Wildcard SSL Certificates
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
Registros (129)CidadesTemas



“Europeus e Indígenas - Relações interculturais no Guairá nos séculos XVI e XVII”. Mestrado de Nádia Moreira Chagas, Universidade Estadual de Maringá. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA - MESTRADO
201004/04/2024 23:44:06

Uruguai e litoral do Rio Grande do Sul, descrevendo as regiões e portos20, até chegar ao RioUruguai, com seus importantes afluentes, e adiante dele, o Rio Negro e seus afluentes.Nessa delimitação do Guairá, o Rio Paraná é considerado o principal, recebendo todosos rios que saem do lado do Brasil e se junta ao Rio Paraguay, e bom para navegação. OIguaçu, um caudaloso rio do Guairá que encontra o Rio Paraná, é lembrado como o local ondeos jesuitas fundaram a Redução de Santa Maria la Mayor, e também onde se formam grandessaltos, as Cataratas do Iguaçu, que impossibilitavam a sua navegação.

Guzmán 21, descreveu as Cataratas do Iguaçu como “[...] la más maravillosa obra de lanaturaleza que hay [...]”, cujo barulho era ouvido a oito léguas dali. É necessário observar o autor está escrevendo em 1612, razão porque já está se referindo à existência da cidade de Puerto Real, a três léguas acima dos saltos, que é a mesma Ciudad Real, (ora ela é chamadapor um, ora pelo outro nome) fundada na foz do Rio Piquiri, sob o Trópico de Capricórnio. Nessa mesma rota, 12 léguas acima de Puerto Real ou Ciudad Real, ele destaca dois rios, à direita o Rio Ubay, e à esquerda o Muney. No Rio Ubay ou Huibaí, a 50 léguas, estava fundada a cidade de Villa Rica del Espírito Santo.

Ainda na descrição de Guzmán, e continuando a subir o Rio Paraná, está seu grande afluente, o rio Paranapanema, um dos principais rios do Guairá. Seus afluentes são os Rios Tibajiba, e o Pirapó. O rio Ayembí ou Añemby (que é o Tietê) que, de São Vicente chega ao rio Paraná, também é citado aqui, e que por esse rio “[...] se comunican [...] los portugueses de la costa de los castellanos de esta província de Guayrá [...]”, em referência à sua importância para a comunicação entre as regiões. São relacionados ainda outros rios que entram pelo rio Paraná, como o seu afluente Paraná-Itabuiyí ou Itabuigí que, na interpretação do autor, estava ao lado do Brasil. Seu nome quer dizer “yibá = brazo; bú = salir; iguí = de él, esto es, rio de donde brota outro [...]”.

ORio Piquiri não está relacionado nesta obra, embora haja referência de que todos erambastantes povoados de indígenas. [Página 32]

ao oeste, o rio Paraná [...]”. Ele também observou que, geograficamente, existiam duasregiões no Guairá, separadas pelas montanhas conhecidas então como Ybytyrembetá. Umaplana, alta, ao oriente do rio Paraná, estendendo-se até o mar; e uma parte montanhosa. Aregião montanhosa, diz ele, apresentava-se quase toda coberta por florestas quase impossíveisde penetrar e com “[...] serranias inmensas de cuyas faldas nacen múltiplas corrientes de águaque [...]”31que, ao chegar ao rio Paraná, se convertiam em rios com muita água. E dessasmesmas montanhas, de Ybytyrembetá, saiam outros afluentes do rio Paraná, mais ao sul, o rioIguaçu, com arrecifes e saltos, lembrando também a sua difícil navegação.De acordo ainda com as descrições desse mesmo autor, perto da desembocadura do rioIguaçu, considerado um importante tributário do rio Paraná, os primeiros conquistadoresdenominaram a um porto de Peña Pobre32, em virtude de terem acreditado que o penhascolocalizado na região fosse composto do metal tão procurado (o ouro) porque resplandecia umbrilho muito forte, mas que não encontraram nada por ali. A trinta léguas desse porto, estava oSalto del Guairá, conhecido como as mais maravilhosas quedas d’água que os conquistadoresjá tinham visto, e mais duas léguas acima, o rio Piquyry33e, doze léguas para o norte, o rioHuybaí (Ivaí). Este mesmo rio Ivaí nasce no coração da Província do Guairá, e seguindo seucurso, a setenta léguas de sua foz, está o Salto de Arayny (o autor não dá explicaçãoetmológica), e tem como tributários o Yñeë-y, cujo nome está relacionado aos peixes quetêm34, e o Carimbatay. Para completar as informações sobre a bacia hidrográfica do Guairá, orio Paranapanema, é descrito como outro grande e extenso afluente do rio Paraná, que nascenas imediações do rio Piratin-ní, região banhada também pelos rios Pirapó, Itangu-á, eTibaxiba ou Atibajiba35, seus tributários. [Página 34]

do Rio Paraná, para fugir das investidas dos mamelucos, em momento posterior85. Segundo oautor, os Chovas eram indígenas do Guairá, com a mesma língua dos Pates e “[...] aunquehasta ahora no han visto españoles [...]”86, viviam nas margens do Rio Iguaçu e em toda suaextensão, provavelmente bastante retirados, o que pode explicar o fato de nunca teremencontrado os espanhóis. É interessante notar que o autor ainda diz que “[...] Por serguaraníes, y por estar más en contacto con los mamalucos, deben haber sido las primerasvíctimas de sus incursiones [...]”.Muitas outras nações indígenas ainda, de costumes e línguas diferentes, viviam nasmargens dos rios Paraguay e Paraná. Seguindo a rota do Rio Paraná que Guzmán87optou parafazer sua descrição, na região da cidade de Puerto Real, e também ao largo do Rio Ubay ouHuibai (Ivaí), habitavam mais de 200 mil Guarani, que se espalhavam por outros rios,montanhas, nos campos de pinhais e até a cidade de São Paulo, no Brasil. A região do rioParanapanema e de seus afluentes o Tibajiba (já classificado anteriormente) e o Pirapóestavam bastante povoadas também, e foi na foz do Pirapó que se fundou a Redução de NossaSenhora de Loreto, por exemplo, “[...] una de las trece que componían las províncias deTayaoba [...]”88.Hernando de Trejo, um dos conquistadores espanhóis que vieram por volta de 1552 naexpedição de Diego de Sanabria, citado por Guzmán, ao partir de Santa Catarina paraAssunção, encontrou diversas populações indígenas, entre eles, um grupo cujo caciquechamava-se Gapua89, considerados Guarani, que viviam nas margens do Rio Iguaçu. Trejoencontrou, ainda, os Aguarás que não existem mais, portanto pouco conhecidos, masconsiderados Guarani90. Ainda nos escritos de Guzmán91, são relacionados os Peabeyú, “[...]indios comarcanos del Guayrá [...]", cujo significado da palavra em Guarani é pé = camino;abi = antiguo; y yú = ir, volver”, vivendo principalmente na Província de Tayaoba. Portanto,uma numerosa população indígena, predominando os Guarani, são relacionados por esseautor, além de outras etnias habitando nas regiões adjacentes ao Guairá. [Página 48]

impedir que o fizessem. Outro dos navios da expedição seguiu para São Vicente (Brasil), voltando, depois de dois anos, por terra, em direção a Assunção, levando o primeiro rebanho de gado vacum. A jornada pode ter sido realizada pelo interior do Guairá, embora o autor não faça referências aos locais de passagem da expedição.

Mas, ainda outro dos seus navios, capitaneado por Hernando de Trejo, foi para SantaCatarina. Lá, Trejo fundou a colônia de São Francisco, que teve breve duração, no local ondedeságua o rio desse nome, e algum tempo depois, partiu para Assunção. De acordo comGuzmán40, ele fez o mesmo caminho de Cabeza de Vaca, pelo Guairá: “[...] sale por el rioItabucú; pierde mucha gente; es bien recibido por los índios; llega al rio Iguazú; pasa al deTibajiba; se dirige al Huibay; entra la tierra de los aguarás y llega a la Asunción [...].Guzmán41conta detalhadamente essa história, dizendo que, em 1552 a expedição trouxeSanabria para assumir o posto de adelantado do Rio da Prata, chegou ao sul, na Lagoa dosPatos, e após terem todos os navios salvos Hernando de Trejo ficou como capitão em lugar deJuan de Salazar Espinosa, mas muitos se recusaram a aceitar a situação, partindo para oBrasil. Em 1553, ele fundou o povoado de São Francisco, no porto do rio São Francisco,localizada a 25º, ou mais ou menos 30 léguas de Cananea que, de acordo com os limitesterritoriais da época, pertencia a Portugal. Nesse ínterim “[...] Hernando de Trejo [...] se casócon doña María de Sanabria, hija del adelantado; de cuyo matrimonio hubieron y procrearonal reverendísimo señor don Fray Fernando de Trejo, obispo de Tucumán, que nació en aquellaprovíncia [...]”. Em virtude das muitas dificuldades, em 1554 resolveram despovoar a região epartir para Assunção. Assim[...] Salieron, pues, su camino la mitad de la gente con las mujeres por el rioItabucú arriba, y la outra mitad por tierra, hasta la falda de la sierra; [...] Yasí caminaron por el mismo camino de Cabeza de Vaca; hasta que un dia, delos que iban por tierra con el capitán Saavedra (Cristóbal de Saavedra),sucedió que una compañía de soldados se dividió de los otros para buscaralgunas yerbas y palmitos [...] y alejándose más de lo que debían [...] fueronhallados todos muertos de hambre [...].42O historiador Guzmán43deixa mais claro o trajeto que essa expedição fez para chegara Assunção, evidenciando que passaram pelo Guairá, já que ele diz que fizeram o trajeto deCabeza de Vaca. Segundo ele, 32 soldados, quando saíram para procurar alimentos, acabaramse afastando muito do restante da expedição e não conseguiram voltar, entendendo-se que [Página 76]

De acordo com o mapa acima, as Reduções Jesuíticas localizavam-se nos vales dosrios Paranapanema, Tibagi, Ivaí, Piquiri, Iguaçú, e das cidades espanholas, no território doGuairá, que, entre os séculos XVI e início do XVII fazia parte dos domínios da Espanha naAmérica.3.2.1 Preocupação das autoridades para a formação das Reduções

Intensificaram-se a partir da primeira década do século XVII, os esforços para a formação das Reduções que necessitou também da intervenção das autoridades, como se pode ver em documento de 26 de novembro de 1609, em que o Capitão Don Antonio de Añasco, tenente de governador nas Províncias do Paraguai e do Rio da Prata, disse que

Por el presente mando al capª Pero garçia y outra qualquer Justiçia de guayra, que en ningª manera precisa asta que outra cosa se ordene y mande, no salgan ni enbien a hacer malocas Jornadas ni entrada ningª a la Provª del yparanapane y Atibaxiba, ni outro ningun rio que cayga en el paranapane, porquanto de presente se pretende reduçir a los naturales della por médio del Padre Joseph Cataldino y el P. Simon Maseta de la compañia de Jesus a quien les esta cometida la dha reduçion, antes para Ella les acudiran y haran acudir con todo el favor y auyda que fuere neccessº por ser cosa tan del serviçio de dios N. Señor y de su magestad y bien de la tierra, ni menos consientan que ningun soldado ni viçino entre a inquietar los yndios com achaque [...]42.

Embora o documento tenha muitas informações a serem discutidas, assinala-se, apenas a preocupação do governante com relação ao trabalho que os padres Cataldino e Masseta realizariam entre os indígenas do Guairá. Isso seria importante para a coroa espanhola, no sentido de que essas populações estariam “acomodadas” nas povoações fundadas pelos jesuítas, contribuindo para a entrada dos espanhóis na região, o que explica tanto zelo e preocupação para que os padres tivessem todo o necessário para organizar as reduções. Não há vestígios de preocupação, portanto, em que as populações indígenas pudessem ter sidovistas e compreendidas em suas diferenças 43.

A leitura do mesmo demonstra ainda que, osespanhóis costumavam maloquear as aldeias indígenas para forçá-los ao trabalho em suasfazendas e minas, e que tais ações ficariam proibidas nas regiões onde os jesuítas aplicariamseus métodos de ensino e redução das populações.3.2.2 A evangelização no GuairáA cruz, que simbolizava o poder da evangelização cristã, foi a arma usada pelos padresque vieram inicialmente para colaborar com os espanhóis em seus diversos conflitos com osindígenas. Em relação a isso, Capdeville44lembra que o padre Montoya expressou seussentimentos sobre esse trabalho, dizendo[...] se verá claramente [nas histórias e documentos] que sin ayuda deespañol alguno, se entraron por las tierras de los gentiles, llevando por armasuna cruz en las manos que juntamente sirve de báculo. Y si, después dehaber experimentado agravios de los gentiles, poça fé en su palabra derecibir pacificamente a los predicadores del Evangelio, llevan Indios amigosque los defienden, quién dudará que esto no sea muy lícito? Siabsolutamente dicen que los Religiosos hacen la guerra a los Indios, paraforçar-los a recibir nuestra santa fé, es intolerable ignorância o sobradamalícia juzgar que aquellos Religiosos ignoran el modo que Cristo N.S. dejóa sus Apóstoles de predicar e introducir su Evangelio [...]. [Páginas 116 e 117]

Como Superior, cabia ao padre José Cataldino, a visita frequente aos povoados, paravistoriar se a religião estava sendo aplicada e observar a relação dos padres tanto com asautoridades da Igreja quanto com os governantes civis e também com relação ao governo dosindígenas, segundo explica Capdeville143, o que lhe permitiu obter as informações constantesno documento, mas também permite ao leitor compreender o relacionamento dos padres,indígenas e conquistadores.Os testemunhos dos habitantes da província do Guairá, presentes no documento,mostram que o padre Cataldino pretendia informar às autoridades que as ordens estavamsendo cumpridas, e também que os povoados já estavam sofrendo as investidas dosbandeirantes paulistas.É interessante observar de quem foram os testemunhos prestados em favor dos padres,o que pode significar a necessidade que os próprios espanhóis, moradores da região do Guairátinham com respeito a essa questão, provavelmente pelo interesse em manter com osindígenas bons relacionamentos para que deles pudessem obter o serviço pessoal. Entre elesestava o do próprio Hernando Arias de Saavedra, que em 1609, então governador do Paraguai,havia pedido ao provincial da Companhia de Jesus, Diogo de Tôrres, que enviasse padres paraa Província do Guairá para conhecer o território e seus habitantes para fazer o trabalho deevangelização entre os índios, logo após a criação da Província do Paraguai e Tucumán,independente do Peru, o que resultou na fundação nas margens dos Rios Paranapanema eTibagí, das povoações de índios que reduzidos foram ensinados na doutrina católica, etambém foram protegidos das invasões dos portugueses. E como registrou Cardozo144[...] comenzó para la propaganda religiosa del Guairá, la segunda y fructuosaetapa. Con la intervención activa del Gran gobernador criollo HernandoArias de Saavedra, se reanudó la evangelización de la Província guaireña acargo de los PP. José Cataldino y Simón Maceta, quienes salieron de laAsunción com destino a aquella Província el 8 de diciembra de 1609.Portanto, ele está confirmando sua atuação na formação das reduções, para onde foramenviados dois padres, e mais tarde outros, Antonio Ruyz e Martim Xavier. SegundoHernandarias, bem informado pelos vizinhos daquelas províncias, os padres ensinavam eprocuravam aprender a língua dos indígenas e os haviam reduzido em grande número nos riosParanapanema e Tibajiva (Tibagi). Confirma, ainda, os muitos trabalhos, pobreza,dificuldades da terra, além das investidas dos portugueses, vindos do Brasil. [Página 149]

Note-se que à época do documento, Hernandarias estava em seu terceiro governo noParaguai43, como ele mesmo informa e que foi a seu pedido que os padres tinham sidoenviados ao Guairá, dando início aos trabalhos missionários e às reduções, em 1609. Segundoele, eram difíceis os trabalhos e que “[...] sin emvargo de las vejaciones que rreciben de losPortugueses del Brasil que entran por S. Pablo en ella yndios (sic) engañados a las minas ypara que conste de ello dicho [...]”, confirmando o fato dos índios serem levados para SãoPaulo, desde, portanto, o início do século XVII44.Alguns documentos dos padres jesuítas45permitem relacionar os acontecimentos,apesar de algumas divergências de informações. O padre Techo46, por exemplo, diz que ospaulistas iniciaram suas investidas contra os indígenas (Tupinaqueí) “[...] que vivian en ambasorillas del Añembi, río que nace en un monte elevado y cubierto de nieves; en su cursoatraviesa el Guairá y desemboca en el Paraná [...]”, o que pode explicar como eles iriam entrarnessa região em momento posterior. Segundo o autor47, essas primeiras guerras dos paulistascontinuaram até o final de 1580, quando partiram para outras regiões não se incomodandocom a proibição da escravidão indígena, eLo más extraño es que antes de comenzar tales incursiones, que duraban tresy cuatro años, a las ordenes de un jefe que elegían, recibían los sacramentosy llevaban consigo a veces sacerdotes [...] es que aquellos forajidos llamarona tales razías y latrocínios excursiones apostólicas; porque según decían,sacaban los bárbaros de las tinieblas del paganismo y les enseñaban elEvangelio.Os próprios mamelucos48consideravam suas atividades como justas, porque segundoeles, tirariam os indígenas de seu estado “bárbaro” para o cristão.Em Ânua ao Provincial Nicolau Durán, datada de 1628, o padre Montoya faz umretrato desses portugueses, ao falar da situação da Redução de San Francisco Xavier, queestava sofrendo vários reveses, nesse ano, como a fome, provavelmente em razão da peste(varíola) que havia assolado a região no ano anterior, e a invasão dos “[...] Piratas Portugueses[...]”, que pareciam “[...] bestias fieras que hombres racionales [...]”, que entravam de forma [Página 165]

[...]”87. Essa era a maneira utilizada pelos bandeirantes para manter presos os indígenas, masvelhos e crianças doentes eram deixados pelo caminho para morrer, testemunham os padres.Ao chegar a Salvador, de acordo com as informações de Techo88, o governador doBrasil expediu mandado para libertar os indígenas, e para castigar os bandeirantes, mas pareceter sido em vão, pois segundo as autoridades brasileiras, só se conseguiria tal resultado com ouso da força. O autor diz que um nobre português procurou ajudar, mas o padre Massetaresolveu voltar ao Guairá, em virtude das notícias de que novas invasões aconteceriam que defato ocorreram como se viu anteriormente. As atitudes dos padres não eram vistas com bonsolhos, porque estavam tentando livrar os indígenas da escravidão e, por isso, as informaçõesdeixadas por eles revelam ainda que, em São Paulo, a sua situação chegou a ser perigosa. Ojuiz que se encarregou de resolver a causa contra os bandeirantes teria também sido ameaçadode morte, quando então, os padres voltaram com apenas poucos indígenas. Sobre esses fatos,os padres fizeram e enviaram um memorial ao rei da Espanha relatando os ataques contra asMissões desde 1589 (portanto 40 anos antes), quando os portugueses faziam malocas paraprender e levar para vender como escravos os indígenas do Guairá. Disseram também que ainvasão, da qual estavam reclamando naquele momento, teria sido a mais violenta até então, eque os portugueses teriam saído em agosto de 1628 de São Paulo “[...] armados conescopetas, espadas, rodelas, machetes, balas y otras armas, en compañia de unos dos mildoscientos indios [...]” para caçar índios89, e em Cortesão90, o relato dos Padres Mancilla eMasseta está detalhadamente registrado, e fica claro que essa era a expedição de AntonioRaposo Tavares, que vinha composta de 900 portugueses armados e mais de 2000 índios.Como disse Gandia91, na expedição bandeirante a que se referia o Padre Masseta, iampessoas importantes de São Paulo, como dois juízes (Sebastián Fernandez Camacho eFrancisco de Payva), dois vereadores (Maurício de Castilho e Diego Barbosa) e o procuradordo Conselho entre outras figuras influentes da sociedade, e sua organização teria sidopresenciada pelo governador do Paraguay (Céspedes Xeria), que vinha de Madrid em direçãoa Assunção. Hemming92explica que essa bandeira era composta de 69 brancos (entre essesestavam as pessoas eminentes citadas anteriormente por Gandia, inclusive Antonio RaposoTavares, que se tornaria chefe da bandeira), novecentos mamelucos e mais de 2000 índios,confirmando o interrelacionamento cultural entre portugueses e indígenas. A expedição se[Página 175]

4.7.2 Mancilla e Masseta relatam em Salvador sobre os estragos causados por RaposoTavaresOs padres Mancilla e Masseta fizeram um grande relato sobre os ataques de RaposoTavares às Reduções do Guairá134nos anos de 1628 e 1629, dirigido ao Rei e ao Provincial.Não se pretende aqui fazer todas as inferências que o documento permite, mas apenasconfirmar mais algumas informações já citadas sobre a viagem desses padres ao Brasil. Nessedocumento, eles informam que os paulistas vinham fazendo investidas contra os indígenas há40 anos, levando-os cativos, para trabalhar como escravos em São Paulo, e que nesses anos de1628 e 1629, elas teriam se tornaram mais fortes. Segundo eles, os portugueses nãorespeitavam as leis reais estabelecidas e continuamente faziam “malocas” para cativar e levarà força, os indígenas.

Os padres Mancilla e Masseta informam que essa bandeira, saída de São Paulo emagosto de 1628, viera bastante armada, composta de 900 portugueses acompanhados de 2200índios que em período anterior tinham sido cativados por eles. Iam, também com a expedição,pessoas importantes da vila de São Paulo, que eram

[...] dos jueces [...] Sevastian Fernandez Camacho y Francisco de Payva, dosvreadores Mauricio del castillo y Diego Barbosa el Procrador del ConsejoChristoval mendez, el hijo, yerno, y Hermano del mismo oydor de la VillaAmador Buenos; y de la Villa de S. Ana de Paranahyba que esta siete léguasde S. Pablo el Capitan Andres Fernandez, y el juez Pedro Alvares, su yerno[...]135,

confirmando fato citado anteriormente em relação à bandeira e às pessoas influentes de SãoPaulo que dela participaram. A divisão da expedição em quatro companhias é explicadacomo:[...] levantaron sus capitanes y otros oficiales de guerra con vanderas, comosi fueran levantados y amutinados contra su Real Corona, las vanderas quellevavan no tenian las armas del Rey, sino otras señales diferentes, el que fuedeclarado por Capitan mayor de la Compañia fue Antonio Raposo tavares[...]136, [Página 188]
*“Europeus e Indígenas - Relações interculturais no Guairá nos séculos XVI e XVII”. Mestrado de Nádia Moreira Chagas, Universidade Estadual de Maringá. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA - MESTRADO

Relacionamentos
-
Pessoas (2)
erroc2:testeAntônio de Añasco
24 registros / / 0 parentes
erroc2:testeJosé Cataldino
12 registros / / 0 parentes
-
Cidades (1)
testeSorocaba/SP10973 registros
-
Temas (6)
erroc2:testeAtibajiba
10 registros
testeRio Anhemby / Tietê
457 registros
erroc2:testeRio Latipagiha
50 registros
erroc2:testeRio Paranapanema
212 registros
erroc2:testeYbitirembá
17 registros
erroc2:testeNheengatu
218 registros
Você sabia?
“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas. Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.

344
É por demais conhecido o fato de que toda a empresa marítima portuguesa foi expressa pelos contemporâneos em linguagem religiosa e, mais ainda, missionária. Os contemporâneos nos dão a impressão de que, para eles, o maior acontecimento depois da criação do mundo, excetuando-se a encarnação e morte de Jesus Cristo, foi a descoberta das índias.
erro
erro registros


Procurar



Hoje na História


Brasilbook.com.br
Desde 27/08/2017
28375 registros (15,54% da meta)
2243 personagens
1070 temas
640 cidades

Agradecemos as duvidas, criticas e sugestoes
Contato: (15) 99706.2000 Sorocaba/SP