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História de Carapicuíba. João Barcellos
25 de março de 2013, segunda-feira. Há 11 anos
O "velho" Sardinha, desbravador colonial, político e capitalista e minerador, senhor de Ybitátá, Jaraguá, Byraçoiaba e Byturuna, além de escravagista, tomou a Aldeia Carapocuyba dos nativos goayanazes para servir-se ai do porto fluvial e ir na demanda dos confins do Anhamby, pois ouvira os guaranís falar do Piabiyu e do outro no sertão além de São Paulo dos Campos de Piratinin.

Em 1590 mandou "fabricar" Capela na aldeia Carapocuyba e tornou-se o seu fundador luso-católico. Sem a tomada de Carapocuyba, Afonso Sardinha "o Velho" e outros colonizadores não teriam dominado o Pico do Jaraguá, nem as Bandeiras teriam existido! [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Página 2]

1 - Os documentos falam de uma História que, na maioria das vezes, não é aquela que aprendemos nos manuais escolares e nas cartilhas governamentais. Após estudos que fiz sobre as famosas "doze aldeias fundadas por Anchieta" - na verdade todas elas existiam quando os portugueses chegaram ao planalto piratiningano, primeiro com João Ramalho, e depois com os jesuítas chefiados por Manoel da Nóbrega - e também acerca de Cotia e de Araçariguama, a par de estudos paralelos sobre a São Paulo "(...) Mas suas intenções fracassaram e Afonso Sardinha voltou a Portugal", e que demonstram um triste desconhecimento das raízes nativas e coloniais da região. Ora, Affonso Sardinha (o Velho) veio a morrer na sua fazenda estabelecida no Pico do Jaraguá, em 1614, e não partiu para Portugal em 1590, como dizem as "fontes" carapicuibanas, tanto que em 1592 exige e recebe o título de "capitão de guerra das gentes da villa" para tomar de vez o Jaraguá e afastar para os "campos rasgados" ("sorocaba", "sorocas") os guaranis que atacam a Villa jesuítica através do Caminho do Sul, o famoso Piabiyu - trilha ancestral e continental daqueles guaranis. Por outro lado, é esquecido outro proprietário da região carapocuybana: Domingos Luiz Grou.

Resolvi, então, pinçar partes das minhas pesquisas - catalogadas pela minha filha como "Brasil: pesquisas piratiningas" - e preparar um conjunto de dados carapocuybanos para reflexão social e histórica.

2 - A desinformação e a ânsia de "oferecer", ou "criar", uma Estória para identificar uma determinada região, no contexto regional e nacional, gera erros que, às vezes, acompanham gerações e formam uma ignorância publica e politicamente consentida.

3 - A única maneira de corrigir tais erros, também eles originados em dados mal estabelecidos por estudos superficiais de outrora, é buscar os documentos que nos falam das pessoas envolvidas na formação geossocial e política da região. Erros como "O padre Anchieta fundou São Paulo" (ele mesmo escreve que "o irmão Manoel da Nóbrega mandou erguer a Casa"), ou "a seriedade política de Pedro II" (a sua inabilidade política causou o fim da monarquia), e esse "carapicuibano"... sobre um Affonso Sardinha" que "voltou a Portugal" fracassado (ora, foi a sua brava caminhada que permitiu o início das "bandeiras" e tornou-o o homem mais importante da colônia luso-paulista, naquele momento), são erros que até se transformam em mitos como o "cavalo branco de Pedro I e o seu grito no Ypiranga" (quem gritou de verdade pela Independência foi o deputado Diogo Feijó em 25 de abril de 1822, nas Cortes de Lisboa). [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Páginas 4 e 5]

3 - É com Affonso Sardinha, o Velho, que o Rio Jeribatiba ganha os primeiros contornos de base estratégica. O que ele faz? Ganha sesmaria para construir uma ponte para acesso das pessoas que vivem em ambas as margens e, com isso, constrói a sua primeira fazenda aqui mesmo, no "ybitátá"; da fazenda segue o curso do velho "piabiyu" (Caminho do Peru) guardado pelos guaranis da linhagem M´Byá, também ditos Karai-Yo (ou Carijós), quando dá de frente com a aldeia goayanaz chamada Carapocuyba, com portinho para outro rio, o Anhamby, tendo à sua margem esquerda outra aldeia, mas guarani - a Koty (depois, Acutia, Cotia), perto do mesmo rio. "Se eu tomar a Carapocuyba, vou ter acesso ao Anhamby e ao Jeribatiba, e posso chegar logo ao ouro do Ybyturuna, ao ferro do Byraçoiaba, e ao mesmo tempo combater os selvagens para tomar o ouro do Pico do Jaraguá (Jaraguá = Senhor do Vale)", deve ter pensado. E foi o que ele fez... Apesar de ser presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo, ou simplesmente vereador, Affonso Sardinha, o Velho, tem tempo para se estabelecer como o mais poderoso colono e capitalista luso-paulista, de tal sorte que passa a ser o principal financiador da expansão jesuítica para o sul com doações em gado, dinheiro e escravizados, negros e nativos.

A ligação estratégica entre o Anhamby e o Jeribatiba, com o Pico do Jaraguá de atalaia, onde constrói a sua principal fazenda, torna Affonso Sardinha um rei sem coroa, mas com muito poder.

4 - Falar dos rios Anhamby/Tietê e Jeribatiba/Pinheiros é falar de Affonso Sardinha, o Velho, e de como, entre 1570 e 1605, ele os liga numa malha social, econômica e militar, para dar segurança aos percursos que, mais tarde, serão os percursos das bandeiras que demandarão o ouro e as esmeraldas em outros rincões do Brasil.

Os rios que abriram as portas à colonização e ao bandeirismo, nos séculos XVI e XVII, são os mesmos rios que no século XXI continuam a dar vida à malha social e econômica da grande São Paulo dos Campos de Piratininga, na sua malha metropolitana e estadual.

Apesar dos desvios de curso, principalmente no Butantã/Ybitátá, pontes e mais pontes, obras para navegação comercial, poluição industrial e doméstica sem controle, etc., os dois rios continuam a deixar-nos sonhar com a aventura de ir sempre além.

[1] Carapocuyba - aldeia de goyanazes ou de guaranis?... Tudo indica que a primitiva Aldeia Carapocuyba é de origem guarani, até pela proximidade com a Aldeia Koty, pois, segundo documentos antigos (títulos de terras e testamentos) que falam dos "goayanazes aldeados no sítio do Capão, por Fernão Dias Paes, o velho, e que Afonso Sardinha, o Velho, tem aldeado outros da mesma tribo em Carapicuíba". Ou seja, há uma miscigenação nativa forçada pela preação que logo vai acabar com os guaranis tanto na Koty como na Carapocuyba. [Páginas 7 e 8 do pdf]

Introdução

Rústica e de pura sobrevivência, a economia quinhentista e seiscentista no planalto piratiningo tem base na bravura, às vezes sanguinária, dos colonos portugueses, até porque, alcançado o topo da Serra do Mar, não tem outra alternativa que não seja o avanço sobre as aldeias goayanazes (ou tupis, em geral) e guaranis que encontram no planalto e nos sertões do Piabiyu e de Ypanen.

É por isso que entre Santos, São Vicente e Piratinin (antes da São Paulo dos Campos de Pitatinin), nasce um complexo familiar de oficinas de artesanato de peças de sobrevivência dos colonos. Entretanto, e "...até à chegada dos jesuítas, em 1554, a principal atividade dos colonos é a de embucharem as mulheres nativas, de preferência filhas de chefes tribais, a exemplo do Bacharel de Cananéa (Cosme Fernandes), e de Ramalho, logo seguidos por Affonso Sardinha e de outros cristãos-novos fugidos da Inquisição católica ibérica, pois, no seu entender, é preciso marcar presença sanguínea".

Um dos mais poderosos colonos de entre os séculos XVI e XVII é o político, paramilitar, mercador e minerador Affonso Sardinha - o Velho, que "negociava com o Reino, a Bahia, o Rio de Janeiro, Buenos Aires e Angola, fabricando e exportando marmelada.

Posteriormente, outro Creso da época, o famoso padre Guilherme Pompeu de Almeida, igualmente produziu milhares de caixinhas de marmelada, que manda vender em Minas Gerais" [Taunay, 1958]. E pode-se dizer que o grande ciclo luso-paulista se inicia com a abertura de uma nova picada na Serra do Mar, entre São Vicente e o planalto, na qual já trabalha também o destemido Affonso Sardinha, a colaborar com os jesuíta: é o Caminho de Anchieta.

Instalados na Piratininga, por ordem do padre Manoel da Nóbrega, os jesuítas recebem um apoio de grande relevância: o suporte de Affonso Sardinha, que o dá a outras congregações vaticanas, numa espécie de "mão aberta" incomum, mas que é para ele mesmo de grande valia logística no sonho de chegar às minas dos metais preciosos que tanto escuta nos falares dos nativos.

Assim, a expansão jesuítica na Capitania de São Vicente é feita a par da expansão dos negócios da Família Sardinha, principalmente a de mineração em sociedade com Clemente Álvares, pois, no final do século XVI, Affonso já põe o filho mameluco, dito o Moço, a representá-lo em algumas empreitadas e o acompanha - aliás, a quem repassa a arte da mineração contrariando os seus pares da Câmara municipal paulistana, que haviam determinado que os colonos não poderiam ensinar aos mamelucos (filhos de brancos com nativas) as artes de fabricar peças metálicas, para que essa não chegassem às mãos dos escravizados... [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Página 12]

Da sua Fazenda Ibitátá à Fazenda Carapocuyba, passando pela Fazenda Jaraguá e o Arraial-Fazenda da Mina de Ouro do Byturuna, além dos arraiais mineiros de Cubatão e de Byraçoiaba, que constitui a primeira Via do Ouro na Capitania de São Vicente, Affonso Sardinha - o Velho, a par da sua atividade de banqueiro (que financia e vive de rendas, a grande atividade judaica) e vereador, é um autêntico imperador nos sertões do Piabiyu (Ybitátá e Carapocuyba) e d´Ypanen (Jaraguá, Byturuna e Byraçoiaba), e é dele a maioria das casas alugadas a padres e oficiais do reino em Santos e São Paulo...

Obviamente, esse português não chegou pobre à colônia, mas fez dobrar muitas vezes o seus cabedais a ponto de se tornar rei e senhor e exigir abertura política na metrópole para comprar escravizados negros de Angola, enquanto envia anualmente para Lisboa mercadorias em nome da Coroa!

Este é o senhor Affonso Sardinha, uma das principais referências da história luso-brasileira no que ao estabelecimento do Brasil diz respeito, nas partes dos sertões da Capitania vicentina, e mais propriamente no oeste da vila de São Paulo dos Campos de Piratinin, e desta até Byraçoiaba, onde se abre o caminho para Araritaguaba, o porto (feliz) onde acontecem depois as monções destinadas a bandeiras o Brasil continental. [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Página 13]

Tábua historiográfica

Em 1550 tem Sardinha tem atividades comerciais em São Vicente e aqui conhece Maria Gonçalves, uma das irmãs de Braz Gonçalves (o Velho).

Em 1553 após verificar que vários aventureiros, entre eles Ulrich Schmidel, fazem o percurso continental do Piabiyu (na verdade uma vasta rede de comunicações terrestres e até fluviais) e mantém relações com nativos hostis e com os espanhóis, o governador Tomé de Sousa manda fechar o velho caminho guarani... que nem os jesuítas nem "o Velho" Sardinha acatam informalmente.

Em 1555 Sardinha atua em São Vicente e em Santos e faz negócios, inclusive, com os corsários ingleses que, por duas vezes, atacam e saqueiam Santos, principalmente com Cavendish. É dono de navio(s) em Santos, segundo documentos históricos da Torre do Tombo, em Lisboa, o que demonstra:

1°, que o judeu Gregório Francisco faz a linha Angola - São Vicente não como dono de navios negreiros, como como sócio ou capitão a serviço de Affonso Sardinha, e 2°, que este desembarcou na "terra dos brazis" para ser desde logo um poderoso colono nas artes de financiar e e viver de rendas, o que faz jus ao histórico de judaísmo convertido ao cristianismo da Família Sardinha da província do Alentejo, no sul português.

Casa com Maria Gonçalves, em 9 de julho, em cerimônia realizada em São Paulo, e o casal fixa residência no Ybitátá (Butantã) onde inicia a formação de fazenda às margens do Rio Jeribativa, ou Jerubatuba (Rio Pinheiros). O casal não tem filhos, mas Affonso reconhece um filho com uma nativa e dá-lhe o mesmo nome: Affonso Sardinha (o Moço), por sua vez, casou-se e teve um filho, Pedro, e duas filhas, Theresa e Luzia. O português e o mameluco trabalham juntos em várias empreitadas de mineração e caça (preação) a nativos hostis. [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Página 14]

Em 1557 recebe a vasta região de Ybitátá em troca (escambo) da construção de uma ponte no Rio Jeribatiba para escoamento de mantimentos essenciais à villa, e aqui constitui fazenda.

Escambo de Carapocuyba

Toma a Aldeia Carapocuyba dos goyanazes e instala nela Fazenda & Capela aproveitando-se do porto fluvial, tornando-se assim o fundador da Carapocuyba luso-católica.

Na região carapocuybana ele trata apenas de atividades rural e escravagista para alimentar as suas gentes e sustentas a azáfama da semeadura e colheita, respectivamente.

Amigo e financiador dos padres jesuítas, assim como de várias capelas de outras irmandades católicas, faz circular escravizados nativos (goayanazes, tupinambás e karai-yos) entre as aldeias que circundam a vila Piratininga em defesa paramilitar da mesma, porque a maioria dos ataques surge do sertão do Piabiyu, pela região da Koty guarani, fechada por decreto imperial à circulação de gente e bens.

Em 1570 tem um engenho de cana d´açúcar em Santos e monta o primeiro trapiche (depósito) de açúcar e pinga da Vila piratininga. Paralelamente ao comércio de açúcar, monta engenho para processar marmelos e torna-se um dos mais ricos comerciantes de São Paulo.

Tanto no litoral como no planalto tem casas que arrenda a padres e aos primeiros advogados que chegam à colônia. É o judeu por excelência que vive de empreendimentos e de renda.

Nos anos 70 é o colono mais poderoso da Capitania de São Vicente acima da Serra do Mar e dá-se ao luxo de financiar a expansão dos jesuítas para o sul, a partir do oeste paulista.

Conhece o prático-minerador Clemente Álvares e estabelece sociedade com ele, pela qual financia a busca de novas minas de ferro, prata e ouro. Clemente Álvares vem a ser um minerador respeitado e, ao mesmo tempo, um cidadão detestado por se apropriar abusivamente de bens e documentos da própria família e das minas de ouro de outros, incluindo as do "velho" Sardinha... que chega a registrar como suas na Câmara Municipal piratininga!

Em 1575 entre escambos, vendas e aquisições, o "velho" Sardinha desfaz-se de Carapocuyba que, cerca de 1578, é doada a Domingos Luiz Grou.

"(...) terras de Carapicuíba que iam até o rio Pinheiros (...) Aí estabelecido travou e estreitou relações com os nativos seus vizinhos, acabando por contrair matrimônio com a nativa Margarida Fernandes, filha do principal da Aldeia de Carapicuíba (...). Em 1563, na iminência de ataque a São Paulo pelos nativos rebelados, foi eleito capitão dos nativos..."

A importante Sesmaria de 12 de outubro de 1580

Sabendo da existência de ouro no Pico do Jaraguá, tenta a mineração, mas é impedido pelos nativos, e só depois de 10 anos de guerra consegue a extração do metal precioso, além de instalar no local um arraial-fazenda.

A pedido dos jesuítas e de políticos poderosos como Affonso Sardinha - o Velho, e Domingos Luiz Grou, o capitão Jerônymo Leitão, da Capitania de São Vicente, que possui fazenda em Barueri, perto da Fazenda e Porto de Carapocuyba, determina a doação de uma Sesmaria aos nativos do Pinheiros e de São Miguel de Ururay, em 12 de outubro de 1580.

A canetada político-administrativa visa assegurar os direitos dos jesuítas e dos colonos luso-paulistas em termos de terras, negócio rural e mineiro, quando a Espanha toma para si os destinos de Portugal.

A sesmaria dupla, a formar um feudo enorme, tem base nas fazendas de Ybitátá e Carapocuyba e daí toma os cursos do Jeribatiba (rio Pinheiros) ou do Anhamby (rio Tietê), dependendo da jornada a empreender. A sesmaria-dupla é um território imenso e as aldeias nativas, ainda sem capela, ficam enquadradas assim no mapa colonial português... apesar de Castela!

Em 1585 Sardinha faz parte da expedição do capitão Jerônymo Leitão para combater os nativos karai-yos. Ele e o capitão entendem-se muito bem politicamente e tem vários negócios em comum. [Livro das Sesmarias, Vol. I; apud Moacyr F. Jordão, e "O Embu...", idem].

Em 1587, em parte do Rio Jeribatiba, na Serra do Cubatão, faz mineração de ouro e de ferro. Entre 1587 e 1588, com indicações dos escravizados nativos, parte com o filho ("o mameluco", ou "o Moço") e Clemente Álvares para a região do sertão da Floresta d´Ypanen e descobre ferro no morro de Byraçoiaba, onde vem a instalar fornos do tipo catalão para iniciar a primeira produção industrial siderúrgica do continente americano a partir, talvez, de 1596-1597.

Em 1590 apesar de existirem ações minerária, na Aldeia Guaru, dos goayanazes, na Serra de Jaguamimbaba, é ele quem opera aqui a maior exploração de ouro. Manda vir de Angola a primeira leva de escravizados para as minas de ferro e de ouro. A encomenda é feita ao mercador judeu de escravizados Gregório Francisco, seu sobrinho, com navio de carreira entre Angola e São Vicente. [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Páginas 15 e 16]

Em 1591, sob indicações dos nativos guaranis e goayanazes, nos campos de Sorocaba, o capitão Belchior Carneiro encontra veios auríferos no Morro do Byturuna, na aldeia goayanáz. Como a coroa lusa, desde 1580 em mãos dos castelhanos, não faz mineração própria, as minas achadas vão a leilão oficial, e aí, Afonso Sardinha - o Velho arremata a Mina dos Arassarys, no Byturuna, e inicia a mineração com o filho e com Clemente Álvares. [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Página 17]

Após o agito político na Vereança, em 2 de maio de 1592, é ratificada a decisão popular em favor do político, desbravador da Via do Ouro, e banqueiro em 20 de setembro:

"Traslado de uma provisão de Affonso Sardinha de capitão desta villa de São Paulo. (...) Jorge Correa capitão e lugar tenente (...) faço saber (...) que havendo respeito aos muitos serviços que Affonso Sardinha tem feito a esta capitania e pela confiança que dele tenho hei por bem de o encarregar de capitão da gente da villa de São Paulo e seus termos )(...)". [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Página 18]

Em 1604 Afonso Sardinha, o moço, faz testamento no sertão e fala que são suas as minas e que tem 80.000 cruzados em outro guardados em botelhas de barro... O jovem mameluco morre em confronto com os nativos neste mesmo ano e deixa um testamento ridículo.

Obs. A cédula testamentária do Moço é uma piada histórica, uma vez que ele foi contemplado com tapera e 300 cruzados pelo pai, em 1592, sendo que tudo isso pertencia a Maria Gonçalves enquanto o Velho, redigido pelo padre João Alvares, é um acontecimento histórico, e tanto assim que, lavrado, é registrado no Cartório de órfãos de São Paulo.

Em 1605 o arraial mineiro do Byturuna dando outro em pequena escala, mas uma grande fortuna, transforma o arraial em fazenda; e, em 4 de dezembro de 1605, depois da morte (1604) do filho, "o Velho" instala a Capela de Santa Bárbara, tornando-se o fundador luso-católico de mais um povoado colonial que terá continuação com outras capelas, outras devoções, outros pontos geográficos, e até outros focos de interesse comercial, rural e logístico, sendo particularmente um eixo para o desenvolvimento do jeito de "bandeirar"que, a algumas milhas dali, a partir de Araritaguaba (o Porto Feliz dos goyanazes), já faz acontecer o Brasil continental!

Obs.

1 - No "ano 1605" não se realizam sessões normais da Vereança paulistana porque os poderosos, latifundiários e para-militares estão ocupados na defesa dos seus bens nos sertões dos guaranis (Piabiyu) e dos tupis (Sorocaba e Ypanen).

2 - Tudo leva a crer que o escandaloso "testamento" de "o Moço", feito no sertão, em 1604, doeu bem no fundo da alma de "o Velho", que passa mais de um ano entre Byraçoiaba e Byturuna, e no arraial-mina do Byturuna manda "fabricar" a capela em honra de Santa Bárbara, ás vezes acompanhado pelo padre jesuíta Antônio da Cruz.

3 - A instalação da Capela de Santa Bárbara é da tradição dos mineradores e militares, como sertanistas, e no caso da Mina-Arraial do Byturuna, no Arassary´i, a história de Afonso Sardinha - o Velho foi passada oralmente, como já havia acontecido com a Capela "fabricada" na Carapocuyba, logo, a História não descarta a Tradição e incorpora-a como registro imaterial pela certeza de que os atos existiram e a arqueologia os mostra, tanto no Parque da Mina de Ouro d´Araçariguama como na Aldeia de Carapicuíba, por exemplo, povoados luso-católicos a partir das ações sertanistas e minerarias do velho Sardinha.

A essa tradição não poderia fugir "o Velho" Sardinha, até pela proximidade dos padres jesuítas, muito vigilantes nos atos eclesiásticos informalmente desencadeados nos sertões, como a "fábrica" de uma "alminha" ou de uma "capela".

Afonso Sardinha vende a mina, o arraial e a capela do Byturuna, ao sócio-artesão Clemente Álvares, que repassa a informação à Câmara de São Paulo, onde é vereador. A translação é tão verdadeira quanto a declaração do próprio vereador Álvares no plenário do Conselho paulistano.

No dia 9 de julho de 1615, com a esposa Maria Gonçalves, e por estarem casados há mais de 60 anos (o que mostra que ele deve ter chegado ao Brasil, fugido da Inquisição, cerca de 1535, tendo conhecimentos militares e siderúrgicos), faz a doação de todos os seus bens móveis e de raiz, com as terras de Carapocuyba, ao Colégio de Santo Inácio da Vila de Piratinin, mesmo tendo as netas Luzia e Theresa e o neto Pedro, filhos de "o Moço", como continuação da sua família. [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Página 20]

O desenho do primeiro ciclo da colonização luso-vaticana e espanhola nas margens fluviais do Anhamby (Tietê), dominado pelos nativos goayanazes, e no leito sertanejo do Piabiyu (Caminho do Peru), aberto e dominado pelos guaranis m´byanos, leva a um nome comum a ambos: Afonso Sardinha - o Velho.

Injustamente esquecido pela maioria dos historiadores e acadêmicos, portugueses e brasileiros, ele foi o precursor do bandeirismo e da siderurgia a oeste da Vila piratininga. Na sua estratégia de conquista dos sertões, ele domina os goayanazes da Aldeia Carapocuyba, em 1557, e instala aí a sua segunda sede fundiária entre o Anhamby e o Piabiyu. Mas, é só por que quer tomar terra e escravizados? Não...

Para elucidar esta questão, eis um pedaço da História que os manuais escolares não contam: Um pedaço da História contado por Mello Nóbrega citando Theodoro Sampaio.

"(...) Descendo o rio para (...) São Paulo, tocava-se o sítio de Nossa Senhora da Esperança com um aldeamento fundado por Manuel Preto, e que veio a ser depois a capela e povoação de Nossa Senhora da Expectação do Ó; deixava-se pouco mais abaixo, à esquerda, o sítio de Embuaçava, de Afonso Sardinha, e podia-se ir até as primeiras lavouras de Parnaíba, se se não preferisse desembarcar no porto de Carapicuíba, ou entrar pelo Jeribatiba para visitar Pinheiros e mais além Ibirapuera (...)";

O que significa isto? Que para ele, "o Velho", Sardinha, a conquista dos sertões exige pontos estratégicos tanto fluviais como terrestres. Dois portos fluviais são de importância fundamental: o do Pinheiros, onde tem a sua fazenda Ybitátá, e o de Tietê, lá na Carapocuyba.

E, na prática colonial, os jesuítas seguem os passos do político e minerador que, ao morrer em 1616, lhes deixa tudo em doação, com exceção do Sítio Embuaçava, que coube como herança em vida ao filho (mameluco) Affonso Sardinha - o Moço, que morre em 1604 no meio de uma batalha com nativos. É assim que a Aldeia & Porto Carapocuyba tem, entre 1557 e 1610, tanto valor estratégico quanto a Santa Anna de Parnaíba, que cresce despovoando São Paulo.

Também por isto, e por que os documentos históricos falam por sí, é justo dizer-se que "a definição sócio-colonial de Carapocuyba acontece com a fazenda-porto que Affonso Sardinha estabelece em 1557, após sitiar os nativos". [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Páginas 23 e 24]

Breve tábua historiográfica

Em 1553 O jesuíta Manoel da Nóbrega visita parte do oeste de Piratininga e determina a construção da Casa e Capela jesuítica na Aldeia Piratininga, enquanto parte das operações estratégicas para seguir na direção sul onde quer instalar o império teocrático.

Fica a saber da existência de vários aldeamentos tupis e guaranis ao longo do Piabiyu através de João Ramalho. Entre esses aldeamentos está Carapocuyba com porto para o Anhamby.

Em 1555 instala-se na vila jesuítica o capitalista, militar e minerador Afonso Sardinha, dito "o Velho". É este desbravador, que faz mineração em Guaru, Cubatão e na Borda do Campo, que quer conhecer "a aldeia que liga o Piabiyu ao Anhamby", segundo as informações que obtém dos escravizados guaranis, inimigos dos guayanazes que habitam essa aldeia perto da guarany Koty.

Em 1557 Affonso Sardinha - o Velho recebe em "sesmaria" (doação de terras do rei através da Capitania de São Vicente) as terras de Ybitátá em troca de mandar construir uma ponte sobre rio Jeribatyba e facilitar o escoamento dos produtos agrícolas e pecuários que chegam pelo Piabiyu e outras estradas do "sertão dos karai-yos" (ou "carijós").

Tomada de Carapocuyba. No mesmo ano de 1557, e interessado em abrir caminho terrestre pelo Piabiyu e fluvial pelo Anhamby, o poderoso luso-paulista toma a Aldeia Carapocuyba e nela estabelece precária fazenda, porque o seu interesse está focado no portinho fluvial. O "velho" Affonso Sardinha determina e manda fazer "fábrica" de uma Capela no centro do que fora a aldeia goayanaz para evangelização de todas as pessoas. [História de Carapicuíba, 25.03.2013. João Barcellos. Página 25]

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