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Tietê ontem e hoje: preservação ou mudança toponímica e a legislação do ato de nomear. Uma proposta de Lei, 2008. Ideli Raimundo di Tizzio, Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
200806/04/2024 03:57:50

geográficas, tão raras como curiosas, as quais se podem ver no fim desta, de Luizdos Santos Vilhena (1751);. Dissertação sobre a Capitania de São Paulo, sua decadência e modo derestabelecê-la, de Marcelino Pereira Cleto (1782);. Divertimento admirável – para os historiadores observarem as machinas do mundoreconhecidas nos sertões da navegação das minas de Cuyabá e Matto Grosso, deManoel Cardoso de Abreu (1783);. Jornais das viagens pela Capitania de São Paulo, de Martim Francisco Ribeiro deAndrade (1803-1804).Em Relatos Monçoeiros, Afonso de E. Taunay (1981) reuniu relatos esparsosque existiam de monções que desceram o rio Tietê, desde São Paulo até MatoGrosso do Sul, levando pessoas, animais, carga e alimentos. Essas expediçõesserviam para levar mineiros para as minas em Cuiabá, como também para levarpessoas para ocupar e povoar o sertão desconhecido.

Taunay incluiu o mapa traçado por Dom Luiz de Céspedes Xeria, em sua Relacion de viaje, que data de 1628, o mais antigo conhecido, e transcreveu as anotações realizadas por Xeria. Encontramos, ainda, 12 relatos conhecidos como “Notícias Práticas” a descrição que cada viajante apresentava dos obstáculos encontrados durante a descida dos rios, principalmente o detalhamento que faziamdos perigos das cachoeiras, corredeiras e saltos encontrados no rio Tietê:

. Relações verdadeiras de derrota e viagem que fez da cidade de São Paulo para asminas de Cuiabá, o Exmo Sr. Rodrigo César de Menezes, Governador e CapitãoGeneral da Capitania de São Paulo e suas minas, descobertas no tempo de seugoverno e nele mesmo estabelecidas (1726);. Das Minas do Cuiabá e Goiases, na Capitania de S. Paulo e Cuiabá, que dá aoVer. Padre Diogo Juares, o Capitão João Antonio Cabral Camello, sobre a viagemque fez às Minas de Cuiabá no ano de 1727;. Roteiro verdadeiro das minas de Cuiabá e de todas suas marchas, cachoeiras,itaipavas, varadouros e descarregadouros de canoas que se navegam para as ditas [Tietê ontem e hoje: preservação ou mudança toponímica e a legislação do ato de nomear. Uma proposta de Lei, 2008. Ideli Raimundo di Tizzio, Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Página 24]

Na região Sudeste, precisamente em São Paulo, a ocupação territorialocorreu ao longo dos principais rios, visando ao seu aproveitamento, entre os quaisdestacamos o rio Tietê. Considerado como “o mais velho dos paulistas” (Nóbrega:1981), exerceu atração sobre os moradores do planalto. Ao contrário de outroscursos d´água, o Tietê se volta para o interior e não corre para o mar, e estascaracterísticas fazem com que suas águas só desemboquem no mar depois depercorrerem 3.500 quilômetros, ao longo dos quais se encontram com o rio Paraná,do qual é afluente, na divisa do Mato Grosso do Sul, e chegam até o rio da Prata.

O Tietê corta o estado de São Paulo de leste a oeste. A sua nascente, na qual o rio é apenas um pequeno olho d´gua, localiza-se na Serra do Mar, numa altitude de 1.030 metros em relação ao nível do mar, a 12 quilômetros para sudeste de Salesópolis e a 22 quilômetros do oceano Atlântico. Ao longo de seu curso, possui diversas represas que abastecem regiões, geram energia e incentivam a navegação fluvial. É o maior rio do planalto paulista, com 1.136 quilômetros de extensão, muito sinuoso, com uma longa série de corredeiras e cachoeiras e um grande número de afluentes.

Em Salesópolis, o rio Tietê é limpo e atração turística da cidade. Em seguida, perto de Mogi das Cruzes, o rio passa a receber diversos resíduos industriais e domésticos, atingindo seu pior grau de poluição ao longo da cidade de São Paulo. Ao sair da capital, com a ajuda de processos naturais como a ação de bactérias que "limpam" a sujeira e acidentes geográficos como quedas d´água, o rio começa a se reabilitar, e a partir da cidade de Barra Bonita, está novamente limpo9.

O nascimento da cidade de São Paulo e a expansão territorial do Brasilcolônia estão diretamente vinculados ao rio Tietê. Pelas suas águas, por seguirempara o interior, os conquistadores sonharam com riquezas e aventuras, levando àinteriorização da colonização e ampliando os limites da América portuguesa para ooeste.Em 1718, devido à descoberta de ouro em Mato Grosso e Goiás, as monçõespartiam da freguesia de Nossa Senhora Mãe dos Homens de Araritaguaba (atual [Página 42]

CAPÍTULO IIÁguas e rios, religião e fé, desde o início da ocupação da terra,consubstanciaram os mitos dos homens.Maria Vicentina de Paula do Amaral DickII.1. As monções e o rio TietêO Tietê, cuja importância já é revelada nos primeiros registros da colonizaçãoportuguesa, foi unanimemente apontado como um fator primordial da interiorizaçãodo Brasil. Cassiano Ricardo enfatizou que o Tietê “era uma seta apontada para osertão, a indicar-lhe o caminho”; Capistrano de Abreu ressaltou a função dos riosSão Francisco e Tietê para a integração nacional; Mello Nóbrega (1981) proclamouque “as águas amarelas e quietas do Tietê despertam sonhos de aventuras eriquezas”; e João Vampré (1934) assinalou que “a história do Tietê é a narrativaáspera e dramática dos esforços feitos para dominar e vencer obstáculosgigantescos que ele levanta diante dos passos do conquistador audaz”.Afonso de E. Taunay (1946) considera o Tietê como o "instrumento máximode penetração do Brasil sul ocidental" e insiste que seu nome está“indescritivelmente ligado à história da constituição territorial do Brasil”. De acordocom Basílio de Magalhães (1944), “de suas margens partiu o movimentoconquistador do todo o Sul, do Centro e do Oeste, ondulando-se, propagando-seseus efeitos por todo o sertão do Norte e do extremo Norte, em ajuda propícia eindispensável à irradiação dos criadores”.

O rio Tietê foi utilizado primeiramente pelos povos indígenas que habitavamsuas margens e, desde a chegada dos portugueses até meados de século XVIII,teve suas águas usadas para transportes de mercadorias, de escravos e paraintegração dos territórios dos sertões. Conforme Adorno (1999, 46),antes mesmo da fundação de São Paulo, o Tietê já era sua alma. Etornou-se também o ponto de partida para a conquista de um territóriomuito maior, graças a uma de suas características mais marcantesobservadas, por exemplo, pelo administrador colonial português MartimAfonso de Sousa. Ele viu no Anhembi dos índios de então “um grande rioque nascendo junto ao mar, a ele dava as costas e caminhava pelocontinente”. [Tietê ontem e hoje: preservação ou mudança toponímica e a legislação do ato de nomear. Uma proposta de Lei, 2008. Ideli Raimundo di Tizzio, Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Página 44]

Acrescenta Adorno (ibidem) que a visão de Martim Afonso diante do rio e aescolha do planalto para a formação da vila jesuítica integram o projeto colonial deexploração da colônia. Foram encontrados nos depoimentos dos primeiros cronistas,assim como nas referências contidas nas cartas jesuítas quinhentistas, referências aum interesse muito particular pela exploração do interior, não se contentandosomente com o litoral (Petrone: 1995, 35-6). São Paulo tornou-se, então, o ponto departida de Entradas e Bandeiras, especialmente a partir da década de 1560, já queas expedições desciam o Tietê ou percorriam as suas margens.A freqüência com que é percorrido justifica a formação de um povoado noVale do Médio Tietê. Trata-se do porto natural de Araritaguaba (atual Porto Feliz),primeiro trecho navegável do rio depois de Salto, que serviu de ponto de partida,especialmente a partir do século XVII, de inúmeros bandeirantes. Os viajantespartiam de Porto Feliz, desciam normalmente o Tietê até a foz, seguiam o curso doatual Paraná, entravam por um de seus afluentes, em geral o Pardo, e depoissubiam o Anhanduí-Guaçu até chegar ao rio Paraguai. De lá alcançavam o SãoLourenço e, finalmente, o Cuiabá.Desde fins do século XV, o Tietê é percorrido por europeus. Jesuítas outilizavam em suas incursões à procura de índios para doutrinar. Quanto aosbandeirantes, seguiam o rio em busca de mão-de-obra escrava, ouro e pedraspreciosas e, por serem desbravadores do sertão, realizavam conquistas territoriais,fundando diversos povoados às margens do rio. Era, ainda, acesso ao interior deespanhóis, enviados a fim de ocuparem as possessões da Coroa de Espanha.Relatos e notícias das aventuras e dos perigos que enfrentaram nestasviagens foram registrados. A primeira expedição pelo Tietê que se tem notícia édescrita por Ruy Diaz de Guzman, em documentação datada do século XVII. RelataGuzman que, em 1526, um certo capitão Jorge Sedeño percorreu o rio até o saltoGuairá (Taunay: 1981, 22).Nas Atas de São Paulo (Prefeitura: 1915, 114), encontramos o relato de umaviagem pelo Tietê em 1602:nicolau bareto capitão que roque bareto capitão que foi desta capta mãdouao sertão mudarão de viagem e se forão pelo rio Anhembi abaixo aondelhes pode soseder mto mal como os matare o proprio gentio. [Tietê ontem e hoje: preservação ou mudança toponímica e a legislação do ato de nomear. Uma proposta de Lei, 2008. Ideli Raimundo di Tizzio, Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Página 45]

Em 1628, Dom Luiz de Céspedes Xeria, nomeado capitão-general doParaguai, fez viagem do Rio de Janeiro até Araritaguaba e, das barrancas deAraritaguaba, desceu o Tietê até a Ciudad Real de Guairá. Desta expedição resultoua Relacion de viaje10, um documento cartográfico anexado à carta enviada a FelipeIV, rei da Espanha.Neste mapa, Xeria delineou os caminhos percorridos, dia-a-dia, até atingir odestino, os locais onde aguardou a construção das canoas e pernoitou ao longo daviagem e o ponto de partida da viagem e o percurso. Mencionou, também, ospreparativos para a empreitada e os componentes da comitiva que o acompanhou.Do traçado do rio Tietê, destacamos a indicação de alguns hidrônimos,provavelmente daqueles que considerou os principais afluentes, e a elaboração deuma lista com aquilo que Xeria chamou de “interpretação” destes nomes.De fato, as possessões de novas terras eram preocupações dos reis deEspanha e de Portugal. O Tratado de Alcáçovas-Toledo, assinado em 1479-80, foi oprimeiro tratado do gênero que regulamentava a posse de terras ainda nãodescobertas. Pelo acordo pertenceriam à Espanha todas as terras encontradas aonorte das Ilhas Canárias, e a Portugal a posse de todas as terras a 370 léguas aoeste de Cabo Verde, limites que incluiriam o litoral do Brasil.

Já o Tratado de Tordesilhas (1493 - 1640) visava à demarcação de terras da América. Cabiam à Coroa de Portugal as terras descobertas, apenas, até a atual cidade de Itu. Apesar dos esforços da Espanha em manter suas posses, o que é comprovado pelo envio de governantes ao Novo Mundo, como o capitão-general Xeria, são os bandeirantes os responsáveis pela ampliação do território brasileiro, penetrando o interior à procura de índios para aprisionar e de jazidas de ouro e diamantes.

O rio serviu como via de penetração ao centro do país muito antes do séculoXVII, mas sua navegação só se aperfeiçoou quando se tornou necessárioestabelecer um sistema regular de comunicações com o interior. A descoberta das [Tietê ontem e hoje: preservação ou mudança toponímica e a legislação do ato de nomear. Uma proposta de Lei, 2008. Ideli Raimundo di Tizzio, Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Página 46]

No início do século XIX, Martim Francisco Ribeiro de Andrada (1775-1844), em sua viagem para estudo dos minerais entre São Paulo e Sorocaba, segue margeando o Tietê eanota impressões do rio:

Desci o Tietê, em cujas margens fica esta vila [Pirapora], com já disse, e aí vi a pequena ilha de Itapeva, que divide o rio em dois braços; desde este lugar principiam cachoeiras transitáveis, rochas imensas, que se estendem até perto do Barueri, e dificultam a navegação; se estes obstáculos forem amiudados de Itu para cá, como me asseguram, não haverá outro remédio senão transportar o ferro de Sorocaba por terra até a mencionada aldeia, e daí embarcá-lo no Tietê, rio dos Pinheiros, Rio-grande, Rio-pequeno, etc. (idem, 151)

Percebemos, portanto, que a navegação pelo Tietê não é excluída; aocontrário, planos são feitos no século XIX e início do XX a fim de melhorar ascondições de navegabilidade. Estes planos serão comprometidos com a construçãode hidrelétricas ao longo do seu curso, que encerram definitivamente seu usoenquanto caminho.II.2. Os nomes dos acidentes geográficos do rio e os hidrônimos

Nos relatos de monçoeiros, verificamos que a maior preocupação era em relação à indicação de perigos e sua localização. A expedição comandada por Juzarte era composta de 36 embarcações e mais de 700 homens, mulheres, jovens e crianças e animais para o povoamento de Iguatemi.

O elevado número de integrantes deve-se ao fato de muitos morrerem antes de chegar ao destino, em decorrência de enfermidades, ataques de índios ou de espanhóis. Nenhum destes problemas, contudo, detém tanto a atenção de Juzarte quanto os acidentes geográficos dos rios.

Só no Tietê, Juzarte faz um relato minucioso de quarenta e seis cachoeiras que encontrou durante a viagem. Nos relatos de monçoeiros, notamos, igualmente, a indicação dos diferentes acidentes geográficos dos rios.

Precisar o acidente, assim como a sua localização, era fundamental para a sua segura transposição. No relato feito pelo Conde Azambuja, em 1751, há uma descrição do Tietê, os tipos de acidentes mais comuns neste rio e como eram conhecidos:

É este primeiro rio a que chamam Tietê o mais cheio de cachoeiras e das piores, é o fundo deste rio quase todo de pedra, sentada por igual, mas com pouco fundo; em algumas partes roçam neles as canoas lhe dão o nome de itaupaba; quando, porém, o fundo é desigual e com pedras espalhadas e em alturas debaixo d´água e as canoas correm risco devirar-se topando nelas lhe chamam sirga, por ser necessário lançarem-se pilotos e remeiros na agua e levarem nas mãos as canoas, para irem desviando devagar sem as deixarem tomar força com a correnteza que alié sempre maior. Se em alguma parte deixam as pedras canal fundo aberto é a que chamam cachoeira que ordinariamente as há onde sirgas, das quais se servem muitas vezes quando nos canais acham grandes dificuldades avencer (Cleto: 1977, 118).

Informa ainda o viajante que o Tietê passou por dois saltos e por 71 cachoeiras e sirgas ao longo do Tietê (idem, 120). Não há identificação de quantas “itaupabas” teriam sido encontradas no caminho. Os termos sirga e itaupaba apresentados pelo Conde de Azambuja são indicados para os locais nos quais as pedras do leito do rio são encontradas próximas a superfície dos rios, o que geraria perigo de virar às canoas.

O significado comum a estes termos é pouco diferente: sirga, possivelmente proveniente do espanhol antigo (sirga = “seda”), diz respeito ao cabo utilizado no reboque de navios;itaupaba, do tupi (i´ta ´pedra´ + -i´pequeno´ + ´paba ´leito, repouso´), corresponde propriamente ao leito do rio pedregoso (Houaiss: 2001).

Notamos, portanto, que, apesar de utilizados em diferentes regiões brasileiras, os termos foram adaptados à realidade dos rios das monções. Este entendimento nos remete a Sapir (1969, 5), quando nos mostra a relação do ambiente físico e social dos falantes:

O ambiente só atua diretamente sobre o indivíduo, e nos casos em queverificamos ser a influência puramente ambiental a responsável por umtraço coletivo, é preciso interpretar esse traço coletivo como a soma deprocessos distintos de influências ambientais sobre os indivíduos.Observemos a seguir os nomes que são atribuídos a estes acidentesgeográficos na documentação consultada.

II.2.1. Anhembi e Tietê: o nome de um rio

Podemos, equivocadamente, imaginar que os elementos geográficos mantêm apenas um nome. O caso do Tietê revela o contrário: aproximadamente de 1730 até 1840, Tietê designava o rio desde a nascente até a cidade de Salto de Itu, e Anhembi, à jusante desta cachoeira até a desembocadura no rio Paraná (Taunay:1981).

Drumond e Nogueira (1982, 59-60) explicam que um mesmo rio recebe nomes variados, de acordo com as regiões que atravessa, por ter suas margens habitadas por diferentes comunidades em diferentes trechos. Assim, um mesmo curso d´água é diferentemente nomeado – Tietê e Anhembi – por diferentes comunidades, mas que falam uma mesma língua.

A antiguidade destes nomes, contudo, é inquestionável. Neste sentido,levantadas as primitivas formas a partir do cotejamento de diferentes documentos, épossível chegar a uma etimologia correta dos nomes, como pondera Sampaio(1928:148-9) quando trata da importância da restauração de grafias para aidentificação histórica de vocábulos.Os primitivos nomes do rio obviamente só começam a surgir gravados nosantigos relatos e mapas da época, dado que os indígenas brasileiros eram ágrafos.

Muitas são, contudo, as variações destes designativos. No caso de Anhembi, temos Anhembi, Agembi, Aiembi, Anem by, Aniembi, Anhambi, Niembi, entre outras tantas grafias comuns nos antigos documentos. Taunay (1981) informa que Plínio Ayrosa (1895-1961), em sua pesquisa, identificou quinze interpretações gráficas do primitivo nome doTietê. Melo Nóbrega confirma a existência de doze variantes gráficas de Anhembi.

Porém esta não é a única discussão acerca da denominação do rio.Diferentes são os significados atribuídos a estes topônimos. Quanto ao primeirohidrônimo, indicam-se um tipo de veado – anhang-i (= “rio dos veados”) – e umaerva rasteira de flores amarelas – nhambi – utilizada como condimento pelos nativosou mesmo na rudimentar odontologia de então. Frei Francisco dos PrazeresMaranhão o interpretou como rio dos enambus (Nóbrega: 1981). Afonso de Freitas(1924: 174-5) sugere que proviesse de anhangi (sendo anhan – correr – e anga –alma, espírito, gênio), recaindo a simbologia dos tupi-guarani sobre o veado, dada asua fama de o animal mais ágil e veloz da fauna brasileira e em alusão a abundânciade cervídeos na região.

De forma mais corrente, atribui-se a referência às aves chamadas anhumas (nhambu) que desde o início do povoamento eram procuradas pelos caboclos, que buscavam nelas o remédio ou preservativo para toda sorte de males, especialmente do unicórnio, mas também dos esporões e até dos ossos, em particular dos ossos da perna esquerda, faziam-se amuletos emezinhas contra ramos de ar, estupor, mau-olhado, envenenamento e mordedura de animais. (Holanda: 1990, 96) Teodoro Sampaio (1928: 249), da mesma forma, considerou como corruptela de Inhambuí, seguido da etimologia “rio das perdizes”, mencionando a existênciadesta ave em grande quantidade nos campos de Piratininga.

Xeria, por sua vez,explicou que Anhemby quer dizer “rio de unas aves añumas”. O Padre Anchieta,assim como Manoel Cardoso de Abreu em 1783 (Cleto: 1977, 65), descreve estasaves remetendo a espanto que causavam pelo unicórnio frontal, esporões das asas,pés desproporcionalmente grandes e o grito que fazia pensar num burro zurrando11.Segundo Leonardo Arroyo (1965, 47),Afora Anhembi, o Tietê foi batizado também por “rio de Povoado, rio queleva para o povoado, rio que tinha o povoado”, esta era a visão do moradorde Cuiabá.

Nóbrega (1981) informa que, em 1668, o povoador Mateus Nunes de Siqueira requeria uma sesmaria “na testada destas terras (do Tatuapé) para o rio grande em uma volta que o rio faz”. Em 1748, o nome Tietê foi pela primeira vez registrado cartograficamente no mapa D´Anville (1784), com referência apenas ao trecho situado entre a nascente do rio e o salto de Itu. Predominou, desde esta época, para a região, a denominação de “Tietê”, “grande rio”, com relação aos demais rios da localidade.

Cita, ainda, que Augusto César de Barros Cruz (2005, 14), em seu romance O Paulista, procurou explicar a origem do dimorfismo “Tietê-Tieté, que por confusão etimológica: “Tietê quer dizer – rio grande”. De acordo com entrevistas feitas por Nóbrega, os índios da região “pronunciam “etê” e só dizem “eté” para significar – “ruim, de mau gosto”. Por isto, segundo estes índios, “tietê significa – rio grande, e “tieté” significa – rio de água salobra.

Já para o Padre Anchieta, o vocábulo Tietê era tido como referência à “madre ou mãe do rio” (idem, 63). Teodoro Sampaio (apud Drumond; Nogueira: 1982, 73) levantou duas hipóteses:

Tietê viria de tiê, a voz onomatopaica de uma família de aves das quais fazem parte o “tié-piranga” e o “tié-juba”; ou viria da junção de ty - águas, líquido,vapor - e etê - verdadeiro -, significando rio bastante fundo, rio verdadeiro. Osegundo significado se justificaria pelo fato de o Tietê ser o primeiro curso d´águaconsiderável que o forasteiro encontrava ao penetrar no sertão.

José Gonçalves Fonseca, ainda no século XVI, associou o nome Tietê àsaves conhecidas por tetés, semelhantes aos pintassilgos, que eram muito comunsnas margens. Cardoso (1961a, 21-2), diferentemente de todos os outros autores queconsideram Tietê de etimologia tupi, fez a seguinte anotação:

Lembro-me, porém, tôda vez que ouço o topônimo Tietê, da etimologiatupi para ele apresentada – ti, rio e êtê, verdadeiro, isto é, o curso dáguaverdadeiro.Entretanto, em nossas peregrinações através da interlândia amazônica,encontrei, entre os Maraxó, da Guiana Brasileira, tribo de origem caribe, ovocábulo tietê, com o significado de forma ziguezagueada, aplicado adeterminadas pontas de flexa.

Plínio Ayrosa (1930: 267), em um parecer para o Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, contestou a origem indígena do vocábulo, afirmando que o nome Tietê não fora atribuído por índios, mas por portugueses, mesmo porque, nem pelo seu volume, nem pela comparação com outros cursos d´água, os índios seriam levados a atribuir-lhe o significado de rio grande. Ayrosa defendia esta posição devido ao fato que o Tupi foi língua falada no século XVI e XVII por todos os habitantes, indígenas, brancos e mamelucos.

De fato, o significado do nome não é questionado, mas quem teria atribuídoeste topônimo. Para este discussão, concluímos com a posição de Dick (1996b: 35)que, diferente de Ayrosa, entende que este topônimo seria anterior a posse daregião pelo europeu:Os primeiros habitantes da terra, tupis ou guaianases, estes de uma aindacontrovertida filiação lingüística, já haviam por assim dizer, identificado,por uma necessidade primária de localização, os seus acidenteshidrográficos maiores Tietê, Tamanduateí, Anhangabaú, foram nomes queos portugueses encontraram, em voz corrente; o uso tornou-se hábito etradição, mantido por todo o período seguinte, da chamada “língua geral”principalmente em relação aos dois ribeiros locais, persistindo até hoje,sem outras alterações.Em resumo, as etimologias de Anhembi e Tietê podem ser agrupadasbasicamente em dois três campos semânticos: zootopônimo, fitotopônimo ehidrotopônimos, segundo os diversos autores consultados. De qualquer maneira, todos se referem à descrição do próprio elemento geográfico ou da flora ou da faunaabundante de suas margens.

II.2.2. Do descritivismo dos nomes ao surgimento de hidrônimos portugueses

No mapa de Xeria, de 1628, o primeiro a delinear o Tietê, não são apresentados os nomes de cachoeiras, apenas indicadas por perigosa correnteza, perigoso salto, correnteza, salto e salto periogoso, assim como o nome de dois afluentes, apontados como Rivera e Rivera Grande.

Além destes afluentes representados no mapa, Xeria desenhou outros, para os quais anotou nomes. Os principais cursos d´água são designados Mboy, Capibary e Sarapiy, e outros menores, conforme traçado12, apresentam nomes repetidos ou idênticos, com alguma variação: Yacarey e Yacarepepi, por exemplo.

Encontramos na documentação consultada do século XX, cursos d´água assim denominados. Isto não implica, contudo, que os topônimos se mantenham nos locais onde foram indicados por Xeria. Não podemos negar, por outro lado, que, pela localização dos nomes dos afluentes maiores, estes hidrônimos estão nas proximidades de designativos que se fixaram. Taunay (1922, 4) vai ao encontro desta afirmação e apresenta a seguinte reflexão:

Queremos crer que o Sarapoy seja muito provavelmente o nosso Sorocaba, pelo facto de lembrar que por elle se navegava e ter este como affluente superior o actual Sarapuhy. O Capivary, provavelmente, é o mesmo assim chamado hoje.

Ainda quanto à localização destes afluentes, Taunay (ibidem) considera que,possivelmente, a Rivera grande seja o rio Piracicaba, dada a proximidade com osalto do Avanhandava. Neste caso, a toponimização do próprio elemento geográficoem rivera diz respeito ao termo geográfico em espanhol, o que revela a indicação deimpressões próprias de Xeria. Já Yacare e Yacarepepi, uma variedade do primeiro, [Tietê ontem e hoje: preservação ou mudança toponímica e a legislação do ato de nomear. Uma proposta de Lei, 2008. Ideli Raimundo di Tizzio, Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas. Páginas 54, 55, 56, 57, 58 e 59]

Como estes nomes, grande parte de procedência indígena, outros topônimosforam se fixando em relação ao lendário do Tietê. Octavio Ianni (1996) nos relataoutras das mais remotas manifestações do folclore paulista na área do antigopovoamento do Tietê, como a sucuri que, morta por um índio, tornou-se o Salto deAvanhandava, e de almas penadas de sertanistas sumidos em redemoinhos oumortos por doença, flechados por índios, estraçalhados por onças ou picados porurubus, que, nas noites de bruma, subiam e desciam o rio em embarcaçõesmisteriosas.Ainda em meados do século XVIII, quando os topônimos indígenas começama tornar-se opacos até mesmo para os guias das expedições, os quais geralmenteindicavam os significados dos nomes para os viajantes, mantém-se a variaçãoquanto à localização destes nomes e ao elemento geográfico denominado.O hidrônimo Acanguera13, indicado para a região entre o porto deAraritaguaba e a cachoeira de Abaremanduaba, é apresentado como cor[rego].Acanguera, no mapa de Custódio de Sá Faria (1774); Caxura. Ararâcanguava, noBorrão de Juzarte (1769); C[achoeira]. Aracanguá na carta de Hirnschrot (1875);[cachoeira] Canguera, no mapa de Lacerda (1788); e Cax. Acanguera, no mapaDemonstração Geographica do curso do rio Tietê (s/data).Igualmente duas cachoeiras recebem o nome de Escaramuça, antes e depoisdo salto Avanhandava. Este impasse é resolvido por processo de incorporação dodeterminante do Gato ao designativo da segunda cachoeira, nas últimas décadas doséculo XVIII. Ainda assim, Juzarte (1769) indica antes do grande Salto deavanhandava as cachoeiras escaramusa do gâto e segunda escaramusa do gato.O fitotopônimo Guacuritu/Bacury também é registrado como designativo emdiferentes partes do rio Tietê. No relato de Abreu (1783), são indicadas ascachoeiras Guacurituvuçu e Guacuritu-mirim antes da cachoeira Araracanguavuçu;depois desta, é registrada a cachoeira Guacuritumirim.O salto Jurumirim, por sua vez, é indicado antes do salto Abaremanduaba, norelato de Camello (1727) e no mapa de Lacerda (1788-9), e depois, no relato deAbreu (1783). Trata-se, possivelmente, da mesma denominada Cax. Páo Santo, antes da Cax Avaremandoava, no mapa de Sá e Faria (1774), e depois, Cax. PaoSanto, na Demonstração Geographica do rio Tietê (s/data). Neste caso, a variação étanto em relação à localização do elemento geográfico a ser denominado, quanto adiferentes nomes, um de procedência indígena e outro, portuguesa.Certamente a variação em relação à forma de topônimos de procedênciaindígena é ainda mais intensa quando o seu significado torna-se opaco. Em algunscasos, o topônimo torna-se irreconhecível:. [cachoeira] Putunduba, no relato de Juzarte (1769), segundo o qual significa “ondea vista se faz escura”; Cax. do Potundaba, no mapa de Sá Faria (1774); [cachoeira]Potribú, no mapa de Hirnschrot (1875); [cachoeira] Putunduba, no mapa de Lacerda(1788-9); rib. Potunda, no mapa de Montesinho (1791-2); [esteirão de rio direito]Potunduba (7ª. Notícia Prática); Cax. Petenduba, no mapa DemonstraçãoGeographica do curso do rio Tietê (sem data).. [cachoeira] Sapêtuba, no relato de Juzarte (1769), “tetal pequeno”; Cax. deSetubaú, no mapa de Sá Faria (1774); [córrego] Sape, no mapa de Hirnschrot(1875); [povoado] Sapé, no mapa de Rath (1877); [povoado] Sapé, no mapa deLomellino de Carvalho (1887); Cax. Sepetuba, no mapa Demonstração Geographicado curso do rio Tietê (sem data).

. [cachoeira] Cambagevoca, no relato de Juzarte (1769), “cana rachada”; Cax. Cambayuoca, no mapa de Sá Faria (1774); [cachoeira] Cambayuvoca, no mapa de Lacerda (1788-9); Cax. Cambá giboca, no mapa Demonstração Geographica do curso do rio Tietê (sem data).

. [cachoeira] Guaemicanga guassu, no relato de Juzarte (1769), “ossos de velha”;Cax. Guaimicanga, no mapa de Sá Faria (1774); [cachoeira] Itamicanga, no mapa deLacerda (1788-9); [córrego] Vomicanga, no mapa de Hirnschrot (1875); CaxaVamicanga, no mapa de Rath (1877); Cax. Vamicanga, no mapa de Lomellino deCarvalho (1887); [corredeira] Vamicanga, na relação da Comissão Geographica eGeologica do Estado de São Paulo (1905); Cax. Guaimicanga, no mapaDemonstração Geographica do curso do rio Tietê (sem data). [Páginas 62 e 63]



As cidades de Itapuí (= “rio do salto”) e Parapuã (= “rio feio”) passam poridêntico processo de denominação. A primeira é o antigo povoado de Ribeirão doSaltinho e recebe esta designação quando elevado a distrito de paz, em 1896.Parapuã, às margens do rio Feio, é assim denominada em 1944.

A criação de nomes portugueses também é registrada na toponímia paulista. Porto Feliz é o nome que melhor caracteriza a tentativa de atrair o poder mágico dos nomes. Originalmente era o povoado de Nossa Senhora Mãe dos Homens de Araritaguaba, porto das monções, conhecido pela coerção de indivíduos levados ao sertão e pelas expedições frustradas. Em 1797, quando elevada à vila, recebe o nome de Porto Feliz, a fim de alterar este perfil. [A causa da alteração do topônimo, segundo o histórico oficial do município de Porto Feliz, é decorrente da alegria e hospitalidade dos moradores, principalmente quando as expedições fluviais retornavam]

No início do século XX, as cidades formadas ao longo do Tietê apresentam-seestruturadas, e caminhos terrestres as interligam. A navegação fluvial só é possívelem alguns trechos, já que hidroelétricas são construídas para atender à crescentepopulação. No Capítulo III, veremos os impactos desta alteração na paisagem e ostopônimos criados para os novos elementos geográficos no Tietê. [Página 72]

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Quanto mais podemos adiantar-nos no emaranhado das fontes, afirmamo-nos na certeza de que as expedições do ciclo do Guairá passaram por Sorocaba então Ypanema e São Felipe) num caminho terrestre que era o mesmo antigo de São Tomé, dos nativos, e que os primeiros sorocabanos organizaram bandeiras que partiam por terra procurar o Paranapanema.
“Sorocaba e os castelhanos”, Aluísio de Almeida, codinome de Luís Castanho de Almeida (1904-1981). Jornal Diário de Notícias, página 13

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