O BRASIL É ILHA ? CABRAL SABIA JÁ DA EXISTÊNCIA DO BRASIL. Arthur Virmond de Lacerda
29 de novembro de 2011
21/04/2024 23:59:22
O BRASIL É ILHA ? CABRAL SABIA JÁ DA EXISTÊNCIA DO BRASIL.Se em 1561 o Brasil estava mapeado como na imagem do mapa de Bartolomeu Velho, então : 1) o conhecimento do sertão já existia nesta data e terá havido expedições de reconhecimento secretas ou desconhecidas muito antes das dos bandeirantes; 2) se estas expedições houve, os expedicionários terão percebido que havia rios, não mar, no interior do território e que o Brasil não era ilha no sentido em que o eram, por exemplo, Madeira e Açores. 3) Ilha foi o substantivo usado por Caminha, como substantivo genérico; terra foi o usado por Cabral e nome que lhe pôs; ambos vêm referidos pelo dito Caminha. 4) Ilha, na altura significava terra inexplorada (continental ou insular): era ilha, no dizer de Caminha, porque inexplorada, se é que realmente era inexplorada; pelo menos não fora devassada como o foi posteriormente pelos bandeirantes. 5) Há ilhas lacustres e fluviais (e marítimas); se se considerar, no mapa de Bartolomeu Velho, que a oriente estava o Atlântico e que a oeste e no interior havia rios contínuos, então o entremeio, cercado de águas, constituía ilha, ainda que em sentido muito lato, assim como, nesta acepção, é quase ilha o Rio Grande do Sul (gravura abaixo). Ninguém considera o Rio Grande do Sul (quase) ilha, mas continente; da mesma forma, ninguém hoje considera o Brasil ilha, mas continente. 6) O Brasil não se chamou oficialmente ilha, não foi tratado como ilha propriamente dita, não houve fase de hesitação em sua nomenclatura (entre ilha e terra), porquanto quase com certeza já fora percorrido em toda a sua extensão e até penetrado antes de 1500, pelos portugueses. Provavelmente eles sabiam não ser ilha, ainda que soubessem, como diz Caminha, serem-lhe infindas as águas. Cabral provavelmente já cá estivera e em 1500 para cá terá tornado; Nicolau Coelho já cá estivera, como di-lo o mesmo Caminha. Terão havido inúmeras, dezenas porventura, de expedições para o Atlântico sul entre a viagem de Bartolomeu Dias (1488) e a de Cabral, com a participação deste em alguma ou algumas deles. Ao revés do que erroneamente se diz, ele não era bisonho em cousas do mar : ao contrário, era marinheiro experimentado. Seja como for, veio com rumo certo, o que ele próprio explicita na carta que redigiu a el-rei: : “[…] em obediencia a instruçam de vossa alteza navegamos no Ocidente e tomamos posse, com padram, da Terra de vossa alteza que os antigos chamavam Brandam ou Brasil”, por sua vez encontrada em 1343, pelo mareante português Sancho Brandão [1].Caminha é explícito em que Nicolau Coelho estivera no Brasil antes de 1500. É inverossímil que os expedicionários da frota de Cabral e o pessoal da alta administração portuguesa supusessem ser o Brasil terra cercada de muitos rios : rareiam rios sinuosos ao ponto de envolverem o grande trecho percorrido pela armada de Cabral; era muito mais natural que imaginassem o que é mais freqüente, que pensassem no trivial, não no excepcional: que a terra tinha muitos rios e não que fosse envolta por eles; não a teriam presumido como ilha fluvial.[1] CINTRA, Francisco de Assis. No limiar da história. Rio de Janeiro, Francisco Alves, 1923. Arquivo das Colônias, número 26, 1929, Portugal. HELENO, Manuel. O descobrimento da América. Lisboa, 1933, p. 19. COSTA, Sérgio Corrêa da. Brasil, segredo de Estado. Rio de Janeiro, editora Record, 2001, p. 66.
Há fatos que por sua natureza merecem ficar registrados na imprensa; o que vamos relatar é um desses que ainda uma vez vem justificar que o cão é companheiro fiel e amigo inseparável do homem. “Marengo” o melhor amigo do tropeiro: cão levou mensagem de Sorocaba á Ponta Grossa
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“Os nossos tupinambás muito se admiram dos franceses e outros estrangeiros se darem ao trabalho de ir buscar o seu arabutan [pau-brasil]. Uma vez um velho perguntou-me: Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses) buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra ? Respondi que tínhamos muita mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele o supunha, mas dela extraíamos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de algodão e suas plumas.
Retrucou o velho imediatamente: e porventura precisais de muito? Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas, tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o pau-brasil com que muitos navios voltam carregados. — Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas, acrescentando depois de bem compreender o que eu lhe dissera: mas esse homem tão rico de que me falas não morre? — Sim, disse eu, morre como os outros. Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por isso perguntou-me de novo: e quando morrem para quem fica o que deixam? — Para seus filhos se os têm, respondi; na falta destes para os irmãos ou parentes mais próximos. — Na verdade, continuou o velho, que, como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou para aqueles que vos sobrevivem! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois da nossa morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.Jean de Léry (1534-1611) 8 registros