UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO DANIEL RIBERA VAINFAS O ARQUÉTIPO DA GUERRA: A alquimia entre o simbólico e o etológico na guerra Tupi
2017
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Enquanto Ñanderyqueý construía um cabresto58 que segurasse uma margem à outra, Tyvýrylançava à água folhas e gravetos que se transformavam em peixes predadores e jacarés.(NIMUENADJU, 1987, p. 59)O passo seguinte da armadilha consistia em convencer os jaguares a lançarem-se no rio.Para isso, Ñanderyqueý reúne uma porção de frutas doces que leva aos jaguares. Estesrapidamente as devoram e, ao fim da porção, perguntam onde Ñanderyqueý as obteve. Eleindica a margem oposta do rio mágico e dirige-se para lá.Os jaguares o seguem e, uma vez dentro da água, percebem que a margem nunca seaproximava. Tratava-se justamente da armadilha dos gêmeos que, um de cada lado, operavamo cabresto, de modo que a outra margem afastava-se progressivamente. Os jaguares, então,caíram vítimas dos predadores aquáticos criados por Tyvýry sendo devorados, e concluindo59a vingança dos gêmeos. (NIMUENDAJU, 1987, p. 59)A narrativa dos gêmeos é particularmente interessante porque tanto a questão damigração quanto da violência estão postas e não constituem temáticas excludentes. Mas, antesde lidarmos com esses dois pontos, precisamos atentar à ordem dos temas tratados pelo mito.Na medida em que a ordem nos serve como parâmetro de hierarquia, isto é, o que apareceantes condiciona e influencia ou é mais importante que aquilo que vem depois, o tema maisimportante para a história é a nutrição. Em particular, a nutrição associada à figura materna.Antes de qualquer movimento agressivo contra os jaguares, Ñanderyqueý precisaalimentar seu irmão menor, o que é tentado primeiro com a ressurreição da mãe, depois comfrutas e, por fim, com um acordo com uma gambá. É apenas depois que Tyvýry está nutrido esatisfeito que os irmãos planejam sua vingança.Também é importante notar que a vingança contra os jaguares se dá porque estesassassinaram a mãe dos gêmeos, que, ao longo da narrativa fica indissoluvelmente ligada àquestão alimentar. Não apenas porque os gêmeos buscam revivê-la para que ela dê de mamara Tyvýry, mas também porque sua própria origem remonta a isso, afinal, ela fora criada dentrode uma panela.Se colocarmos a alimentação como o foco da história, o que é razoável, dado que anutrição é uma das mais básicas necessidades humanas, o mito nos conta duas coisas.Primeiro, que a violência está relacionada ao comprometimento da nutrição por algum grupo58 A palavra em Guarani para o cabresto da história é yrymomó, que, etimologicamente é formado por y (soltar) emobóg (fender), dando a ideia geral de algo que, quando solto, produz uma fenda. No caso da lenda, o yrymomóé uma corda que une as duas margens do rio impedindo que elas se separem.59 Segundo a lenda, uma onça grávida conseguiu escapar, de modo que seus filhos repovoaram o mundo com osjaguares. [Página 50]
*UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO DANIEL RIBERA VAINFAS O ARQUÉTIPO DA GUERRA: A alquimia entre o simbólico e o etológico na guerra Tupi
No primeiro século às "considerações priápicas" há que sobrepora circunstância da escassez, quando não da falta absoluta, de mulherbranca. Mesmo que não existisse entre a maior parte dos portuguesesevidente pendor para a ligação, livre ou sob a bênção da Igreja, comas caboclas, a ela teriam sido levados pela força das circunstâncias,gostassem ou não de mulher exótica. Simplesmente porque não haviana terra quase nenhuma branca; e sem a gentia "mal se pudera remediar nem povoar tão larga costa...", como em carta de 1612 mandavadizer a el-Rei Diogo de Vasconcelos.
“Adeus meu menino”, a "Tears In Heaven" imperial
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A Caridade é sofredora é benigna; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade.