capitania, os Schetz possuíam nos jesuítas, estabelecidos também no litoral vicentino,importantes aliados desde meados do século XVI, inclusive José de Anchieta. Por outro lado,as autoridades locais, incluso o longevo capitão-mor Jerônimo Leitão e seus herdeiros,apropriavam-se gradativamente das propriedades fundiárias do engenho (Stols, Cordeiro,2014). Não se sabe o resultado dos pleitos, mas o engenho seria destruído pelo compatriotade Vandale, Joris von Spielbergen, em 1615, ao longo de sua viagem que assombrou a costachilena, peruana e mexicana. Segundo Meurs, “não é conhecida a decisão final da justiça,mas ao que parece os Schetz abriram mão da propriedade” (2006, s.p.).Quanto a Vandale, Kellenbenz (1968) o localiza dois anos depois, em Antuérpia. Estehistoriador transcreve uma procuração de uma viúva, Anna van Pelquen, feita em cartóriode Antuérpia, de novembro de 1614, na qual Vandale apareceu como testemunha. Nestedocumento, a viúva delegava a um tal Pedro Tacq (Taques), morador em São Paulo, nacapitania de São Vicente, que cobrasse uma dívida de uma negra da Guiné e seus filhos, queseria de direito sua herança, de outro morador da capitania, o alemão Geraldo Bethinque(Kellenbenz, 1968, p. 297). Este Taques era o mesmo que ficara responsável por cobrar umasletras de câmbio em Pernambuco no inventário de Vandale. Pedro Taques descendia dotronco da família flamenga Tacq que, vindo de Brabante, Flandres, se estabelecera emPortugal no início do século XVI. Pedro veio ao Brasil acompanhando o governador-geral,Francisco de Souza, em 1591, e dele foi seu secretário de Estado. Taques acompanhou ogovernador na sua descida a São Paulo em 1598-1599 para averiguar as riquezas minerais eali permaneceu, casando-se com uma integrante da elite local. Foi juiz de órfãos na vila,proprietário de fazenda, e faleceu em 1644 (Leme, 1905, p. 222-223).O documento permite inferir que orbitava em torno do governador Francisco de Souza,uma série de personagens flamengos e alemães, com relações entre si, como Taques,Bethinque e Arzam, assim como o próprio Vandale, que vivera na Bahia durante o governogeral de Souza. De todo modo, Vandale deve ter ficado com a procuração para trazer aoBrasil, objetivando ir à capitania de São Vicente. Em 1615, o mesmo Kellenbenz (1968) indicaa presença de Manoel em Lisboa. O certo é que ele estará na Bahia em 1624, quando datomada holandesa da cidade de Salvador. As acusações de cumplicidade com os invasoresdevem ter lhe rendido alguns dissabores iniciais, obrigando-o a deslocar-se para São Paulo,vila acantonada para além da Serra do Mar, situada na capitania que ele já conhecia.Ademais, encontraria na vila alguns personagens e compatriotas com os quais seguramentetravara contato, como Pedro Taques, Geraldo Bethinque e Cornélio de Arzam, este últimobem estabelecido na vila. Em São Paulo, Vandale terminaria seus dias e seu périplo pelosespaços da Monarquia, nos quais circulou como estrangeiro, morador, estante e pleiteanteà naturalidade. [O morador, o estante e o proibido: flamengos em São Paulo no contexto da Monarquia Hispânica (1580-1640), 2021. José Carlos Vilardaga. Página 9 do pdf]