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Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952
1952. Há 72 anos
Aos 18 de junho de 1926, na ponta do Promontório do Itacurussá, município de Cananéa, aí presente o doutor Antonio Paulino de Almeida, Promotor Público desta comarca, colocado em comissão pelo Exmo. Snr. Dr. Bento Bueno, Secretário da Justiça e da Segurança Pública, para o fim especial de concluir um trabalho histórico sobre Cananéa, comigo Frederico Trudes da Veiga, vereador da Câmara Municipal, servindo de Secretário, e os abaixo assinados, encarregados da procura da pedra denominada "Tenente".

e que conjuntamente com outra igual ladeava o legendário marco do Pontal referido, após percorrerem a parte sul dos pedrões, regressaram pelo caminho do Ipanema (...) [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Página 39 do pdf]

Apontamentos para a História da Fábrica de Ferro do Ipanema [Página 407]

III - Os pioneiros da Fabricação do ferro no Brasil

Meu avô era um velho sexagenário quando fez o relato a que deu lugar a passagem do bólide pelo céu de Campo Largo. E, data tal circunstância, a narração apresenta alguma analogia com aquelas porandubas que os patriarcas aborígenes faziam perante a assembléia dos seus descendentes, quando começavam a sentir os achaques que sóem indicar a aproximação da morte. A poranduba de meu avô foi a minha primeira lição de história pátria, aluno que eu era de uma escola régia, onde essa disciplina não figurava. E lição muito eficiente foi ela, pois teve o condão de me empolgar, cativando-me o interesse esquivo de menino traquinas. Dias e dias crivei meu avô de perguntas impertinentes, no emprenho de saber o fim que levou o canhembora da Lagoa Dourada.

Desse modo vim a saber que o tal canhembora não foi o único solitário que estanciou na floresta virgem do morro da Fábrica. Numa das noites seguintes, ele me regalou com a história um tanto lendária do monge da Pedra Santa. Também este viveu escondido naquelas solidões bravias, não à cata de ouro, mas em busca da perfeição espiritual, que vale mais.

Esta nova história do meu avô interessou-me em extremo, pois o narrador fez-me um dia esta promessa cativante: - que me levaria ao grande penhasco de Itapevussú, onde vivêra o monge, e me mostraria a gruta que lhe servia de aposento, a fonte onde ele se dessedentava.

Da primeira exposição de meu avô resulta que a descoberta de jazidas de ferro no morro Araçoiaba foi um acidente, mero acidente na procura do ouro.

Nesse relato, algumas inexatidões existem a pedir correção. Há, em primeiro lugar, um anacronismo. É fato histórico bem averiguado que a povoação de Sorocaba foi fundada no correr dos trabalhos de mineração no Morro do Ferro.

Ora se o canhembora citado por meu avô alí estacionou antes da irrupção dos portugueses no local, é óbvio que nesse tempo Sorocaba ainda não existia; e assim sendo a história do ourives fica reduzida a uma lenda. Mas não só nesse ponto se achava equivocado o narrador: vê-lo-emos através da resenha que vamos fazer, dos ensaios siderúrgicos do morro Araçoiaba. Seguiremos nela a ordem cronológica.

Século XVI - Os primeiros furadores do mato que vieram à ter paragem da Lagoa Dourado foram chefiados pelos dois Sardinhas, pai e filho; um e outro tinham o mesmo nome de batismo - Afonso. Notabilizaram-se ambos na guerra de extermínio dos nativos Carijós e dedicaram-se depois à faina da extração do ouro.

Ora, Afonso Sardinha pai podia ser português, parente quiçá do primeiro bispo do Brasil, aquele mal aventurado D. Pedro Fernandes Sardinha que Duarte da Costa perseguiu e que, retirando-se para Portugal, naufragou e veio a ser devorado pelos nativos Caetés. [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Páginas 21, 22 e 23, 413 e 414 do pdf]

Cabe a Cananéa, como se vê, a glória de ter sido berço da primeira bandeira que de terras paulistas se embrenhou nos sertões do Continente. Entretanto, quer parecer que a de Pero Lôbo não foi a única dessas expedições que daquele sítio partiu. Segundo alguns historiadores teria sido Aleixo Garcia, também alí saído, pelo chamado "caminho do Paraguai", em busca do Perú, país que logrou alcançar entre Mizque e Tomina.

Limite meridional da região em que viviam os tupis, porque, para o Sul, até a lagoa dos Patos, habitavam os Carijós, justamente sobre o seu território era que vinha atingir o litoral, no dizer, ainda, de outros historiadores, o "meridiano" de Tordesilhas que separava em terras do Novo Mundo o domínio luso do de Castela. Dai a afirmativa do cosmógrafo Vespúcio, que de Cananéa para o Sul - "todo lo mas es de Castella". [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Página 70]

Situada no extremo sul da zona, Cananéa, mais do que qualquer outra localidade, disso se tem ressentido. Da distância em que a falta de transportes rápidos a coloca de Santos, São Paulo e outros centros do Estado do País. Do Rio de Janeiro, principalmente. [Página 89 do pdf]

E tão evidente, é esse estado de coisas, que não tem passado despercebido, nem mesmo aos que, como o jornalista Valdez Correia, apenas por alguns instantes ali estiveram:

"O município de Cananéa, contudo, não é pequeno. E possuindo terras ferazes, poderia viver dentro de certa independência econômica se o governo tivesse um pouquinho mais de boa vontade com esse povo. O arros dá aqui com uma exuberância extraordinária. E como o arroz, tudo o mais. Há até notícia, que vem sendo transmitida de gerações em gerações, de uma safra de trigo que se perdeu no tempo da colônia, por falta de navios que a conduzissem ao reino. Mas, plantar para que, se não há meios de transporte?"

Não fora assim, e existiria ainda a colônia de Cananéia, criada em 1867 pelo governo imperial, nas férteis terras da região do além-Itapintanguí, a 17 quilêmtros da cidade.

Esse importante núcleo, que se compunha de 214 lotes de 50 hectares, foi aos poucos abandonado pelos colonos, apesar da existência de sua situação topográfica e salubridade do clima, por não terem eles onde vender o produto de seu labor. Por falta de transporte, estes nos lugares de produção ficava retido sem poder encaminhar-se aos mercados de consumo. Emancipada em 1878, veiu a colônia a sucumbir pouco depois. [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Página 90]

De Cananéa parte, entretanto, uma estrada de rodagem estadual. Propunha-se ela alcançar a São Paulo-Paraná - através de Pariquera-Açú, Sete Barras e São Miguel Arcanjo - na região de Itapetininga. Ficaria o porto de Cananéa ligado diretamente à Capital e ao interior do Estado por excelente via de comunicação.

Sobrevindo, porém a Revolução de 1930, quando a construção do trecho Sete Barras - São Miguel Arcando ainda não estava concluída, foram os trabalhos suspensos. [Isso quando este trabalho foi elaborado. Hoje, acha-se Cananéa ligada a São Paulo por duas estradas de rodagem, via Piedade e via São Miguel Arcanjo]

Com isso, a grande artéria, que hoje bem poderia estar servindo a região, nenhum benefício de vulto pode proporcionar-lhe, pois finalizou pouco além de Registro. É a passagem, sobre balsa, do rio Ribeira de Iguape, em Sete Barras, não oferece facilidade. [É estranho que no litoral sul-paulista poucas pontes existiam, sendo quase todos os rios que cortam as estradas ou caminhos atravessados de canoa ou balsas.] [Página 91]

2 - Esta cidade, que para o seu desenvolvimento tanto necessita ligar-se por via férrea com o "hinterland", por curiosíssima predestinação, desde antes de Cabral já era o ponto da costa do Atlântico sul a que vinham "mariscar" os nossos aborígenes, em comunicação que sempre esteve com os mais remotos sertões. Para isso, serviram as "veredas naturais" que a sua topografia sempre facilitou, e entre as quais se salientava o caminho "do Paraguai", que muitos historiadores dizem dali partia para aquele ponto do Continente.

Dêle se utilizaram, ao que parece, Aleixo Garcia e a "bandeira" de Pero Lôbo. E "tão conhecido e frequentado era êsse caminho", diz Paulino de Almeida num de seus estudos sobre os fatos de Cananéa - que no ano de 1609, em carta de 12 de maio, dirigida ao governo espanhol, Hernanderia de Saavedra, governador de Buenos Aires, propunha a Sua Magestade espanhola mandasse destruir el pueblado que los portugueses tienem comenzado a hacer en la Cananea", em virtude das contínuas incursões levadas a efeito pelos paulistas, que dalo costumavam seguir para o Paraguai, donde retiravam tanta gente que las tienem y aun venden por esclavos y tienen este nombre entre ellos".

4 - Vieira dos Santos (Memória Histórica de Paranaguá):

"Achando-se a este têmpo a costa marítima povoada desde Santos a Cananéa, e a baía de Paranaguá em grande aumento de sua população, não só a originária dos primeiros povoados vindos de Cananéa e São Vicente, e dos índios carijós domesticados no grande espaço de mais de noventa anos contados desde 1555, e sendo dificultoso a estes povos irem procurar seus recursos judiciais à vila de Cananéa por ser a mais próxima, requereram a sua emancipação, e ereção de uma vila separada daquela em 1643". [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Páginas 145 e 146]

Apontamentos para a História da Fábrica de Ferro do Ipanema. Prof. João Lourenço Rodrigues Itapetininga, 3 de dezembro de 1942

Prezado amigo professor João Lourenço Rodrigues. Recebi e li com grande prazer o seu trabalho sobre a "Fábrica de Ferro do Ipanema".

- É uma página da história, que revela o amor que o prezado amigo tem pelo nosso passado e uma indicação preciosa das fontes nas quais esse estudo poderá ser algum dia aprofundado. - Como se vê da sua monografia a exploração do ferro no Ipanema nunca deu resultado. Nunca passou de um ensaio, maior ou menor, conforme a época, a demonstrar apenas o secular interesse dos poderes públicos por sua organização. Todos os administradores do Ipanema foram e são ainda criticados, sendo muitos deles taxados até de desonestos por não haverem apresentado os resultados que se esperavam daquela exploração. [Páginas 399 e 401]

Mas, se o Ipanema não devia ser explorado como mina de ferro, porque este era escasso e já em decomposição, poderia, entretanto, ser e está sendo explorado como fonte de adubo para a restauração de nossas terras esgotadas e pobres. Não fornece o arado, mas fornece o adubo. O beneficio é maior porque o trabalho daquele sem o complemente deste de nada vale em terras já cansadas.

- Feche os olhos (como fez ao escrever alguns dos mais belos capítulos de seu livro) e passe no cinema da memória o panorama de Campo Largo. Que maravilha! O chapadão se estende e se desdobra como um mar imenso até apagar-se na fimbria azulada da moldurada de Serra de São Francisco, ao norte, e dos contrafortes da Paranapiacaba, descendo para o Sul. [Página 402]

Nada pior, nem mais desagradável e ridículo, para um homem que encerrou definitivamente a sua vida publica, do que vir discutir ou justiçar atos do passado. A minha biblioteca está em São Paulo e, por essa razão, não me é possível consultar o arquivo e mensagens que tratam desse caso, mas lembro ainda que o relatório do Dr. Fernando Costa (de 1928 ou 1929) explana longa e brilhantemente essa questão.

Há também publicado o estudo da Comissão Geográfica e Geologia, não me recordando agora se em separado ou no próprio relatório do Dr. Fernando Costa. Hesitei em mandar-lhe esta carta, receando desagradar o prezado amigo que acaba de distinguir-me com tamanha gentileza, proporcionando-me a premissa de sua monografia.

Somente venci essa dúvida por tratar-se de um espirito culto e superior como o seu. A fabulosa riqueza de ferro e a excelência do ferro do Ipanema não passam de um sonho, são produtos da imaginação ardente do nosso povo, tal como a lenda da "Mãe do Ouro" que ouvio, sentado nos joelhos de seu avô, quando menino. Entre a lenda e o parecer dos técnicos, isto é, entre o abusão e a ciência, estou certo de que o meu amigo, que é um dos expoentes da cultura paulista, acreditará na ciência e nos dados técnicos e científicos em que nos fundamos para agir. Peço-lhe desculpas se não justifiquei bem o meu modo de ver e ser, por qualquer outro motivo, deixo de ser lhe útil ou agradável, falando assim com a franqueza com que costumo dirigir-me ás pessoas amigas. Julio Prestes. [Página 404]

Nem todas essas opiniões eram favoráveis ao Ipanema, mas valha a verdade, nenhuma tão desfavorável como a do Dr. Pandiá Calógeras, no seu Relatório apresentado em 1918 ao Conselheiro Rodrigues Alves e publicado 15 anos mais tarde num dos volumes da Brasiliana, 5a. Série. Transcrevo-o resumidamente, mas de acordo com o texto, páginas 97 e 98 do 24o. volume:

... "Refiro-me a Ipanema. Esse estabelecimento vive de uma lenda. Foi estudado por metalusgistas sérios, empenhados em aproveitá-lo. Resume-lhes o parecer a frase definitiva de Ferdinand Gautier: Ipanema vit d´une légende et n´est susceptible d´aucun développement sérieux."

"Não bem a pelo justificar o asserto, que tem a sua fundamentação em longa série de estudos feitos por técnicos de verdade, e não por jornalistas ou tenentinhos metidos a literários. O Marechal Faria foi avisado por mim, pessoalmente, do erro que ia cometer. Ouros profissionais, lentes de metalurgia em escolas oficiais, publicaram avisos do mesmo teor. [Páginas 408 e 409]

II - Mãe de Ouro

No tempo em que a estrada de ferro só chegava até Sorocaba, esta cidade era o empório comercial de toda a zona sul paulista. O comércio se fazia por meio de tropas arreadas. Partindo de Sorocaba, elas encontravam o seu primeiro pouso em Campo Largo, 3 léguas de distância. O povoado tinha, já então, fóros de vila, que ainda conserva. Pouco antes da povoação, havia uma pequena capela, situada à esquerda da estrada real; logo adiante, descendo o ribeirão (Vacaí é o seu nome, ou Vacariú, segundo outros), havia duas casas fronterias: na da direita morava meu pai, e na outra, muito mais vistosa, morava meu avô materno - José dos Santos. Em uma e outra havia quartos para tropeiros; em frente, alinhavam-se algumas filas de mourões, aos quais os almocréves atavam os muarfes, à hora da carga ou da descarga.

As duas casas fronteiras já não existem, mas achava-se ainda de pé, aliás bastante deteriorada, a capelinha de Santa Cruz. [Apontamentos para a História da Fábrica de Ferro do Ipanema, 03.12.1942. Prof. João Lourenço Rodrigues (1869-1954), Itapetininga/SP. Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Páginas 410 e 411]

Sabemos porém que seus despojos foram depois transportador para Santiago no Chile por sua viúva, que era de nacionalidade chilena. [Página 510]

Já observou o Dr. Alfredo Ellis Júnior que, naquela época e até muito tempo depois de criada a vila (em 1611), ainda não existia a denominação Mogy das Cruzes. Aliás o próprio Azevedo Marques escreveu, referindo-se àquela região:

Em tempos remotos denominara-se Boygy. Ulteriormente a corrupção da língua a mudou para Mogy.

E mais adiante: No começo da povoação, como se vê no 3o. livro de registros de sesmarias existentes no cartório da Thesouraria desta província, o nome desta localidade era o de Santa Ana de Boygy-mirim. Diz o mesmo escritor, que a freguesia de Santa Ana de Mogy das Cruzes foi elevada à categoria de vila no dia 1 de setembro de 1611. A data está certa, mas os informes relativos aos nomes da localidade exigem esclarecimentos, que daremos em seguida.

Antes disso, porém, cumpre observar que não é exato que a povoação primitiva tivesse a denominação de Nossa Senhora das Cruzes de Mogi-Mirim, como escreveu o Dr. Alfredo Ellis Júnior no livro O Bandeirismo Paulista e o Recuo do Meridiano. Aliás, nos trabalhos posteriores, o historiador já não se refere a tal denominação.

II - Muitos são os documentos através dos quais é possível acompanhar as mutações de nomes da basta região em que se fundou a atual cidade de Mogy das Cruzes. A denominação indígena primitiva (dada, aliás, também, como veremos em nota 76, I, a outras paragens não muito distantes da vila de São Paulo) era simplesmente a que hoje se escreve Mogy (ou Mogi).

O topônimo é composto de mboi, cobra, e hy, água ou rio (rio das cobras). Devido, não só à má percepção auditiva, como também às dificuldades de ordem gráfica, escrevia-se aquela denominação muito diversamente: boigi, bongy, mongi, bongi, bougi; mugi; ou Moygy.

Em documentos de 1608 em diante, vemos aparecer o qualificativo mirim, ou miri (pequeno), acrescentando ao nome da região de que tratamos e da povoação que se ia formando: - Mogi-mirim, Boixi miri, Boigi miri, Boigi mirim, Boigi miri, Moigimiri, Mogy Mirim, Mogi Miri, etc. [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Páginas 616 e 617 do pdf]

III - Numa carta de sesmaria do ano de 1610, lemos que o requerente era "morador na povoação de Santa Ana". A santa deste nome era padroeira da igreja primitiva, e ainda é a da matriz da atual cidade.

Na petição em que Gaspar Vaz e outros moradores do povoado requerem, em 1611, se fundasse vila e se levantasse pelourinho, bem como nas informações então prestadas pelas câmaras de Santos, São Vicente e São Paulo, e na provisão pela qual o governador geral, D. Luís de Sousa, deferiu o pedido, a localidade ainda é designada por Mogy mirim.

Mas, do auto de levantamento do pelourinho (1 de setembro do mesmo ano), consta que o capitão-mor, Gaspar Conqueiro, deu à vila a denominação de Santa Anna. No fêcho do documento (redigido e assinado dois dias depois), diz o escrivão: "feito villa de Santa Anna".

A 11 de outubro de 1621, Àlvaro Luis do Vale, procurador do donatário, Conde de Monsanto, confirmou a data do rossio, campos, etc. "desta villa de Santa Anna de Mogy mirim", denominação que repetiu em duas sesmarias passadas em 1624. Note-se que nas epígrafes destes documentos está vila de Mogi Mirim e Mogi mirim povoassem nomeada Santana.

O "cumpra-se" dado pelo capitão-mór Antonio de Aguiar Barriga à referida confirmação vem datado de Santa Ana das Cruzes, a 27 de agosto de 1629. [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Página 618 do pdf]

76 - I. Talvez tenhamos encontrado uma explicação para a referência de Azevedo Marques à partida da bandeira em direção a Mogy das Cruzes. Já estudamos as denominações primitivas da região (boigi, bougi, moygy, mogi-mirim, boixi miri, boigi mirim, etc.). Ora, existem muitos documentos antigos onde aparecem formas pouco divergentes, mas que se referem a paragens muito distantes daquela. Assim é que vemos alusões: - aos "campos de Boy termo da vila de São Paulo"; - as terras situadas "junto a Boy da banda de além do rio Jerabaty"; [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Página 620]

II. - Dado o rumo inicial mais provável da expedição de Nicolau Barreto, que depois se teria desviado, conforme veremos oportunamente, seria natural que passasse pela região antigamente denominada Bohy, Mohi, etc., e que devia ser mais vasta do que o atual distrito de Embu. Ou então a bandeira teria estado em paragem mais longínqua, de nome igual. Azevedo Marques teria visto uma das formas gráficas do topônimo, no testamento de Ascenso Ribeiro ou em outro documento junto ao inventário desse bandeirante, e acreditado que se tratasse da região que, segundo vimos, só muito mais tarde recebeu o nome de Mogy das Cruzes.

III - Dir-se-á que o erudito cronista não podia fazer tal confusão. Mas, a verdade é que ela seria muito mais explicável do que certos lapsos que se encontram na referida obra, aliás valiosíssima. Citaremos três casos que nos parecem bastante significativos.O primeiro é relativo ao rio Pinheiros, o chamado Jerabaty num dos documentos apontados na seção I desta nota, e cuja denominação indígena se escrevia por diversas formas, uma das quais, a de Jurubatuba, é e mais conhecida e também a mais adulterada. Escreve Azevedo Marques:

"Pinheiros - Rio afluente da margem esquerda do Tietê, de que é um dos primeiros tributários, tem origem nos montes aos ponte da cidade de São Paulo na qual passa a pouco mais de légua, ou 5,5 km de distância, na direção Sul. Em tempos muito antigos foi conhecido com os nomes de Rio-Grande e Gerybatiba. Corre na direção mais geral de Leste para Oeste na altura da freguesia de São Bernardo curva-se um pouco para noroeste, rega os municípios da capital e Santo Amaro."

"Rio-Grande - Afluente originário (sic) do rio Pinheiros. É o mesmo que no município de Santo Amaro e adjacências tem o nome de Jurubatuba. Em seu começo corre de Leste a Oeste e depois toma o nome de Pinheiros corre de Sul a Nordeste, lançando-se no Tietê."

Há nesses trechos várias inexatidões e incoerências. Basta, porém, observar que o rio Grande (que só no curso inferior tem a denominação de rio Pinheiros) nasce em Paranapiacaba (antigamente Alto da Serra), e não "nos montes ao poente da cidade de São Paulo".

Lê-se também na citada obra: "Taiassupeba - Rio afluente da margem direita do Tietê"

"Taiassupeba-mirim - Rio afluente da margem direta do Tietê".

Ora,só o primeiro desses rios é afluente do Tietê, e afluente da margem esquerda, e não da direta. É formado pela reunião do citado Taiassupeba-mirim e do Taiassupeba-assu. [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Páginas 621 e 622]

28 - Escreve Capistrano de Abreu, em seus prolegômenos ao livro IV da História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador, depois de dizer que a expedição de André de Leão e a bandeira de Nicolau Barreto foram estudadas por Orville Derby "em duas excelentes memórias":

"Não parece muito certo, como este afirma, que Leão (sic) estivesse em Paracatú, e não se pode determinar em rigor a terra habitada pelos Temiminós: Manuel Preto, vindo do Guayra, encontrou-os e maio caminho: Actas 2, 184".

Em seguida o saudoso historiador cita a carta do Padre Mancilla e a dos camaristas de São Paulo, de 13 de janeiro de 1606, já apontadas, como se viu, pelo Dr. Afonso Taunay e pelo Dr. Alfredo Ellis Júnior, respectivamente:

29 - A referência a André de Leão, no trecho supra, resultou de inadvertência. Quis o autor, evidentemente, aludir a Nicolau Barreto, pois, em sua primeira memória (sobre a entrada de André de Leão), Orville Derby não falara em temiminós, nem afirmara que André tivesse chegado ao Paracatú. Em seu entender, o último ponto atingido por André de Leão teria sido a região de Pitanguy.

Feita esta retificação, verifica-se que Capistrano de Abreu quis referir-se à segunda memória de Derby e a Nicolau Barreto, e pôs em dúvida que êste houvesse ido ao Paracatú, afluente do São Francisco, e que nas regiões mineiras houvesse índios temiminós.30 - Eis o que a princípio escrevera o historiador João Pandiá Calógeras:

"Desde meados do século XVII Manuel Corrêa devassara o sertão goyano, do qual bem perto tinha chegado a bandeira de Nicolau Barreto mencionada por Taques, e estudada recentemente pelo Dr. Washington Luiz Pereira de Sousa".

Mais tarde, porém, julgou ter-se enganado:

"Levados a êrro pela menção de Paracatú no roteiro, julgaram Orville Derby e outros escritores que o seguiram (fomos um deles) ter-se orientado a léva para o rio das Velhas e o valle do São Francisco, sendo o Guabibi ou Guabihi, citado nos documentos, o Guayouhy hodierno. Desvio estranho para Norte, que nada explica. Corrigiu o erro Alfredo Ellis Junior, e demonstrou ter seguido o sertanista, em 1602, para o Guayrá, em luta com os Temiminós, e andando pelo caminho do Piquiry, afluente do Paraná. Até este ponto, perfeito o raciocínio (...)" [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Páginas 623, 624 e 625]



Acredita Orville Derby que "o chamado caminho do Pequiry seja o passo do rio Paraná, na foz do rio Pequiry". Segundo afirma alhures, a carta "dizia peremptoriamente que Nicolau Barreto e a sua gente haviam passado o caminho do Pequery". E conclui:

"Isso só seria já o suficiente para que ficasse reformada a ideia a respeito da entrada de Barreto. As palavras absolutamente categóricas contidas nesse documento citado não deixam subsistir dúvida de que a expedição bem anteriormente á data de 18 de julho de 1603, tenha trilhado um certo caminho de um rio chamado Pequery, situado em terras castelhanas da província do Rio da Prata". [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Páginas 635 e 636]

117 - Diz o autor:"A carta escrita por Diogo Botelho tem a data de 18 de julho de 1603, o que quer dizer que, dez meses após a partida da bandeira, em São Paulo já se sabia que ela tinha passado o Pequiry. Ora, para a notícia da passagem do Pequery ter chegado a São Paulo (a uma distância de 800 km das reduções do alto Pequiry), seria preciso que essa passagem se tivesse efetuado pelo menos três meses antes de 18 de julho de 1603, isto é, o mais tardar em meados de abril, Nicolau Barreto teria passado pelo caminho do Pequiry". [Página 638 e 639]

E a respeito do "passo do Rio Paraná, na foz do rio Pequiry":

"Por esse passo, talvez, Barreto tenha passado para o Paraguay penetrando, também, a enorme área boliviana, em plena cordilheira andina"."Infelizmente, não tenho base para saber qual o ponto extremo chegado pela bandeira, mas é de supor, tenha ela ido muito ao fundo em possessões hespanholas, ferindo de rijo a linha demarcadora de Alexandre Borgia".

"Em virtude do grande lapso de tempo demorado pela bandeira no sertão, é de crêr que muito longe, no Perú, tenha ido a bandeira de Barreto. Assim, o Paracatú e o Guabihi dos documentos, que Derby erradamente quiz ver em Minas Geraes, talvez fossem no sistema Pilcomayo, ou mesmo na bacia do Madeira, na Bolívia".

"Insisto em dizer que os pontos de além do rio Paraná por mim aventados como tendo sido palmilhados pela gente de Nicolau Barreto, constituem méra hipótese, estribada no lapso de tempo em que a bandeira esteve ausente de São Paulo". [Páginas 646 e 647]

Como atribuir tanta importância a este nome Gaibug, quando Coronelli faz nascer o São Francisco ou Parapitinga (?) na serra da Gualembaga, atravessar o grande lago de Parapitinga, recebendo como afluentes o Guabiole cujo tributário principal é o Inaya, o Lacarchug, o Parachai e o Gretacaig! Eis uns nomes bárbaros, dificílimos de identificação com qualquer dos topônimos da bacia de São Francisco.

E quanta coisa mais fantasiosa existe neste de Coronelli! No centro do Estado do Paraná coloca um grande lago de onde sabe o rio Latibagiha (provavelmente o nosso Tibagy) afluente do Paranápanema. Não se menciona a existência de São Paulo, o perfil do nosso litoral está erradíssimo e assim por diante. [Páginas 723 e 724 do pdf]

Explica-se facilmente a troca do b pelo m. Na realidade, a pronúncia tupi não corresponde à da articulação puramente labial que no português se representa por b.Trata-se de um som que se pode denominar b nasal, e que os europeus não tiveram outro meio de grafar senão empregando o grupo mb. Muitas vezes, porém,encontra-se somente b ou m.

1. Diz Teodoro Fernandes Sampaio (1855-1937), referindo-se ao grupo mb: que a sua "gama nasal, particularíssima, equivale aproximadamente a umb", e "ora se reduz, por vista da pronúncia, a simples b, ora a m". E acrescenta:

Por essa razão, o célebre vocábulo mboy, que alguns erroneamente pronunciam embòy, ignorando que mb é o signo de um b nasal, se transformou, em alguns lugares, em boy, e noutros em moy, como se verifica na composição dos vocábulos boytuva e mogy.

3. Em muitos casos, o mb foi conservado, antepondo-se-lhe, porém, uma vogal: donde resultou, na prática, a separação dos elementos do b nasal tupi, ficando o elemento nasal (representado por m) na primeira sílaba, e o labial (b) na segunda. Por exemplo: "mbeaçaba e emboaçaba" deram: - ambiassaba, embiaçaba, embiassaba, imbiassaba, imbiaçava, Imboassaba e Imbuassava. [Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação. Vol. 9, 1952. Páginas 733 e 734 do pdf]

mbeaçaba e mboaçaba, ambiassaba, embiaçaba, embiassaba, imbiassaba, imbiaçava

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