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A Provincia Jesuitica do Paraguai e o estilo jesuítico-guaraní de fazer missão, Erneldo Schallenberger
201404/04/2024 23:47:29

malocas e dos que integravam forçadamente as bandeiras se refugiavam nasencomiendas e depois eram resgatados pelos bandeirantes.A estratégia de entregar a redução dos índios da Província do Guairá aosmissionários da Companhia de Jesus pode ser apreendida como uma forma derecorrência ao poder coercitivo da religião e da moral cristã para dar conta dosdesmandos oriundos das relações conflitantes entre índios, colonos e bandeirantes. Adecisão de reunir os índios dispersos em povoados e a fundação das primeiras reduções,Nossa Senhora de Loreto (1610) e Santo Ignácio (1611), seguiu a orientação doprovincial do Paraguai, Diego de Torres Bollo, que na instrução para todos osmissioneiros do Guairá, Paraná y Guaycurús (1610), admoestou que os religiososmantivessem o fervor e tratassem os espanhóis e os maloqueiros com prudência, paraganhar a todos29. No início, houve certa cumplicidade entre missionários e colonos, natentativa de dar maior estabilidade às encomiendas. A tolerância se estendia, também,aos bandeirantes, que encontravam nos índios reduzidos a possibilidade de atraíremparentes. Pelo informe do governador Antonio de Añasco (1611), reproduzido porJensen (2009, 186-188), esta tática de atrair parentes era usada pelas bandeiras, que seserviam, com o consentimento dos padres, de caciques das aldeias jesuíticas de SãoPaulo, muitas vezes naturais do Guairá, para tal fim. Estabeleceram-se relaçõeshorizontais que intensificaram a ligação dos núcleos de povoamento espanhol com o deSão Vicente. Estas relações dificultaram o modo de fazer missão dos padres daCompanhia de Jesús, segundo a memória expressa nos documentos da época30O modo de fazer missão implicava em reduzir os índios, com a adesão doscaciques, num novo espaço de vivência e convivência, modificar hábitos, costumes epráticas culturais e pregar a fé cristã, introduzindo símbolos, sinais e ritos emsubstituição aos cultivados. As cartas dos missionários.***31(...) fundamos uma escola de ler e escrever para a criançada e juventude.Fixou-se um tempo de uma hora pela manhã e outra à tarde, para que todosos adultos viessem à catequese ou doutrina. Ainda que nelas e em todos ossermões dominicais tratássemos com toda a clareza os mistérios da nossasanta fé e os preceitos divinos, quanto ao sexto mandamento por oraguardamos, contudo, silêncio em público. Era para que não murchassemaquelas plantas tenras e para que não se tornasse odioso o Evangelho,embora instruíssemos da maneira mais evidente possível aos que seachavam em perigo de vidarevelam que a destituição daliderança espiritual tradicional representava de certo modo e ao mesmo tempo adesconstituição do discurso mítico-religioso. Para conseguir a acomodação da novarealidade aos conceitos e categorias da linguagem cristã, Montoya sublinha que:32 [Página 10 do pdf]

de preservação do potencial humano para o futuro colonial. Os padres, a exemplo doparecer exarado por Diogo Gonçalves em 161038, começaram a se posicionar contra oserviço pessoal e contra as malocas promovidas pelos bandeirantes e pelosencomendeiros para recrutar e submeter à força os nativos. Em base às orientações dosuperior da Companhia, o provincial do Paraguai, Diego de Torres, ordenou em 1611que o serviço pessoal dos índios fosse progressivamente abolido nos colégios39. Anomeação de Francisco de Alfaro para visitador das governações de Tucumã e Rio daPrata e o conjunto de ordenações que previam a proibição do serviço pessoal foramdecisivas para o Guairá. Em 1612 Alfaro delegou aos padres da Companhia a pregaçãocontra o serviço pessoal40O conflito de interesses entre encomendeiros e missionários começou aevidenciar as contradições do próprio sistema colonial. Hernandarias imaginava asmissões do Guairá como instâncias de apoio para normalizar as relações entreencomendeiros e índios, visando incrementar o povoamento da região.41. O informe deum jesuíta anônimo, datado em 162042Vuestra Alteza no remedia esta fuerza cometida de los padres de laCompañía mandando que a su costa restituyan los indios naturales a estaCiudad encomendados nos todos perecemos y su majestad perderá esta suCiudad y la Villa Rica que la misma calamidad le alcanza com ellos debemavisar y nos ni fuerza tenemos para podermos mudar ni hay cura nisacerdote ninguno que con nos quiera asistir porque no solamente llevan losindios de esta Ciudad pero con todas las otras doctrinas encomendadas alordinario coladas por el padronazgo real [...], assinala que os colonos espanhóis eramnumericamente pouco representativos, inconsistentes em seus empreendimentos,inimigos do trabalho, não obedeciam às ordenações de Alfaro, viviam em base as trocasmercadorias e da maloca de índios. Carlos E. Romero Jensen (2009) reproduziu umconjunto documental que revela que os encomendeiros passaram a se oporveementemente à pregação dos jesuítas, uma vez que a abolição do serviço pessoalinviabilizaria a sua atividade econômica e permanência no Guairá. Alertaram que se:43[...] han llegado hasta la Villa Rica del Espírito Santo a destruir las “ ‘sdelos vecinos de ellas y querendo los vecinos de la Villa Rica defender susindios encomendados sucedió haber muertes así en los portugueses como enlos españoles y naturales la causa a sido los Padres de la Compañía queasistem en estas reducciones de Pirapó y Ipaumbuçu por doctrinantes porhaber recogido en las dichas reduciones los índios que huyen de la Villa deSan Pablo para estas partes [...].Alegaram ainda que passaram a sofrer a ação dos bandeirantes que fazemmalocas e promovem a dispersão dos índios e4
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capacidade de estabelecer relações horizontais, de aproximar povos e lugares de umprojeto societário inovador nas esferas do trabalho, da economia, do ambiente, dareligião e da linguagem. Os índios, sobretudo os Guarani, demonstraram diante dasdiferentes situações de contato e de conflito a plasticidade incrível de suas estruturasculturais. Mitos e crenças, como as apresentadas por Montoya62, que veneravam osossos dos mortos, cujos corpos são sem alma, acreditavam nos animais com alma,porém sem vida social, e na palavra como manifestação da alma-boa encarnada nagente63AGI Souza, Luís de. 1611, Testemonio y trasunto en castellano de la comisión que elgobernador de San Pablo del Brasil, don Luis de Souza, dio en Aldea de Fuerte a25 de agosto (1611) a los caciques de las aldeas de aquella villa para que a costasuya fuesen con sus indios a los parientes que tennian en el Certon de Guaira conobjeto de que ayudasen a labrar las minas que teniam los portugueses. Parambú, que tem vida social e que vive em sistema de parentesco, isto é de afinidade, deproximidade e de prestação de favores, certamente são elementos que se mantêm vivosna cultura guarani até hoje, mas que historicamente sofreram sentidos agregados pelassituações de contato. De infiel a cristianizado, de rude selvagem a agricultor, criador degado, cavalos, ovelhas e animais domésticos, de guerreiro selvagem a miliciano e deincapaz a hábil artesão, dentre tantos outros atributos, o guarani foi assumindocentralidade nas fontes textuais de acordo com os interesses em jogo. Alvos enquantomão de obra, ou sujeitos integrados na construção de uma utopia colonial, na defesa doterritório missioneiro e das fronteiras do Império espanhol, os Guarani sobrevivem e sereconstroem como povo que se referencia a partir da fronteira cultural, possível de seridentificada pelo seu modo de ser e viver a espacialidade, mesmo que alterados pelassituações de contato.Em suma, a província jesuítica do Paraguai desenvolveu um processo deevangelização e de socialização no Guairá, no Itatim e no Uruguai que definiu um estilojesuítico-guarani de fazer missão, fundado em relações horizontais e dialógicas, semrenúncia à apologética da salvação, e no princípio da libertação (do estado da natureza,do demônio, dos inimigos escravocratas) enquanto possibilidade de conversão e deconstituição de um território de missioneiro. O recuo da fronteira do territóriomissioneiro em construção, consubstanciou uma maior unidade territorial, construída apartir da solidificação da defesa, das relações de poder e da organização interna docomplexo missioneiro dos trinta povos da bacia do Prata. A fronteira da evangelizaçãofoi se convertendo em fronteira política na medida em que os interesses verticais dosimpérios coloniais foram definindo seus limites territoriais. Assim, às missões foiconferido um caráter de instituições de fronteira e o território das missões passou a serentregue, progressivamente, a sorte das negociações políticas e dos tratados. Nuncadeixou de ser, no entanto, o território missioneiro, apesar da sua fragmentação eincorporação pelos impérios coloniais e, posteriormente, pelos estados nacionais.

AGI Testemonio de una relación de sucesos ocorridos al gobernador del Paraguay donLuís de Déspedes Xeria (...) AGI (74) 4: 15.

AGI Souza, Luís de. 1611, Testemonio y trasunto en castellano de la comisión que elgobernador de San Pablo del Brasil, don Luis de Souza, dio en Aldea de Fuerte a25 de agosto (1611) a los caciques de las aldeas de aquella villa para que a costasuya fuesen con sus indios a los parientes que tennian en el Certon de Guaira conobjeto de que ayudasen a labrar las minas que teniam los portugueses. Parambú - – 12 de noviembre de 1611. Archivo General de Indias – AGI, Estante 74, Cajón6, Legajo 21. [Páginas 17 e 18 do pdf]
*A Provincia Jesuitica do Paraguai e o estilo jesuítico-guaraní de fazer missão, Erneldo Schallenberger

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