Prosseguindo na ordem dos acontecimentos ocorridos em Cananéa, passaremos ao estudo de um dos fatos mais importantes ali registrados, logo depois do aportamento da frota afonsina. Como afirmam os cronistas da época, a procura de minas de ouro era um dos princípios "reguladores do regimento do Brasil, prescritos pelo governo da metrópole, nos termos que se sucederam ao seu descobrimento, e que os governadores tinham de memória e em mór desvê-lo, o preocuparam-se logo".
Como diz Machado de Oliveira esse fato deu causa a funestos incidentes, de entre os quais a História registra a horrível catástrofe ocorrida com os oitenta homens mandados por Martim Afonso de Souza, nos poucos dias de sua permanência em Cananéia ao
"matadouro dos Carijós, induzido fatalmente pelas sugestões de Francisco de Chaves, que convivia com os nativos".
Francisco de Chaves, levando ao conhecimento de Martim Afonso a existência de minas de ouro e prata nos sertões de Cananéia, fê-lo organizar a desgraçada expedição chamada dos Oitenta Homens, composta de quarenta besteiros e quarenta espingardeiros, a qual, sob a direção de Pero Lobo, oficial de sua armada, partiu para o sertão dia 1 de setembro de 1531, perecendo toda ela, segundo a opinião dos nossos historiadores,
"às mãos dos ferozes carijós, junto as cabeceiras do Iguassú".
A. Vieira dos Santos, em sua Memória Histórica de Paranaguá, referindo-se à mesma diz:
"A expedição que Martim Afonso de Souza enviou as sertões de Cananéa, foi infeliz, por serem aqueles portugueses atraiçoadamente mortos pelos nativos, não constando nem um escapasse, nem mesmo o guia seu condutor; ignoram-se os pormenores deste infausto acontecimento; e nem se sabe o lugar certo onde foi tal massacre, se nos sertões das cabeceiras da Ribeira de Iguape, ou nas Serranias do Açongui, e Negra, ou se nas várzeas próximas ás grandes Cordilheiras".
Romário Martins, por sua vez, no trabalho Descobrimento dos Campos de Curitiba, diz que esta expedição,
"galgando a Serra Geral, abaixo da Serra Negra, no lugar onde ficou chamado a picada do trilho da Serra contornou e saiu nos campos de Curitiba, sendo sacrificado junto às nascentes do Goyo-Govó, que é o Iguassú".
Como diz Azevedo Marques, em seus Apontamentos Históricos, fora esse o batismo de sangue da primeira expedição que se internava pelo sertão do Brasil.
Não foi essa, porém, a primeira expedição que penetrou nos sertões do Brasil, com o intuito de descobrir prata, ouro e pedras preciosas, mas sim outra anterior, que partiu do Rio de Janeiro em junho de 1531, por ocasião da permanência da armada de Martim Afonso naquele ponto. Compunha-se a mesma de quatro ousados expedicionários portugueses, cujos nomes são ignorados.
Sobre ela escreveu Pero Lopes no Diário de Bordo:
"Daqui mandou o Capitão Irmão quatro homens pela terra dentro; e foram e vieram em dois meses e andaram pela terra em centro e quinze léguas; e as sessenta e cinco dias delas foram em montanhas mui grande; e foram até darem com um grande rei, senhor de todos aqueles campos, que lhe fez muita honra e veio com eles até os entregar ao Capitão Irmão. E lhes trouxe muito cristal e deu novas como no Rio de Paraguay trouxe muito ouro e prata. O Capitão Irmão lhes fez muita honra, lhe deu muitas dádivas e mandou tornar para suas terras". [Páginas 412 e 413, 22 e 23 do pdf]