A siderúrgica de San Juan Bautista, 2010. Pe. Antônio Clemente Sepp
2010. Há 14 anos
Tudo indica que em 1597 o bandeirante Afonso Sardinha e seu filho Afonso Sardinha, o Moço, montaram a primeira siderúrgica brasileira. Pesquisas realizadas no Morro de Araçoiaba, Iperó, São Paulo, onde se situa o Sítio Arqueológico Histórico Afonso Sardinha, evidenciam o uso do forno catalão. Datações de fragmentos de cerâmicas, de telhas e de resquícios de fundição encontrados no local, dão conta que portugueses, espanhóis e nativos já se dedicavam a atividade siderúrgica aí por volta de 1540.
O forno catalão foi utilizado nas reduções jesuíticas de Guairá (1610-1638), no Paraná, do Tape (1626-1639), no RS e na de Itatim (1631 a 1643), no Mato Grosso do Sul(MS). O ferro provinha de minerações a céu aberto ou vinha da Europa na forma de barras.Em Itatim fundia-se também o estanho explorado na região.Os dados existentes sugerem que a siderúrgica de San Juan Bautista iniciou suasatividades 100 anos após a instalação daquela siderúrgica paulista, e entre 70 anos e 40 anosdepois da implantação das metalúrgicas do PR, MS e até mesmo de algumas outras reduçõescriadas durante o 1º Ciclo Missioneiro do RS.Os guaranis conheciam metais, pois compravam pequenas plaquetas de cobre, estanho, ouro e prata dos povos subandinos e chaquenhos11, e as usavam como adorno. Alémdisso, há registros de que utilizavam machados de cobre em rituais de antropofagia. Mas,por fatores culturais, não haviam desenvolvido a metalurgia. Dotados, no entanto, de extraordinária habilidade manual, logo oficinas, entre elas as ferrarias, se organizaram nas reduções.É provável que o Pe. Sepp dominasse as técnicas alemãs e talvez esta tenha sido umadas razões que levou o jesuíta a escrever com entusiasmo por ocasião da descoberta da natureza mineralógica da pedra formigueiro: ... regozije-se comigo como se eu tivesse escavadoum tesouro ...: foi encontrado ferro e aço.A itacura (Figura 6B) é encontrada na superfície ou poucos centímetros abaixo dela,disposta em camadas com 0,30cm a 0,50cm de espessura e significativa extensão horizontal(Figura 6), fatores que facilitaram o seu corte em blocos, a sua extração e o seu transporte.É possível que a sua distribuição, em 1700, abrangesse uma extensa área do entorno dasreduções de San Lorenzo Mártir, San Angel Custódio, San Miguel Arcángel e San JuanBautista. Esse ponto de vista é reforçado se considerarmos que a maioria dos prédios daquelas reduções foi erguida com esta rocha (Figura 6A).Segundo o Pe. Sepp, o forno siderúrgico de San Juan erguido com tijolos crus(adobe) possuía 3,0m de altura e 1,80m de largura, contendo, no centro, uma chaminé. Opadre também documentou o processo de fundição que consistia na introdução, pela chaminé, de seis porções de carvão e uma de itacuru britada, previamente aquecida para desumidificar. Acendido o fogo mantinha-se ventilação forte e regular, possivelmente com o auxílio de um fole, apesar de não ser mencionada sua existência nos relatos do religioso. Àmedida que o material era aquecido, o ferro deslocava-se para baixo enquanto as escóriasescorriam por uma abertura a elas destinada, situada acima de onde se alojava a “esponja”.Após 24 horas abria-se um orifício no forno e retirava-se a “esponja” que era martelada atéadquirir a forma desejada e, a seguir temperada, mergulhando-se o ferro incandescente na [A siderúrgica de San Juan Bautista, 2010. Pe. Antônio Clemente Sepp. Página 10]