 pregueiros, e 2.000meio pregueiros em sua mochila547.Nesta segunda entrada, os paulistas seguiram a mesma “derrota” (roteiro,caminho) da primeira, buscando os índios Tapurucas nas Piranhas e no Orobó que lhesserviam de norte548. Do Orobó, marcharam cinqüenta léguas pelo sul, por meio dedespenhadeiros e com falta de água. Dois meses depois, em 2 de julho de 1672, [*Conquista e Resistência dos Payayá no Sertão das Jacobinas: Tapuias, Tupi, colonos e missionários (1651-1706), 2011. Solon Natalício Araújo dos Santos. Página 176]

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