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Descobrindo o Brasil, por Manoel Rodrigues Ferreira. Jornal da Tarde, Caderno de Sábado. Página 4
4 de dezembro de 199304/04/2024 23:11:51

No dia 5 de dezembro de 1593, há exatos quatrocentos anos, a Câmara da República da Vila de São Paulo viveu um momento agitado: recebia os remanescentes da Bandeira de Domingos Luís Grou - Antônio de Macedo, que regressavam depois de quatro anos perdidos no até então vasto desconhecida sertão do Interior do Brasil. Essa expedição iniciara o 2° Descobrimento do País.

Logo após os Descobrimentos, na hoje América do Sul, portugueses e espanhóis ouviam dos nativos, no litoral, a notícia segundo a qual existia no Interior do Continente uma grande Lagoa muito rica em ouro, prata e pedras pedras preciosas, particularmente esmeraldas. Junto à Lagoa havia uma cidade também muito rica, e nela, Lagoa, nasciam os principais rios que desaguam no mar.

Essa única Lagoa recebia diferentes nomes segundo as diferentes tribos onde estas se localizavam: Lagoa Parime na hoje Venezuela; Lagoa Manoa e Lagoa Guatavita (Lagoa do El Dorado) na hoje Colômbia; Lagoa Paititi no hoje Peru; outra Lagoa no hoje Chile; Lagoa Xaraies no hoje Paraguai. No Brasil essa Lagoa recebia os seguintes nomes: Lagoa Paraupava (em São Paulo); Lagoa Vupabuçú (variante em língua Tupi, de Paraupava), Lagoa Dourada e Lagoa Grande nas Capitanias do Nordeste.

Nos mapas europeus da América do Sul era também designada por Lacus Eupaana (uma tradução latina e corrupta de Paraupava). Os cartógrafos europeus inicialmente desenhavam nos mapas da hoje América do Sul uma grande Lagoa e nela nascendo somente os dois grande rios: Rio Paraguai (Rio da Prata) e o Rio Paraupava (hoje Rio Araguaia), este até à sua foz na embocadura do Rio Amazonas.

A partir de 1522 portugueses (com a expedição de Aleixo Garcia) e espanhóis tentaram chegar à célebre Lagoa subindo o Rio da Prata e Paraguai, mas sem conseguir chegar à sua nascente. Martim Afonso de Sousa deixou Lisboa em Dezembro de 1530, com cerca de 400 homens, com esse objetivo. Depois de tentativas malogradas de chegar ao Rio Paraguai através do Rio da Prata e por terra com a expedição de Pero Lobo que partiu de Cananéa e foi dizimada inteiramente pelos nativos Carijós (do grupo linguístico Tupí-Guaraní), Martim Afonso de Sousa chegou à conclusão de que somente com sertanistas experimentados, formados num núcleo para tanto criado, poderia chegar á célebre Lagoa. Por isso resolveu fundar no planalto a Vila de Piratininga (hoje a cidade de São Paulo), no ano de 1532 (provavelmente no dia 10 de outubro).

Deve Martim Afonso de Sousa ter chegado à conclusão de que o Rio Anhembi (hoje Rio Tietê) corria para o interior, exatamente em rumo Noroeste, onde se achava a Lagoa nos mapas. Seria pois a vila de Piratininga uma Escola de Sertanistas, à maneira da Escola de Sagres para formar navegadores.

A partir de 1559, também nos mapas europeus passou o Rio São Francisco a nascer na célebre Lagoa. É de se salientar que ela era dada como existente por todos, tanto na Europa como na América do Sul, inclusive reis, cartógrafos, geógrafos, cientistas, escritores, religiosos, aventureiros, etc.

Não houve, no século XV (1500-1600) e até começos do seguinte, quem pusesse em dúvida a célebre Lagoa. Durante o século XV foram elaborados na Europa, cerca de cem mapas da hoje América do Sul com a Lagoa. A sua existência era pois uma certeza absoluta, e dentre os quais a procuraram estava, no fim do século XV, o inglês Sir Wálter Raleigh, na Venezuela.

Até 1586 os sertanistas de São Paulo, na procura de um caminho para alcançar o Rio Paraguai, devassaram, exploraram meticulosamente uma grande área no redor da Vila, estendendo-a para o Sul. A partir desse ano o grande sertanista Domingos Luís Grou (casado com uma nativa) procura novo caminho para chegar à célebre Lagoa Paraupava: ganhando e subindo o Rio São Francisco à procura da sua nascente, que era a mesma Lagoa. Fica com a sua expedição um ano e três meses no sertão do Rio São Francisco.

No início de 1590, Domingos Luís Grou une-se ao sertanista Antônio de Macedo (filho de João Ramalho e uma nativa) e formam uma nova expedição com 50 homens. Descem o Rio Anhembi (hoje Rio Tietê) sobem o Rio Grande (hoje Rio Paraná), ganham o Rio São Francisco, infletem para o Oeste e começam a grande penetração do vasto e desconhecido sertão do Interior do Brasil à procura da Lagoa Paraupava.

Esquadrinham todo esse território e ao hoje Rio Araguaia dão o nome de Rio Paraupava, por se crer que nascia na Lagoa Paraupava, e nele acham a grande área arqueológica dos desenhos esculpidos nas rochas (gravuras rupestres ou as ítacoatiaras dos nativos), à qual dão o nome de Martírios. Dos Martírios penetram no sertão à esquerda do Rio Paraupava, encontrando ouro na região da hoje Serra Pelada, mas impossível de ser explorado devido à resistência dos nativos Bilreiros (hoje nativos Caiapós).

A expedição de Grou-Macedo fica quatro anos no sertão do Paraupava, sendo dada por perdida na Vila de São Paulo, onde reaparece no dia 5 de dezembro de 1593, mas com a falta de muitos sertanistas, mortos no sertão, inclusive os seus dois chefes, além do francês Guilherme Navarro.

Após a expedição de Grou-Macedo teve início, na vila de São Paulo, um imenso movimento de expedições em direção ao Sertão do Paraupava, o que é natural, considerando as notícias que foram trazidas à existência de ouro à esquerda dos Martírios, na hoje região de Serra Pelada, dominada pelos ferozes e guerreiros Bilreiros (hoje Caiapós). Houve até tentativa de famílias de São Paulo mudarem-se para lá, o que não se efetivou devido à belicosidade desses nativos. Mas, após a expedição de Grou-Macedo (1590-1593), e até 1618, portanto durante 24 anos, dez expedições se dirigiram ao Sertão do Paraupava, explorando-o intensamente, chegando à conclusão de que a célebre Lagoa Paraupava não existia, era um mito nativo, e que os rios Paraguai, São Francisco e Paraupava (hoje Araguaia) não nasciam em lagoa alguma, tendo os três suas nascentes independentes entre sí.

Foram esses sertanistas do Ciclo Paraupava (1590-1618) os nossos e primeiros grandes geógrafos, fornecendo aos cartógrafos em Portugal os elementos para os primeiros mapas científicos do Interior do Brasil. Deixaram também inúmeros roteiros escritos que inflamariam a imaginação dos futuros sertanistas que 56 anos após começariam a descobrir ouro: em Minas Gerais (Fernão Dias Pais em 1674), em Mato Grosso (Pascoal Moreira Cabral em 1718), e Goiás (Bartholomeu Bueno da Silva Jr., o Anhanguera II em 1722).

Mas o mito da Lagoa ainda permanece vivo nos países da América da Sul onde primeiro surgiu, inclusive no Brasil, como por exemplo em Minas Gerais (Lagoa Vupabuçú ou Dourado, entre Teófilo Otoni e Governador Valadares), no Paraná (Lagoa Dourada em Vila Velha) e São Paulo (Lagoa Dourada em Iguape e Ilha do Cardoso).

A vila de São Paulo necessitava de gente para sobreviver, para crescer, por isso atraia os nativos para nela viverem. A ata da Câmara da República da Vila de São Paulo de Piratininga, de 30 de abril de 1563 fala da "necessidade que temos dos nativos e sermos poucos nesta vila". Mais de 300 anos após, no final do século passado, a agora Cidade de São Paulo, para se desenvolver mais, para crescer mais, começou a atrair as imigrações européia e asiática. Dois momentos idênticos na História de São Paulo separados por um espaço de três séculos.
Descobrindo o Brasil, por Manoel Rodrigues Ferreira. Jornal da Tarde, Caderno de Sábado. Página 4

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