Quem não conhece "Vovó do Pito", a preta centenária de São Paulo? Ela anda por aí, a pedir pelas nossas ruas, a manter relações de amizade com os poderosos do dia, de que muito se gaba, e a comentar, na sua linguagem pitoresca, fatos da fúteis da vida cotidiana.
Quando completa anos, sabendo que é muito importante esse acontecimento, vai ás redações dos jornais, pede a publicação da notícia com a respectiva fotografia e também a esmola pela pena de viver muito.
Ainda ha pouco "Vovó do Pito" completou 109 anos. Quem vive tanto assim tem visto muita coisa e, sabendo conta, naturalmente é interessante.
"Vovó do Pito" ha muitos anos vive, de favor, nos fundos da "Padaria Central", á Avenida São João. A padaria tem mudado de dono e a preta nela vai ficando, pois entra no inventário todas ás vezes que o estabelecimento comercial passa a outras mãos.
Como não faz mal a ninguém e é sossegada, em breve o novo proprietário toma-lhe amizade. Assim, cercada de consideração dos grandes e da amizade das crianças em torno, vive "Vovó do Pito", serenamente, a lembrar coisas do seu passado longínquo.
Pelo Natal fomos levar-lhe as boas festas e saber das coisas que ela viu, dos Natais bonitos que antigamente passou.
São Paulo de outro tempo
"Nero", o cachorro que ela cria com muito carinho, e que lhe obedece os mínimos desejos, dormitava ao lado. "Vovó do Pito" que acabava de saborear um pirão de leite muito ralo, sua alimentação preferida, dispôs-se a falar.
Nasceu em Sorocaba, na senzala. Mas, de lá, muito cedo, transportou-se para esta capital. Conta de São Paulo então. Era tão bom...
(...) A sua exposição, embora lúcida, é feita aos ímpetos. Corta a conversa; depois de narrar um episódio antigo volta a falar da época atual. Constantemente diz de episódios guerreiros, revoluções longínquas, guerras...
Quando da campanha do Paraguai, para ali foi mandado o seu marido, que não mais voltou. Teve muita pena de não assistir á revolução de 1924, chefiada pelo general Isidoro. "Vovó do Pito´ tinha ido a Sorocaba, onde ainda vivem dois seus irmãos, um com 100 anos de idade e outro que completará 116 em março vindouro. Mas é revolucionaria.