O poder da “primeira e maior ponte que existiu em todo o sul do Brasil até o Senhor D. Pedro I”
28 de agosto de 1642, quinta-feira. Há 382 anos
O 32º presidente dos Estados Unidos, Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), certa vez teorizou sobre a importância pouco evidente das pontes:
"Sem dúvida que em muitos aspectos a história da construção de pontes é a história da civilização. Através dela podemos medir uma parte importante do progresso de um povo", disse ele.
Desde tempos imemoriais, a humanidade percebeu que precisaria transpor obstáculos rios, despenhadeiros e vales em sua jornada por alimento, refúgio e, consequentemente, uma vida melhor. A resposta racional a esse desafio convencionou-se chamar de ponte. Construindo-as e cruzando-as, o homem foi cada vez mais longe e conquistou o planeta.
Não tardou ainda na história humana para o objeto da engenharia se transformar em símbolo da passagem de um estado inferior a um superior. Os antigos romanos, por exemplo, chamavam seus sacerdotes de pontifex construtor de pontes, literalmente.
Afinal, eram eles que faziam a conexão entre homens e deuses, entre o humano e o divino. O título de pontífice máximo acabou sendo apropriado pelos ditadores e imperadores de Roma como alerta de que tinham autoridade não apenas temporal sobre seus territórios, mas também espiritual.
Ao pontífice supremo cabia, entre outras atribuições, regular o tempo: incluir ou excluir dias do impreciso calendário romano para acertá-lo de acordo com o correr das estações. Foi como pontifex maximus que Júlio César fez uma profunda reforma no calendário de Roma, em 44 a.C.
O Ocidente ("nós") usou essa forma de medir dias, meses e anos até 1582, quando novamente se fez necessário consertar o tempo humano para acertá-lo com o relógio cósmico. E quem fez isso foi outro pontífice: o Papa Gregório XII (1502-1585) herdeiro do simbolismo romano de que o líder religioso é um construtor de pontes entre os céus e a terra.
O Reveilon, celebrado pela humanidade, segue essa tradição, regida pelo calendário gregoriano. Por sinal, mais que qualquer outra época, o réveillon pode também ser visto como uma ponte simbólica entre o passado e o futuro. E, quando os fogos de artifício estouram, os estampidos despertam a esperança que dorme dentro de cada um de transpor obstáculos e chegar a um novo tempo. Como se houvesse uma ponte sobre o rio de dificuldades, aflições e medos.
A cada qual, porém, sempre resta a escolha de consertar o próprio tempo e de construir pontes em vez de aguardar que elas apareçam à frente. De ser um pouco pontifex, afinal. Foi assim que a civilização se fez. No mundo material, como diria Roosevelt. E também no simbólico, como conceberam os antigos romanos. É assim que todos podem fazer.
décadas antes de se tornar (...), quando era um jovem general, descobriu que a "estrada para a glória" em Roma começava em campos de batalha muito distantes de lá. Sua sede de conquistas militares levaria a construção de um dos mais intimidantes feitos da engenharia romana.
55ac, Júlio César liderava 8 legiões romanas, somando um total de 40 mil homens, seguindo pela Gália, uma província romana, que atualmente engloba França, Bélgica e Suíça. Ele queria ir à Germania e atravessar o Rio Reno, algo que nenhum comandante havia conseguido. Igualando Alexandre, O Grande, "indo além do desconhecido". O rio Reno era o limite do mundo conhecido pelos romanos. Durante séculos foi um divisor que protegia as tribos germânicas da expansão romana.
Nenhum exército havia conseguido atravessa-lo com poder suficiente para uma conquista. Mas César era diferente dos guerreiros anteriores. Seu grande exército poderia atravessar o dito rio com barcos, mas ficariam expostos e sem a mesma eficiência que teriam marchando, á cavalo.
Segundo o professor Giorgio Croce, da Universidade de Sapienza:
"A Engenharia necessária para se levantar uma ponte, sobre qualquer rio, enfrenta, quase que, as mesma dificuldades, principalmente a profundidade e força de correnteza da água."
Pela pressa exigida, na ocasião, por motivos militares, essa foi realmente excepcional. Essa ponte deveria ser larga e estruturalmente forte para suportar o peso de seu exército.
Maior que todas as dificuldades era a disposição de Júlio César.
Cruzar um rio daquele como aquele construindo uma ponte, é algo que impressiona, não apenas os expectadores locais, e, principalmente aqueles d´outro lado do rio, vendo "isso" acontecer, com a velocidade e eficiência de uma máquina bem lubricada, os soldados transformando árvores locais em uma ponte em expansão.
Vendo, a cada hora, uma impressionante obra de engenharia aproximando-se da margem oposta do rio. Hoje, seria como avistar tecnologias vistas apenas em obras ficcionais, que assustam por surpreender-nos.
Além do projeto, em si, ser inovador, o que torna esse feito mais impressionante foi a velocidade de sua construção. Apenas oito dias após ordenar a construção, César marchou sobre a ponte em direção ao seu destino. Diz Scott Schilimgen:
"Jamais conseguiríamos fazer isso hoje em dia, em tão pouco tempo e com a tecnologia da época. Menos pela tecnologia, que a necessidade milhares de soldados leais, totalmente dedicados a causa a este objetivo: Atravessar um rio e enfrentar um inimigo estimado em 400 mil soldados, mais de 10 vezes o tamanho de seu exército."
Aos germânicos, a visão rapidamente os fez recuar para um terreno mais elevado, e nos 18 dias seguintes, César e seu exército, explorou livremente o território ao norte do rio, sem encontrar qualquer resistência. Em seguida retornaram pela ponte. César, ordenando que fosse desmontada, deixou uma mensagem inequívoca: Não haviam obstáculos capazes de impedir Roma ir a qualquer lugar!
Os nativos referiam-se aos locais onde era possível "atravessar um rio" como Apiassava ou Emboaçaba. E ás pontes, Nhar-rybo-bõ.
(...) para fazer seus mantimentos portanto me pedia em nome do dito senhor Lopo de Sousa e por virtude de seus poderes que para ello tenho bastantes e como seu procurador lhe desse para os ditos seus filhos e filhas uma légua de terra em quadra tanto em comprimento como de largo de matos maninhos no sertão desta capitania junto do rio que se chama Perayb... começando de uma tapera que foi de .... Corrêa por o dito rio Perayb... abaixo de uma banda e da outra banda pelo mesmo mato ao longo do caminho que ia ao rio Nharbobon Sorocaba e sendo caso que do rio Pirayibig para a banda do campo não houver a legua de matos se encherá a dita légua ....... em quadra tanto de comprido como de largo da outra banda do dito rio Pirayibig que fique a dita légua de terra em quadra tanto de comprido como de largo e receberia merce que na dita petição é mais légua de terra em quadra por virtude dos poderes governador Lopo de Sousa. [ Sesmarias: 1602-1642 (1921) Departamento do Arquivo do Estado de São Paulo. Páginas 33, 34 e 35 ]
Em 9 de Junho de 1617 Registo da carta de dada de terra de Antonio Soares e de Antonio Fernandes Góes morador no Rio de Janeiro passada pelo capitão Balthazar de Seixas Rebello que é a seguinte:
“pedindo-me lhe fizesse mercê de lhe dar de sesmaria no rio de Aguá.. um rio quese mette nelle indo por elle acima á mão esquerda o qual rio sae ... pea . ba de Francisco Borges aquillo que se achar de distrito e para mais declaração pe queno que chamam Japebonom do dito Francisco Borges que rio abaixo pedindo-me em conclusão dito rio de Ajenby passante a medição dos padres pelo rio acima á mão esquerda lhes fizesse mercê de lhes dar de sesmaria uma légua de terra” [24152]
1 de Fevereiro de 1640 Sesmaria concedida a Garcia Rodrigues Velho em Jarabobou (Sorocaba) e Sesmaria concedida a Salvador Pires em Jarabobou (Sorocaba). [27320]
27 de Fevereiro de 1702 Sesmaria concedida a Antonia Pinheira Rapoza no Rio Naribobon, em Sorocaba. [27330] Em 7 de abril de 1706, confirmada a D. Antônia Pinheiro Raposo, filha de An..Em 7 de abril de 1706, confirmada a D. Antônia Pinheiro Raposo, filha de Antonio Raposo Tavares, e D. Lucrécia Leme Borges, moradora na vila de São Paulo; no caminho de Cahancaya, perto dos rios Nhadiphayba e Nharibobon Sorrocava. [27191]
Em 7 de Novembro de 1732 Sesmarias concedidas a Anna Pinheiro Rapozo em Mendiapayba (Sorocaba), e a Domingos Rodrigues da Fonseca Leme em Mariboboni Rio (Sorocaba), em Caucaia Caminho de (Sorocaba) e em Mendipayba Rio (Sorocaba).
A PRIMEIRA PONTE
Revista do Arquivo Municipal, Volumes 85-87: (...) pelo Apotribú, isto é, esgalhando-se da estrada de Itú, procurava a serra do Piragibú e daí a Parnaíba, vale do Tietê até São Paulo. Mas é de notar que em época tão remota já o fundador de Sorocaba tivesse construído a maior ponte que existiu em todo o sul do Brasil até o Senhor D. Pedro I.
Segundo o Sérgio Coelho de Oliveira, em “Baltazar Fernandes: Culpado ou Inocente?”:
"Afinal, uma ponte era uma marca única e fantástica, naquele tempo, naquele sertão. Não era qualquer rio que tinha ponte. Registra a história que esta foi a primeira ponte do interior do Estado de São Paulo e remonta ao final do século XVI, por ocasião da descoberta das Minas do Morro Araçoiaba.
Essa ponte a que se refere o documento não foi construída por Balthazar, mas já existia desde o final do século XVI, mandada construir por D. Francisco de Souza, governador geral do Brasil, quando em visita às minas do Morro Araçoiaba. Era uma ponte pequena, estreita, porém no mesmo local da atual, na rua XV de novembro." [21228]
“Memória Histórica de Sorocaba: Parte I”, 1964. Luís Castanho de Almeida (1904-1981)
"Damos a hipótese arrojada de ser esta ponte já de 1599. Em 1654 já havia uma ponte no rio Sorocaba, no lugar da atual. Somente um Governador tinha gente e dinheiro para construir uma, neste sertão. Ainda que estreitinha. É que o passo do rio, desde talvez os nativos, só podia ser abaixo das cachoeiras em local meio raso, antes de espraiarem-se as várzeas." [9049]
Revista do Instituto Histórico e Geográfico de S. Paulo: “Nossos Bandeirantes - Baltazar Fernandes” (1967) Luiz Castanho de Almeida:
É um título notável e único no Brasil e em Portugal. Por ser de cor evidentemente local, trata-se uma ponte do rio Sorocaba, onde se fez a igreja a que trouxeram uma imagem de Nossa Senhora. Esta imagem podia ser a Nossa Senhora de Montesserrate, orago do Ipanema, ou outra do próprio Balthazar e é provável que já se chamasse Nossa Senhora da Ponte antes da mudança do pelourinho para o atual lugar, pois o Itavuvu é à beira-rio e tinha provavelmente a primeira ponte.
A História de Sorocaba para crianças e alunos do Ensino Fundamental I, 11.2003. Dagoberto Mebius:
Em 1589, Afonso Sardinha, um português aventureiro, rico e vereador em São Paulo era dono de uma mina de “faiscar” ouro perto do morro do Jaraguá, veio juntamente com seu filho mameluco (filho de branco com índia), conhecido como “o mameluco do Afonso Sardinha” (mais tarde é que ele assume verdadeiramente o nome do pai).
Ambos vieram procurar riquezas nestas terras, porque alguns índios-escravos diziam: “além do Voturuna, depois do Araçaryguama, bem perto do rio que vem do Vuturaty, que passa pelo Itavuvu e chega ao Biraçoiava, há uma imensa “lagoa de ouro” guardada por “nhangá” e aquele que a ela chegar ficará muito rico.”
TIETÊ
Em 1557 Afonso Sardinha, o primeiro branco em Sorocaba recebeu terras de Ybitátá em troca de mandar construir uma ponte sobre rio Jeribatyba e facilitar o escoamento dos produtos agrícolas e pecuários que chegam pelo Piabiyu e outras estradas do "sertão dos karai-yos" (ou "carijós"). [27294] , ergueu o seu solar no Butantã (hoje Casa do Bandeirante), onde tinha o seu trapiche, isto é, engenho de açúcar.
Mas, há de se desconfiar de Sardinha quando alegava não comparecer a uma sessão da Câmara, como vereador que era, em pleno natal de 1576, pois não tinha botas! Negociava escravos da Guiné, tecidos, marmelada e gentios. Foi de sua propriedade um dos primeiros trapiches de açúcar no planalto.
Entre seus devedores,estavam tanto o antigo capitão-mor quanto o recém-chegado. Por isso, 368 Na vila, foi almotacel, em 1575, vereador, em 1572, 1576 e 1582 e juiz ordinário, em 1587. Portanto, em 1592, quando foi nomeado capitão da gente de guerra da vila, já apresentava uma longa ficha de empréstimos à governança local. [24461]
Washington Luís (1869-1957), o 11° presidente do Brasil, escreveu “Na capitania de São Vicente”, uma obra de pesquisa rigorosa, de análise criteriosa e de valor histórico indiscutível. Está ela repleta de citações que avalizam as opiniões emitidas, de observações que, estribadas na documentação autêntica e nos testemunhos de coevos fidedignos, retificam erros consagrados. Tudo com a indicação das fontes. Preocupado, aliás, que sempre tinha em mente. "Para documentar minhas opiniões cito sempre o autor, o livro e as devidas páginas em que me apoiei":
"Pelo estudo feito neste parágrafo, baseado nos documentos autênticos locais, deve-se concluir que nenhum dos Afonsos Sardinhas teve propriedade em Jaraguá; que a fazenda de Afonso Sardinha, o velho, onde ele morava e tinha trapiches de açúcar estavam nas margens do rio Jerobativa, hoje rio Pinheiros, e mais que a sesmaria que obtivera em 1607 no Butantã nada rendia e que todos os seus bens foram doados à Companhia de Jesus e confiscados pela Fazenda Real em 1762 em São Paulo. Se casa nesta sesmaria houvesse, deveria ser obra dos jesuítas. Pelo mesmo estudo se conclui que Afonso Sardinha, o moço, em 1609 ainda tinha a sua tapera em Embuaçava, terras doadas por seu pai. Não poderia ter 80.000 cruzados em ouro em pó, enterrados em botelhas de barro. Quem possuísse tal fortuna não faria entradas no sertão descaroável nem deixaria seus filhos na miséria." [24528]
Sobre o Jerobativa, informa o Boletim do Departamento do Arquivo do Estado de SP, Secretaria da Educação, volume 9 (1952):
Dir-se-á que o erudito cronista, Manuel Eufrásio de Azevedo Marques (1825-1878), não podia fazer tal confusão. Mas, a verdade é que ela seria muito mais explicável do que certos lapsos que se encontram na referida obra, aliás valiosíssima. Citaremos três casos que nos parecem bastante significativos.
O primeiro é relativo ao rio Pinheiros, o chamado Jerabaty num dos documentos apontados na seção I desta nota, e cuja denominação indígena se escrevia por diversas formas, uma das quais, a de Jurubatuba, é e mais conhecida e também a mais adulterada. Escreve Azevedo Marques:
"Pinheiros - Rio afluente da margem esquerda do Tietê, de que é um dos primeiros tributários, tem origem nos montes aos ponte da cidade de São Paulo na qual passa a pouco mais de légua, ou 5,5 km de distância, na direção Sul. Em tempos muito antigos foi conhecido com os nomes de Rio-Grande e Gerybatiba. Corre na direção mais geral de Leste para Oeste na altura da freguesia de São Bernardo curva-se um pouco para noroeste, rega os municípios da capital e Santo Amaro."
"Rio-Grande - Afluente originário (sic) do rio Pinheiros. É o mesmo que no município de Santo Amaro e adjacências tem o nome de Jurubatuba. Em seu começo corre de Leste a Oeste e depois toma o nome de Pinheiros corre de Sul a Nordeste, lançando-se no Tietê."
Há nesses trechos várias inexatidões e incoerências. Basta, porém, observar que o rio Grande (que só no curso inferior tem a denominação de rio Pinheiros) nasce em Paranapiacaba (antigamente Alto da Serra), e não "nos montes ao poente da cidade de São Paulo".
No Caminho de Pinheiros, um dos mais destacados por historiadores, por ser o único acesso à aldeia e às terras além do rio, no sentido oeste. Uma ponte sobre este rio (Pinheiros) foi solicitada em 1632. Curioso o termo de 22 de novembro de 1632, que fala na ponte desmanchada de "botantan" e o de 27, na de Guarape. Multou a Câmara por não trazerem seus animais presos a Aleixo Jorge e Bartholomeu Fernandes.
Francisco José de Lacerda e Almeida (1753-1798) Sorocaba denota o lugar onde se rompeu alguma coisa. É tradição que neste rio se rompeu uma ponte (talvez no lugar da vila do mesmo nome) e por isso assim se chamou. [27898]
A Villa de Sorocaba de Nossa Senhora da Ponte, que é sertão da costa da vila de Itanhaem, foi ereta em 1670 pelo Paulista Bartholomeu Fernandez, com seus Genros os Cavalheiros Castelhanos Andre de Zuniga, e Bartholomeu de Zuniga; e foi aclamada em Villa por Provisão do Capitam Mor Loco Tenente do Donatário Francisco Luis Carneiro de Souza, Conde da Ilha do Príncipe. [27305]
Só foi construída apenas em 1687, de madeira, ligando a região às vilas e sítios que foram instalados ao longo do Caminho das Tropas, como Cotia, São Roque e Sorocaba.
A ponte foi várias vezes destruída, principalmente por enchentes, cabendo aos moradores das vilas vizinhas arcar com as despesas de reconstrução. Somente em 1865 foi erguida uma ponte de metal. Além da ponte, os moradores custeavam a manutenção do Caminho de Pinheiros que levava ao centro da Vila de São Paulo. (“O Bairro Mais Antigo de SP - A História de Pinheiros”. SP In Foco. 2 de fevereiro de 2017) [27988]