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“Peregrinação pela Província de S. Paulo: 1860-1861”. Augusto Emílio Zaluar (1825-1882)
186207/04/2024 19:04:34

Peregrinação pela Província de S. Paulo: 1860-1861
Data: 01/01/1862
Créditos: Augusto Emílio Zaluar (1825-1882)
Página 187

Percorri quase de um extremo a outro o que ha de mais curioso na nossa bela, grande e heróica província de São Paulo. Apreciei os homens, observei os costumes, e admirei sobretudo a opulência e o vigor da natureza americana.

Julgamos a propósito repetir aqui o que a respeito do rio Tietê escreve Manoel Ayres do Cazal, pois nos parece que será de justificável interesse para o leitor:

"O rio Tietê, em outro tempo Anhemby, nome que lhe deu uma tribo nativa, tem sua nascença obra de 20 léguas a leste da cidade de São Paulo, da qual passa não muito arredado; e obra de 4 milhas abaixo recolhe pela margem esquerda o rio dos Pinheiros, que vem do sueste com 6 léguas de curso. Depois de 13 recebe pela direita o Jundiahy, que passa pela vila de seu nome. Junto desta confluência, forma o rio Tietê uma grande catapulta, que impede a subida dos peixes, e 15 léguas adiante se lhe junta o Capibary por uma boca de seis braças de largura, depois de ter atravessado um extenso bosque de majestoso arvoredo. 2 léguas abaixo deságua na margem esquerda, com 8 ou 9 braças de largura, o rio Sorocaba, que nasce na serra do Cubatão e passa pela vila que lhe toma o nome." [Página 187]

De São Paulo a Sorocaba são dezoito léguas de caminho por uma estrada regular. O que encontra-se mais importante durante este trajeto é a bonita vila de Santa Bárbara, bastante povoada e importante, onde nos demoramos porém tão pouco tempo que nos não pudemos aproveitar da boa vontade com que um de seus habitantes estava disposto a fornecer-nos as informações que necessitávamos. Mais tarde sem dúvida diremos algumas palavras acerca desta povoação.

Esta jornada foi feita na companhia de alguns conhecidos e amigos, o que muito concorreu, como é de supor, para amenisar a proverbial monitonia destas digressões pelo interior, onde se passa muitas vezes horas e horas que se não encontra um só vivente.

Nas proximidades de Sorocaba começamos a encontrar algumas pequenas tropas que se dirigiam á feira, e a estrada tornou-se por consequência menos deserta. Estes primeiros indícios de movimento despertaram-nos a curiosidade, e assim chegamos a Sorocaba com dois dias de viagem.

Permitam os leitores que, em lugar de lhes fazermos a descrição desta agradável e pitoresca cidade, transcrevemos aqui um trecho de uma obra inédita do distinto professor Francisco Luiz d´Abreu Medeiros, residente atualmente em Sorocaba, e que teve a delicadeza de nos autorizar a publicar estes traços descritivos, animados por um certo toque de cor local, e de uma fidelidade digna de maior apreço:

"O viajor que se dirije a Sorocaba pelas estradas de São Paulo ou de Itú, distante uma légua mais ou menos, descobre toda a cidade em um majestade e sublime quadro, como se ela houvera surgido do fundo de um imenso vale por se colocar no mais alto da colina; espraia seus olhos em derredor, e vê extensos campos, crescidas árvores e serra verdejantes, e lá, ao longe, o elevado monte de Arassoiava, que parece tocar o céu.

Esta linda cidade, cujas habitações alvejão meio da verdura dos prados que a circundam, está situada a dezoito léguas de São Paulo, capital da província, sobre as margens do rio que lhe deu o nome.

Sim, o Sorocaba, depois de se precipitar em massa do alto do soberbo Tupararanga, na serra de São Francisco, rola por sobre pequenas catadupas até despenhar-se do célebre Votorantun. e então, deslizando mansamente por espaço de três quartos de légua, vem cortar a cidade, deixando á sua esquerda a parte maior e mais importante, que, elevando-se gradualmente, se vai estendendo pela estrado do sul, e á direita a menor, mas em uma posição muito aprazível. Esta parte consta de poucas ruas, sendo uma delas bastante larga e extensa, e toda orlada de casas mais ou menos de uma só altura; por isso forma um bonito passeio e uma entrada magnífica. [Páginas 257, 258 e 259]

Não é nosso fim tecer aqui iméritos elogios e ocupar-nos de fabulosas descrições. Sorocaba é uma povoação importante, e não é de agora que ela aparece.

O Ensaio d´um quadro estatístico da província, impresso em 1839, diz:

"Esta povoação foi fundada em 1670, e depois ereta em vila. É considerável e florescente, tanto por ser o lugar onde se trata de negociações dos animais cavalares, muares e vacum, que se conduzem das partes do sul, e onde se cobram os direitos de passagem, como também por estar perto da mesma a fábrica de ferro edificada nas fraldas do monte d´Arassoiava."

E nós acrescentamos que ela foi elevada á categoria de cidade pela lei no. 5 de 5 de fevereiro de 1842,, e que há muito já brilha seu nome na lista das melhores cidades de São Paulo, não só pela sua excelente situação, delicioso clima, bonitas ruas todas calçadas, e elegantes edifícios, como também pelo seu imenso comércio.

É ai onde anualmente se vê, desde abril até junho, grande afluência de negociantes de todo o gênero e de longes províncias, e bem assim várias outras pessoas, que, sem outro fim mais que recrear-se, aproveitam a ocasião da feira, em que a cidade de Sorocaba oferece maior número de divertimentos e variedades, sem que todavia seja perturbada a tranquilidade pública ou individual; o que é para admirar, á vista do concurso de povo dentro e fóra da cidade.

Sorocaba é realmente uma das mais agradáveis cidades do interior de São Paulo. A sua população, já bastante avultada, pois deve orçar hoje entre 23 e 24.000 almas, é animada, ativa, laboriosa e cultiva por este motivo muitos gêneros de industrias.

Antes de entrarmos na apreciação do desenvolvimento e material desta povoação, seja-nos permitido acrescentar alguns esclarecimentos acerca de suas importantes datas históricas, esclarecimentos que nos foram ministrados de um livro de Registo que existe no arquivo da câmara de Sorocaba, mas que todavia está em contradição com o ano da fundação que a este povoado assinala o citado autor do Ensaio de um quadro estatístico da província:

A cidade de Sorocaba (segunda reza o manuscrito a que aludimos) foi fundada,e levantado pelourinho, nela por despacho de D. Francisco de Souza, governador que etnão era, no ano de 1654, no bairro de Itevovu, distante meia légua da atual cidade. Depois de pequenas edificações naquele lugar, fez o capitão Balthazar Fernandes uma petição ao então governador Salvador Corrêa de Sá e Benevides para a mudança da vila para o lugar hoje cidade, e foi passada a provisão em 3 de março de 1661, sendo ouvidor desta comarca Antonio Lopes de Medeiros.

No mesmo dia o mesmo governador nomeou juízes e vereadores da nova câmara.



"No mesmo ano de 1654, o mesmo Balthazar Fernandes edificou uma igreja, sendo hoje o Mosteiro de São Bento, e, senhor de uma grande sesmaria, por escritura pública doou a igreja e terrenos, em 21 de abril de 1661, aos religiosos Beneditinos da vila de Parnaíba, conservando-se como matriz em quanto o povo não fazia outra igreja para isso.

Em 1665 começou a câmara a extorquis terrenos de São Bento para a povoação da vila, e em 1667 concedeu a primeira carta de data a Manoel Fernandes de Abreu, filho de Balthazar Fernandes, em 4 de junho de 1667.

D´estes tempos começou uma renhida contenda entre a câmara e os religiosos, que durou de 1665 até a 2 de julho de 1728, dia em que se assinou termo de composição, durante 63 anos a contenda.

Em 1747, por um recenseamento feito, tinha Sorocaba quatrocentas e vinte e cinco casas habitadas, entre brancos e nativos civilizados.

Em 1772 começou a obra da matriz atual, tendo sido demolida outra no mesmo lugar d´esta. Em 11 de janeiro de 1783 foi assinada a provisão de benzer-se a matriz. [Páginas 260, 261, 262 e 263]

Esta linda cidade, cujas habitações alvejam no meio da verdura dos prados que a circundam, está situada a 18 léguas de São Paulo, capital da província, sobre as margens do rio que lhe deu o nome. Sim, o Sorocaba, depois de se precipitar em massa do alto do soberbo Tupararanga, na serra de São Francisco, rola por sobre pequenas catapultas até despenhar-se do célebre Votorantun, e então, deslizando mansamente por espaço de 3/4 de légua, vem cortar a cidade.. [Página 259].

A cidade de Sorocaba foi fundada, e levantado pelourinho, nela por despacho de D. Francisco de Souza, governador que então era, no ano de 1654, no bairro de Itevovu, distante meia légua da atual cidade. [Página 261] [Peregrinação pela Província de S. Paulo (1860-1861), 1862. Páginas 262 e 263]

Outro facto não menos digno de attender-seem Sorocaba é o estado de sua instrucçâo publica. Ha nesta cidade cinco escolas de primeiras le- tras, três do sexo masculino e duas do feminino;três publicas e duas particulares ; frequentadas as do sexo masculino por cento e noventa e dousalumnos , e as do feminino por cento e treze. Além destas, ha uma aula de latim e francez comvinte e sete alumnos, que aprendem simultaneamente as duas línguas. [Página 271]

Sorocaba parece ter sido fadada para um centro ainda mais prospero e feliz, se não fosse o fatal destino que persegue o desenvolvimento da maior parte das povoações do interior!

O que seria, de feito, este ponto, se a fabrica de ferro de Hypanema, convenientemente montada, e aproveitados pela industria os preciosos productos de suas minas de ferro, chamasse ainda uma nova concurrencia a este lugar, e pedisse o auxilio do trabalho a tantos braços que ha no paiz inutilmente desaproveitados?

A fabrica de Hypanema está , porém, extincta!De tantos capitães ahi devorados, de tanto es- forço consvmiido, de tantas esperanças mallogradas, o viandante apenas encontra hoje um montãode ruinas, que, ao contempla-las, causam dó e oprimem o coração! A impotência das administrações timidas e descuidosas tem constantementeinutilisado e continua ainda a inutilisar as melhores e as mais ricas fontes de nossa riquezapublica 1 Fomos visitara fai)rica de ferro de S. João deHypanema. I^ca três léguas distante da cidade deSorocaba, por um caminho quasi todo plano e no centro de agratlaveis planicies. Kstá toda desmontada e (juasi deserta.Knconlrámos por Ioda a |)arte, cm lugar da oicliestiíi aiiimacloni do trabalho, o silencio se- pulcral da esterilidade.

E no entanto como tudo que ainda ai existe é grandioso e belo! Os dois fornos altos, os encanamentos de água por toda a fabrica, obra de muita dificuldade e arte, o forno de porcelana, o hospital, as sanzalas, a botica, a cadeia, a excelente casa da directoria, o deposito, ser- vindo actualmente de escriptorio, e finalmente acasa das machinas, onde fomos advertidos, de dia,que andássemos com cuidado por causa das cas- cavéis que se aninhào entre os tijolos cjuebradosdo assoalho, tudo está em abandono, em tristezae solidão!

Estas linhas, que lançamos tão rápida e ligeiramente, não nos permittem estudar coovenientemente assumptos que por sua natureza e importância requerem mais largo desenvolvimento; mascomo esperamos tratar ainda mais de espaço de al- guns delles, tencionamos faze-lo minuciosamenteacerca desta fabrica, expondo o plano que assistio á sua formação , e analysando as causas de sua decadência e quaes são os meios que nos parecemainda possíveis de aproveita-la e dar-lhe impulso.Compunge realmente o estado de quasi aniquilamento a que chegou este importante edifício! e quanto mais se nos lembrarmos que o primeiro
[Páginas 272 e 273]
*“Peregrinação pela Província de S. Paulo: 1860-1861”. Augusto Emílio Zaluar (1825-1882)

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