' Um mapa da América portuguesa e outros para a Capitania de Minas Geraes produzidos na Vila Rica dos anos 1760, Antônio Gilberto Costa. VIII Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica Porto, Baião, Chaves - 28 a 31 de Outubro de 2019* - 01/10/2019 de ( registros) Wildcard SSL Certificates
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Um mapa da América portuguesa e outros para a Capitania de Minas Geraes produzidos na Vila Rica dos anos 1760, Antônio Gilberto Costa. VIII Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica Porto, Baião, Chaves - 28 a 31 de Outubro de 2019
outubro de 2019. Há 5 anos
Resumo:Na busca por entendimentos sobre as fronteiras entre as capitanias de Minas Gerais e São Paulo e informações acerca de políticas oficiais visando as suas delimitações, foi possível constatar uma ativa produção de mapas na Vila Rica dos anos 1760. Desseconjunto pesquisado destaca-se um cujo território representado em muito extrapola as divisas e os interesses de Minas. De modogeral, essa produção deu-se em função da determinação de Luís Diogo Lobo da Silva, 4º Governador e Capitão-General da Capitania de Minas Gerais, que tinha essas delimitações com um dos principais objetivos do seu governo, mas não só. A partir de1763, e até o final da sua administração, em 1768, Luís Diogo defendeu as divisas de Minas, determinando que as demarcações eoutras informações disponíveis sobre a capitania fossem lançadas em documentos cartográficos como a CARTA GEOGRAPHICAque compreheende toda a Comarca do Rio das Mortes, Villa Rica, e parte da cidade de Mariana do Governo de Minas Geraes e aCarta Geographica da Capitania de Minas Geraes e Partes Confinantes, Anno de 1767. Certamente visando outros interesses,que não só os da capitania sob a sua responsabilidade determinou a produção de um documento representando praticamentetodo o território português na América e intitulado:CARTA GEOGRAPHICA da AMERICA MERIDIONAL Dividida em sete principaes partes (...), apresentada em 1768. Outro documento, como a CARTA GEOGRAFICA do Termo de Villa Rica, em q’ se mostraque os Arrayaes das Catas Altas da Noroega, Itaberava, e Carijós lhe ficão mais perto, q ao da Villa de S. José a q pertencem, eigualmente o de S. Antonio do Rio das Pedras, q toca ao do Sabará, (...), produzido em período imediatamente anterior ao inícioda administração de Luís Diogo, integra esse conjunto de documentos. [Página 1 do pdf]

Com certeza o pedido do Conde da Cunha foi atendido, pois sabe-se que sob as suas ordens foi produzido um mapapara a Capitania do Rio de Janeiro por volta de 1767. O mapa foi feito pelo Sargento-Mor Manoel Vieira Leão em formato de folhas, que em 1797 constituíram a base para a produção da Carta Geographica da Capitania do Rio de Janeiro.Por conta do conteúdo dessas correspondências e em especial daquela de outubro de 1765 fica-se com a informação sobre a existência de duas cartas envolvendo território mineiro e certamente a região da Comarca do Rio das Mortes, massobretudo com a certeza de que uma delas foi produzida em Vila Rica e outra no Rio de Janeiro. Assim como já sugerido,pode-se supor que um destes dois mapas, semelhantes entre si, foi preparatório para a produção de um outro, abrangendotoda a capitania de Minas e datado de 1767, e que, há esse tempo, já estaria em fase de produção na capital das Minas.Sobre a existência dessas duas cartas, em princípio entendidas como sendo para a Comarca do Rio das Mortes, aindaque não se tenham informações sobre os originais, mas apenas sobre suas cópias, sabe-se que elas se encontravam soba guarda do antigo Arquivo Militar. Comparando a cópia fotográfica apresentada na publicação oficial de Documentos Interessantes para a História e Costumes de S. Paulo, vol. XI, com a cópia de 1827, da Mapoteca do Itamaraty, constata-se que as duas apresentam diferenças com relação a disposição de inúmeros topônimos, o que poderia indicar serem estas as cópias das duas originais mencionadas pelo Conde da Cunha e com as suas respectivas diferenças de origem.

A CARTA GEOGRAFICA do Termo de Villa Rica

O documento em questão traz a representação apenas da parte central do território mineiro e certamente foi produzido em data anterior a 1767. Fazendo parte dos acervos do Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, a CARTA GEOGRAFICA do Termo de Villa Rica, em q’ se mostra que os Arrayaes das Catas Altas da Noroega, Itaberava, e Carijós lhe ficão mais perto, q ao da Villa de S. José a q pertencem, e igualmente o de S. Antonio do Rio das Pedras, q toca ao do Sabará, o q se mostra, pela Escala, ou Petipe de léguas (Fig. 02), pode ser considerada como um outro documento que reforça a produção de mapas em Vila Rica e que foi importante para a produção de outros documentos nos anos de 1760. O pedido para sua produção teria acontecido por volta de 1758.

Sobre essa carta Lima Júnior (1969, p. 29) menciona a existência de um ofício do Governador de Minas Luiz DiogoLobo da Silva, datado de 25 de agosto de 1766, que declara “juntar uma planta mandada levantar há tempos, pelaCâmara de Vila Rica”, tratando de transferências de jurisdições de diversas localidades. Sobre a autoria desse documento cartográfico o mesmo Lima Júnior (1969, p. 29) também menciona informação repassada por Xavier da Veiga e registrada por este nas Efemérides Mineiras, relacionando Cláudio Manoel da Costa com a produção da carta. No caso, Xavier da Veiga informa sobre um testemunho de Cláudio Manoel da Costa confirmando ter recebido a quantia de meia libra em ouro por sua produção. Nomeado secretário do Governador Luis Diogo Lôbo da Silva, Cláudio Manoel, competente reorganizador da administração da Capitania de Minas, permaneceu até o governo de Dom Rodrigo de Menezes.

Ainda que certamente produzida em data anterior ao governo de Luiz Diogo Lobo da Silva e que existam questionamen- [Um mapa da América portuguesa e outros para a Capitania de Minas Geraes produzidos na Vila Rica dos anos 1760, Antônio Gilberto Costa. VIII Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica Porto, Baião, Chaves - 28 a 31 de Outubro de 2019. Página 5 do pdf]

da a Minas e gostaria de encontrar alguém que o pudesse produzir, ou “por em limpo” um documento cartográfico, apartir de rascunhos ou de estudos preliminares feitos pelo mesmo.Ainda sobre esse“mappageográfico” de Luiz Diogo,Orvilly Derby (1897, p. 83, 223 e 288) comenta ser este um mapapara a capitania de Minas organizado em 1767 e cujo original estaria guardado no extinto Archivo Militardo Rio deJaneiro.Importante destacar que a produção dessa carta ou mapa geográfico, em período anterior a 1767, foi garantida pelapublicação de um Aviso Régio de 25/03/1765, que confirmava os “(...) actos de jurisdição no território de que tomouposse [o governador Luiz Diogo Lobo da Silva] no seu celebre “giro” [viagem do citado governador, que em 1764 iniciou visita às áreas de fronteira com São Paulo, a partir de São João Del Rey]”. Assim sendo, se entende que a cartaque registrou o giro do governador de Minas e não outra foi utilizada como base para essa carta de 1767 e representando aproximadamente a quarta parte desta.Não questionando os limites propostos ou estabelecidos pelo governador mineiro e não questionando bandos publicados a mando de Luiz Diogo Lobo da Silva, que ameaçavam com penas severas as violações das fronteiras, o governoem Lisboa não só aprovou todos os atos e providências do governador (VASCONCELLOS, 1911, p. 113 e 114) comodeu o seu reconhecimento para a validade de limites antigos e daqueles representados em documentos cartográficosem produção em Minas Gerais, em especial na Carta de 1767.A última correspondência entre Luiz Diogo e Luiz António tratando de limites entre Minas e São Paulo data de 31 dejulho de 1767. Houve uma correspondência em 25 de fevereiro de 1768, mas não foram tratadas questões relacionadas com limites e assim como na anterior nenhuma menção foi feita a qualquer mapa ou carta. O governador de Minas deixou o cargo em 16 de julho de 1768, substituído pelo Conde de Valadares, mas, há essa época, a sua CartaGeographica certamente já estava pronta.

A CARTA GEOGRAPHICA da AMERICA MERIDIONAL, em 1768

Durante a pesquisa sobre documentos cartográficos produzidos em Vila Rica nos anos 1760, tomou-se contato com um documento até então praticamente desconhecido e sem nenhuma referência ou publicação nos últimos cem anos. Fazendo parte do acervo da Mapoteca do Itamaraty, o documento em questão tem a seguinte identificação:

CARTAGEOGRAPHICA da AMERICA MERIDIONAL Dividida em sete principaes partes, subdividas em outras, que no Brazil se denominaõ Capitanias e estas repartidas em outras muitas com o título de Comarcas ou Ouvedorias E Huã pequena parte da America Septentrional (...)mandou delinear e colorir Luiz Diogo Lobo da Sylva, Govor e Capam Gnal da Capnia de Minas Geraes (...).

Como parte das informações que constam do mapa, sabe-se que este foi produzido a partir de muitos outros documentos cartográficos e de várias partes, que foi produzido em Vila Rica, que o seu autor foi António Martins da Silveira Peixoto e o ano era o de 1768.

O documento em questão (Fig. 04)revestiu-se de especial importância no âmbito da pesquisa, pois entende-se que a sua existência confirma não só a já mencionada produção cartográfica em Minas de meados do século XVIII, mas sobretudo lança luz sobre evidentes interesses do então governador Luís Diogo Lobo da Silva, que certamente extrapolavam os limites da capitania sob a sua responsabilidade. A partir da análise de sua legenda tem-se uma descrição da América Meridional contendo as seguintes informações:

“divide-se em sete partes principais, o Brasil, Paraguai, Terra de Magalhães, Chile, Reino do Peru, o País das Amazonas e Terra Firme. O Brasil pertencente a S. M F. compreende dezessete capitanias, a saber, oito com governo superior, que são Minas Gerais, Rio de Janeiro, S. Paulo, Goiás, Mato Grosso, Bahia, Pernambuco e Pará.

Com nove subordinadas a aquelas que pertencem conforme as suas divisões, e são S. Vicente, Espírito Santo, Porto Seguro, (...) Ilhéus, Paraíba, Rio Grande, Ceará, Maranhão e a Alagoas. Capital de todas é o Rio de Janeiro onde reside o Vice-Rei.

Todas estas capitanias são férteis, e abundantes de diversos gêneros que produzem cultivando-se, e com que enriquecem seus moradores, além de muitas pedras preciosas, e especialmente diamantes de que abunda a Comarca do Serro do Frio na Capitania de Minas Gerais, com o que se faz mais (...) e rica esta Capitania entre as (...), sendo tambémas suas lavras , e minas de ouro as que com mais grandeza tem dado a S M F riquíssimos tesouros no seu 5º; - Paraguai, cujo país fortifica o Rio da Prata se acha hoje quase todo nos domínios do Rei de Castela estendendo-se as suaspovoações por todo o terreno de ambas as partes do mesmo Rio, onde (...) muitas Missões e Aldeias de Gentios Agregados. Por este rio parece natural fazer-se a divisão do s domínios de Portugal e Castela por ser a sua direção pelomeio da América, e de Norte a Sul, porem como os castelhanos se introduzirão com Missões, agregando o Gentio, epovoando grande parte do terreno do Nascente, que lhes não pertencia pela primeira divisão da linha imaginaria determinada também de Norte a Sul no tempo de seu descobrimento, ficarão quase de (...), e foi feita a divisão no presenteséculo por onde se representa nesta Carta. Todo este continente é fertilíssimo de mantimentos, que a terra cultivadaproduz (...)mente. A sua maior riqueza consiste nas muitas minas de prata, q com abundancia se extrai das suas montanhas, e de que se alimenta a foria do comércio, pela boca do rio da prata, donde lhe vem o nome; - A terra de Magalhães, que de todas é a mais Meridional também pertence ao Rei de Castela, é pouco cultivada em razão da sua esterilidade, e muito frio, principalmente na parte mais vizinha ao Polo; - Chile, o Reino do Peru, uma grande parte do País das Amazonas e a Terra Firme, pertencem aos domínios de Castela são terras abundantes e férteis de frutos; - E como se não adquiriu mais exatas notícias destes países se não apresão aqui suas qualidades”.

A partir da pesquisa envolvendo esta carta e a extensão do território representado, passou-se a trabalhar com a hipótese de que esta não só reforçava as pretensões do então governador mineiro, mas poderia representar o auge para a produção de documentos cartográficos a partir da Capitania de Minas e envolvendo todo o território da América portuguesa.

Considerando o período em que o mesmo foi produzido, ou seja logo em seguida à anulação do Tratado de Madrid, ocorrida em 12 de fevereiro de 1761, confirmada pela assinatura do Tratado de El Pardo, e anterior à assinatura do Tratado Preliminar de Limites de Santo Ildefonso de 1777 e com termos definitivos assinados em 1778, em El Pardo, fica reforçada essa hipótese sobre eventuais pretensões de Luís Diogo Lobo da Silva em alcançar posições mais proeminentes junto à administração colonial portuguesa [Um mapa da América portuguesa e outros para a Capitania de Minas Geraes produzidos na Vila Rica dos anos 1760, Antônio Gilberto Costa. VIII Simpósio Luso-Brasileiro de Cartografia Histórica Porto, Baião, Chaves - 28 a 31 de Outubro de 2019. Páginas 10 e 11]Antônio Gilberto CostaCentro de Referência em Cartografia Histórica UFMGag.costa@uol.com.br

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